• Nenhum resultado encontrado

3 PAUSA PARA UMA REFLEXÃO SOBRE AS PARAGENS: ENTRELAÇANDO

3.4 Autocuidado e projetos de vida

Chegamos a uma de nossas reflexões finais, caro amigo. Nessa parte veremos como as pessoas, a partir das relações que foram estabelecendo, perceberam as várias formas que poderiam cuidar de si, além de pensarem formas outras de viver e lidar com seus sofrimentos. Será possível perceber que as possibilidades de efetivação de um cuidado

político, como havíamos discutido anteriormente (HOLANDA, 2016), se expressa nos episódios em que as pessoas passam a protagonizar seus processos e buscam formas outras de se emancipar do que um dia foi posto como sendo “seus problemas”. Faremos, assim, um movimento um pouco diferente, onde daremos maior espaço ainda às narrativas das pessoas, que neste ponto nos ensinam mais que qualquer teoria prévia.

Começando com Val, vemos um processo bonito e de muita resistência. Depois de um tempo, exigiu seus direitos no ato do divórcio (algo que era muito difícil para ela), pois Carlos nunca havia pagado pensão alimentícia. Voltou para sua cidade natal, e dedicou-se aos cuidados com a mãe e com sua irmã. Estar na presença dos familiares, assim como de seus filhos, é algo que a deixa muito feliz, o que atualmente recebe prioridade, por ter entendido que essa é uma forma de cuidado muito importante para ela mesma.

Além disso, percebeu outras formas de se cuidar, muito importantes em sua vida. Uma delas consiste em sua fé religiosa, e quem conhece Val de perto sempre a vê dizendo que é muito importante ter muita fé em Deus. Outro ponto que prioriza é o seu contato com a natureza e com os animas: “Cuidando de mim, foram eles [os animais]! Muito melhor do que

muitos psiquiatras, foram eles!” (Val).

Busca, também, formas de se manter saudável, em movimento e bem assistida em suas necessidades, pois se sente merecedora de todos os cuidados que puder receber:

Olhe, eu sou eu gosto de dança porque é bom pro espírito e bom pro físico, eu tenho esse corpo magrinha, eu brinco, eu danço, eu levanto a perna, é forró, é rock, as menina fica tudo rindo [...]. “Vamo botar pra quebrar e arrochar o nó porque eu não aguento mais! Eu tenho que ter o meu plano de saúde, eu tenho que me cuidar, eu tenho que viajar, eu quero academia de dança, eu quero ginástica, eu quero tudo porque o que eu passei, porque eu fiquei adormecida 10 anos [...].

[...] Eu quero porque é um direito meu, eu tenho que cuidar da minha saúde, do meu plano, é plano dentário porque eu tenho que viver é com dignidade! Eu sou filha de Deus eu sou um ser humano, eu nunca fiz nada de mal, eu nunca matei, nunca assaltei, eu só faço o bem, por que é que eu não mereço?(Val).

Olhando para o que passou, percebe um ponto fundamental para o processo de resgate de sua saúde e bem-estar:

[...] porque no momento que você se anula você deixa de ser você, por que que eu vou me anular por sua causa? Eu tenho que ser eu, eu tenho que fazer o que eu gosto, o que me faça feliz. Hoje eu já tô com outra cabeça, depois do que eu passei. Eu já tinha um pouco, mas agora tô mais porque eu digo não valeu a pena o que eu fiz por uma pessoa que não valeu a pena, muito embora eu ainda tinha a minha autenticidade [...]. Eu acho que o mais essencial, assim, é, o desprendimento (Val).

