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Parte II Dimensão Investigativa

Capítulo 1 Interações: modos de comunicar entre pares

1.3. Necessidades Educativas Especiais

Existe um conjunto de indivíduos com características, capacidades, habilidades e necessidades que submetem a comunidade educativa a organizar-se colaborativamente, no sentido de proporcionar e criar respostas educativas eficazes para o desenvolvimento e aprendizagem dos mesmos. Estes indivíduos designam-se conjuntamente de crianças com Necessidades Educativas Especiais (NEE), e segundo a perspetiva de Correia (2008, p.43)

As necessidades educativas especiais dizem respeito a um conjunto de factores de risco ou de ordem intelectual, emocional e física, que podem afetar a capacidade de um aluno em atingir o seu potencial máximo no que concerne a aprendizagem, académica e socioemocional. Estes factores podem, assim, originar "discapacidades" ou "talentos", podem afectar uma ou mais áreas do funcionamento do aluno e podem ser mais ou menos visíveis.

Portanto, a divergência entre o patamar em que as crianças se encontram numa determinada fase de desenvolvimento relativamente ao patamar em que se deveriam encontrar denomina-se de NEE (Costa, 1999). As necessidades educativas dividem-se em dois grupos, as NEE significativas e as NEE ligeiras. As NEE significativas são aquelas que necessitam de uma adaptação do currículo, tendo em conta as características dos indivíduos. Neste grupo, encontramos indivíduos cujas alterações no desenvolvimento se deve a problemas orgânicos, funcionais, e ainda, por défices socioculturais e económicos graves. Portanto, afetam o desenvolvimento e aprendizagem, e, são necessidades educativas de cariz sensorial, intelectual, processológico (problemas no processamento de informação), físico, emocional e outros problemas ligeiros relacionados com o desenvolvimento e a saúde. As NEE ligeiras são caracterizadas como problemas ligeiros ao nível do desenvolvimento das funções superiores na aprendizagem da leitura, escrita e cálculo, ou em problemas ligeiros, atrasos ou perturbações menos graves a nível do desenvolvimentos motor, percetivo, linguístico ou socioemocional (Correia, 2008).

Estas NEE podem ter um caráter permanente ou não permanente. No caso das necessidades educativas permanentes as crianças necessitam que o currículo seja adaptado às suas características nas áreas académicas e/ou socioemocionais, e, trata-se então, de uma adaptação durante todo o percurso de vida de um indivíduo para poder receber uma educação apropriada. Neste grupo estão incluídas as crianças com problemas de visão, audição, a nível motor, com autismo, paralisia cerebral, síndrome de Down, entre outros. Em relação às necessidades educativas especiais não permanentes, estas exigem uma adaptação parcial do currículo, consoante as características do

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indivíduo, de modo a que esta adaptação seja apenas durante um determinado momento do seu desenvolvimento (Pereira, 2008).

Uma das NEE significativa de caráter permanente é a multideficiência caracterizada por restrições cognitivas acentuadas, associadas a limitações nos domínios sensoriais ou motores: audição e visão. Segundo Correia (2008, p.50), uma multideficiência é

Um conjunto de deficiências numa mesma criança, tal como a deficiência mental e a deficiência visual, paralesia cerebral e deficiência mental, causadas de problemas de desenvolvimento e educacionais severos que requerem intervenções específicas de acordo com a concomitância da problemática.

Para além disso, é habitual apresentarem acentuadas restrições no domínio da comunicação, linguagem, fala e/ou problemas de saúde. Estas restrições fazem com que o desenvolvimento das crianças e a sua participação em contexto familiar, educativo e comunitário esteja limitada, influenciando a forma como se desenvolvem e aprendem. Portanto, as limitações que os indivíduos com multideficiência se deparam fazem com que enfrentem vários obstáculos e desafios a nível físico e social. Por exemplo, a nível físico apresentam "restrições nos movimentos, anomalias do esqueleto, problemas visuais ou auditivos, problemas respiratórios, epilepsia e fragilidade no sistema imunitário" (Nunes, 2005, p. 63). Estes aspetos têm influencia no processo educativo, porque torna-se desafiante posicionar os indivíduos de forma correta, de forma a estarem disponíveis para a aprendizagem, assim como auxiliá-los a utilizar a visão e/ou a audição nos diversos ambientes. Ao nível social, a mesma autora (2005, p. 43) ainda salienta que, "é habitual manifestarem, entre outras, dificuldades em estabelecer laços afectivos, expressar sentimentos e afectos, tomar decisões sobre aspectos básicos da sua vida".

