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3. M ETODOLOGIA

3.1. Fase I – Estudo da Amostra

3.1.2. Avaliação da Amostra

O estudo da amostra baseou-se numa abordagem hierarquizada e gradativa, com base nos critérios e parâmetros definidos anteriormente. O processamento da

informação levou à construção das Tabelas I, II e III.1

3.1.2.1. Constituintes

Pela interpretação da Tabela I2 verificou-se que no “Presente”, das 55 quintas da

amostra de estudo da “Outra Banda”, 53 ainda dispõem de “Casa Principal”, representando 96% da amostra, seguindo-se por: 47 quintas que ainda possuem “Assento de Lavoura e Anexos”, 85% da amostra; 33 quintas que ainda têm “Capela”, 60% da amostra; 16 quintas que ainda são constituídas por “Pomar” e “Mata”, 29% da amostra; 14 quintas que ainda possuem “Jardim”, bem como “Horta”, 25% da amostra;

e apenas 4 quintas têm “Pombal”, ou seja, 7% da amostra.3

Duas quintas, a Quinta da Conceição e a Quinta da Fidalga, possuem atualmente 7 dos 8 constituintes definidos, seguindo-se por outras 3 unidades, a Quinta dos

1 Cf. Vol II, Tabela I, II, III e IV, pp.83-85. 2 Cf. Vol. II, Tabela I, p.83.

3 É importante referirmos que apenas foram considerados para a categoria “Presente” os constituintes que se inserem dentro dos limites do objeto de estudo.

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Espadeiros1, a Quinta do Álamo e a Quinta da Princesa e Infanta2, que ainda detém 6

dos 8 constituintes.

Optámos também por fazer uma comparação entre os constituintes que hoje integram

as unidades em estudo, “Presente”, e os constituintes que foram identificados3 e

referenciados nas fontes bibliográficas e cartográficas, “Passado”, de modo a estudarmos as alterações que ocorreram ao longo dos tempos, bem como encontrar tipos de quintas da “Margem Esquerda do Tejo”.

Pela análise da mesma tabela, constata-se que as maiores discrepâncias entre o presente e o passado ocorreram nos constituintes que têm a sua composição caracterizada pelos elementos mais frágeis, sujeitos à ação do tempo e ao passar das épocas, bem como à intervenção do homem.

- “Passado”: “Jardim” 78%; “Pomar” 62%; “Horta” 60%; “Mata” 53%. - “Presente”: “Jardim” 25%; “Pomar” 29%; “Horta” 25%; “Mata” 29%.

3.1.2.2. Sistema Hidráulico

Pela análise da Tabela I4, as “Captações” nas quintas da “Margem Esquerda do Tejo”

eram feitas por poços, identificados em 64% da amostra de estudo. Já no que se refere às minas e nascentes, apenas foram identificadas em quatro quintas – três detinham minas (5%) e uma possuía nascente (2%).

A água captada por poços de menor alcance nos relevos de altitude inferiores, próximos do nível do Tejo e seus “braços” era salobra, em virtude de ser afetada pelas águas estuarinas. Porém, se os poços atingissem as águas do pliocénico, as melhores águas da Península de Setúbal, a salubridade era, e ainda é, quase inexistente, daí a multiplicação deste método de captação neste território.

Relativamente ao “Abastecimento / Função”, em 65% da amostra de estudo o sistema hidráulico foi identificado com sendo utlizado para fins domésticos, 53% para a rega e 11% para “Força Motriz”. Para além disto, a água era também utilizada pela sua

1 V. Vol. II, Quadro I, p.64. 2 V. Vol. II, Quadro II, p.70.

3 Avaliação feita pelos vestígios que subsistem nas quintas em estudo. 4 Cf. Vol. II, Tabela I, p.83.

97 função estética e de moderador climático, tendo sido identificado em 25% da amostra de estudo.

A água para funções de rega, “Força Motriz” e “Estético / Moderador Climático” era proveniente das águas subterrâneas, mesmo as salobras e calcárias, sendo elevadas

por noras e moinhos de vento do “tipo americano”1.

As águas do Tejo e seus esteiros foram também utilizadas para a indústria da transformação dos cereais. Em algumas das quintas da “Outra Banda” ainda se identificam parte destas estruturas de transformação – os moinhos de maré.

3.1.2.3. Estado de Conservação

Pela interpretação da Tabela II2, onde estão dispostas as categorias de qualidade

relativamente ao estado de conservação das quintas, verificou-se que 22% das quintas se encontram em ruínas, 33% estão “Degradas / Descaracterizadas” e 44% estão em bom estado de conservação.

