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CAPÍTULO II GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO-

3.2. Autonomia e formas de financiamento da educação: recomendações e análises

Como já vimos, o termo de autonomia tem como atributo principal a autodeterminação e auto-organização local na inter-relação com outras entidades com as quais se articula. Essa capacidade de auto-organizar se concretiza entre outros meios

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através a elaboração de próprias leis, princípios e normas, criando assim a sua própria identidade.

3.2.1 Orientações e recomendações

Em relação às políticas de gestão da educação da EPJA, foi recomendado pela UNESCO (2009) que as políticas de autonomização comunitária aprovem o consentimento segundo o qual a EPJA faz parte dos direitos humanos e da cidadania que implica um compromisso muito maior e uma vontade política dos líderes tanto no nível local que nacional, com finalidade de ser mais criativo e ser capaz de fortalecer as oportunidades de aprendizagem de qualidade ao longo da vida, assegurando que os processos postos em prática em favor da EPJA.

De acordo com a UNESCO (2000) o Quadro de Ação Regional de Dakar tem como missão fomentar as concretizações mais essenciais de EPT desde os anos 1990. Segundo o organismo convém observar (Dakar, 2000) a questão de gestão enquanto mecanismo para fortalecer a construção da autonomia nos níveis local, regional e nacional. Segundo o Organismo, a gestão administrativa deve levar em consideração uma concepção da autonomia que configura uma conjuntura que responsabiliza cada ator encarregado do controle dos resultados. Nesta ocorrência, tendo em vista a importância das tecnologias, os países da região têm o dever de promover «a adoção e o reforço das tecnologias da informação e da comunicação, e melhorar os processos de tomada de decisões políticas, o planejamento de sistemas de educação e da administração dos estabelecimentos escolares, o que facilitará o processo de descentralização e autonomia da gestão escolar. » (UNESCO, 2000, p.41).

No próximo ano, na ocasião da conferência de Cochabamba (2001), o Organismo acrescenta que os respectivos países devem fornecer às escolas, localizadas nos respectivos municípios (UNESCO, 2001), a assistência satisfatória, permitindo que sejam capazes de autodefinir e concretizar os próprios projetos educativos correspondentes com necessidades das áreas locais. “Projetos os quais são elaborados coletivamente, e a assumir - juntamente com as entidades governamentais e outros atores – a responsabilidade pelos resultados” (COCHABAMBA, 2001, p.04)

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Na mesma ocasião foi recomendado incluir também a cooperação ou a participação internacional nas tomadas de decisões, visando respeitar a autonomia dos respectivos Estados.

Por outro lado, no relatório sobre Iniciativas Globais para crianças fora da escola, de acordo com as duas organizações mais preocupadas com a questão da gestão da educação, UNESCO e UNICEF (2012), é aconselhável promover e revitalizar a autonomia que irá fornecer resultados suficientes e adequados. Para isso, os estabelecimentos devem contar com docentes autônomos.

Enfim, com relação às políticas de financiamento em favor da gestão autônoma no nível local, segundo a expectativa sobre a educação das populações rurais,

se espera que las ONG y otros organismos internacionales de cooperación apoyen los programas de los gobiernos nacionales para la población rural tanto con recursos financieros como humanos y técnicos. Si trabajan conjunta e intersectorialmente, lograrán tener un impacto más global. Unicamente así se podrá cumplir con los diferentes objetivos propuestos, desde el aumento de la cobertura en educación básica y media, el fortalecimiento de las capacidades de gestión local [...]. (FAO – IIPE – OREALC, 2004, p. 75)

Na mesma lógica de financiamento, Por outro lado, considera-se essencial (COCHABAMBA, 2001) que os países da região reconheçam que o valor efetivo dessas responsabilidades comuns exige a sustentação de um relacionamento positivo e saudável com as instituições internacionais que proporcionam apoio técnico e/ou financeiro aos projetos de desenvolvimento educacional da região, estimulando a responsabilidade dessas instituições pelos resultados obtidos com a sua cooperação (Cochabamba , 2001, p. 05).

Nessa ocasião, foram debatidos temas como: a premência em fornecer às escolas localizadas nos respectivos municípios (UNESCO, 2001); a assistência satisfatória permitindo que sejam capazes de autodefinir e concretizar os próprios projetos educativos correspondentes com necessidades das áreas locais.

Para isso, consideram que o sistema de ensino deve construir uma estrutura capaz de acompanhar as equipes escolares, com vistas, especialmente, a incluir os mais desfavorecidos e formar docentes qualificados para atuarem na tarefa de ensinar e educar.

73 3.2.2. Análises das recomendações

Segundo nossa análise, nos documentos, nota-se a ênfase na gestão administrativa, a qual deve contemplar uma concepção da autonomia que responsabiliza cada ator encarregado do controle de resultados. Assim, estimula-se a introdução de novas tecnologias, a fim de facilitar mecanismos democráticos.

Pode-se observar que além dos aspectos relativos ao financiamento e uso de novas tecnologias foi ressaltada, durante a reunião da UNESCO com os Ministros da Educação da América Latina e do Caribe, em 2001, a importância para o reconhecimento da autonomia pedagógica e administrativa dos estabelecimentos de ensino.

Apreende-se que os Organismos fazem mais debates sobre a questão da autonomia nacional na articulação ou inter-relação com o internacional (entre países e Organismos), do que debates que dizem respeito à autonomia tanto nacional e local e regional nos respectivos países da região. Além disso, os Organismos priorizam a autonomia dos estabelecimentos escolares no detrimento da questão da autonomia das autoridades educacionais locais ou regionais, isso é, das sub-entidades geográficas locais ou regionais. Portanto, os argumentos dos organismos não são convincentes nesta direção ou seja faltam de orientações e recomendações em relação com o conceito de autonomia local ou regional, segundo conceitualizada no quadro teórico no capítulo anterior.

Enfim, a análise mostra que há de se ponderar o grau de dependência criado entre os países e as agências financiadoras. Essa dependência se observa particularmente nas políticas de financiamento em favor da autonomia. Em primeiro lugar, constatamos em Cochabamba (2001) uma declaração direcionada para a one way road: unicamente pela cooperação com Organismos financeiros que a região poderá alcançar os objetivos formulados[...]. Em segundo lugar, na Declaração de Dakar (2000) considerou-se essencial durante a reunião de Cochabamba (2001) que os países da região reconheçam o valor efetivo dessas responsabilidades comuns, bem como a manutenção de um relacionamento positivo e saudável com as instituições internacionais que proporcionam apoio técnico e/ou financeiro aos projetos (COCHABAMBA, 2001, p. 05).

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3.3. Descentralização e a predominância da ideologia neoliberal.