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CAPÍTULO 02: AS IDEIAS NA ALEMANHA

2.1. A Aufklärung

Durante a Idade Média a compreensão do mundo estava vinculada à ideia de Cosmos. O Cosmos cristão havia sido erigido a partir da associação da narrativa bíblica da criação do mundo por Deus ao sistema astronômico da Antiguidade Clássica, tendo a Terra como o centro geométrico de toda a criação divina (RANDLES, 1999). Este conceito baseava-se na crença de que todas as coisas que existem teriam sido criadas por Deus e, estou permitido a usar a biblioteca livremente como se fosse minha. Durante este inverno, aproveitei a ocasião para estudar todas as fontes no departamento de geografia física e espero, com o tempo, poder produzir algo que seja bom e preencher uma necessidade existente - algo que, por falta de uma expressão adequada, eu poderia chamar de fisiologia da terra. A este propósito devo dedicar todo o tempo que for possível”

portanto, os mais variados elementos da natureza mantinham-se em perfeita harmonia uns com os outros, uma vez que tudo o que existe seria expressão da perfeição e da vontade do Criador. Compreender o funcionamento da natureza significava ser capaz de contemplar o significado de cada coisa no conjunto de toda a criação, já que Deus não teria criado nada por acaso, em última instância, a causa final de tudo o quanto existe seria a vontade divina.

No início da Idade Média, o conceito de Cosmos e o lugar ocupado pela alma na criação, foi adaptado da tradição platônica para a tradição cristã por Santo Agostinho (354 – 430). De acordo com Araújo (2004), apesar das acentuadas diferenças entre a tradição greco- romana e a tradição judaico-cristã, a leitura cristã de Platão não se mostrou conflituosa, já que a filosofia neoplatônica possuía pontos em comum com o cristianismo, notadamente a crença na existência de dois mundos, um material e o outro espiritual. Ambas tradições acreditavam que o mundo, e tudo o que nele existe, seria obra de um criador ou arquiteto. Além disso, ambas tradições consideravam a alma como sendo mais importante que o corpo, já que somente através do espirito seria possível compreender a verdade que seria alcançada através do encontro entre a alma e o divino (ARAÚJO, 1999).

A partir do século XIII, a perspectiva neoplatônica foi substituída pela filosofia tomista de base aristotélica. O interesse pela obra de Aristóteles havia sido suscitado pelo intercâmbio cultural com os árabes que dominavam a porção sul da Europa (RUSSELL, 2015). De acordo com Araújo (1999), se a união do neoplatonismo com a fé cristã foi realizada sem muito esforço, o mesmo não se pode dizer do aristotelismo que se tratava de uma filosofia muito mais distante da fé cristã do que era Platão. São Tomás de Aquino (1225 – 1274) foi o responsável por adaptar a filosofia de Aristóteles à fé cristã e o fez de maneira bastante engenhosa, sem grandes modificações ao pensamento de Aristóteles e sem causar rupturas com a teologia cristã (RUSSEL, 2015). Enquanto Santo Agostinho propunha compreender o mundo como reflexo do divino e a buscar a verdade através do encontro da alma com Deus, São Tomás de Aquino aceitou a noção aristotélica do hilomorfismo14, que explicava que todos os corpos seriam formados pela indissociável união entre espírito e matéria.

São Tomás de Aquino, e em seguida todo o pensamento escolástico, considerou que a compreensão das coisas-em-si seria caminho indispensável para compreender a realidade posta por Deus e até mesmo como caminho para a comunhão entre o humano e o divino. Logo, a contemplação da matéria seria fundamental para o desenvolvimento espiritual.

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O hilomorfismo é a teoria Aristotélica que defende que todo corpo seria constituído de dois princípios: matéria e forma.

Esta perspectiva, que foi abandonada e rejeitada após o século XV, passou a ter grande importância para a filosofia alemã no século XVIII e XIX e para a Geografia de Carl Ritter que irá defender que a matéria é portadora de uma verdade divina e que, portanto, conhecer a matéria objetivamente é o caminho para a comunhão com Deus.

