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Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA)

BEM-ESTAR DA VACA LEITEIRA E PRODUÇÃO DE LEITE

1.3 Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA)

Em junho de 2009, na sequência de um pedido da Comissão Europeia o painel de saúde e bem-estar animal da EFSA foi convidado a emitir um parecer científico sobre os efeitos globais de sistemas de produção animal no bem-estar em vacas leiteiras, considerando- se os sistemas de produção atuais e o cumprimento das exigências de bem-estar patológicas, zootécnicas, fisiológicas e comportamentais. Em janeiro de 2012 a EFSA publicou novo documento reforçando a importância da adoção de protocolos de avaliação de bem-estar baseados nos animais.

Devido à grande diversidade de temas e dados científicos, foi proposta a emissão de pareceres científicos nas diferentes temáticas, como sendo mais adequado e eficaz. O

11 relatório científico, foi organizado num parecer global com avaliações científicas de risco divididas em quatro secções (EFSA, 2009):

1. Distúrbios metabólicos e reprodutivos; 2. Perturbações do úbere e pernas; 3. Problemas de locomoção;

4. Distúrbios de comportamento, medo e dor.

A produção leiteira da Europa baseia-se principalmente na agricultura intensiva especializada, no entanto existe uma grande diversidade de sistemas de maneio e estabulação dos animais. Na maioria dos casos as áreas de pastoreio são reduzidas e tendem a manter os animais em estabulação permanente, sem possibilidade de recorrer à pastagem. O sistema de produção por si só, é um importante fator nos problemas de saúde dos animais e outros aspetos de bem-estar, em parte focados na estabulação e tipo de equipamentos e, por outro lado, nas práticas de maneio adotadas.

A seleção genética efetuada a longo prazo para alta produção de leite é o principal fator que afeta o bem-estar e a saúde das vacas leiteiras. A produção de leite tem aumentado progressivamente ao longo dos últimos trinta anos na Europa, com aproximadamente 50% deste aumento atribuível ao progresso genético. Esta seleção também alterou a forma e o tamanho dos animais e, portanto, exigências sobre o seu comportamento e outros mecanismos adaptativos. A necessidade de maior conforto para a vaca leiteira é fundamental, assumida a sua vulnerabilidade a choques mecânicos e feridas nas partes exteriores do corpo, da pele, membros e úngulas. A componente genética subjacente ao aumento da produção de leite também tem sido associada positivamente à incidência de claudicação, mastite, distúrbios reprodutivos e metabólicos. Com a finalidade de melhorar o bem-estar das vacas leiteiras é premente a promoção de mudanças nos critérios utilizados para a seleção genética dos animais. A seleção genética para melhorar a fertilidade, saúde e longevidade é suscetível de melhorar o bem-estar e conduzir a maiores rendimentos para o criador.

Uma vez que o tamanho corporal das vacas aumentou durante os últimos 20 anos, os cubículos devem possuir as dimensões adequadas, para minimizar as dificuldades de movimento dos animais e a possibilidade de pisoteio dos tetos. Os cubículos e corredores devem ser projetados de tal forma que o movimento frontal da vaca não seja dificultado quando esta se levanta da cama. A avaliação de risco confirmou que o menosprezo pelas condições do cubículo e a falta de espaço representam os maiores riscos no desenvolvimento de patologias nos animais. Áreas inferiores a 8,6 m2 por vaca em sistemas de estabulação livre com cubículos afetam negativamente o bem-estar. A largura do cubículo deverá ser de pelo menos 1,8 vezes a largura da garupa. Neste sistema de estabulação deverá providenciar-se disponibilidade de cubículos suficiente

12 para a totalidade do efetivo, ou seja um cubículo por animal. A área de repouso de pelo menos 2,7 m²/novilha (até 400 kg) é necessária para evitar o impacto negativo no seu desenvolvimento e bem-estar. No sistema de estabulação livre, a área em volta de cada local de alimentação é propício à ocorrência de agressividade, por isso a área de alimentação deve ser concebida com espaço suficiente para que todas as vacas se possam alimentar tranquilamente, minimizando as agressões ou outras interferências indesejáveis.