Desta forma, a inexistência de meios de comunicação limita-lhes o acesso à informação e o desenvolvimento das habilidades, de integração e participação nas experiências educativas. As restrições relacionadas com a ausência de linguagem, faz com que apresentem dificuldades na informação que recebem dos outros e da sua simbologia. E como nos alerta Nunes (2007, p. 25) "O facto de a maioria das crianças com multideficiência não utilizar a linguagem oral como principal forma ou meio de expressão, leva-as a experienciar inúmeras dificuldades no processo de interacção com o mundo que as rodeia". Para além disso, a mesma autora (2007) sublinha que, as crianças que brincam com crianças com multideficiência são desafiadas a encontrar e a usar formas de comunicar para poder responder ao pedido dessas crianças, ou para estabelecer interações comunicativas que possibilitem o acesso à informação presente no ambiente, pois é esta interação mútua que, conduz ao sucesso do desenvolvimento comunicativo. Logo, a orientação do olhar e os movimentos corporais das crianças com multideficiência alcançam uma especial importância no processo comunicativo e de interação social entre indivíduos, porque as capacidades motoras influenciam na forma como se age nos diferentes contextos, se interage com pessoas e objetos, e a capacidade visual apresenta um função essencial para comunicar com os outros (Nunes, 2007).

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Contudo, pode-se afirmar que as restrições cognitivas, comunicativas, motoras e/ou sensoriais conjuntamente apresentadas pelos indivíduos com multidecifiência acabam por diminuir as oportunidades de descobrir e interagir nos diferentes contextos, uma vez que, a aprendizagem tem de ser auxiliada. Portanto, "precisam, igualmente, de sistemas de apoio que lhes permitem serem aceites como indivíduos que contribuem, de forma positiva, para o dinamismo dos ambientes de aprendizagem" (Nunes, 2005, p. 64). No entanto, estes indivíduos necessitam de serem olhados como sujeitos capazes de aprenderem, se forem ensinados. Assim, é importante que frequentem ambientes propícios a diversas experiências, para interagir e comunicar com os parceiros. Ainda de referir que, os indivíduos com multideficiência necessitam de ter acesso à informação, e também, de ter oportunidade de se envolverem de forma ativa nas interações sociais e nas experiências educativas. Estes são aspetos fundamentais, visto que, a comunicação é o pilar da aprendizagem, e as interações são cruciais à melhoria da qualidade de bem estar. Desta forma, torna-se importante adaptar as formas de comunicar às aptidões e ao funcionamento cognitivo, motor, visual e auditivo de cada indivíduo, de forma a expressarem necessidades e sentimentos, a envolver-se nas interações e fazer aprendizagens (Nunes, 2005).

A Educação Especial tem diversos objetivos, nomeadamente, a inclusão educativa e social, o acesso e sucesso educativo, a autonomia, a estabilidade emocional, assim como, a promoção da igualdade de oportunidades, a preparação para o seguimento de estudos ou para uma adequada preparação para a vida profissional, e, para a transição da escola para o emprego (Pereira, 2008). Para além disso, Correia (2008) salienta que, o movimento inclusivo é uma mais valia para os indivíduos que apresentam NEE, no que diz respeito ao processo de desenvolvimento e aprendizagem, transformando-se num modelo pedagógico e educativo para a comunidade educativa, uma vez que, "uma escola inclusiva é, assim, uma escola onde toda a criança é respeitada e encorajada a aprender até ao limite das suas capacidades" (Correia, 2008, p. 7).

Nos próximos capítulos será apresentada a metodologia de investigação, a apresentação e discussão dos resultados, sendo os mesmos confrontados com o presente enquadramento teórico.

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