II. Revisão da Literatura
2.2 O desenvolvimento de programas de Intervenção em Educação Parental
2.2.5 Avaliação da eficácia dos programas de Intervenção em Educação Parental
De uma forma geral os programas são avaliados pelos participantes como sendo
muito atrativos e indo de encontro às suas necessidades. A utilização do nível de
satisfação parental como único critério de avaliação seria redutor e só através de recurso
a estudos de avaliação dos resultados será possível demonstrar a existência de
benefícios para os pais e para os filhos. Avaliar a eficácia de programas de intervenção
levanta dificuldades que não estão relacionadas com questões de rigor científico, mas
com a natureza do objeto a avaliar. Do ponto de vista da avaliação dos resultados, uma
das questões que se levanta é a da escolha das medidas. Estas variam conforme o
referencial teórico-conceptual e os objetivos do programa: podem ser medidas
relacionadas com o comportamento e a realização das crianças, com os comportamentos
interativos parentais, com as cognições parentais (valores, atitudes) ou com a avaliação
Quanto às variáveis parentais, observa-se uma maior inclinação para recorrer à
avaliação de estados internos parentais (atitudes) do que à avaliação de
comportamentos. A avaliação dos comportamentos interativos parentais implicaria a
observação direta dos mesmos ou uma entrevista aprofundada de caráter clínico.
O planeamento da investigação e avaliação dos resultados são os aspetos mais
criticados na avaliação dos programas de formação de pais. Do ponto de vista do
planeamento, as dificuldades levantadas à avaliação da eficácia (Kroth, 1989)
relacionam-se com aspetos difíceis de controlar, dos quais salientaremos quatro. O
primeiro relaciona-se com a impossibilidade de replicação exata de um programa: o
formador é diferente e os pais também. Isto impossibilita concluir se a eficácia
observada num grupo e não noutro, se deve ao programa ou às caraterísticas específicas
do grupo de pais. Um segundo aspeto relaciona-se com as caraterísticas do grupo de
controlo, que normalmente é formado pelos pais em espera. O terceiro aspeto relaciona-
se com as desistências que ocorrem ao longo do programa; os pais que acabam o
programa e relativamente aos quais se avalia a eficácia, são provavelmente mais
motivados a introduzir alterações na sua vida e nas interações com os filhos. Por fim,
nem sempre os estudos recorrem à utilização de observadores independentes na
avaliação da eficácia, o que limita a validação dos resultados.
Na generalidade, os estudos que se debruçaram sobre os resultados de programas
específicos de Educação Parental, focam somente um determinado tipo de resultados
(relacionados com a criança, com os pais, com a família ou com a relação conjugal) e
recorrem a medidas conceptualmente limitadas (First & Way, 1995).
As questões relacionadas com a avaliação de programas de Educação Parental
são assim de grande importância, na medida em que ao identificarmos os elementos
sobre o desenvolvimento humano, maximizar os efeitos parentais no desenvolvimento
das crianças e reforçar a construção de programas e políticas que proporcionem um
funcionamento saudável da família e o desenvolvimento da criança (Wolfe & Haddy,
2001).
No entanto, apesar de muito se escrever sobre a Educação Parental e de se
reconhecer que estamos perante um recurso com numerosas potencialidades, é ainda
difícil apontar quais os elementos necessários para que tenha sucesso, na medida em que
é limitado o nosso conhecimento acerca dos resultados dos programas implementados
(First & Way, 1995; Wolfe & Haddy, 2001).
Todavia, a avaliação é um elemento fundamental e deve ser considerada na
construção e implementação de qualquer programa, e não como um momento
totalmente independente da intervenção (Matthews & Hudson, 2001).
Podemos considerar que a avaliação envolve as seguintes componentes:
objetivos, conteúdos, métodos, implementação e resultados da intervenção. A avaliação
dos objetivos do programa é, fundamentalmente, uma avaliação de contexto, cujo
propósito é o de assegurar que os objetivos da intervenção são revistos e modificados,
tendo em consideração os valores sociais e culturais dos pais, bem como as
necessidades desenvolvimentais das crianças (Matthews & Hudson, 2001).
Por sua vez, a avaliação de conteúdos deve firmar-se na literatura teórica e
empírica sobre os comportamentos parentais considerados aceitáveis e
eficazes/eficientes e sobre os quais pretendemos intervir.
Do mesmo modo, a avaliação das metodologias deverá seguir as orientações da
literatura teórica, em virtude do facto de que determinadas abordagens funcionam com
No que concerne a avaliação da implementação, pretende-se perceber em que
medida esta está foi de encontro aos seus propósitos, mediante a participação dos pais
na intervenção e o grau de satisfação que revelam face à metodologia utilizada.