As patologias podais são o principal problema que afeta as vacas de leite, questões como o dimensionamento adequado dos cubículos e o tipo de cama devem ser considerados. As vacas e as novilhas sempre que seja possível, devem ter acesso a pastagens ou parques ao ar livre, pelo menos durante o verão ou nas restantes estações do ano sempre que se verifique tempo seco. A estabulação presa restringe o movimento voluntário e o comportamento social dos animais. Quando existem períodos de exercício físico, alguns dos possíveis efeitos adversos são reduzidos. Portanto, os sistemas de maneio devem contemplar um período mínimo de circulação das vacas, para que estas sejam capazes de satisfazer as suas necessidades ao mostrar determinados comportamentos, como aliciamento, interação social e exercício físico. Mesmo em sistemas com estabulação presa permanente, as vacas devem ter a oportunidade de fazer exercício diário, como andar livremente dentro ou fora (exceto quando há condições climatéricas adversas) do estábulo e ter liberdade para realizar outros comportamentos naturais.

Todas as vacas leiteiras devem ser alimentadas com uma dieta que fornece energia suficiente, nutrientes e fibras alimentares para suprir as exigências metabólicas da produção, sem colocar em causa a saúde animal. Quando se efetuam alterações na dieta, a alimentação de transição deve ser cuidadosamente controlada para evitar mal- estar. Os sistemas de alimentação implementados nas explorações devem permitir que cada vaca individualmente possa satisfazer as suas necessidades em quantidade e qualidade alimentar. As vacas devem ter acesso permanente a água potável. Esta água deve estar disponível em quantidade suficiente para evitar a desidratação e deve estar livre de odor e sabor repelente, não conter agentes infeciosos, não possuir substâncias tóxicas e contaminantes que podem acumular-se nos tecidos do corpo ou ser excretadas no leite. Tanto no interior como no exterior do estábulo, o acesso à água deve ser contínuo e facilitado através da instalação de bebedouros automáticos ou de nível e em número suficiente para a totalidade dos animais.

Deve existir um sistema de monitorização da prevalência de claudicação, através da observação da locomoção e lesões das úngulas trimestralmente em todos os efetivos leiteiros. Devido ao alto risco de claudicação em bovinos de leite todos os criadores

13 devem implementar um programa de prevenção da claudicação. Em explorações com elevada prevalência de claudicação, igual ou superior a 10%, devem ser implementadas medidas de melhoria das condições de estabulação dos animais, programas de melhoramento genético e de práticas de maneio visando o decréscimo das patologias podais. Além das técnicas de seleção genética que podem conferir uma maior resistência intrínseca aos animais, é fundamental atuar na prevenção da transmissão da infeção entre animais ou por fatores ambientais. A minimização dos fatores de stresse reduz a incidência e a prevalência de mastites, que pode ser evitada ou reduzida através do tratamento da infeção clínica e subclínica, terapia da vaca seca e através da identificação e eliminação de vacas com doença crónica.

O maneio adequado e controlo da dor nos animais devem ser tidos em consideração no tratamento da claudicação grave e da mastite clínica.

Os produtores deverão receber formação para reconhecer sinais de doença, em estádios precoces e quando necessário recorrer ao aconselhamento de um veterinário numa fase inicial da doença. Estas diretrizes sobre bem-estar em bovinos de leite devem ser incorporadas nos códigos de boas práticas e protocolos de monitorização de potenciais riscos para a saúde dos animais.

Segundo EFSA (2012) os protocolos de bem-estar do Welfare Quality (2009), abrangem a maioria dos principais riscos identificados no parecer científico da EFSA e as medidas baseadas nos animais são necessárias para determinar se as melhorias pretendidas são alcançadas. No entanto neste último parecer os peritos identificaram falta de especificidade em alguns perigos, como no desenho dos cubículos e em medidas baseadas nos animais (por exemplo condição corporal), o que significa que o resultado do bem-estar poderá ter mais que uma causa associada.

Diversas medidas de bem-estar baseadas nos animais já se encontram completamente desenvolvidas, embora não sejam amplamente utilizadas (pontuação da locomoção, comportamento de ascensão, lesões nas pernas) e outras medidas de origem animal são utilizadas, mas não em contexto de avaliação do bem-estar (contagem de células somáticas, número de lactações completas). A maioria das medidas de bem-estar baseadas no animal está relacionada com a produção, saúde e comportamento animal. Algumas medidas são muito úteis, não apenas porque indicam problemas actuais de bem-estar no efetivo, mas porque funcionam como ferramenta de deteção precoce de uma potencial situação negativa no futuro.

Em resumo as medidas baseadas no animal são suscetíveis de destacar os problemas de bem-estar mais importantes e dessa forma indicar as prioridades das ações corretivas a implementar. Os principais indicadores de bem-estar referenciados no relatório da

14 EFSA (2012) incluem pontuação de claudicação, lesões nas pernas, mastites, colisões com equipamentos nos movimentos ao deitar e levantar e condição corporal.