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Autobiografia: expressão do autoconhecimento e da criatividade

No documento Maria Elisa Moreira Costa (páginas 52-54)

Uma importante ferramenta dentro do processo de autoconhecimento que está ao alcance de todas as pessoas é a sua própria história de vida, a biografia de cada um.

Segundo Burkhard (2010), a intenção do trabalho biográfico não é a pessoa se voltar somente ao passado, mas compreender a sua história, integrar esse passado ao seu presente e possibilitar melhorias no seu futuro em curto, médio e longo prazo, fazendo descobertas criativas para si e ofertando contribuições ao seu entorno. À medida que uma pessoa amadurece, ela fortalece sua liberdade e autonomia.

A integração e a compreensão de todos os momentos da vida torna ampla a consciência dos fatos que envolvem cada circunstância vivida, podendo assim iluminar e oxigenar os momentos vindouros, dando-lhes novas cores e nuances, conforme é identificado por Burkhard (2010, p. 21):

A vida global de toda a biografia permite, por sua vez, ter uma visão total, e não só dos lados de sombra. Por meio dela, percebem-se quantos lados bons e de luz também se teve na vida. Conseguindo resgatar esses lados bons, elaborando e integrando também as sombras dos acontecimentos negativos, torna-se possível começar a perceber a vida como uma grande paisagem. Luz e sombra em conjunto formam as cores. A vida torna-se uma paisagem multicolorida ao invés de permanecer cinza e rotineira, como muitas vezes acontece nos dias de hoje.

Predebon (2006, p. 107) enfatiza que “o autoconhecimento traz a certeza da capacidade criativa”, traduzindo assim a proposição de que o ser humano nasce livre, criativo e intenso. Infelizmente ao longo da jornada de vida pode acontecer um distanciamento deste núcleo criativo, seja por questões de ordem estritamente pessoal,

conhecimento de etapas pessoais de desenvolvimento, é possível compreender de forma mais ampla a sua própria importância social:

Na biografia humana existem leis gerais de desenvolvimento para cada fase da vida, e durante o trabalho biográfico cada um identifica, em sua vida, elementos semelhantes aos de outras pessoas da mesma idade ou fase, mesmo aqueles tão peculiares e que tem a ver com o destino de cada um. Saber discernir o que é próprio da idade e o que é só seu, bem individual, assim como o que é repetitivo, é importante para o autoconhecimento. (Burkhard, 2010, p. 20).

No Quadro 12 é possível conhecer de forma resumida as etapas, chamadas de setênios na antroposofia. Cada parte deste ciclo de setes anos compreende momentos distintos na vida de todo ser humano, sabendo-se aqui que as vivências das primeiras fases impactam a vida adulta.

Quadro 12 – Os setênios

Setênio Fase Compreensão

0 a 7 anos É o momento da reestruturação do corpo físico: a criança desenvolve o andar, o falar e o pensar. Ocorrem passos que serão necessários para o desenvolvimento posterior. Tudo o que a criança aprende é por meio da imitação. Nessa fase, a criança necessita de alimentação e sono adequados e ritmo. Além de calor, confiança e amor.

7 a 14 anos Emancipando-se da vida puramente corporal, as energias infantis reaparecem

metamorfoseadas em boa memória, imaginação, prazer em repetições rítmicas e, frequentemente, em desejos de conhecer imagens de caráter universal capazes de estimular a fantasia.

14 a 21 anos Nesta fase, o jovem pode-se deixar arrastar pela vontade, pelo sentir ou por um querer excessivo que muitas vezes descamba para a agressividade. Aqui está a base da vida emotiva pessoal, em que a vida se torna assunto próprio e interrogação individual sobre tudo que existe.

21 a 28 anos É a fase emotiva, na qual se aprende a lidar com as emoções, testam-se os próprios

limites e começa a luta por aquilo que se quer. É uma fase de conquistas (posição na vida, trabalho, parceiro, formação de família) e experimentação em nível anímico.

28 a 35 anos A razão domina os impulsos e começa-se a ponderar antes de tomar decisões. Fase

de estruturação da vida – crescer na carreira, casar, ter filhos, ganhar dinheiro. O indivíduo já possui muitas experiências e mostra segurança. É convidado a participar mais do meio social. Nessa fase há muita criatividade e ação.

35 a 42 anos Hora de fazer um balanço da vida para determinar o que continua e o que deve ser

modificado. A manifestação do desgaste físico começa a aparecer e o rendimento no trabalho já não é tão expressivo. Há uma aceitação de si mesmo e também do outro, quando o indivíduo já está maduro psiquicamente. Os perigos nessa fase são provocados por uma possível rotina, ocasionando fugas, ou a tentativa de manter o mesmo desempenho profissional, trabalhando além do que o corpo físico é capaz de aguentar ou competindo com os mais jovens.

42 a 49 anos No aspecto do desenvolvimento pessoal, o ser humano tem de aprender a olhar para

a própria vida a partir de um plano superior: ter uma visão global do todo, abarcar instantaneamente os fenômenos da vida externa e tentar resolver os desafios de imediato. Ele ainda possui bastante força de realização para acrescentar coisas novas ao mundo ou à organização do trabalho, ou no âmbito familiar.

49 a 56 anos Esta fase é chamada de “fase da sabedoria”. Ela permite uma harmonia interna cada

vez maior, desde que se consiga um equilíbrio entre as solicitações da vida externa e interna. Não é mais hora de forçar as coisas. É preciso aprender a obedecer aos próprios sentimentos, a desenvolver a paciência e ter uma atitude mais contemplativa perante os acontecimentos da vida.

Fim do Quadro 12

56 a 63 anos Em geral, esta fase é de mais introspecção. Fisicamente, as forças se retiram dos órgãos dos sentidos e do cérebro. A visão e a audição se tornam mais fracas. Essa é uma fase adequada para fazer uma retrospectiva de vida. No aspecto do autodesenvolvimento, é uma fase para se aprender a ter paciência consigo e com os outros.

Fonte: Burkhard (2010).

A compreensão das etapas do desenvolvimento humano auxilia no processo de autoconhecimento e pode se reverter em soluções mais criativas e inovadoras para os diversos setores da vida dos sujeitos que tiverem a disponibilidade interna de mergulhar neste processo. Conforme é possível constatar a seguir, o autoconhecimento amplifica o desenvolvimento do ser humano como um todo:

O autoconhecimento é extremamente valioso para o desenvolvimento da capacidade criativa e pode ser uma meta consciente da pessoa que deseja aperfeiçoar-se no campo da criatividade. Claro que os benefícios do autoconhecimento transcenderão muito o objetivo pertinente à criatividade. Tanto melhor. Talvez o comportamento criativo seja, procurado desta forma, um instrumento para o aperfeiçoamento pessoal geral. (Predebon, 2006, p. 51).

Ao se resgatar este conhecimento das etapas do processo de desenvolvimento por meio de estímulos à criatividade com adultos, pretende-se também proporcionar momentos de autorreflexão em relação ao desenvolvimento pessoal, que possam se manifestar em forma de ações concretas de mudanças em sua própria realidade de forma nova e criativa. A consciência da estrutura de cada ciclo na vida concreta pode ajudar a estimular recursos internos para lidar criativamente com as soluções na vida adulta produtiva.

No documento Maria Elisa Moreira Costa (páginas 52-54)