Apoiando-se na escolástica, a filosofia da Idade Média considerou o homem como sujeito do conhecimento. Conhecer significava compreender a relação harmônica da criação divina expressa na matéria. O conhecimento estava voltado ao entendimento das causas finais a partir da contemplação da criação. Conhecer era tomar conhecimento do propósito divino, era poder contemplar Deus na criação reconhecendo-se enquanto parte de uma ordem significativa (TAYLOR, 2014).

Esta forma do homem compreender ao mundo e a si mesmo começou a entrar em declínio com o final da Idade Média, sobretudo com o advento do Renascimento e a difusão de seus ideais por toda a Europa. O renascimento teve como epicentro a Itália, em particular a região da Florença. O enriquecimento desta região em virtude da intensificação das atividades marítimas e comerciais no mediterrâneo tiveram como resultado o fortalecimento das classes burguesas e o resgate da cultura greco-romana que serviu como modelo estético desta revolução cultural (RUSSEL, 2015).

Durante o Renascimento, a insatisfação com o poder eclesial se aprofundou, o que acabou levando tanto a ruptura da unidade cristã quanto à negação do modelo tomista defendido pela Igreja Católica (ARAÚJO, 1999; RUSSEL, 2015). Apesar do descontentamento e da busca por ruptura com a forma católica de se conceber o mundo e o homem, o Renascimento não foi capaz de elaborar nenhum novo modelo de compreensão da realidade. De acordo com Russell (2015), o que aconteceu neste período foi a proliferação de uma série de leituras da realidade, como a retomada da Astrologia, mas nenhuma se consolidando de forma relevante. Somente no Século XVII, com o Iluminismo, é que uma nova forma de conceber o mundo iria se consolidar. Apesar desta demora, o Renascimento foi importante para superar a rigidez de pensamento escolástico.

O Renascimento não foi um período de grandes feitos na filosofia, mas certos acontecimentos serviram como preliminares essenciais à grandeza do século XVII. Em primeiro lugar, ele demoliu o rígido sistema escolástico, convertido como fora em camisa de força intelectual. [...] Por fim, e ainda mais importante, estimulou também o hábito de ver a atividade intelectual como aventura social deleitosa, e não uma meditação enclausurada que almeja preservar uma ortodoxia predeterminada. (RUSSEL, 2015, p. 22)

Somente no século XVII é que a ideia de Cosmos da Idade Média é completamente superada, sendo substituída pela moderna concepção de Universo. As especulações a respeito da infinitude do universo serviram para desmoronar o modelo astronômico da antiguidade abrindo caminho para a Revolução Científica que emergiu, principalmente, a partir dos trabalhos de Nicolau Copérnico (1473 – 1543), Johannes Kepler (1571 – 1630), Galileu Galilei (1564 – 1842) e Isaac Newton (1643 – 1727).

Copérnico presumia que a Terra não ocupava o centro do Universo, como se acreditava. Suas observações astronômicas indicavam que provavelmente o nosso planeta mantinha dois movimentos simultâneos, um ao redor do sol e outro sobre seu próprio eixo. Suas observações foram polêmicas porque significaram retirar a Terra do centro geométrico do Cosmos, o que não poderia ser facilmente aceito já que colocava em questão a perfeição da criação divina e a harmonia estética do Cosmos amplamente defendida na Antiguidade e mantida durante a Idade Média. Acreditava-se que o planeta Terra, sendo o elemento mais importante da obra de Deus, deveria estar perfeitamente posicionado no centro de toda a criação. O que Copérnico pressupôs foi confirmado por Galileu que, finalmente, sepultou o geocentrismo.

A perplexidade causada por Kepler seguiu a mesma linha de raciocínio dos incômodos causados por Copérnico. Ao observar os céus, Kepler percebeu que as órbitas dos planetas não eram circulares, mas sim elípticas e que, portanto, seu movimento não era uniforme, mas variável ao longo da órbita. Assim como a descoberta de Copérnico, a descoberta de Kepler colocava em questão a perfeição da criação divina. Não seria esperado que os corpos celestes tivessem órbitas que não representassem uma forma geométrica perfeita, como o círculo, ou ainda que não mantivessem movimento constante (RUSSEL, 2015).