Val tem muito a fazer, ainda, em sua vida. Planeja conhecer o mundo, viajar, interagir com as pessoas ao seu redor, dançar, escrever, ser poeta. Por fim, através de lindas palavras, deixou-nos claro o que realmente é importante em sua vida:

[...] um castelo é um castelo, enorme, você ocupa um espaço nesse castelo, ali naquela casinha na beira da estrada debaixo do mar, você com uma mochila você vai pra debaixo... observa o campo, o espaço, as borboleta e começa a evoluir espiritualmente e ver com os olhos, sentir as emoções do teu âmago e a tua essência e aí tu começa a ver Deus dentro de ti, como Deus é belo é maravilhoso, porque no momento que você se afasta de Deus, você não é feliz. Você pode ser o maior filósofo, você pode ser altamente inteligente, mas você tem que procurar - não importa a religião - contanto que você tenha um suporte dentro de você, que você acredite que existe um universo, que existe um poderoso que manda no universo, nós temos capacidade de fazer uma árvore, por exemplo, um artista faz o quê? Pinta, ele faz uma flor, mas não é natural que cai o orvalho da noite, você vê o amanhecer, você passa no mato tá aquele orvalho caindo nas tuas pernas. Deus existe, Deus! Agora, eu respeito todas as religiões, mas eu tenho o poderoso dentro de mim e foi isso que me salvou, entendeu?(Val).

Dani, por sua vez, depois de certo tempo também percebeu o que havia de mais importante em sua vida: as relações com as pessoas. Com a família do marido, recebeu o afeto e cuidado que sempre necessitou, e percebeu que não precisava ser a “pessoa antipática, de

quem ninguém gostava”, como sua mãe sempre dizia. Vê nestas relações sua principal fonte

de bem-estar e amparo.

Atualmente, vê o quanto é importante considerar as falas das pessoas que têm algum tipo de transtorno psiquiátrico, e destaca a necessidade de se ter empatia por estas pessoas e pelo o que sentem.

Então, assim, é, eu acho que se fosse qualquer pessoa que chegasse pra mim e dissesse “olha, eu vou me matar”, eu perguntava, “onde é que cê tá que eu tô indo agora”, independente de ser filho, independente de ser mãe, independente de ser alguém que eu conheça. Eu, eu sou mais pra esse lado mais humano, minha mãe é mais fria [...].

[...] porque assim, eu tenho um problema com as pessoas que tratam doenças psicológicas, psiquiátricas, ou seja, como você queira chamar, que não se colocam no lugar da pessoa. Que dizem assim, “ah, você é uma pessoa ansiosa, tudo que você sente é ansiedade, tudo que você sente é o seu psicológico que tá falando mais alto do que seu físico” (Dani).

Seu exercício mais constante é o de parar de procurar perfeição nas coisas, assim como também de fazer com que sua “mente” não fixe apenas as coisas negativas, como fez ao longo de sua vida, como forma de sobrevivência. Permite que os acontecimentos e relações se desdobrem dentro de suas possibilidades, entendendo o que há de bom nos pequenos detalhes.

Isto tudo não indica que, de vez em quando, Dani não volte a se sentir mal. Por vezes, pede auxílio do marido quanto às relações que estabelece:

[...] muitas vezes quando eu saio, por exemplo, com os amigos do meu marido, isso foi até um psiquiatra que pediu pra eu começar a fazer isso, sair e perguntar pra ele e ele ter que ser sincero com relação se eu falei alguma besteira, se eu fui simpática, se eu fui alguma coisa assim, porque exatamente isso, na minha cabeça eu sempre fui aquela pessoa antipática que minha mãe colocou que ninguém gostava e que só dava trabalho. Então, até hoje pra mim é difícil acreditar que uma pessoa pare assim e goste de conversar comigo e quando começam a dizer: “ah, a Dani é tão divertida de sair”, eu já fico assim: “o que é que essa pessoa quer?” (Dani).

E se sente ainda presa a certas questões do diagnóstico e das medicações que faz uso. Isto, talvez, revele-nos, como discutimos anteriormente, a ambiguidade entre cuidado e aprisionamento, pois ao mesmo tempo em que estes fornecem formas de cuidar e justificar atitudes e reações nas pessoas, também podem ocasionar processos de dependência:

[...] tem muita coisa que eu me arrependo de ter feito, eu já conversei muito isso em terapia, e é aquela coisa você até pensa nos erros que você já cometeu e você pensa na possibilidade de pedir desculpa pelo, por tudo que você fez e tentar explicar principalmente quando você tem um diagnóstico, do que você tava fazendo [...]. [...] Sim, o Rivotril é uma coisa que não dá assim pra tirar porque são dois anos que eu tomo, então não dá pra tirar assim de uma hora pra outra. Então não é uma coisa que eu tomo que eu digo: “ah, hoje à noite não tô precisando, não vou tomar”, não posso fazer isso. Eu tenho que, toda vez que que quero tirar, eu tenho que ir tirando aos poucos. Então por mais, hum, por melhor que esteja me sentido, eu não posso me dar ao luxo de não tomar. E ele virou minha muleta (Dani).