Por último, a avaliação de resultados permite concluir se o programa teve ou não
sucesso, quais os aspetos que devem ter continuidade e quais aqueles que devem ser
alterados em intervenções posteriores. Ainda relativamente à avaliação de resultados,
refira-se que um aspeto muito importante na investigação experimental quando está em
causa uma avaliação de efeitos, mudanças ou ganhos, é a existência de dois ou mais
momentos de avaliação, sendo que pelo menos um deles ocorre antes da manipulação da
variável independente e outro após essa manipulação. Esses momentos designam-se,
respetivamente, pré-teste e pós-teste. Poderá surgir ainda um terceiro momento, mais
longínquo no tempo, e que tem por finalidade verificar a estabilidade dos efeitos do
tratamento: é o momento de follow-up. Esta última forma de avaliação é particularmente
importante em intervenções com objetivos de modificação do comportamento ou
facilitação de mudanças e aprendizagens, no sentido de verificar se os efeitos se mantêm
com o tempo ou se permanecem para além da duração da intervenção (Almeida &
Freire, 2000). Por exemplo, podemos avaliar junto de um grupo de pais quais os efeitos
da participação num programa de Educação Parental, tendo em conta as avaliações
realizadas antes e após a aplicação do programa. Podemos ainda analisar se a mudança
ocorrida é atribuível ao programa de intervenção, ao intervalo de tempo ou a ambos,
tendo por base a avaliação dos grupos experimental e de controlo.
A filosofia de avaliação atrás descrita assenta, como se pode concluir, em
pressupostos quantitativos, aos quais está inerente uma preocupação em salvaguardar
que as observações realizadas sejam objetivas (o que dependerá da qualidade dos
situação), e que os resultados finais e as conclusões se atribuam exclusivamente no
quadro da relação entre a variável independente e a variável dependente (Almeida &
Freire, 2000). No domínio da Educação Parental, conclui-se que o recurso simultâneo a
metodologias de avaliação qualitativas facilitará a exploração de processos e
significados relativos às vivências pessoais no desempenho das funções parentais.
Fontana e Frey (1998) afirmam que a entrevista é o instrumento metodológico
mais utilizado na pesquisa qualitativa para a recolha e análise de materiais empíricos.
As entrevistas podem ser de tipo estruturado, semi-estruturado ou não estruturado,
consoante a flexibilidade que impõem a nível da forma como as questões são colocadas
e das possibilidades de categorias de respostas que permitem ao entrevistado.
Tradicionalmente, os métodos qualitativos e quantitativos eram apresentados na
literatura como sendo diametralmente opostos e mutuamente exclusivos. Contudo, a
integração de ambos os métodos na investigação, poderá proporcionar informação que
nenhum dos dois disponibiliza quando utilizado de forma isolada (Sells, Smith &
Sprenkle, 1995).
Nessa perspetiva, First e Way (1995) salientam que se torna importante adotar
uma perspetiva mais abrangente no campo específico da Educação Parental, incluindo
na avaliação dos programas abordagens de carácter qualitativo, ou seja, interpretativas,
que enfatizam a natureza e o significado das experiências pessoais e que pretendem
levar a insights mais profundos sobre a natureza dos resultados da Educação Parental,
evidenciados nas experiências dos participantes no programa.
Apesar de ainda serem poucos os estudos cujo objetivo é mostrar que, para além
da mudança nas variáveis parentais, também existe uma relação causal entre estas
mudanças e os resultados observados nas crianças, os dados apoiam esta relação (Smith
contextos de vida é impossível, o que torna a avaliação da eficácia dos programas de
intervenção uma tarefa difícil, mesmo com um grupo experimental e um de controlo.
Assim, a relação entre mudança parental e resultados observados na criança tem
sido mais inferida do que comprovada (Smith et al., 2002)
Podemos concluir que avaliar programas de formação de pais é complicado,
quer do ponto de vista metodológico, quer teórico (Smith et al., 2002).
A falta de estudos de seguimento longitudinal realizados a longo prazo é outro
aspeto sinalizado (Hart, et al., 2003). São necessários estudos de follow-up para avaliar
os pontos fortes e os défices nos resultados, o impacto do programa e a manutenção dos
efeitos a longo prazo nos pais e nos filhos (Briesmeister & Schaefer, 1998).
Algumas revisões da literatura concluem pela eficácia na prevenção de
problemas posteriores, enquanto outras questionam a sua eficácia devido a problemas