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Automatizando a Administração com Submission e SEER

A seção anterior deve ter deixado bastante claro que editar uma revista é uma tarefa que exige muita dedicação. Facilmente, chegamos lá a 800 passos para tramitar 100 artigos. Mas aqueles passos correspondem apenas aos procedimentos diretamente relacionados à qualida- de de conteúdo. Não falamos em formatação final para publicação, revisão de provas, aprovação da última versão pelos autores, encaminhamento à gráfica e distribuição (para revistas impres- sas) ou publicação no site e providências para preservação (para as eletrônicas). De fato, de acor- do com Trzesniak (1998), cada artigo recebido exige entre 15 e 30 operações editoriais até ter um destino final no âmbito da revista (a variação se deve a que o artigo pode ser rejeitado após a primeira avaliação pelos pares). Para um periódico que publica 50 dos 100 artigos que recebe, isso equivale a 2.200 operações – em um ano, são quase dez por dia útil!

Grandes facilitadores (ou atualmente, talvez, até mais do que isso: viabilizadores) para a condução do processo editorial são os programas de computador específicos para o gerencia- mento de periódicos. A par de oferecer uma série de procedimentos via Internet, permitindo a submissão e a avaliação através de navegadores (browsers), seu emprego, de certo modo, certi- fica a revista como possuidora de uma retaguarda administrativa bem organizada e bem estru- turada; permite, assim, uma avaliação mais completa da qualidade global da publicação, uma vez que assegura um processo de gerenciamento bem mais transparente e controlado. Antes de existirem os programas, a avaliação dessa dimensão da qualidade das revistas era feita prati- camente apenas com base em declarações dos editores.

Os dois sistemas de gerenciamento editorial de maior presença no Brasil são o Sistema Ele- trônico de Editoração de Revistas (SEER), distribuído gratuitamente pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT, http://www.ibict.br), e o Submission: SciELO System of Publication, oferecido para os periódicos da biblioteca SciELO pelo Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME, http://www.bireme.br/). Ambos são traduções/adaptações licenciadas do Open Journal Systems (OJS), preparadas pelos respectivos distribuidores. O OJS é um software de código aberto desenvolvido, mantido e atualizado pelo Public Knowledge Project (PKP, http://pkp.sfu.ca/), resultado de uma parceria entre a University of British Columbia e a Simon Frasier University, no Canadá.

Os recursos para o gerenciamento do processo editorial são comuns aos dois sistemas, e são bastante completos e poderosos em todas as tarefas pertinentes. O OJS foi criado com o objetivo de facilitar a vida dos editores, dos pareceristas e dos autores, visando reduzir custo,

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energia e tempo de secretaria dessas pessoas, liberando-as para se dedicarem mais ao conteú do científico; desse modo, promove a melhoria da qualidade das publicações periódicas. O sistema é de fácil manuseio, e o autor pode acompanhar o percurso do seu manuscrito até a decisão final sobre a publicação. Os consultores ad hoc sentem maior segurança com relação ao sigilo inerente à sua atividade na avaliação online. Todo o processo editorial pode ser controlado por um ou mais editores, permitindo com naturalidade o compartilhamento e a delegação de tare- fas, já discutidos em conexão com o Quadro.

O Submission beneficia-se apenas das facilidades para submissão e avaliação de que se fa- lou no parágrafo anterior. As demais etapas, daí até a publicação, bem como os mecanismos de busca e recuperação, seguem a metodologia própria da SciELO. A rigor, então, uma parte do OJS foi adaptada para integrar-se a essa metodologia. A escolha do Submission como programa de gerenciamento editorial torna-se, assim, uma opção óbvia para quem publica no sistema SciELO. O PePSIC, por utilizar a plataforma SciELO de publicação, oferece o módulo de submissão Sub- mission para as revistas que publicam no Portal.

Publicações independentes encontrarão mais vantagens na adoção integral do SEER. Pode- rão, através dele, não apenas gerenciar o processo editorial, mas também efetuar a publicação na Internet em site com interface de usuário configurável e amigável, com suporte para vários idiomas selecionáveis ao custo de um clique e descrição completa da revista (política editorial, direitos de uso e de cópias, Conselho de Política Editorial, Corpo Editorial Científico, regras de submissão e de avaliação etc.). Além disso, o SEER oferece mecanismos de busca e recuperação, informações estatísticas e suporte nativo à preservação digital via lockss7, para metadados no padrão Dublin core8 e para o protocolo de interoperabilidade OAI-PMH. Esse protocolo é, talvez, o mais notável avanço da aliança da moderna ciência da comunicação com a informática. Ele permite que todos os arquivos de informação científica que o incluam em sua arquitetura, mes- mo hospedados em máquinas e plataformas distintas, dispersas por todo o planeta, possam ser vistos como uma base de dados única. Em termos de revistas, em termos de estrutura, isso está muito próximo a ter-se um único periódico, com todos os artigos juntos. No entanto, cada editor continua independente em sua atuação, tem sua individualidade completamente preservada. É a integração total da informação, associada à liberdade total de quem a produz.

A contrapartida, porém, também existe, e configura-se em uma imensa responsabilidade. Em uma base de dados gigantesca, como a que pode ser construída via OAI-PMH, a recuperação da informação é fundamental: deseja-se que, ao realizar uma busca relativa a um dado tema, o consulente encontre todos os documentos atinentes disponíveis (revocação = 1) e apenas os documentos atinentes (precisão = 1). Para isso, editoras e editores têm de zelar por metadados de máxima qualidade. A falta de zelo e de dedicação em atender esse ponto é o maior fator de risco para o movimento do open access, e certamente grandes interesses comerciais apostam nele para continuar auferindo seus lucros com a (re)venda da informação científica exatamente à quem a produz. A comunidade de pesquisadores tem em mãos o poder e a liberdade para não necessitar de intermediários para fazer a informação circular livre e rapidamente, mas pode perder a confiabilidade por não saber usar os recursos de modo responsável.

Como se vê, o trabalho do editor vai bastante além da publicação da revista em si. Envolve divulgar os artigos e fazer que sejam lidos e citados. Assim, além dos metadados de máxima qua- lidade e do protocolo OAI-PMH, cumpre sair em busca do maior número possível de indexações,

7 O lockss (lots of copies keep stuff safe, ou “montes de” cópias mantêm “a coisa” segura, em tradução literal) é um sistema desenvolvido pelas bibliotecas da Stanford University (USA) o qual replica, sem expor publicamente, o conteúdo de um site em múltiplos servidores por todo o planeta. Para conhecer melhor, acesse http://www.lockss.org/lockss/Home

8 Metadados são, essencialmente, informações sobre (= que descrevem) a informação principal. Um subconjunto de 15 elementos básicos de metadados, selecionados dentre os muitos já definidos pela Dublin Core Medatada Initiative (http://dublincore.org/), vem se estabelecendo como um padrão na publicação científica.

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acompanhar a entrada dos artigos nas bases de dados, buscar parcerias com associações cien- tíficas, bibliotecas, bibliotecários e bibliotecárias, objetivando aumentar a visibilidade de sua publicação. Paralelamente, na retaguarda tecnológica, manter-se atento aos avanços da ciência da informação, por exemplo, garantir a localização dos artigos com a adoção de identificadores persistentes como o DOI (Digital Object Identifier). E também praticar e defender o acesso livre ou aberto, abordado no capítulo que trata especificamente desse tema e da publicação digital, assuntos pelos quais já nos aventuramos excessivamente por aqui.

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Referências

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Capítulo 5

Indexação e Fator de Impacto