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Avaliação de impactes do ciclo de vida

4.3 Metodologia da ACV

4.3.3 Avaliação de impactes do ciclo de vida

Tendo como base os dados obtidos da análise de inventário, procede-se à avaliação de impactes associados a cada fase do ciclo de vida do objeto de estudo.

A Avaliação de Impactes do Ciclo de Vida (AICV) consiste na transformação das intervenções ambientais (materializadas no ICV) em efeitos ambientais potenciais (categorias de impacte), conduzindo à avaliação de impactes.

A fase de avaliação de impactes compreende uma série de elementos obrigatórios e de elementos opcionais, conforme se ilustra na Figura 4.3.

Figura 4.3 Elementos da fase AICV (ISO, 2006a).

Os elementos obrigatórios convertem os resultados do ICV em resultados de indicador de categoria (perfil ambiental) para as diferentes categorias de impacte, e os elementos opcionais servem para normalizar, agrupar ou pesar os resultados do indicador e técnicas de análise de qualidade dos dados.

4.3.3.1 Seleção de categorias de impacte, respetivos indicadores de categoria e modelos de caracterização

A seleção de categorias de impacte e os respetivos indicadores de categoria são o primeiro passo numa AICV, que irá ser considerado como parte da ACV global. Este passo deve ser executado durante a fase inicial de definição de objetivos e âmbito, para

orientar o processo de recolha de dados de ICV e as reconsiderações seguintes a esta fase.

Dos vários métodos de análise de impacte de ciclo de vida, disponíveis na bibliografia, destacam-se o método Eco-indicator 99 que, sendo um método multi-fase, a sua abordagem é orientada para o dano, o que corresponde na gíria ISO ao ponto final no mecanismo ambiental, o método Ecopontos 97 (Suíço) que é um método fase única, isto é, cada carga ambiental é multiplicada por um único fator que a transforma em ecopontos e o método CML 2001 que, sendo um método multi-fase tem uma abordagem orientada para o problema, que corresponde na gíria ISO, ao ponto intermédio no mecanismo ambiental (Ferreira, 2004). Este último método é uma atualização do método CML 1992 que consta do Dutch Guide to LCA (Heijungs et al. 1992) e é um dos primeiros métodos de avaliação, desenvolvido e vulgarmente utilizada em diversos estudos de ACV, em vários países. O seu nome está relacionado com a entidade onde foi desenvolvido - o Centro de Gestão Ambiental da Universidade de Leiden, Holanda.

A Society of Environmental Toxicology and Chemistry (SETAC) publicou uma lista de categorias de impacte que serviu de suporte para a baseline impact categories desta metodologia. As categorias de impacte que lhe servem de base são: a depleção de recursos abióticos, o uso do solo, o aquecimento global, a depleção da camada de ozono, a toxicidade humana, a ecotoxicidade, a formação de oxidantes fotoquímicos, a acidificação e a eutrofização (Guinée et al., 2001).

4.3.3.2 Classificação

As intervenções ambientais (emissões poluentes, extração de recursos naturais, etc.) têm como consequência efeitos ambientais (também designados por categorias de impacte) a nível local, regional e planetário.

Uma mesma intervenção pode estar associada a mais do que uma categoria e terá de ser, portanto, multiplamente contabilizada. Por exemplo, as emissões de NOx são

contabilizadas nas categorias de acidificação, eutrofização, e formação de oxidantes fotoquímicos, exceto se forem fenómenos não simultâneos no espaço e no tempo.

A afetação das várias intervenções ambientais às várias categorias de impacte, designa- se por classificação. A classificação assenta, assim, no conceito de tema ambiental, ou categoria de impacte, que traduz o efeito criado por um conjunto de poluentes afins.

4.3.3.3 Caracterização

O efeito criado por um determinado poluente sobre uma determinada categoria de impacte, é calculado mediante fatores de caracterização. Este procedimento denomina- se caracterização.

Uma intervenção ambiental não tem o mesmo peso relativo em todas as categorias onde é contabilizada. São-lhes, por isso, atribuídos fatores de caracterização (ou de equivalência, ou de classificação) para que se possam somar as contribuições de todas as intervenções numa dada categoria. O resultado obtido é o indicador dessa categoria (ou impacte). Por sua vez, o conjunto de todos os indicadores de todas as categorias designa-se por perfil ambiental. O indicador duma categoria, ou impacte, é obtido pela seguinte expressão:

(2)

onde mi, é a quantidade de intervenção (em massa ou volume).

Da caracterização resulta uma lista de valores numéricos, que pretende quantificar as potenciais cargas ambientais do ciclo estudado, designada por perfil ambiental.

4.3.3.4 Normalização

A normalização dos resultados do indicador é um elemento opcional da fase de AICV, que tem como objetivo compreender melhor a magnitude relativa de cada resultado do indicador do sistema de produto em estudo. Normalizar os resultados do indicador, é calcular a sua magnitude relativamente a uma informação de referência que pode ser útil, por exemplo, para verificar inconsistências, prover e comunicar informação numa significância relativa do resultado dos indicadores e preparar para procedimentos adicionais, tais como agrupamento, ponderação ou interpretação do ciclo de vida (ISO, 2006a).

4.3.3.5 Agregação

A agregação é, também, um elemento opcional da fase de AICV e compreende a atribuição das categorias de impacte numa ou mais séries, como pré-definido na definição dos objetivos e âmbito, e pode envolver separação e/ou ordenação (ISO, 2006a).

4.3.3.6 Ponderação

A ponderação é um elemento opcional da fase de AICV, no qual são atribuídos pesos ou valores relativos às diferentes categorias de impacte, baseados na sua importância ou relevância percebida, de acordo com os seguintes procedimentos possíveis:

• Converter os resultados do indicador ou resultados normalizados com fatores de peso selecionados;

• Possivelmente agregar estes resultados de indicadores convertidos ou resultados normalizados, ao longo das categorias de impacte.

O valor ou índice proveniente da agregação dos resultados dos indicadores pesados representa o desempenho ambiental do sistema de produto em estudo. De acordo com a ISO 14040, não existe forma científica de reduzir resultados da ACV a um resultado global único ou número, pelo que ela não pode ser utilizada para reivindicação comparativa.

4.3.3.7 Análise de qualidade dos dados

As ferramentas de qualidade dos dados mencionados na ISO 14042 compreendem a análise de gravidade (importância), a análise de incerteza e a análise de sensibilidade. Estas ferramentas podem ser aplicadas aos diferentes níveis do processo de análise de impacte: resultados do ICV, resultados do indicador, resultados normalizados e resultados ponderados.