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4. DIRETRIZES PARA APLICAÇÃO DA DISPENSA POR VALOR

4.5 CONDUTA DELITUOSA

4.5.2 Pena

Conforme artigo em tela, a pena será de 3 (três) a 5 (cinco) anos de detenção e multa. Sendo que, a penalidade de privação de liberdade em seu limite mínimo, impede a suspensão condicional da pena, prevista no artigo 77 do Código Penal. “Mesmo em seu grau mínimo, a pena de detentiva não possibilita a concessão do sursis nem a aplicação da suspensão condicional do processo, artigo 89 da Lei Nº 9.099/95” (COSTA JR, 2004, p. 21). Contudo, não impede que o regime de cumprimento seja o aberto nos termos do art. 33 § 2º, a, do CP, ou até mesmo a substituição por duas penas restritivas de direitos e multa, nos termos do art. 44, também do CP.

Com relação à multa, esta será fixada na sentença e calculada em índices percentuais, que não poderão ser inferiores a 2%, nem superiores a 5% do valor do contrato licitado ou celebrado com dispensa ou inexigibilidade de licitação, conforme artigo 99 da lei de licitação e contratos (BRASIL, 1993).

Por fim, nos temos do artigo 83 da mesma lei, também é efeito da condenação, quanto ao servidor público, a perda do cargo, emprego, função ou mandato eletivo.

5 CONCLUSÃO

Imprescindível que a administração, tanto direta como indireta, para cumprir sua finalidade institucional, estabeleça contratos com terceiros. Sendo necessárias diversas aquisições de bens e serviços, seja para custeios de dispêndios intrínsecos ao exercício próprio de subsistência ou para execução de atividades direcionadas à coletividade. É fato o envolvimento do ente público em tratativas comerciais. Diante disso, o ordenamento pátrio regula todo o procedimento relativo às contratações, instituindo princípios e normas definidoras, que deverão ser cumpridos na íntegra sob pena de anulação do processo e aplicação de sanções cabíveis aos envolvidos.

Antes mesmo da edição das regras relativas às compras, deve o legislador observar os princípios balizadores da Administração Pública. Não existe hierarquia entre eles. Contudo, tem relevo a supremacia do interesse público. Diferentemente da relação particular, em que prevalece a vontade das partes, na relação pública a vontade da coletividade deverá ser elevada ao plano de destaque. Não será permitida a criação de leis com objetivos alheios à sociedade, privilegiando pequenos grupos ou a ambição individual. Uma vez vigente, a lei deverá ser observada, sem possibilidade de optar ou não pelo rito estabelecido, sendo preservado o princípio da legalidade. Impera também a impessoalidade administrativa; nenhuma ação deverá ser direcionada a favorecer ou prejudicar alguém. Quaisquer atos da Administração deverão ser praticados para cumprir a finalidade pública, independente de quem será atingido, sendo proibida a obscuridade. A regra é a divulgação ou acesso livre aos cidadãos a todas as informações pertinentes a tais atos. As ações adotadas deverão ser revestidas de eficiência, com o fim de evitar o desperdício de recursos, tais como: econômico, técnico, social, pessoal. Exige-se que a atividade administrativa seja exercida com presteza, perfeição e rendimento funcional.

Diante das exigências, instituiu-se que a licitação visa a garantir a observância do Princípio Constitucional da Isonomia e a seleção da proposta mais vantajosa; ou seja, a que melhor atenda de maneira objetiva o interesse da Administração. Diante disso, verifica-se que a regra é licitar. Apesar de imprescindível para garantir o melhor lance, o processo licitatório envolve uma relação de custos e benefícios. Devendo ser analisados os dispêndios econômicos

derivados do cumprimento dos atos materiais da licitação e de alocação de pessoal. Além disso, decorrem custos relativos ao lapso temporal referente aos prazos necessários para o desenvolvimento dos atos e fases do procedimento. Em contrapartida, a licitação produz benefícios, em tese pela contratação mais vantajosa. Contudo, em algumas situações, a licitação seria inconveniente porque os potenciais benefícios são inferiores às desvantagens previsíveis, seja pelo valor econômico despendido, seja pela impossibilidade de aguardar o procedimento licitatório ordinário.

