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Audiência pública debate conflitos agrários e proteção aos defensores de direitos humanos do Pará

OBSERVATÓRIO PARLAMENTAR DA REVISÃO PERIÓDICA UNIVERSAL

8. DEFENSORES DE DIREITOS HUMANOS

8.3. Audiência pública debate conflitos agrários e proteção aos defensores de direitos humanos do Pará

Sugeriu-se ainda que o Ministério Público Federal atue na reparação e na criação de um gabinete interinstitucional de crise sobre a questão do garimpo em terras indígenas, composto pela Polícia Federal, Secretaria de Segurança Pública, Polícia Militar, FUNAI, para acompanhar o caso de forma integrada e exigir a retirada de grileiros e efeti-vação das políticas públicas por parte do INCRA, IBAMA e FUNAI, além de fortalecer fórum permanente de acom-panhamento da situação de violência no campo.

A CDHM debateu no dia 6 de outubro conflitos agrários nos municípios de Anapu, Altamira, Novo Progresso e distrito de Castelo dos Sonhos e ameaças de morte contra defensores de direitos humanos no estado do Pará.

Organizações da sociedade civil vêm denunciando atos violentos e ameaças de morte que seriam perpetrados por grileiros, madeireiros e garimpeiros contra assentados, posseiros e trabalhadores rurais sem-terra. Além disso, de-fensores de direitos humanos da região se encontrariam desassistidos pelo poder público.

DESAFIO PARA O GOVERNO FEDERAL E OS ESTADOS

Mariana Neris, Secretária Nacional de Proteção Global do MMFDH, lembrou que os estados têm autonomia para desenvolver programas próprios e que atualmente 54 defensores de direitos humanos estão incluídos no Programa Estadual do Pará, e 17 casos estão em análise.

“Dos defensores incluídos, cerca de 80% estão ligados à militância de defesa de territórios”, apontou Neris, re-forçando que estão envolvidos no combate ao desmatamento, contra o uso abusivo de agrotóxicos, fiscalização ambiental, contra garimpos ilegais e exploração ilegal de madeira, pesca ilegal e uso indevido do solo e demais atividades que afetem a vida de lideranças e de suas comunidades.

Neris afirmou que o Ministério vem atuando junto a diferentes órgãos para capacitar os diferentes atores para ope-rar na proteção aos defensores. Para ela, o grande desafio é que os programas de proteção integrem uma política pública específica, o que demanda do Estado uma certa estrutura e celeridade.

FOCO NA FORMAÇÃO DOS AGENTES DE SEGURANÇA

Padre José Boing, da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), que atua há 30 anos na região, reforçou as dificulda-des vivenciadas pelos defensores. “Temos uma angústia muito grande: os defensores querem fazer a sua denúncia na delegacia e muitas vezes o delegado não quer atender. Isso é uma exigência do programa de proteção, mas lá na ponta o defensor não se sente seguro de fazer sua denúncia”.

"Muitos dos nossos soldados, sejam da Polícia Civil ou Militar, não aceitam muitas vezes aquela luta do defensor, como se eles estivessem cometendo um crime. Isso é muito grave”, apontou.

Boing sugeriu a formação dos agentes de segurança como forma de contribuir para uma mudança de cultura na região.

“Precisamos preparar os delegados e aqueles que vão fazer a escolta dos defensores, e que a segurança pública realmente possa intimidar lá na ponta as pessoas que têm poder econômico e que muitas vezes estão ameaçando os trabalhadores”.

“A exemplo do que já acontece aos juízes, promotores e defensores públicos, [é preciso] que exista uma qualifica-ção tanto para policiais civis quanto para os delegados que atuam na área agrária, incluindo disciplinas do direito

agrário nos cursos de formação da academia de polícia”, defendeu também Lílian Viana Freire, Promotora de Justiça Agrária da Região de Marabá.

GRAVIDADE DO CENÁRIO

“Só na região de Altamira, a Defensoria Pública apurou que entre os anos de 2015 e 2019, 19 trabalhadores e tra-balhadoras rurais e lideranças foram assassinados nestes conflitos agrários e até a presente data não foi apurada a autoria delitiva, e as famílias sequer conseguem ter acesso a esses processos criminais”, apontou Bia Albuquerque Tiradentes, Defensora Pública Agrária de Altamira”, sobre a gravidade do cenário.

A defensora também apontou a morosidade na titulação de áreas quilombolas pelo ITERPA e citou, inclusive, um caso concreto na região de Porto Moz que desrespeita ordem judicial pela não titulação do território, além da reali-zação pela Polícia Militar de despejos forçados sem decisão judicial, como ocorreu no assentamento Vila Camutá, em São Caetano de Odivelas. Além disso, famílias de trabalhadores rurais teriam sido ameaçadas, com casas e plantações queimadas.

DIFICULDADES VIVENCIADAS PELAS FORÇAS DE SEGURANÇA

Ivan Pinto da Silva, Delegado de Polícia Civil Especializada em Conflitos Agrários em Altamira, apontou que muitas vezes os profissionais não possuem formação sobre o direito agrário e comentou sobre uma cultura na Polícia Civil de as delegacias comuns preferirem encaminhar para as especializadas, e que estas muitas vezes estão sobrecarre-gadas por atender muitos municípios distantes centenas de quilômetros.