De modo a sintetizarmos, optámos por unir as categorias “Ruína” e “Degradado / Descaraterizado”, ao qual designamos de “Mau Estado de Conservação”, uma vez que o mau estado de conservação pode colocar em risco a viabilidade de futuras classificações.

Assim sendo, 44% das quintas da amostra encontram-se em bom estado de conservação e 55% estão em mau estado de conservação, resultando num balanço negativo quanto ao atual estado de conservação.

3.1.2.4. Primeira Referência (Conhecida)

Pela leitura da Tabela II3, verifica-se que 32 quintas foram construídas antes do século

XVII, representando 58% da amostra, seguindo-se pelas quintas construídas no século XVIII, com 29%, e pelo século XIX, com apenas 5%.

1 V. Vol. II, Fig. 4, p.92. 2 Cf. Vol. II, Tabela II, p.84. 3 Cf. Vol. II, Tabela II, p.84.

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O investimento em novas propriedades na “Outra Banda” coincide com os períodos em que havia mais poder de compra por parte de alguns grupos económicos.

O poder socioecónomico, característico de determinadas épocas, como os Descobrimentos, levou ao investimento em propriedades agrícolas, pois a aposta na produção agrícola era uma fonte rendimento viável, pela elevada procura do mercado interno e externo, de determinados produtos.

3.1.2.5. Cronologia das Intervenções

Pela Tabela II1, apura-se que o período onde ocorreram mais intervenções foi o século

XX, representando 64% da amostra, seguindo-se pelo século XVIII, com 55% e pelo século XIX, com 51% e, por último, o período anterior ao século XVII, que corresponde a 33% da amostra.

No caso da “Outra Banda”, as principias cronologias de intervenção acompanharam geralmente os períodos de estabilidade social e desenvolvimento económico. O investimento nas quintas, da “Margem Esquerda do Tejo”, permitia o retorno pela produção e escoamento de excedentes de bens essenciais, garantia a criação de um espaço de recreio, de deleite e de refúgio, e permitia também a demonstração do estatuto e do poder económico dos proprietários.

As diversas intervenções que estas unidades sofreram durante o século XX resultaram das alterações sociais, culturais e económicas relevantes que remontam a finais do século XIX.

Outras fases construtivas marcantes podem estar associadas: à exploração das diversas colónias portuguesas; às novidades culturais e sociais da corte, nomeadamente do rei D. João V; à fuga para a periferia de Lisboa no pós-terramoto; à expulsão dos jesuítas de Portugal em 1759; ao crescimento do poder económico da burguesia, com as políticas pombalinas; e a extinção das ordens religiosas em 1834.

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3.1.2.6. Ordens Religiosas (Afetação e Cadastro)

Diferentes Ordens Religiosas possuíram bens de raiz na “Margem Esquerda do Tejo”, como os jesuítas na Quinta de Vale de Rosal, concelho de Almada, os dominicanos na

Quinta dos Frades1 e na Quinta do Seminário2, concelho de Almada, os jerónimos na

Quinta da Azenha3, concelho de Almada, os trinitários na Quinta da Trindade,

concelho do Seixal, e os franciscanos na Quinta do Convento4, concelho do Barreiro.

Na total da amostra de estudo, reconhecemos que 8 quintas tiveram como

proprietárias congregações religiosas, o que corresponde a 15% da amostra.5

Estas ordens foram “responsáveis pela exploração de algumas quintas”6 da “Margem

Esquerda do Tejo”, nomeadamente da Quinta do Carmo7, concelho de Almada, cuja

produção era maioritariamente para o consumo do Convento do Carmo.8

As ordens geriam estas quintas tanto em regime direto como indireto, por via de contratos de enfiteuse ou arrendamento. Estas unidades foram também lugares de eleição para o repouso, retiro e reflexão.

Com a extinção das ordens religiosas em 1834, incluindo a expulsão dos jesuítas de Portugal em 1759, “todos os bens reverteram em benefício do erário público e muitos

foram vendidos a privados.”9 As antigas quintas de produção e recolhimento de

religiosos foram adquiridas por novos proprietários que as reconverteram sob o ponto de vista agrícola, e que as usaram como espaço de recreio e até de residência.

1 V. Vol. II, Quadro I, p. 65. 2 V. Vol. II, Quadro I, p. 66. 3 V. Vol. II, Quadro I, p.59. 4 V. Vol. II, Quadro III, p.73. 5 Cf. Vol. II, Tabela II, p.84.