Quanto à Newton, seu interesse estava voltado para a construção de um sistema mecânico matemático que fosse capaz de revelar uma explicação causal do mundo. Ao concluir que o estado natural estável dos corpos era o repouso, Newton rompeu com a concepção aristotélica do Universo que pressupunha que o estado natural dos corpos era o movimento, afinal acreditava-se que tudo o que existe foi assim posto pelo Criador. Newton interpretou o Universo a partir das relações de causa e efeito, o movimento seria uma resposta à algum estímulo ainda que este estímulo fosse inicialmente dado pelo próprio Deus.

O Universo, suposto por Newton expressa-se como um estrito sistema mecânico de relações entre massas, extensão e corpo, regido por princípios de inércia e gravitação; paradigma que culmina na Revolução Científica e sobre o qual iria apoiar-se gigantesco avanço do conhecimento e da tecnologia. (GOMES, 2006, p. 186)

Apesar de não ser a intenção principal destes físicos, astrônomos e filósofos romper com a concepção de Cosmos pautado em causas finais, suas proposições acabaram por consolidar uma nova forma de conceber o Universo pautado no racionalismo e no mecanicismo, que ganharam força sobretudo a partir do século XVII com o Iluminismo. Esta busca por decifrar os mistérios do Universo a partir do racionalismo alterou não apenas a forma como o homem compreendia a natureza externa, mas acabou colocando em questão a forma como o homem compreendia a si mesmo.

De acordo com Taylor (2014), durante a Idade Média o ser humano era compreendido como parte integrante do Cosmos, como sujeito pertencente à uma ordem significativa. Somente na relação com o todo da criação divina é que seria possível compreender a existência humana. A Revolução Científica rompeu com este sujeito cósmico. Assim como os elementos que integram a natureza passaram a ser compreendidos sob a perspectiva mecanicista e atomista, o homem, como parte integrante da natureza, também se tornou passível de ser compreendido pelas leis de causa e efeito. Logo, o homem enquanto sujeito do conhecimento, também precisou ser dissociado de qualquer ordem significativa, a fim de que fosse possível decifrar as leis que determinariam seu comportamento enquanto ser físico e social. Ao tornar-se capaz de objetivar a si mesmo na busca pelo conhecimento, o ser humano torna-se sujeito autônomo, desprendido de qualquer ordem de significados, na medida em que se tornou capaz de analisar a própria natureza humana.

Esta visão do sujeito desvinculada de qualquer ordem de significados já havia sido adotada pelos epicuristas e pelos céticos na Grécia Antiga, que eram motivados pela crença na irrelevância da existência de Deus. Contudo, na Modernidade o sujeito é tomado como autônomo não pelo desinteresse na existência divina ou de um mundo imaterial, mas o que é evidenciado é a necessidade de desvincular o homem de qualquer ordem significativa como condição para objetificação e dessacralização da natureza, o que tornaria possível sua dominação (TAYLOR, 2014).

O protestantismo – sobretudo em sua forma calvinista - colaborou neste processo de dessacralização da natureza na medida em que rompia com as tradições católicas, que preservavam a comunhão entre o homem e a natureza através dos ritos e das festividades. Logo, ainda que a racionalidade Iluminista atingisse a sociedade europeia do século XVII de

forma bastante heterogênea, a objetificação da natureza externa ao homem se espalhou de forma mais ampla entre os mais diversos setores da sociedade por causa da influência religiosa do protestantismo.

De acordo com Hobsbawn (2015), em cada país o Iluminismo assumiu características particulares, apesar de ter na França conseguido expressar as demandas internacionais de forma mais plena, o que acabou tornando-o influente em toda Europa. A própria atrasada Alemanha foi impactada pelo pensamento Iluminista francês, sobretudo através da leitura da obra de Voltaire, Montesquieu e Rousseau. Entretanto, o Iluminismo Alemão, ou a Aufklärung, se converteu em uma versão que Berlin (2009) considerou como sendo mais branda se comparada ao Iluminismo inglês e francês.

De acordo com Gaio (2007), antes de tentarmos compreender as particularidades da Aufklärung é essencial considerar que este foi um movimento encabeçado pela burguesia alemã, que por sua vez tratava-se de uma burguesia muito distinta da burguesia francesa e inglesa e muito mais dependente de suas nobrezas. Logo, os Aufklarër, apesar de defenderem os ideais Iluministas e buscarem a modernização da sociedade, não queriam romper totalmente com a tradição. Inspiravam-se para tanto no modelo inglês, onde a burguesia havia conseguido modernizar a sociedade sem, no entanto, romper com a tradição monárquica e com as nobrezas.