Dani, além das medicações, também realiza um processo de terapia psicológica, e a entende como uma forma importante de cuidar de si. Além disso, reúne outros pontos como essenciais para se sentir bem e segura:

[...] a questão do conforto, você precisa tá certo do seu lugar de conforto [...]. Pronto, exatamente perto de onde eu sei que tem hospitais, perto de onde tá família, perto de onde tá minha sogra, perto de onde tá, tô ali todas as minhas coisas, tá ali estou protegida então viajar ainda tem esse, esse pequeno obstáculo ai pra mim [...] (Dani).

E existem os dias, também, que deixar a ansiedade “pra lá” se faz como uma boa opção: “É, despertar eu desperto quase todo dia, mas tem dias que a ansiedade só, tem dias

que eu digo “ah vá, se lascar!”, viro pro outro lado e vou dormir de novo” (Dani).

Assim como Val, Dani tenta trabalhar o desapego em sua vida, mas ainda é algo difícil para ela. Aos poucos, vai deixando no caminho algumas bagagens que a deram, sem

mesmo que ela tenha pedido, e consegue viver um pouco melhor a fluidez de seus dias. Dani se despede de nós, falando do processo contínuo que traça diariamente em sua vida, entendendo suas necessidades de autocuidado, mas tentando trazer um processo mais leve e respeitoso consigo mesma, assim como entender o que os acontecimentos de sua vida revelam como aprendizados.

[...] eu tô tentando ser mais honesta com as coisas que eu quero, que eu preciso, que... não vão me afetar tanto porque eu me colocava muito em segundo plano por essa necessidade de agradar as pessoas, que “ah, se eu não for assim, a pessoa não vai gostar de mim”, “ah, se eu não for desse jeito, se eu não falar isso, a pessoa não vai gostar de mim”. Então eu tô muito, eu passei pela Psicanálise, passei pela Terapia comportamental, Cognitivo-comportamental, tô na, to fazendo Terapia gestalt agora né? e continuo indo na psiquiatra, mas a minha tendência agora é exatamente essa, parar com esse.... É porque dizem, o pessoal coloca muito essa ideia de ‘ah, você cresceu assim, você tem esses traumas de infância, mas agora você tem que ter a ideia de que você é um adulto e de que você é responsável pelas suas próprias ações. Bem facinho! Vá lá tentar fazer! [...].

[...] Eu sei que, assim, a gente não tem o que a gente quer, se a gente realmente acreditar assim numa fluidez, numa forma da vida, você tem o que você precisa no momento que você precisa, então talvez eu tenha tido que aprender alguma coisa com os pais que eu tive (Dani).

Quanto a Arthur, vemos uma pessoa que hoje tem uma clareza bem maior sobre o que é importante em seu autocuidado e respeito aos seus limites, algo que conquistou depois de ter passado por muitas situações estressantes e surtos. Atualmente, sabe que deve se colocar “em primeiro lugar”, e sempre estar atento ao que precisa e ao que não o faria bem. Com isso, percebeu que deveria evitar filmes de terror, pois estes “mexem muito com sua cabeça” e o deixam muito assustado, com medo de se identificar com algum conteúdo e ter novo surto. Busca, também, ter uma rotina, um emprego e poder compartilhar seus dias com um companheiro, numa vida simples, mas satisfatória para si mesmo. Além disso, dá muita importância em se sentir saudável, mesmo que precise estar medicado, pois não deseja mais mergulhar em fantasias, e sim, colocar seus pés de forma mais firme em sua realidade.

O que eu quero é manter com um namorado. Embora uma coisa simples, eu não consigo. Mas eu quero arrumar um empreguinho, namorar e... Que mais? Assistir filme no cinema com a pessoa, só essas coisa assim, né? Várias coisas mas... não quero, entendeu? ser o rei. Quero as coisas mais simples. E também tá saudável, tá tomando remédio tranquilo, no horário, né? É isso que eu quero [...].