6 Eulália de Medeiros Paulo, Paulo Guinote, A «Banda D’Além do Tejo» na História, Roteiro Histórico da Margem Sul do Estuário do Tejo das Origens ao fim do Antigo Regime, Lisboa, Grupo de Trabalho do Ministério da Educação para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2000, p.30.

7 V. Vol. II, Quadro I, pp.59-60.

8 Cf. Carlos Barradas Leal, Rui Mendes, “A Quinta do Carmo em Murfacém – Estudo Histórico, Patrimonial, Económico e Social”, in Anais de Almada, nº 17, Almada, Divisão de História Local e Arquivo Histórico, Câmara Municipal de Almada, 2014, pp.85-94.

9 Rui Mendes, “Património Religioso de Almada e Seixal”, in Anais de Almada, nº 11 – 12, Almada, Divisão de História Local e Arquivo Histórico, Câmara Municipal de Almada, 2010, p.70.

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3.1.2.7. Classificação

Através da análise da Tabela II1, constata-se que 71% das quintas não detém

qualquer classificação, 20% possuem classificação municipal (IM (16%), CIM e SIM (2%)), 7% são IIP, 2% são MIP e 4% são abrangidas por uma ZEP.

Verifica-se que das 16 quintas classificadas, 29% da amostra, 10 (18%) encontram-se

em mau estado de conservação.2 Esta constatação leva-nos a questionar: a

fiscalização por parte da administração central ou local; os apoios à salvaguarda destes imóveis; e o atual papel da classificação, enquanto meio que devia salvaguardar os valores patrimoniais.

3.1.2.8. Ligações Viárias e Fluviais

No total, das 55 quintas da amostra, 17 (31%) partilharam limites com o Tejo ou com os esteiros, possuindo provavelmente cais de embarque ou pequenos portos, mas só

8 (15%) preservam atualmente esta relação direta.3

Esta análise permite também concluir que, independentemente da existência de ligação fluvial, todas as quintas dispunham sempre de ligação terrestre.

A vantagem desta proximidade às linhas de água é confirmada, uma vez que das 17 (31%) quintas detentoras de ligação fluvial, 13 (24%) integram-se em cronologias

anteriores ao século XVII.4

3.1.2.9. Contexto

Após análise da Tabela III5, verificou-se que 24% da amostra está em meio rural, 44%

está em zona periurbana e 33% insere-se em contexto urbano. Este zonamento é

1 Cf. Vol. II, Tabela II, p.84. 2 Cf. Vol. II, Tabela III, p.85. 3 Cf. Vol. II, Tabela III, p.85. 4 Cf. Vol. II, Tabela III, p.85. 5 Cf. Vol. II, Tabela III, p.85.

101 relevante para avaliar riscos de destruição face às pressões urbanísticas ou de abandono pela inviabilidade produtiva em meio rural.

Contrariamente ao que seria de esperar, constata-se que 77% da amostra localiza-se em contexto urbano e periurbano. Encontramos três justificações distintas para esta realidade. A primeira prende-se com o facto das quintas, em contexto rural, geralmente apresentarem maior dimensão, comparativamente às quintas nas proximidades dos aglomerados urbanos, daí a menor quantidade. A segunda pode-se justificar pelo desenvolvimento das povoações e novas urbanizações sobre as formas ancestrais de organização do território, como as quintas, sendo corrente a atribuição da toponímia “Quinta” a ruas e bairros da “Margem Sul do Tejo”. E a terceira com a superior qualidade das áreas, em tempos ocupados por quintas.

3.1.2.10. Exposição Solar

No total das 55 quintas da amostra de estudo, 67% não tem exposição dominante, seguida pela exposição oeste com 15%, pela exposição norte e sul com 7% e, por

último, a exposição este com 4%.1

A avaliação da exposição pode ser relevante para compreender a organização de uma quinta, face a incidência de radiação solar, níveis de produção e conforto climático. Conclui-se que nas quintas tentou-se tirar partido das exposições a norte e a nascente para zonas habitacionais, de recreio e lazer, mais amenas em período estival, e das exposições a sul e oeste enquanto áreas produtivas.

Escolhem-se sobretudo situações soalheiras, abrigadas dos ventos e ricas em água e de bons solos. As qualidades do sítio, agora enunciadas, são características intrínsecas ao conceito de lugar ameno e aprazível.2

1 Cf. Vol. II, Tabela III, p.85.

2 Aurora Carapinha, Da Essência do Jardim Português, Vol. I, Évora, Dissertação de Doutoramento, Universidade de Évora, 1995, p.48.

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