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4. DIRETRIZES PARA APLICAÇÃO DA DISPENSA POR VALOR

4.4 PRESSUPOSTOS DE VALIDADE DA DISPENSA POR VALOR

Para a contratação com a administração, pressupõe-se o cumprimento de diversos requisitos, sem os quais o procedimento fica inviabilizado, estando inclusive - a depender do vício - passível de anulação do certame e punições ao agente.

Em se tratando de contratações para execução de obras e serviços de engenharia, demais serviços ou compras - caracterizada pela dispensa prevista no art. 24, I e II da Lei Nº 8.666/93 - o administrador deverá cumprir, além dos pressupostos gerais (tais quais os princípios que regem a Administração Pública), deverá também observar os quesitos a serem abordados a seguir.

a) Valor

Inauguram-se os pressupostos específicos pela nomenclatura do instituto, dispensa de licitação por valor, já abordado no item 3.3.1, ou seja, o valor econômico do futuro contrato.

O reduzido valor do objeto a ser contratado colocaria em conflito o princípio da licitação e o da economicidade, ensejando um gasto superior à vantagem direta aferível pela Administração, decidindo o legislador, à vista do interesse público, pela prevalência do segundo. (FERNANDES, 2000, p. 290)

Nessa seara, deverão ser observados os limites estabelecidos na lei e transcritos na tabela 1. Assim, a dispensa será aplicável a valores inferiores a R$15.000,00 ou compras e outros serviços com cifra menor que R$8.000,00, sendo majorados para R$30.000,00 ou R$16.000,00 respectivamente, se contratados por consórcios públicos, sociedade de economia mista, empresa pública e por autarquia ou fundação qualificada:

b) Obras ou serviços de engenharia, mesma natureza, mesmo local e realização conjunta ou concomitantemente.

O inciso I, além do valor, define as condições aplicáveis a obras e serviços de engenharia, ou seja, não deverão se referir a parcelas de uma mesma obra ou serviço ou ainda a obras e serviços da mesma natureza e no mesmo local; que possam ser realizadas conjunta e concomitantemente. Nas palavras de

Fernandes (2000, p. 290) são dois requisitos para a dispensa. O primeiro, já estudado, de caráter objetivo, definido apenas pelo valor da obra ou serviço de engenharia, e o segundo sendo necessário contextualizar o procedimento.

Com isso, para apurar a dispensa, o agente administrativo vê-se compelido a somar os valores de obras ou serviços distintos, desde que de mesma natureza. Para Carlos Ari Sundfeld, deve-se entender por objeto de mesma natureza os que são idênticos, por óbvio, e os passíveis de execução por empresa de mesmo ramo de atividades, a exemplo de obras de ampliação e de reforma de um prédio. (...) pode-se dizer que obras de pavimentação de ruas, mesmo que distintas, têm a mesma natureza, assim como as construções de pontes distintas têm a mesma natureza etc. (NIEBUER, 2003, p, 263 - 264)

Diante disso, para composição do valor total da obra, a fim de aferir a dispensa, verifica-se a obrigatoriedade de ser de mesma natureza, ou seja, mesmos serviços ou obras. Contudo, apenas isso não basta. Deve ser observado o local de execução. Quanto à localização, frente à omissão legislativa, existe divergência doutrinária.

Para Fernandes (2000, p 299) a expressão “mesmo local” deve ser compreendida como mesmo Município, entendimento apoiado em decisão do Tribunal de Contas do Distrito Federal. Em vista disso, a possibilidade de dispensa em apreço sofreria acentuada restrição.

Repara-se, no entanto, que, se o legislador quisesse prescrever o somatório dos valores de todas as obras da mesma natureza realizadas no mesmo Município para possibilitar a possibilidade de dispensa, é certo que, em vez de localidade, teria empregado, com todas as letras, o termo Município. Localidade deriva de local, local da obra ou serviço, isto é, espaço físico em que a obra ou serviço de engenharia é efetivamente realizado.

Exemplo, a Administração quer construir dois prédios, ambos em mesma rua. Bem se vê que se trata de duas obras distintas, porém de mesma natureza, realizada em locais diferentes, conquanto não precisam ser somados. (NIEBUER, 2003, p, 264)

Por fim, deverá ser verificada a possibilidade, ou não, de dispensa pela análise da execução conjunta e concomitantemente. Contudo, a discricionariedade do agente é afastada. Caso contrário, seriam facilitadas possíveis manobras para aplicação indevida da dispensa. É irrelevante se a Administração optou por executar a obra em tempos distintos. Deverá ser analisada a possibilidade de execução

simultânea, independente da vontade do agente. Em sendo possível, deverá ser aplicado ao caso concreto, a aglutinação das obras ou dos serviços de engenharia.

A forma de execução, isto é, se será realizada efetivamente em conjunto ou concomitante, não é levada em consideração, bastando que potencialmente sejam executáveis desse modo. Pretende a lei, em todos os momentos, reforçar o acatamento do princípio da licitação, razão pela qual impõe categoricamente que o permissivo do inciso I deve ser utilizado, desde que não se refira a obras ou serviços da mesma natureza e no mesmo local que possam ser realizados conjunta ou concomitantemente. (...) se puderem ser realizados conjunta ou concomitantemente é dever do Administrador empregar a modalidade de licitação pertinente, ainda que não vá executá-la simultaneamente. Basta a potencialidade dessa execução para afastar a dispensa. (FERNANDES, 2000, p. 298 - 299)

Verifica-se que os pressupostos em tela são cumulativos. Dessa forma, para a verificação do valor total deverão ser aplicáveis todos simultaneamente. Assim, para descaracterizar a dispensa, a obra ou serviço de engenharia deverá ser de mesma natureza, sua realização em mesmo local e com possibilidade de execução conjunta e concomitante. Na ausência de um dos requisitos, duas ou mais obras ou serviços de engenharia distinta, não terão seus valores somados, ou seja, se cada um tiver o valor final abaixo do limite econômico, será possível utilização de duas dispensas distintas. Diferentemente, somam-se os valores e aplica-se a modalidade licitatória apropriada.

c) Compras e outros serviços, parcelas distintas.

A legislação faz distinção aos dois incisos limitadores da dispensa em debate. Além dos valores, existem pressupostos distintos. No caso do inciso II, para compras e outros serviços, a licitação será dispensável desde que não se refira a parcelas de um mesmo serviço, compra ou alienação de maior vulto que possa ser realizada de uma só vez.

De acordo com Niebuhr (2003, p. 269), isso significa o dever de somar os valores relativos aos contratos de compras e serviços do mesmo objeto, que possam ser realizados ao mesmo tempo. Devem ser realizados no mesmo período correspondente ao exercício financeiro. Em princípio, todas as compras e serviços com o mesmo objeto, que podem ser realizados em determinado exercício financeiro, devem ser realizadas de uma só vez. Nesse caso, é obrigatória a soma de todas as operações, para efeito de apurar se o valor se enquadra ou não nos limites que autorizam a dispensa.

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