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2.2 Detalhamento do Perfil do Gestor: Seleção dos Possíveis Fatores

2.2.3 Autonomia Escolar segundo a visão do Gestor Escolar

Deve ser destacado que na discussão sobre liderança, Silva e Lima (2011) evidenciam que, em Portugal, o Decreto-Lei No 75/2008, concedeu mais autonomia para a administração e gestão das escolas públicas portuguesas com o objetivo de reforçar as lideranças escolares. Tal condição, conforme já destacada anteriormente, foi tomada nesse estudo como uma possibilidade de a condição de autonomia percebida ser uma questão mediadora na atuação do gestor. Sobre isso, Luck (2000a) também destaca que ao se superar, moldes rígidos de administração ditados centralmente, amplia-se a condição para a melhora da qualidade do ensino, tendo a comunidade interna e externa assumindo responsabilidades pelo destino da instituição.

Embora, a questão da autonomia esteja em pauta desde a década de 1980, em função da transferência de responsabilidades do Estado para o ambiente local, conforme Parente e Conceição (2011), esta ainda é questionada devido às lacunas existentes no modelo de transferências de informação e maior flexibilidade. Nesta linha, o diretor de escola depara-se com uma dinâmica normativa, que enfatiza rotinas administrativas financeiras dissociadas da atenção necessária do fazer pedagógico e da administração de conflitos internos, impondo a esse diretor a criatividade na geração de mecanismos que o possibilite a atuar nessas três frentes. Essas abordagens foram reforçadas por abordagem mais recente de Parente (2017) que retoma a questão sobre a prática das habilidades e competências do gestor influenciada por possível influência da margem de autonomia relativa, percebida pelo gestor/diretor, tornando cada escola única.

Luck (2000b) descreve os sistemas educacionais, compreendendo os estabelecimentos de ensino, os órgãos reguladores, enfim todos os envolvidos, como organismos vivos e dinâmicos. Esse sistema contido em um contexto social, econômico e cultural é marcado não apenas pela multiplicidade, mas pela controvérsia que se manifesta na escola. O fato de serem vistas como organizações, pela sua característica de rede de relações entre todas as pessoas que atuam ou interferem nela, direta ou indiretamente, é necessário que a gestão escolar tenha um enfoque de organização.

A autonomia da escola possui diversos indicadores, que passaremos chamar nesse estudo de dimensões, as quais são construídas a partir de uma autoridade

intelectual, política, social e técnica e precisam atuar ao mesmo tempo para preservar a essência de sua função (LUCK, 2000B). Portanto, pode-se conceituar autonomia da escola operacionalizando onze dimensões, sendo estas: construção, ampliação das bases do processo decisório; processo de mão dupla e de interdependência, complementação entre autonomia e heteronomia; pressupõe um processo de mediação, é um processo contraditório, implica responsabilização, é transparência, é expressão de cidadania, é um processo de articulação entre os âmbitos macro e micro, implica gestão democrática (LUCK, 2000B).

Gadotti (2016) menciona a autonomia e sua importância nas escolas quando trata do tema Projeto Político Pedagógico da Escola. Sua abordagem enfatiza que o projeto pedagógico não é responsabilidade exclusiva da direção, particularmente considerando a gestão democrática. Nesta situação, a direção da escola é escolhida com base em sua competência e capacidade de liderança para executar o projeto, que fora elaborado a partir da participação de vários atores. Devido a grande diversidade do cenário onde as escolas estão inseridas, cada uma terá o seu resultado, o qual será desenvolvido com base em sua história. Desta forma, não é possível existir um projeto único para todas as escolas e, portanto, a autonomia da escola é fundamental para estabelecer, executar e avaliar seu próprio projeto.

Retomando a abordagem feita por Luck (2000b) em cada um dos indicadores, foi aqui sintetizado pela pesquisadora do presente estudo, com o intuito de identificar situações substantivas que reflitam o conteúdo de cada um dos onze indicadores.