Para evitar a provável desvantagem e prejuízos, a legislação previu hipóteses de dispensa de licitação. Existem diversas possibilidades em função dos motivos; são fatos relativos à urgência, à impossibilidade de competição e ao valor econômico do contrato. Em suma, são casos de licitação dispensada, dispensável ou inexigível. Diante disso, o presente trabalho limitou-se às inferências que versam apenas sobre o montante econômico do contrato. Assim, o principal parâmetro a ser observado para a dispensa é o valor do objeto a ser licitado; contudo, não o único.

Verifica-se que existem quatro possibilidades de dispensa atribuídas ao montante. A primeira para a administração direta, dividindo-se em duas hipóteses distintas, sendo: obras e serviços de engenharia e compras e outros serviços, cada qual com limite próprio. Segundo, para as mesmas contingências, porém com o dobro do valor estabelecido se contratados por consórcios públicos, sociedade de economia mista, empresa pública e por autarquia ou fundação qualificada. Assim, extraem-se da legislação os seguintes limites: R$15.000,00; R$8.000,00; R$30.000,00 e R$16.000,0 respectivamente. Ocorre que tais extremos foram estabelecidos em 1998, sendo impossível não haver desvalorização monetária frente aos 19 anos passados após o último ajuste. Mesmo em campo científico estranho ao direito, o limite financeiro tem seu reflexo diretamente ligado à eficiência administrativa. Considerando que os limiares têm função de equilibrar a relação custo-benefício do certame, é fácil estimar que ao longo dos anos houve corrosão no poder de compra da moeda. Tal desatualização traz prejuízos à Administração, haja vista a dispensa ser revestida de agilidade e demandar menor gasto com pessoal. Uma vez atualizado o valor, diversas aquisições passariam a ser efetivadas por intermédio de tal instituto, sendo dispensadas as modalidades mais onerosas e morosas. Conforme apresentado em valores corrigidos, para elevar à equivalência

da época em que foram editados, os parâmetros deveriam ser atualizados em aproximadamente o triplo daqueles em vigência na lei de compras e contratos.

O limite econômico não é exclusividade para definição da dispensa por valor; existem outros parâmetros essenciais. É imprescindível para obras ou serviços de engenharia considerar a natureza, o local e a possibilidade de realização conjunta ou concomitantemente. Para compras e outros serviços, estes não devem se referir a parcelas de um mesmo objeto de maior vulto que possa ser realizado de uma só vez. Assim, é vedado o fracionamento do objeto para aplicação da dispensa a fim de evitar modalidade mais rigorosa. A regra é licitar. Assim, tentar valer-se de quaisquer manobras desleais para burlar o certame, incorrerá o agente em situações tipificadas na legislação vigente suas sanções cabíveis.

Nos termos da lei, é possível verificar três condutas puníveis, tais como: dispensar, não exigir ou deixar de cumprir procedimento formal pertinente à dispensa. Para a validade do procedimento, este deverá cumprir em todos seus atos e fases os preceitos legais, com a possibilidade de caracterização do tipo e sua penalização. Poderá ser responsabilizado tanto o agente público quanto o particular que obtiver vantagem indevida decorrente do ato ilícito.

Finalmente, verifica-se que a dispensa é um instituto que visa a auferir agilidade ao poder público ampliando a eficiência econômica e temporal. Embora os valores estejam desatualizados, é imperioso o cumprimento estrito das diretrizes legais, não sendo permitido valer-se de artifícios escusos para sua aplicação. É mister observar, desde a edição até a interpretação da norma, os princípios balizadores da Administração Pública, tendo relevo a supremacia do interesse público, não sendo permitida a renúncia de nenhum outro princípio ou dispositivo normativo. O agente que infringir quaisquer que sejam os quesitos estará sujeito à aplicação do tipo e suas sanções, estando o procedimento, fatalmente, sujeito à invalidade.

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