Outro fator importante para a Aufklärung foi a penetração do movimento pietista em toda a sociedade germânica no século XVIII. De acordo com Taylor (2014), nas regiões predominantemente católicas, como em parte da França, a Igreja representou forte oposição ao Iluminismo e sua busca por compreender o mundo através da razão descartando argumentos como a fé e os dogmas. O Iluminismo ameaçava o poder e a tradição católica e, portanto, fé e razão tornaram-se antagônicos. Em contrapartida, esta mesma reação não era presente nas regiões onde o protestantismo havia se disseminado. Os protestantes se mostraram muito mais abertos ao Iluminismo. De acordo com Berlin (2009), esta tolerância religiosa acabou por incutir na Aufklärung características deístas onde Deus continuou sendo concebido como criador do universo e sua existência não foi negada ou posta em questão.

O pietismo era um movimento de renovação da vida espiritual que acreditava na relação interior e sincera com Cristo (TAYLOR, 2014, p. 32). Este movimento religioso teve origem no calvinismo e mesmo quando se difundiu entre as regiões luteranas, manteve algumas características herdadas do calvinismo como a ideia de ascese espiritual, a predestinação da alma humana e a vocação do homem (GAIO, 2007). De acordo com GAIO (2007), estes elementos tiveram considerável impacto na sociedade germânica luterana e na

Aufklärung. Diferente do catolicismo em que a ascese espiritual era buscada majoritariamente por grupos de religiosos que se retiravam da sociedade para dedicar-se à vida espiritual, o pietismo defendia que todo luterano deveria viver como um monge no que diz respeito a busca da experiência religiosa. Esta lógica acabou trazendo para a vida cotidiana a formalidade e o processo metódico de vivência espiritual, o que levou ao uso da razão para a vivência da fé.

De acordo com Taylor (2014), o pietismo afastou-se das preocupações com as diferenças religiosas e procurou promover a valorização do indivíduo e sua liberdade de escolha, indo contra as pressões estatais e da Igreja. “De fato, com sua ênfase na religião do coração, os pietistas inicialmente deram menos atenção a diferenças de classes e educação do que os Aufklärer” (TAYLOR, 2014, p. 32). O pietismo estimulava a leitura e interpretação pessoal das Sagradas Escrituras por todas as pessoas, valorizando a individualidade religiosa e encorajando os fiéis a expressarem seus sentimentos15.

O pietismo teve influência inclusive sobre o trabalho de Ritter. Oriundo de família pietista, Ritter considerava a contemplação particular da natureza como forma de se conectar à Deus. A forma particular de viver a religião protestante recebida de sua família, certamente foi reforçada pela formação escolar que Ritter recebeu, de inspiração rousseuniana, em que o contato com a natureza era estimulado como forma de desenvolvimento cognitivo da criança. Logo, a forma como Ritter posteriormente irá compreender a natureza como manifestação do divino, tem suas bases também em sua formação religiosa e escolar.

Por mais que nem todos os Aufklarër fossem pietistas, o alcance deste movimento religioso na sociedade germânica acabou sendo amplo através da importância na obra de Gottfried Wilhelm Leibniz (1646 – 1716). Leibniz viveu no mesmo período que Newton e, paralelamente ao filósofo britânico, desenvolveu o cálculo infinitesimal, tendo sido até mesmo acusado de plágio, ao que seus amigos o defenderam afirmando que ele teria desenvolvido a sua teoria antes de ter tomado conhecimento da obra newtoniana. De acordo com Russel (2015), Leibniz não chegou a causar grande impacto em sua própria época, contudo sua obra foi muito influente nas gerações que o seguiram.

O Sistema Filosófico de Leibniz pautou-se na ideia da existência de uma harmonia pré-estabelecida no universo, o que proporcionou ao pensamento alemão um modelo de compreensão que fugisse dos modelos cartesiano e newtoniano (GAIO, 2007).

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De acordo com Gaio (2007), o pietismo desempenhou importante papel na construção do lirismo da poesia germânica e com o enriquecimento do idioma alemão com palavras que não encontram correspondentes em outros idiomas e são capazes de expressar complexos sentimentos e emoções de forma simples.

