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BEM-ESTAR DA VACA LEITEIRA E PRODUÇÃO DE LEITE

1.2 Bem-estar animal

A gestão do bem-estar dos animais depende do seu grau de adaptação sem sofrimento, aos ambientes proporcionados pelo homem (Carpenter, 1980). É importante que o principal objetivo para promover o BEA seja atingido de uma forma metódica para evitar erros de longo alcance que afetam os agricultores, os animais e a sociedade em geral. Um pré-requisito necessário para atingir esse objetivo consiste na definição correta das caraterísticas associadas à qualidade de vida de um animal (Hurnik, 1988).

O bem-estar de um animal pode ser definido como o seu estado, no que se refere às tentativas de lidar com o ambiente que o rodeia. Isto inclui o seu estado de saúde, condição física, fisiológico e estado emocional. A apreciação do bem-estar deve efetuar- se preferencialmente, através de uma grande variedade de medidas. Embora uma única medida permite indicar se o bem-estar é pobre, estudos comparando bem-estar em diferentes sistemas, ou utilizando diferentes métodos de produção pecuária, deverão basear-se num conjunto de indicadores (FAWC, 1993).

Três tipos de preocupações com o bem-estar animal são geralmente relatadas: as que envolvem a atividade biológica do animal, as que se referem com a forma como os animais sentem, relacionadas com o seu estado afetivo e emocional, e ainda as que abrangem a capacidade do animal para viver uma vida natural (Fraser, 2003, 2006). Existe uma ampla abordagem do bem-estar proporcionada pelo princípio das “Cinco Liberdades”. Liberdade de fome e sede, desconforto, dor, lesão ou doença, medo e angústia, a liberdade de expressar um comportamento normal (Webster, 2001). As cinco liberdades não descrevem os critérios a respeitar em qualquer tipo de sistema de estabulação e maneio animal para atingir um nível aceitável de bem-estar. Pelo contrário as cinco liberdades indicam uma forma de identificar os problemas e a direção a seguir para melhorar a assistência aos animais (Webster, 2001; Rushen et al., 2008).

Desde a mais antiga tradição de cuidar dos animais, que o bem-estar animal é visto em grande parte, pela ausência de dor, doença ou lesão e focando a atenção sobre a proteção individual dos animais, sobretudo garantindo que animais doentes recebem tratamento atempado e eficaz. O mais recente interesse do bem-estar animal nas explorações, no entanto, decorre da preocupação da sociedade civil sobre algumas técnicas de exploração pecuária moderna, especialmente na pecuária intensiva (Rushen

et al., 2008). O problema mais óbvio é que o conceito de bem-estar animal ignora ou

9 normalmente é justificado pela afirmação de que a consciência animal é impossível ou de difícil enquadramento em estudos científicos. A resposta tem sido muitas vezes a redefinição do bem-estar animal de modo a tornar possível a abordagem pela investigação científica, designadamente através do estudo das ameaças que se colocam ao funcionamento fisiológico do animal (Barnard e Hurst, 1996).

Preocupações sobre a objetividade e respeitabilidade científica também podem influenciar a seleção de variáveis para avaliação do bem-estar animal. Os cientistas geralmente centram-se na objetividade, no sentido de fazer as medições, que representam o objeto em estudo, e não o sujeito (pessoa) que faz a avaliação. Variáveis como taxa de crescimento, a sobrevivência e a incidência de doenças infeciosas em geral podem ser classificadas de forma objetiva, com forte concordância entre diferentes observadores, e aos investigadores em bem-estar animal tem sido recomendado o uso de tais medidas objetivas, sempre que possível (Fraser, 2003).

Hurnik (1988) propôs que a longevidade poderia servir como avaliação global de bem- estar, uma vez que todos os desafios prejudiciais ao BEA, em última instância, devem acelerar a morte. O pressuposto por trás deste conceito é que todos os reptos ao BEA acabarão por afetar o animal da mesma forma e, consequentemente, os indicadores de bem-estar permitirão medir o somatório dos efeitos das diferentes agressões no animal. Programas de garantia do bem-estar incluem diversos formatos e tipo de exigências. Estes dispõem de oportunidades para identificar as opções adaptadas a um determinado território, na sua organização, na indústria, associadas às suas necessidades específicas, como fatores culturais, do mercado, situação económica, e nível de envolvimento com o BEA como uma área de interesse social (Fraser, 2006).

Figura 1.1 Fontes de informação para avaliação do bem-estar animal (Sorensen, 2001).

O sistema Aplicação de sistemas

Comportamento animal

Doenças dos animais

10 Governos de muitos países europeus responderam às preocupações públicas sobre bem-estar animal, através da aprovação de legislação que sanciona determinadas práticas, servindo também de base para criação de legislação no âmbito da União Europeia. A Convenção Europeia para a proteção dos animais nas explorações pecuárias de 1978 incidiu sobre a importância de evitar sofrimento, garantir abrigo, nutrição e sistemas de maneio adequados aos animais. O efeito de medidas legislativas de proteção dos bovinos nem sempre teve impacto positivo. Grande parte da investigação baseou-se em comparações referentes a diferentes tipos de estabulação, como os sistemas de criação de vitelos em grupo, versus em alojamentos individuais, uma vez que este era o interesse da legislação (Rushen et al., 2008).

Uma abordagem complementar para a melhoria do bem-estar animal vem do reconhecimento de que o bem-estar animal, pode interferir com os hábitos de compra dos consumidores. Inquéritos realizados na União Europeia revelaram que os consumidores muitas vezes afirmam que o bem-estar animal, é um tema importante na tomada de decisão da compra de um determinado produto, embora por vezes seja de importância secundária, em relação à segurança dos alimentos, sabor e fatores nutritivos (Weatherell

et al., 2003; Grunert et al., 2004). Muitos consumidores defendem que a informação

sobre o sistema de produção, incluindo o bem-estar animal, deve ser incluída na etiquetagem dos produtos (Bernues et al., 2003).

Curiosamente, a preocupação com questões de bem-estar animal parece ser uma das principais razões, que levam os consumidores a comprar produtos com origem no modo de produção biológica, sobretudo no Reino Unido (Grunert et al., 2004) e é um fator que alicia os consumidores a preferirem produtos alimentares considerados de produção local (Weatherell et al., 2003).