Cultura organizacional: motivando ou coibindo a inovação e a qualidade do EaD
4. AUTONOMIA INTELECTUAL – O ALUNO COMO PROTAGONISTA NA CONSTRUÇÃO DO
CONHECI-MENTO
O Manual de Referenciais de Qualidade para EaD IES (BRA-SIL, 2007) ilustra que as possibilidades apresentadas pela interdis-ciplinaridade e contextualização, em termos de formação do sujeito social, com uma compreensão mais ampla de sua realidade, devem ser contempladas nos projetos de cursos ofertados na modalidade a distância. Educação a distância compõe um processo educati-vo como as demais modalidades, cuja finalidade, é “[...] o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da ci-dadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 2007, p. 8), conforme dispõe a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (BRASIL, 1996, [n.p.]) em seu artigo 2º:
(i) Concepção de educação e currículo no processo de en-sino e aprendizagem;
(ii) Sistemas de Comunicação;
(iii) Material didático;
(iv) Avaliação;
(v) Equipe multidisciplinar;
(vi) Infra-estrutura de apoio;
(vii) Gestão Acadêmico-Administrativa;
(viii) Sustentabilidade financeira .
A partir de uma estrutura física e comportamental adequa-da que atenadequa-da plenamente às necessiadequa-dades do aluno a distância, Kenski (2010) defende que a preocupação em educação na
atuali-dade é o de formar o cidadão brasileiro que também possa ser um
“cidadão do mundo”, e não apenas “[...] preparar o trabalhador ou o consumidor das novas tecnologias”. Isso define o significado de programas e projetos que possam fazer uso das novas tecnologias para capacitar as pessoas para a tomada de decisões e para a escolha clara acerca de todos os aspectos na vida em sociedade, tanto polí-tico, social, econômico, quanto educacional.
As diferentes dimensões da autonomia no EaD foram refe-renciadas por Preti (1998), ao refletir o papel do aluno, dos educa-dores e da instituição educacional. Segundo o autor (1998), cabe ao aluno, nesse novo cenário, assumir para si a responsabilidade da sua própria formação, tendo autonomia e disciplina para o estudo compromissos de todo o processo educativo.
Wedemeyer (1975 apud GOTTARDI, 2015) descreveu o conceito de aprendizagem independente e Knowles (1988) propôs outro que teve muita repercussão na literatura educacional, a apren-dizagem autodirigida, por meio da qual:
[...] os estudantes fazem o diagnóstico das próprias neces-sidades de aprendizagem, de acordo com seus objetivos, identificando variedade de recursos pedagógicos e plane-jando estratégias para utilizar esses recursos, avaliando a própria aprendizagem e tendo sua avaliação validada (KNOWLES, 1988, p. 5 apud GOTTARDI, 2015, p. 111).
Para Belloni (1999 apud GOTTARDI, 2015, p. 112), a:
[...] aprendizagem em EaD caracteriza-se essencialmente pela flexibilidade, abertura dos sistemas e maior autono-mia do aluno, sendo mais coerente com transformações sociais e econômicas contemporâneas, pois o fundamento deste modelo enfoca o processo de aprendizagem no edu-cando e não no ensino ou nas tecnologias utilizadas.
A autora refere que (1999 apud GOTTARDI, 2015, p. 112):
EaD é mais uma modalidade de educação e que aprendi-zagem a distância relaciona-se mais com modos de acesso, com metodologias e estratégias pedagógicas, defende que a modalidade tem todas as características necessárias para favorecer a postura ativa de educação permanente e apren-dizagem autônoma.
Gottardi (2015) afirma que o EaD contribui positivamente para a educação ao trazer facilidades de o aluno estabelecer seu próprio ritmo de busca por novas informações e conhecimentos, quebrando o paradigma de que somente a escola – em sua função formal – poderia ensinar. Ferreira e Silva (2009), no mesmo sentido referenciam EaD como educação sem fronteiras e acessível a todas as pessoas como forma de aprendizagem de novos conhecimentos e de qualificação.
Do ensino presencial passa-se para o modelo a distância por meio de simulações virtuais, programas de formação continuada no universo on-line, sites que investem na realidade virtual e criam escolas virtuais baseadas no e--learning, além de uma infinidade de estratégias que moti-vam os alunos ao processo colaborativo na aprendizagem.
(FERREIRA; SILVA, 2009, p. 5) .
O EaD, apoiado pelas tecnologias da comunicação e meto-dologias de ensino, traz profundas modificações nas funções tradi-cionais do ensinar e aprender, a “sala de aula” não é o único espaço possível de aprendizagem. Tem-se possibilidade de mudar da sala de aula – espaço físico – para sala de aula virtual, no ciberespaço (GOTTARDI, 2015).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da discussão teórica, pode-se inferir que os valores organizacionais podem motivar ou coibir a busca de inovação e qualidade na gestão do ensino e aprendizagem e, consequentemen-te, alavancar a modalidade de EaD aos níveis de referência no to-cante à conquista de autonomia intelectual, possibilitando a trans-formação do aluno de EaD como protagonista na construção do conhecimento.
Ainda mais, a realidade mostra que os jovens estão muito interligados nas TICs através de seus dispositivos móveis, seja como forma de distração, seja para buscar conhecimento científi-co. Assim, acredita-se que, no futuro, os alunos de maior poten-cial acadêmico podem se enquadrar melhor no EaD, pois eles têm curiosidade tecnológica e disciplina para dar aprofundamento nas
discussões propostas on-line, além de serem mais aptos a buscarem novas formas de aprendizagem em detrimento do método tradicio-nal em sala de aula.
Quebra-se assim o paradigma de que o EaD é uma proposta supletiva para alunos acomodados e com algum histórico de fracas-so, uma vez que o EaD está conquistando o posicionamento de en-sino inovador e atrativo, para uma geração que convive diariamente com algum tipo de tecnologia.
Portanto, há necessidade de mudança para alinhamento do discurso das IES aos procedimentos em relação à valoração dos aspectos organizacionais necessários à gestão do EaD, visto que são especificidades como força das normas e dos procedimentos direcionadores da qualidade e eficiência dos processos necessários à EaD.
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