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3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

3.3 AVALIAÇÃO DA FADIGA

Quando indagados se o período de 12 horas de repouso na apresentação para o voo é respeitado, 23 dos entrevistados disseram que não, ou seja, 76,67%. Acredita-se que isso se deve ao fato do período de deslocamento entre o hotel/casa e o aeroporto estar incluído nesse tempo que seria destinado para seu descanso, dessa forma, o tripulante não consegue usufruir de maneira efetiva do seu período de repouso.

Em relação ao número de dias consecutivos de trabalho, todos os entrevistados informaram trabalhar até no máximo 6 dias consecutivos, sendo que 15 trabalham no máximo 5 dias e os 15 restantes, no máximo 6 dias sucessivos.

No que se refere à percepção de sono entre tripulantes, apenas 2 pessoas (6,67%) disseram que dormem o suficiente, 14 pessoas (46,67%) alegaram que dormem perto do suficiente e as 14 restantes que dormem muito pouco.

Portanto, por esses dados, infere-se que os tripulantes não estão tendo um período de repouso adequado e que provavelmente estão indo trabalhar cansados, o que pode afetar nas condições de segurança das operações aéreas, uma vez que o descanso insuficiente acarreta em déficit de atenção e sinais de alerta inadequados.

Gráfico 9 – Percepção do sono entre tripulantes.

Albuquerque e Ramos (2018) mencionam que “distúrbios do sono e o desacerto do relógio biológico circadiano são os sintomas que mais acometem os comissários e os pilotos em função da expansão do trabalho em turnos e dos transportes aéreos”. (ALBUQUERQUE e RAMOS, 2018, p. 26). Dentro dessa perspectiva, Brandão (2012) infere que “as ciências do sono têm permitido argumentar que o tempo de sono não pode ser substituído nem dispensado para dar lugar às atividades de um estilo de vida exigente”. (BRANDÃO, 2012, p. 17).

Especificamente, no que diz respeito aos fatores que contribuem para a percepção de cansaço durante o trabalho dos tripulantes, os cinco itens mais mencionados foram: pouco tempo de descanso entre as jornadas de trabalho; horários de trabalho; atrasos; longas jornadas de trabalho e tempo de deslocamento entre a residência/hotel e o local de trabalho, conforme demonstrado no Gráfico abaixo.

Gráfico 10 – Fatores que contribuem para a sua percepção de cansaço durante o trabalho dos tripulantes.

Dessa forma, pode-se concluir que o pouco tempo de descanso entre as jornadas de trabalho tem sido a principal causa da fadiga entre os pilotos e comissários entrevistados.

Vale ressaltar, que esse é um assunto que interfere diretamente na segurança das operações aéreas e afeta a vida de milhares de profissionais e passageiros. Portanto, acredita-se que a Lei nº 13.475, de 28 de agosto de 2017 deveria ser revista, proporcionando um tempo de repouso maior em relação à duração da jornada de trabalho.

Em relação aos sintomas da fadiga, os mais frequentes foram sonolência, vontade de bocejar e dores nas costas.

Tabela 8 – Análise estatística para avaliação da fadiga.

Item Média (M) Desvio Padrão (DP)

Sonolência 5,97 1,65 Olhos cansados 3,90 2,23 Vontade de bocejar 5,40 2,19 Dor de cabeça 2,00 1,82 Falta de concentração 3,87 1,72 Moleza no corpo 3,30 1,62

Dores nas costas 5,53 2,19

Fonte: elaboração do autor (2019).

No que se refere aos sintomas da fadiga em relação ao sexo dos entrevistados, verificou-se que não houve uma diferença significativa (p-valor: 0,4823).

Gráfico 11 – Avaliação da Frequência dos sintomas da fadiga no trabalho por Sexo.

Fonte: elaboração do autor (2019).

Em relação ao gráfico 11, é possível perceber que a média dos sintomas da fadiga entre homens e mulheres não apresentou muita diferença, obtendo média de 4,13 para o sexo feminino e 4,35 para o sexo masculino.

Ademais, quando comparado os sintomas da fadiga em relação ao cargo (p-valor: 0,7517) e a faixa etária (p-valor: 0,6094) dos entrevistados, verificou-se que não houve uma diferença significativa, ou seja, a fadiga está presente nos tripulantes de modo geral, independente da idade ou da função de comandante, piloto e comissário.

Gráfico 12 – Avaliação da Frequência dos sintomas da fadiga no trabalho por Cargo.

Fonte: elaboração do autor (2019).

Em relação ao gráfico acima, é possível perceber que a média dos sintomas da fadiga entre as diferentes funções foi semelhante, obtendo média de 4,44 para comandante, 4,16 para comissário e 4,07 para copiloto. De modo que a maior variação das respostas ocorreu para a função de copiloto com um valor mínimo de 0,71 e máximo de 7,57. Em contrapartida, as respostas dos comandantes foram as que tiveram a menor variação, apresentando valor mínimo de 3,14 e máximo de 6,00. Ou seja, a ocorrência dos sintomas da fadiga entre comandantes é mais homogênea do que nas funções de comissário e copiloto.

Gráfico 13 – Avaliação da Frequência dos sintomas da fadiga no trabalho por Faixa etária.

Fonte: elaboração do autor (2019).

No que se refere ao Gráfico 13, que trata sobre a frequência dos sintomas da fadiga em relação à faixa etária dos entrevistados, verificou-se que a média dos sintomas da fadiga entre as diferentes idades também foi semelhante, obtendo média de 3,80 para a faixa de 20 a 30 anos, 4,59 para faixa de 31 a 40 anos, 4,03 para faixa de 41 a 50 anos e 4,14 para faixa acima de 50 anos. De modo que a maior variação das respostas ocorreu para a faixa de 31 a 40 anos com um valor mínimo de 0,71 e máximo de 7,57. Em contrapartida, as respostas dos entrevistados acima de 50 anos foram as que tiveram a menor variação, apresentando valor mínimo de 3,86 e máximo de 4,43.

Portanto, constata-se que de modo geral, a frequência dos sintomas da fadiga não possui relação com o sexo, cargo ou a faixa etária dos tripulantes, ocorrendo de modo semelhante entre homens e mulheres e as diferentes funções e idades.

Vale ressaltar que, de acordo com Caldwell (2004), algumas pesquisas realizadas apontam que a fadiga contribui com algo entre 15 a 20% nos acidentes aéreos. Para Rayol (2015), na atividade do tripulante, procura-se gerenciar durante todo o tempo inúmeras informações pertinentes à função que requer muito da sua capacidade física, raciocínio rápido, atenção, alerta, ser assertivo, ter uma consciência situacional para perceber eventos indesejáveis, visualizando toda e qualquer situação que não esteja de acordo com os procedimentos estabelecidos, e que possam interferir na segurança do voo, podendo ocasionar um incidente ou até mesmo um acidente.

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