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2.8 Alternativas de valorização de VFV

2.8.1 Produção de CSR

A produção de CSR é considerada um processo inovador a nível nacional e internacional, que cumpre as especificações técnicas de CEN/TS 15359 (ERFO, 2008).

De acordo com a Comissão Europeia, “Os CSRs podem ser compostos por uma variedade de materiais (resíduos industriais não perigosos como, têxteis, papel, cartão, plásticos, borracha, etc.) que, apesar de serem recicláveis, podem ter sido disponibilizados de tal forma que a reciclagem não seja ambientalmente segura. Por outro lado, os materiais recolhidos e/ou separados e preparados tendo-se a reciclagem em mente não devem ser considerados CSRs. Por outro lado, os materiais recicláveis não devem ser excluídos dos CSRs porque tal exclusão pode levar à eliminação destes materiais e ao desperdício dos recursos neles contidos.”

A linha de produção de um CSR consiste numa sequência de operações unitárias organizadas em série, com o objetivo de separar componentes indesejados e condicionar a matéria combustível de maneira a obter CSR com as características desejadas. O processo produtivo de CSR funciona exclusivamente com resíduos como matéria-prima, não implicando a utilização de quaisquer outros produtos auxiliares, contribuindo para o desenvolvimento das Melhores Tecnologias Disponíveis (MTD) em duas vertentes: processo produtivo e cadeia “Waste to energy” (BMH, 2010).

O circuito produtivo, com elevado nível de automação, encontra-se representado, de forma esquemática, na seguinte figura.

Figura 2.16 Processo produtivo de CSR (BMH, 2010).

Os resíduos admitidos são previamente separados, de acordo com o processo de valorização a que são sujeitos. Tipicamente, o processo consiste num grande alimentador para levar a matéria-prima até ao triturador. O material é triturado em partículas no tamanho de 80 mm. Estes trituradores (vide Figura 2.17) são totalmente protegidos contra metais não triturados. Os metais ferrosos são separados magneticamente do material triturado. Os metais não ferrosos são separados por separadores de corrente parasita. Nalguns casos, as frações muito finas são peneiradas, para melhorar a

qualidade do combustível. O separador mais importante é o classificador de ar (vide Figura 2.17), que elimina os materiais inadequados de combustão suspensa, tais como restos de metais, vidros, minerais e outros materiais inertes, bem como materiais orgânicos húmidos e plásticos duros contendo PVC (BMH, 2010).

Figura 2.17 Exemplo de triturador (à esquerda), classificador de ar (ao centro) e triturador de finos (à direita) (BMH, 2010).

Finalmente, a fração leve é ainda triturada em partículas de aproximadamente 25 mm no triturador de finos, resultando então em combustível pronto para o uso.

O produto final, CSR, é um combustível homogéneo e de padronizada alta qualidade, que consiste principalmente numa mistura de plásticos, papel, cartão e têxteis. O combustível é mecanicamente e quimicamente limpo. Este não deve ser considerado como sendo um combustível secundário, mas sim como primário, apresentando-se como um combustível alternativo, sustentável e renovável, padronizado na UE (ERFO, 2008). Na figura seguinte apresentam-se algumas ilustrações deste produto final.

Figura 2.18 Imagens descritivas do CSR, de alta qualidade (BMH, 2010; ERFO, 2008).

Este produto final tem características de excelência e diferencia-se no mercado dos Combustíveis Derivados de Resíduos (CDR) que são classificados como resíduos, de acordo com o “Código 19 12 10 - Resíduos combustíveis (combustíveis derivados de resíduos) ” LER.

Os princípios do sistema de classificação de CSR assentam em três parâmetros importantes, inerentes às propriedades principais de CSR: um parâmetro económico

(poder calorífico inferior – PCI), um parâmetro técnico (o conteúdo em cloro) e um parâmetro ambiental (o conteúdo em mercúrio). Estes são os parâmetros escolhidos para dar aos atores uma ideia imediata, ainda que simplificada, da qualidade do combustível em questão. De acordo com a especificação técnica publicada (CEN 15359:2006), somente combustíveis preparados a partir de resíduos não perigosos e que cumprem os padrões, é que podem ser classificados como CSR (CEN 15359:2006).

O sistema de classificação para os CSR (vide Tabela 2.7) baseia-se nos valores limite para as três propriedades supracitadas. Cada propriedade está dividida em cinco classes com valores limite. Deve ser atribuído, a cada propriedade do CSR, um número de 1 a 5. Para qualquer dos parâmetros, os métodos de análise a utilizar são os métodos reconhecidos na correspondente especificação técnica (CEN/TS) ou pré especificação (prCEN/TS).

Tabela 2.7 Sistema de classificação dos CSR (CEN 15359:2006 / NP 4486:2008).

Propriedade Média estatística Unidade Classe 1 2 3 4 5 Poder Calorífico Inferior PCI Média MJ/kg (tal como recebido) ≥ 25 ≥ 20 ≥ 15 ≥ 10 ≥ 3

Teor em Cloro (Cl) Média %

(base seca) ≤ 0,2 ≤ 0,6 ≤ 1,0 ≤ 1,5 ≤ 3 Teor em Mercúrio (Hg) Mediana mg/MJ (tal como recebido) ≤ 0,02 ≤ 0,03 ≤ 0,08 ≤ 0,15 ≤ 0,50 Percentil 80 mg/MJ (tal como recebido) ≤ 0,04 ≤ 0,06 ≤ 0,16 ≤ 0,3 ≤ 1,00

Os CSR são usados na recuperação de energia em fornos de cimento, centrais elétricas e caldeiras industriais. Dependendo da sua origem, o CSR pode ser considerado um combustível de substituição de origem renovável, com um teor médio de 50-70% de carbono biogénico, podendo contribuir consideravelmente para a redução das emissões de CO2 (Dias, 2011).

O CSR tem o custo mais baixo de produção de eletricidade, comparativamente com outras fontes de energia renovável (solar, fotovoltaica, eólica). Por outro lado, reduz a dependência da importação de fontes primárias de energia – fonte robusta de abastecimento (ERFO, 2008).

Salienta-se que a produção de CSR está na vanguarda das estratégias nacionais e europeias no domínio do ambiente e energia, enquadrando-se como um importante

contributo para a gestão sustentada de resíduos e recursos, designadamente através da diversificação das fontes de energia e do aproveitamento dos recursos endógenos.

Entre as particularidades desta estratégia, que pretende ser uma referência no mercado de gestão de resíduos, destaca-se a redução significativa na necessidade da deposição de resíduos em unidades de aterro, otimizando os processos de valorização a montante (ERFO,2008).