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AVALIAÇÃO DA RECONSTRUÇÃO DO LCA PELO RX DE PERFIL

Embora o RX de perfil não possa evidenciar importantes aspectos rela- cionados com a orientação tridimensional das fibras do LCA, mostra, con- tudo, aspectos que são condição "sine qua non" para a reconstrução bem sucedida. O certo é que o sistema de quatro barras defendido, entre outros, por Múller (2) (Fig. 4), reproduz, em grande parte, o que, na prática, se veri- fica, nomeadamente quanto à relação entre a variação do comprimento e da tensão do neo-ligamento e a posição do orifício intra-articular do túnel femoral. Os estudos efectuados pelo autor, no cadáver, confirmam as varia- ções acima referidas.

Na prática, constata-se que a pequenas variações da localização do orifício intra-articular do túnel femoral correspondem alterações apreciáveis da tensão do neo-ligamento. As variações da implantação tibial têm menor repercussão que as da implantação femoral, mas, no entanto, se o orifício intra-articular do túnel tibial ficar em posição anterior à inserção original do LCA, como na técnica de Clancy (1), conduz frequentemente ao défice da extensão do joelho ou à distensão do neo-ligamento, por conflito deste com o tecto da chanfradura.

O RX de perfil correcto em vários graus de flexão mostra sinais indi- rectos de laxidez ou de défice da mobilidade nos casos em que a implantação femoral do neo-ligamento não se encontra na zona de inserção original do LCA. A primeira avaliação a fazer consiste em verificar que o prolongamento distai da cortical posterior da diáfise femoral se projecta sempre à frente da inserção original do LCA e é a referência para avaliar a posição da inserção femoral do neo-ligamento (Fig. 54).

Fig. 54 — O prolongamento da cortical posterior do fémur passa à frente da inserção femoral do LCA.

AVALIAÇÃO DA RECONSTRUÇÃO DO LCA PELO RX DE PERFIL

A maioria dos doentes submetidos a reconstrução do LCA com défice da mobilidade e/ou laxidez apresenta a inserção femoral do neo-ligamento em posição anterior relativamente à inserção original do LCA. A avaliação pelo RX de perfil da variação do comprimento do neo-ligamento relacionada com os locais de implantação no fémur permite deduzir as causas das altera- ções da mobilidade e/ou da laxidez. Na fig.47, as letras A, B, C e OT assinalam, respectivamente, a inserção original, a inserção baixa, a inserção muito ante- rior e a posição "over the top" do neo-ligamento. A letra D assinala a inserção tibial do neo-ligamento. A medição da distância entre a inserção tibial e as várias inserções femorais possíveis, em vários graus de flexão do joelho, reproduz bastante fielmente o que se observa durante a reconstrução liga- mentar. A inserção femoral em local próximo da inserção original do LCA é a

120°

Gráfico 1 — A inserção femoral no centro do LCA origina pequeno relaxamento do neo-LCA com a acentuação de flexão.

que origina menor variação de comprimento (Gráfico 1) (Fig. 47). A posição femoral "over the top" origina acentuada variação do comprimento, que fica muito reduzido na flexão (Gráfico 2) (Fig. 47). Quando o orifício intra-arti- cular do túnel femoral é baixo, há relaxamento do neo-ligamento até cerca dos 90° de flexão, seguindo-se aumento de tensão com o aumento da flexão (Gráfico 3) (Fig. 47). A localização do túnel femoral em posição anterior à inserção original do LCA dá origem também a marcada variação do compri- mento e, consequentemente, da tensão do neo-ligamento, mas em sentido inverso ao verificado na posição "over the top" (Gráfico 4) (Fig. 47). É a causa mais frequente de défice de flexão, acompanhada quase sempre de laxidez do

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Gráfico 2 — A posição femoral "over the top" origina acentuada variação do comprimento, que fica muito reduzido na flexão.

Gráfico 3 — A inserção femoral baixa origina relaxamento marcado no neo-LCA até cerca de 90° de flexão e ligeira recuperação da tensão com a progressão da flexão.

AVALIAÇÃO DA RECONSTRUÇÃO DO LCA PELO RX DE PERFIL - 14 " + 9 / - " + 6 . - - " " ' 0 - 45° 90° 120° Gráfico 4 — A inserção femoral anterior dá origem a progressivo aumento do comprimento e da tensão com a flexão.

neo-ligamento com o joelho em extensão. A apreciação dos gráficos permite ainda compreender a variação de tensão do neo-ligamento, de acordo com o grau de flexão do joelho em que é definitivamente fixado sob tensão. Por exemplo, pelo gráfico 4 compreende-se que se o neo-ligamento, em posição anterior à inserção original, for tenso e fixado com o joelho flectido a cerca de 30°, ficará com tensão exagerada a cerca de 90° e tensão insuficiente na extensão. Pelo contrário, no gráfico 2, correspondente à passagem do neo- -ligamento pela posição "over the top", se este for fixado sob tensão com o joelho em flexão de cerca de 90°, jamais se conseguirá a extensão total, a menos que o neo-ligamento se distenda muito ou rompa. O gráfico 1, corres- pondente ao orifício intra-articular do túnel femoral no centro da inserção original do LCA, é o que reproduz a situação mais aceitável, revelando laxidez moderada do neo-ligamento na flexão acentuada do joelho, quando o liga- mento é defitivamente fixado sob tensão próximo da extensão total. De

referir que é nos primeiros 10o-15° graus de flexão do joelho que é funda-

mental a estabilidade conferida pelo neo-LCA.

Do que acaba de ser dito, pode concluir-se que o RX de perfil correcto tem valor diagnóstico na avaliação do défice de mobilidade, da laxidez e da rotura do LCA.

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Referências

1. Clancy WG Jr, Nelson DA, Reider B, Narechania RG. Anterior Cruciate

Ligament reconstruction using one third of the patellar ligament, augmented by extra-articular tendon transfers. J Bone JointSurg (Am) 64(3): 352-359, 1982. 2. Millier WE. Das Knie. Springer, Berlin Heidelberg New York, 1982.