Esta harmonia pré-estabelecida haveria sido arquitetada pela grandiosa racionalidade de Deus, cuja onipotência seria a garantia do perfeito funcionamento de toda a Sua criação. Deus era considerado por Leibniz como um geômetra, uma vez que tudo que Ele cria deriva de sua suprema razão. Por este motivo, Leibniz afirma que vivemos no melhor mundo possível, uma vez que racionalmente foi a melhor obra que Deus poderia ter criado.

Para Leibniz, o Universo é constituído por substâncias independentes e autossuficientes, que sofrem influência apenas de Deus e nunca umas das outras. Logo, as relações de causa e efeito são meras aparências geradas pela harmonia que rege o universo. De acordo com Berlin (2009), Leibniz acreditava que tudo o que existe no Universo estaria ligado não apenas por relações inteligíveis, mas de acordo com uma lógica interna. Seria como se toda a criação funcionasse como um relógio regulado por Deus.

O sistema metafisico de Leibniz o estabeleceu nos países de língua alemã, e Leibniz ensinava que tudo quanto existe no Universo não está meramente ligado por aquelas relações necessárias que fazem dele um padrão inteligível – o conceito de um sistema estático, como se fosse geométrico, de entidades eternas em relações eternas, ou permanecendo numa espécie de presente eterno e imutável -, mas também se desenvolve e evolui de acordo com leis lógicas internas. O universo é uma hierarquia de entidades, mas a fronteira entre o animado e o inanimado é apenas relativa; tudo evolui, cresce, desenvolve a sua natureza ou realiza o seu padrão “interno” (todas essas são descrições alternativas do mesmo processo), e a intuição metafísica (bem como a revelação concedida aos grandes doutores e santos cristãos) descobre os princípios pelos quais isso é regulado. (BERLIN, 2009, p. 157)

Estas proposições de Leibniz a respeito da relação entre a lógica interna e o mundo exterior foram a base de sua Teoria da Monadologia. As mônadas seriam substâncias que carregam suas características do início ao fim de suas existências, como se fossem sementes que desde o princípio, desde sua criação pelas mãos de Deus, já carregam consigo todas as suas potencialidades. O passado e o futuro das mônadas estariam presentes em seu interior desde sua criação, de forma que nada poderia interferir em seu funcionamento ou em seu destino, apenas a vontade de Deus (RUSSEL, 2015, p. 121)

Leibniz teceu críticas à filosofia newtoniana, para ele espaço e tempo eram fruto de relações entre objetos, de forma que a concepção de espaço e tempo em Newton inviabilizava a reflexão sobre a dinâmica dos corpos. De acordo com Vitte (2010), nas reflexões de Leibniz sobre a mecânica newtoniana ele cria uma nova metafísica da natureza. No pensamento de Leibniz, os corpos possuem propriedades como extensão e duração. Mas o espaço e o tempo podem ser concebidos aprioristicamente, ainda que nele não existam corpos, tampouco coexistência. O mundo, para Leibniz era percebido apenas através de ilusões que

não representavam a realidade das coisas em si. A realidade das coisas-em-si estaria contida nas mônadas e somente a análise racional seria capaz de perscrutar essa realidade (GOMES, 2006).

Apesar da importância da obra de Leibniz, é preciso considerar que o filósofo não conseguiu grande reconhecimento em vida e a versão de seu Sistema Filosófico que realmente foi a base do pensamento filosófico na Alemanha foi aquela adaptada por Christian Wolff (1679 – 1754). Wolff traduziu a obra de Leibniz em termos racionalistas. Esta versão wolffiana do sistema leibniziano foi a base do pensamento especulativo na Academia Alemã ao longo do século XVIII (ZAMMITO, 2002).

De acordo com Zammito (2002), a formação intelectual de Wolff era oriunda das ciências naturais e da matemática, o que pode explicar seu interesse em defender a construção de um pensamento filosófico que estivesse alicerçado na rigorosidade científica da linguagem matemática. Apesar de não ser o interesse de Wolff romper com o pensamento religioso, ele defendia a separação entre a teologia e a filosofia, que eram áreas fundidas até o século XVIII, como forma de tornar a filosofia ainda mais rigorosa.

O rompimento com a Teologia não foi um projeto fácil, questões como a existência de Deus e a da imortalidade mantiveram-se como indispensáveis à