[...] É, tem tanto sonhos, né? Pra sonhar e eu não, num tenho mais vontade de sonhar. Não quero mais sonhar. Eu quero viver a realidade, sabe? Pés no chão. Eu quero arranjar um emprego. Pra mim, eu tô falando isso, pra projetar isso pra mim, pra que o Universo conspire. E que isso realmente aconteça. Não quero mais viajar na maionese, de achar que vou trabalhar ali, fantasia e Xuxa. Eu quero realidade [...] desistir e seguir a vida. Peraí: televisão, televisão; vida real, vida real (Arthur).

Na religião, conseguiu encontrar uma fonte de apoio, mas tem suas próprias críticas quanto e visões próprias sobre algumas práticas e doutrinas religiosas. Outra possibilidade de cuidado que encontrou foi conhecer pessoas com quem pudesse compartilhar suas dores, pessoas que tivessem passado por algo semelhante ao que ele passou.

Sei lá, pra saber se eu sou sensitivo, tem que ir pro espiritismo? É fanatismo demais! É fanatismo demais [enfatiza], sabe? Muito fanatismo. Católico também, assim. Católico eu acho, assim. Os evangélicos são fanáticos, católicos são aquela coisa é, como que diz? Morna, em ter que ficar repetindo as mesmas palavras. Aí, hoje sou testemunha de Jeová, tô estudando. Testemunha de Jeová. Porque eu quero descobrir as coisas na Bíblia, só por isso. Não pra ter que ir lá. Eles veem lá em casa, e estudam aqui, sabe? (Arthur).

Eu queria conhecer outras pessoas que tenham histórias parecidas com a minha (Arthur).

Mesmo que Arthur entenda a importância das medicações em seu cuidado, teme a continuidade das mesmas em sua vida, revelando um processo que não é próprio somente para ele, mas muitos que vivenciam sofrimentos da mesma ordem em nossa atualidade.

Tenho saúde e não tenho. Que é uma pessoa que, que não tomava um comprido pra dor de cabeça, [e] hoje tem que tomar coquetel, tem que tomar o lítio, tem que tomar o quertiapina para dormir, pra mim já é bastante coisa, né? E eu acho que vai aumentar, né, porque a gente vai ficando mais velho. Eu, eu vejo pela bolsa da minha vó. Onde ela vai, ela leva uma bolsa cheia [enfatiza] de remédios... né? (Arthur).

E não poderíamos nos despedir de Arthur sem que antes ele falasse sobre essa figura tão presente em sua vida: a Xuxa. Até hoje, a Xuxa permanece em seus projetos, sobre quem Arthur cria expectativas, mas que também trazem medos e reflexões. Isso traz falas ambíguas, e repletas de confusão, confusão esta que acompanhou Arthur em tantos momentos de sua vida.

São coisas fixas já. Não fui ao programa dela, que era meu sonho. Só ir lá pra ver que existe já ia, ia acalmar meu coração [...]. E talvez eu olhe para ela e me decepcione. Eu olhe e fale assim "Vixi, não é aquilo que aparece na televisão! Vixi, ela é mais baixa", né? Mas eu amo ela dos anos 80, com chuquinha, que eu tanto venerava! Era aquela que eu quero ver! Será que aquela existe? Existiu? Ou não existe mais - existe só na minha memória? [...] Será que eu vou ter estrutura pra conhecê-la? Será que eu vou ficar rico e aí, com dinheiro, vou poder ser amigo dela? Será que ela vai gostar do que eu tenho pra falar pra ela? Eu acho assim: que ela tem que saber! Se ela tiver me ouvindo, ela tem que saber quanto ela fez pela gente, o quanto afetou, sabe? [...]

[...] Eu acho que eu teria uma reação assim: ela aqui e eu aqui. Eu... eu ficaria imóvel, não chegaria perto, sabe? Porque eu já tive é, outros artistas, aqui, a Dira Paz, sabe? e ela veio bem pertinho e eu fiquei assim: travado! Imagina a Dira Paz! Que nem significou tanto na minha vida. Mas... eu sei qual é a minha reação de... Talvez eu tenha medo, né? [...].