“Não é falso dizer que o delegado que assume a cadeira da DECA muitas vezes sequer tem conhecimento da ma-téria que ele vai lidar, na academia não é ministrado o direito agrário”, reconheceu.

"Não pode ser um delegado encastelado, tem que ser um delegado chão de fábrica, tem que ir até o local. É des-gastante fisicamente, psicologicamente, você vai lidar com repressão a crimes ambientais, repressão a direitos con-cessórios e ali você tem que decidir pela vida”, disse.

ATUAÇÃO FUNDAMENTAL PARA A SOCIEDADE

A gente precisa ampliar mais esse debate sobre a importância da atuação dos defensores de direitos humanos no estado do Pará e no Brasil. A sociedade brasileira precisa reconhecer a importância da atuação desses defensores que muitas vezes são criminalizados pelo Estado e também pela sociedade em decorrência da sua atuação”, argu-mentou Andréia Silvério, da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

EM BUSCA DE SOLUÇÕES

Como resultado da audiência foram sugeridos alguns encaminhamentos, que foram posteriormente formalizados por Carlos Veras às autoridades competentes.

Ao governador do Pará, Helder Barbalho, foi demandada a descentralização territorial do Instituto de Terras (Iterpa), com instalação de unidades do órgão em municípios, facilitando o acesso dos cidadãos interioranos, considerando as dimensões do Estado, proporcionando agilidade nas atividades setoriais que buscam a eficiência e eficácia na atribuição de tarefas e o robustecimento de recursos humanos e orçamento dos órgãos de política agrária, para que atendam às suas finalidades institucionais.

Ao Secretário de Segurança Pública e Defesa Social do Pará, Walame Fialho Machado, foi demandado o fortaleci-mento das Delegacias de Polícia Civil Agrárias (DECAS), com mais equipafortaleci-mentos e recursos humanos e a criação de delegacias especializadas em crimes ambientais.

Também foi demandada a capacitação de policiais das DECAS, incluindo aulas de mediação de conflitos agrários e direitos humanos, com aplicação do Direito Agrário, visando à qualificação dos Agentes e Delegados que atuam na área agrária e auxílio na logística de deslocamento dos membros que atuam no Programa de Proteção aos De-fensores de Direitos Humanos do Pará.

O presidente da CDHM ainda solicitou informações sobre o inquérito policial que apura as circunstâncias do ho-micídio de Fernando dos Santos Araújo, ocorrido em janeiro deste ano.

As notas taquigráficas da audiência foram encaminhadas à Presidente do TJ do Pará, a desembargadora Célia Regina de Lima Pinheiro, com sugestões para a criação dentro do órgão de Comissão Estadual de Combate à Violência no Campo, com o objetivo de tratar dos conflitos agrários nos moldes do trabalho desenvolvido pela então Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo do antigo Ministério do Desenvolvimento Agrário, extinta no ano de 2016. Também foi solicitada agilidade na prestação jurisdicional de Ação Civil Pública que versa sobre pedido da Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombos Maripi, Tauer, Taper, Buiu e Tur.

Durante a audiência pública, a Defensora Pública Agrária de Altamira, Bia Albuquerque Tiradentes, apontou que, entre os anos de 2015 e 2019, somente naquela região, 19 trabalhadores e trabalhadoras rurais e lideranças foram assassinados em conflitos agrários.

Nesse contexto, foram solicitadas informações sobre o andamento de 12 casos ao Procurador-Geral de Justiça do Pará, César Mattar Júnior, além de providências quanto ao conflito agrário no assentamento rural Vila Camutá, em São Caetano de Odivelas, onde, segundo também relatado pela defensora Bia Albuquerque, agricultores estariam sendo ameaçados e tendo plantações destruídas por grupo armado.

À Ministra Damares Regina Alves foi solicitado o aumento do limite orçamentário dos programas de proteção aos defensores de direitos humanos do Estado do Pará e a elaboração de manual impresso e virtual voltado ao trabalha-dor rural sobre o funcionamento dos programas de proteção.

Também foi demandado ao MMFDH para realizar gestão no sentido de que os órgãos estaduais auxiliem na logís-tica de deslocamento dos membros que atuam no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos do Pará, vinculado à Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos, que enfrentam dificuldades no atendimento das denúncias de atos violentos e ameaças de morte supostamente perpetradas por grileiros, madeireiros e garim-peiros contra assentados, posseiros e trabalhadores rurais sem-terra.

Ao Secretário de Justiça e Direitos Humanos do Pará, José Francisco Pereira, foi solicitado o fortalecimento dos programas de proteção aos defensores de direitos humanos do Estado do Pará, com aumento do seu limite orçamen-tário e gestão no sentido de que os órgãos estaduais auxiliem na logística de deslocamento dos membros que atuam no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos do Pará, que enfrentam dificuldades no atendimento das denúncias de atos violentos e ameaças de morte.

Ao Presidente do Incra, Geraldo José da Câmara Ferreira de Melo Filho, foi demandada a recriação da Unidade Avançada de Altamira e o fortalecimento das Ouvidorias Agrárias Regionais, para que retomem, com urgência, as mediações de conflitos no campo, com o propósito de garantir a preservação dos direitos humanos e sociais na zona rural.