Assim, cada dimensão é apresentada, a seguir, com um ou mais indicador/variável que buscam operacionalizar o conceito de autonomia, de forma a possibilitar uma análise exploratória de sua estrutura de fatores e indicadores, a qual possas ser, na sequência, ser submetida à validação à luz de seu relacionamento com o desempenho da unidade escolar, bem como verificado a significância (ou não) de seu papel mediador no ambiente escolar, ou seja, entre os construtos do perfil subjetivo do gestor e o Empoderamento do gestor com ações de construção da qualidade educacional e com o desempenho escolar.

Supõe-se que a autonomia ou a forma como esta é percebida pela comunidade escolar pode exercer influência maior ou menor sobre características do gestor dependendo da intensidade desta percepção. Também pode ser suposto que

a percepção de autonomia da escola pode intermediar características do perfil do gestor sobre o desempenho escolar.

Nesse sentido, a seguir são apresentados as dimensões encontradas em Luck (2000b) e a (as) variável (eis) que busca (m) expressá-las. Registre-se que, por vezes, o indicador é representado por mais de uma variável, o que foi utilizado quando o conceito associado ao indicador pareceu conter elementos substantivos distintos na sua definição, conforme a seguir :

Autonomia é construção:

a) A escola tem total possibilidade de estabelecer diretrizes, princípios e estratégias para promover a participação necessária para a sua construção social

b) Essa escola tem total possibilidade de promulgar diretrizes, princípios e estratégias para promover a criatividade necessária para a sua construção social.

Autonomia é ampliação das bases do processo decisório:

a) O poder de decisão da escola sobre o seu trabalho é amplo, ou seja, se dá até mesmo para fora desse estabelecimento de ensino.

b) Essa escola articula diversos grupos de interesse expandindo assim, o poder de decisão de seu trabalho.

Autonomia é um processo de mão dupla e de interdependência

a) Há um entendimento recíproco entre dirigentes do sistema educacional e dirigente escolar que possibilita decidir sobre o tipo de educação que a escola promoverá.

b) A escola compartilha responsabilidades com a comunidade escolar (incluindo os pais) a respeito do tipo de educação que a escola deve promover e como vão agir para realizá- la.

Autonomia e heteronomia se complementam

a) Nesta escola a participação de agentes internos e externos na tomada de decisão é considerada legítima.

Autonomia pressupõe um processo de mediação / Autonomia é um processo contraditório

a) A escola consegue gerar um processo ganha-ganha para todos os segmentos envolvidos no sistema educacional.

b) Essa escola considera relevante o envolvimento de grupo com diferentes interesses no processo de tomada de decisão.

Autonomia implica responsabilização

a) Essa escola é totalmente responsável por realizar seus compromissos, prestar contas de suas ações e responder por seus atos e ações.

b) A escola apresenta condições para enfrentar reveses e dificuldades.

c) Essa escola propõe e apresenta atitude crítica e reflexiva sobre seus processos e seus resultado.

Autonomia é transparência

a) A escola é totalmente transparente em termos de prestar conta para a sociedade.

b) Essa escola monitora, avalia e comunica os seus resultados para a comunidade escolar.

Autonomia é expressão de cidadania

a) A escola preconiza e acredita que seus direitos somente se justificam pelos seus deveres assumidos.

b) Essa escola consegue manter um amplo processo de articulação entre direitos e deveres junto aos seu alunado.

Autonomia é um processo de articulação entre os âmbitos macro e micro

a) A autonomia da escola, não se realiza por decreto, ou seja, não se delega autonomia. b) A autonomia da escola somente pode ser construída e sustentada pela responsabilidade de

seu próprio corpo diretivo, de colaboradores e professores.

c) Essa escola constrói sua autonomia com base na responsabilidade conjunta de todos, isso quer dizer, corpo diretivo, funcionários, professores.

Autonomia implica gestão democrática

a) Essa escola sempre ouve todas as sugestões do corpo diretivo, funcionários, professores e comunidade, isso quer dizer, todos agentes educacionais (AUTORIA PRÓPRIA, 2018).