Mas uma coisa é certa: Eu amo a Xuxa! [...]. É uma coisa, assim, que ficou e, eu

não quero que ela me veja mal. Se um dia ela me ver, quero que me veja bem! Sabe? Dizer "Olhe, esse aqui foi um baixinho, saudável, né? Tranquilo" (Arthur).

Seguindo nosso caminho de despedidas, chegamos a Neto, que de forma semelhante, também conseguiu perceber, a partir de suas experiências de sofrimento, seus limites, desejos e necessidade de cuidado.

É, eu tô, assim, mas, bem mais consciente do que antes, entendeu? Tipo, e aí a minha família também foi ficando cada vez mais consciente e eu acho que o fato do [psiquiatra] ter uma, e de estar fazendo análise também, [...]. E isso ajudou muito a história e tudo, mas eu acho que a escolha do psiquiatra ser um cara mais tranquilo e o fato deu não conseguir ainda... Porque eu já tentei, ele já tentou um desmame já, mas na hora que ele foi tira, ele foi tirando... eu tomo medicamento pra acordar e pra dormir. Eu tomo medicamento pra acordar e pra dormir, então se ele tira um pouquinho pra dormir eu não consigo dormir, e se ele tira um pouquinho pra acordar eu não consigo ficar disposto pra vir pra aula, é sinistro (Neto).

Assim como Dani e Arthur, Neto acabou estabelecendo certa relação de dependências aos medicamentos, e sofre quando tenta entrar em processo de retirada dos mesmos. Ao sentir-se mal, os remédios são aliados importantes, de forma que ainda não conseguiu sentir-se bem ao ponto de não se ver mais necessitando dos mesmos. “[...] aí eu ia

ficando cada vez mais empolgado e tal, mas tive recaídas depressivas tanto no primeiro como no segundo semestre e tô com medo de ter no terceiro também (risos)” (Neto).

Neto não esconde seus sofrimentos, e acredita que falar abertamente sobre os mesmos é uma forma de cuidado importante consigo mesmo. Porém, levanta a possibilidade de ser estigmatizado por isso, pois o diagnóstico será sempre um rótulo carregado de sentidos, o que considera um preço a ser pago por ser sincero com as dificuldades que se fazem presentes em sua vida.

Geralmente as pessoas escondem, né? Só que como na minha família eu via que tinha muita “psicofobia”, e eu tinha consciência disso porque eu ficava lendo, eu falava na lata, entendeu? Tipo olha: eu tenho isso, isso e isso aqui. Até hoje aqui eu falo. Não na sala de aula, por exemplo: semestre passado né, no primeiro semestre, que eu faltei e várias faltas, tive que levar atestado e tudo e as pessoas perguntavam “e aí, por que tu faltou?”, e tal. “Não, cara eu tive uma recaída depressiva, por conta disso, disso e disso, etc. e tal.” Eu não inventei algum problema, gripe, alguma coisa nesse sentido, chutei o balde mesmo [...]. Eu sei que algumas pessoas vão falar, alguns alunos [da faculdade] não são tão compreensivos, vai ter, eu vou ser estigmatizado de certa forma por um grupo ou outro, mas é preço, é uma questão quase que ideológica, assim (Neto).

Neto traça um caminho de coragem. Não são todos que conseguem tomar com propriedade seus sofrimentos, assim como torná-los acessíveis aos outros, arriscando-se nas relações que nem sempre são acolhedoras com a alteridade, com a dor do outro. Por isso, percebeu que não se trata de esquecer, de lutar contra suas próprias dores como se fossem suas inimigas, mas, pelo contrário, de torná-las parte de seu fluxo de vida.

É, na análise eu vi que a questão não é apagar a memória né? Que acaba sendo um traço da tua personalidade né? Então a questão é você deixar a coisa..., você deixa o fluxo das coisas acontecerem. Às vezes as pessoas dizem que meditar é não pensar em nada né? Talvez no resultado final aconteça né? Um tempo que eu fiz um