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Parte I Dimensão Reflexiva

Capítulo 2 Prática Pedagógica em 1.º Ciclo do Ensino Básico

2.2. Refletindo sobre as aprendizagens em contexto de 1.º Ciclo do Ensino

2.2.3. Autonomia e trabalho de grupo

Ao intervir e ao propor experiências educativas deparei-me com uma situação que nunca anteriormente tinha vivenciado, ou seja, os alunos falavam e respondiam a questões todos em simultâneo, existindo partilha de ideias paralelas não conseguindo esperar pela sua vez de falar. Nesse sentido, senti que tinha de adequar as estratégias de ensino, isto é, não realizar unicamente atividades em grande grupo, mas sim em pequeno grupo que lhes permitissem partilhar ideias, colocar hipóteses (o que penso sobre um determinado assunto; como me vou organizar para realizar a tarefa) e resolver problemas. Para além disso, decidi recorrer a algumas regras de funcionamento na sala de aula, sendo uma delas, colocarem o dedo no ar sempre que pretendiam comunicar as suas ideias, porque, do meu ponto de vista, é importante que os alunos aprendam a viver em sociedade, a respeitarem a vez e a opinião dos outros. Para além disso, como destaca Moreira (2002, p. 62),

as regras são fundamentais para criar um ambiente de ordem e previsibilidade. Ao definir os comportamentos apropriados e inapropriados, as regras ajudam o aluno a regular o seu

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comportamento e oferecerem segurança interna, uma vez que permitem à criança sentir que está a cumprir o que é esperado dela.

Desta forma, perante esta situação tentei auxiliar, orientar, motivar e mediar cada grupo, deslocando-me junto dos alunos com o intuito de esclarecer dúvidas, de colocar questões problemáticas e de orientar o pensamento dos mesmos, colocando-lhes questões aquando da realização das propostas educativas. No meu entender, esta postura foi fundamental, porque possibilitou-me, ao circular pela sala, perceber o porquê de algumas das dificuldades dos alunos e pensar na forma de os ajudar para superarem essas dificuldades (Perrenoud, 2000). A título de exemplo, apercebi-me que, aquando da leitura de textos informativos na área disciplinar de Estudo do Meio, os alunos tinham dificuldades a tratar, a utilizar e a reproduzir informações essenciais dos textos, pois observei que, eram muito rápidos nessas tarefas e achavam que era tudo importante sublinhando o texto todo. Portanto, enquanto modelo educativo a minha intervenção era fundamental, uma vez que considero que os alunos devem ter um papel ativo na construção de conhecimentos. Tal como refere Not (1991), a construção ativa de conhecimentos é desenvolvida pelos alunos e progride através de atividades de descoberta, de criação ou de invenção.

Deste modo, decidi propor aos alunos a realização da leitura de textos em voz alta, para depois em grande grupo, se discutir e selecionar as informações essenciais realizando esquemas no quadro, porque "(...) os professores devem ter presentes a grande diversidade dos seus alunos e a necessidade de adaptarem o seu ensino a determinados alunos" (Arends, 2008, p. 327). Após ter proposto durante, várias vezes, a realização desta tarefa, os alunos começaram, em pequeno grupo e individualmente, a ter facilidade em selecionar partes do texto, sublinhando apenas o que consideravam essencial, e ainda, manifestavam facilidade em comunicar oralmente as informações recolhidas, pois focavam-se somente em uma ou duas situações abordadas nos textos.

Sabendo que ao propor a realização de trabalhos de grupo poderia causar um ambiente educativo com ruído, pois os alunos têm constantemente conversas paralelas nos momentos de diálogo, e uma organização diferente na sala de aula, decidi apostar na concretização dos mesmos, porque considero que os alunos necessitavam de se envolver cooperativamente na realização das atividades, tendo um papel autónomo na construção dos seus conhecimentos. Uma vez que, como afirmam Lopes e Silva (2009, p. IX), a sociedade espera que a escola dote os alunos de competências que lhe possibilitem "trabalhar em equipa, intervir de forma autónoma e crítica e resolver problemas de uma forma colaborativa".

No meu ponto de vista, este tipo de tarefas auxilia os alunos a desenvolverem a autonomia, a aprendem a trocar ideias, a negociarem e a cumprirem regras, visto que, são responsáveis por uma tarefa e devem desempenhá-la de modo a cooperarem para uma boa organização do ambiente educativo. Tal como defende Haigh (2010), os alunos quando incentivados a refletir acerca das suas atitudes relacionais têm tendência a proporcionar um ambiente favorável à aprendizagem. Para além

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disso, segundo Arends (2008, p. 349) "Um dos aspectos mais importante da aprendizagem cooperativa é o de que ajudando a promover o comportamento cooperativo e a desenvolver melhores relações grupais entre alunos, está simultaneamente a ajudar os alunos na sua aprendizagem académica".

Uma das propostas de trabalho de grupo desenvolvida com os alunos do 4.º ano de escolaridade consistiu na criação de cenários e de adereços acerca do texto dramático "Serafim e Malacueco na corte do Rei Escama" de António Torrado para, em pequeno grupo, realizarem a dramatização da peça lida anteriormente. Com os materiais que lhes foram distribuídos (cartolinas, tecidos, tintas, entre outros) os alunos iam partilhando ideias de como caracterizar os personagens, ou seja, conforme as suas características físicas tendo, por vezes que voltar a reler partes do texto, iam colocando hipóteses e tomando decisões acerca das dimensões das cartolinas tendo em conta as proporções dos personagens, decidiram as cores e os materiais mais adequados e a forma como iriam dramatizar e colocar-se perante a plateia, entre outras

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Considero que foi uma boa estratégia, e que esta dinâmica em pequeno grupo foi importante, porque, por um lado os alunos ao trabalharem em equipa, envolvendo troca de ideias, têm o mesmo objetivo de aprendizagem, aprendendo cooperativamente. (Fernandes, 1997). Para além disso, na opinião de Morgado (2004, p. 66), o trabalho de grupo é uma proposta educativa que "(...) amplia a capacidade de aprendizagem e de interação das competências envolvidas". Mas, por outro lado, esse trabalho também depende do contributo de todos os elementos do grupo, assim, aprendi que, esta estratégia é fundamental, porque promove as interações afetivas e sociais no desenvolvimento cognitivo dos alunos. Não estava à espera que os resultados fossem positivos, todavia fiquei surpreendida com o comportamento e as atitudes dos alunos, ou seja, a forma como se expressaram, organizaram, entre ajudaram e dividiram tarefas. Desta forma, segundo Fernandes (1997, p. 567) "(...) cria-se um ambiente rico em descobertas mútuas, feedback recíproco e uma partilha de ideias frequente". Outra das minhas aprendizagens foi perceber que, aquando da realização de trabalhos de grupo, é natural existir ruído, pois é impossível comunicar e trabalhar sem a troca de ideias, e ainda, que a implementação de experiências educativas em grupos possibilita uma gestão mais eficaz da duração das tarefas, visto que, os alunos compreendem que têm de realizar a tarefa naquele tempo, de forma a que cada grupo se organize para a poder concluir e apresentar à turma.