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De acordo com Andrade e colaboradores (2017), o art. 1º, caput, da Resolução nº 213/2015 do CNJ estabeleceu em caráter cogente a realiza- ção do ato que ficou conhecido, no contexto brasileiro, sob a denominação de audiência de custódia. Essa disposição normativa veio regulamentar o Pacto Internacional dos Direitos civis e Políticos, adotado pela Resolução 2.200-A (XXI), da Organização das Nações Unidas (ONU), assim como a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto San José da Costa Rica), ratificados pelo Brasil em 1992.

A Resolução nº 213/2015 do CNJ instituiu uma importante ferramenta inovadora, qual seja, o Sistema de Audiência de Custódia (Sistac) desti- nando-se a operacionalizar o registro e a prática dos atos nas audiências de custódia, sendo este sistema eletrônico de alcance nacional. O Sistac deverá contribuir com os propósitos da audiência de custódia, qual seja, valorização da liberdade, como regra, no curso do processo, bem como superação do encarceramento provisório com caráter punitivo, além do importante papel de preservar a integridade física e psicológica da pessoa autuada, adotando providências judiciais, sobretudo quanto às denúncias de tortura e maus-tratos nas circunstâncias da prisão. (GOMES, 2017, p. 80)

O CNJ3 lançou o projeto Audiência de Custódia em 6 de fevereiro de

2015, na cidade de São Paulo. E, no dia 9 de abril de 2015, o CNJ, o Ministério da Justiça e o Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD) assinaram três acordos com objetivo de incentivar a difusão do Projeto Audiências de Custódia em todo o país, o uso de medidas alternativas à prisão e a moni- toração eletrônica. Estas medidas buscam combater a cultura do encarce- ramento que se instalou no Brasil.

O CNJ também aponta que o primeiro acordo de cooperação técnica entre este órgão, Ministério da Justiça e o IDDD estabelece a

[...] ‘conjugação de esforços’ para a implantação da audiência de cus- tódia nos estados. O projeto busca garantir a rápida apresentação do preso em flagrante a um juiz para que seja feita uma primeira aná- lise sobre a necessidade e o cabimento da prisão ou a adoção de medidas alternativas. O acordo prevê apoio técnico e financeiro aos estados para a implantação de Centrais de Monitoração Eletrônica,

3 Ver sobre em: http://www.cnj.jus.br/sistema-carcerario-e-execucao-penal/audiencia-de-custo dia/historico.

Centrais Integradas de Alternativas Penais e câmaras de mediação penal. Os recursos devem ser repassados pelo Ministério da Justiça aos estados que implementarem o projeto audiência de custódia e também serão usados para a aquisição de tornozeleiras eletrônicas. (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, [20--])

Segundo dados do CNJ,4 o Tribunal de Justiça do Estado do Pará assi-

nou o termo de adesão no dia 25 de setembro de 2015 para a efetiva implan- tação do Projeto Audiência de Custódia no estado. Até meados de 2017, o Projeto realizou, em todo o Brasil, um total de 258.485 audiências, destas, 115.497 (44,68%) resultaram em liberdade; 142.988 (55,32%) casos resulta- ram em prisão preventiva; as alegações de violência no ato da prisão che- garam a 12.665 (4,90%), e casos em que houve encaminhamento social/ assistencial ocorridos em audiência esteve em torno de 27.669 (10,70%).

Ademais, no período de 25 de setembro de 2015 a 30 de junho de 2017, foram realizadas 10.681 audiências de custódia, sendo que deste total 55,98%, ou seja, em mais da metade das audiências houve conversão do flagrante em prisão preventiva, enquanto que em 44,02% – aproximadamente 4.700 audi- ências – concedeu-se liberdade provisória; em 5% – que equivale a 518 audi- ências – houve alegações de violência no ato da prisão e, por último, em 4% dessas audiências houve encaminhamento do autuado para o serviço social.

METODOLOGIA

Para esta pesquisa utilizou-se o banco de dados da Vara de Inquéritos e Medidas Cautelares de Belém, do período de março de 2016 a julho de 2017. Tais dados foram extraídos diretamente do relatório gerencial do Sistac. As variáveis analisadas foram: prisão preventiva, liberdade, denún- cia de tortura ou maus-tratos e encaminhamentos sociais, bem como sua relação com o tipo penal.

A escolha da obtenção dos dados da Vara de Inquéritos e Medidas Cautelares de Belém justifica-se por ser esta a vara com maior número de audiências de custódia realizadas no período pesquisado. Enquanto que o marco inicial (março/2016) se deve ao fato de ser este período inicial do sistema Sistac naquela vara, o marco final justifica-se por ser o último mês

4 Disponível em: http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2016/01/983f4d6e9fa7af345f806d f54251a616.pdf.

anterior à realização da coleta. Os dados extraídos dos relatórios do Sistac foram analisados e serão representados em forma de gráficos e tabelas.

O método utilizado na pesquisa foi a abordagem quantitativa, que, no entendimento de Oliveira (2016), significa quantificar dados obtidos por meio de informações coletadas de questionários, entrevistas e observa- ções. Também se utilizou pesquisa bibliográfica, cuja principal finalidade é propiciar ao pesquisador seu contato direto com obras, artigos ou docu- mentos que tratem do tema em estudo. (OLIVEIRA, 2016)

O tipo de pesquisa realizada foi análise estatística de dados, por ser considerada como a mais apropriada para que, no dizer de Gerhardt e Silveira (2009), “[...] implica processamento de dados, através da geração (normalmente mediante o emprego de técnicas de cálculo matemático), da apresentação (os dados podem ser organizados em gráficos ou tabelas) e da interpretação”.

Foram considerados todos os elementos da população, portanto, uti- lizando-se o censo, que conforme nos ensina Carvalho e Campos (2008) é uma coleção de dados relativos a todos os elementos de uma população.

O relatório extraído do Sistac referente à Vara de Inquéritos Policiais de Belém apresentou 1.518 termos de audiências de custódia, foi utilizada a totalidade desses dados independente do gênero do flagranteado, ou seja, foram pesquisadas tanto audiências em que o preso era do sexo mas- culino, quanto do sexo feminino.

Como critério de inclusão, foram pesquisados individualmente os cri- mes com maior incidência naquela população, a contrario sensu os crimes de menor incidência foram agrupados e pesquisados em conjunto. Para fins desta pesquisa, os crimes de menor incidência foram identificados como “outros”.