• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 1 Fundamentação teórica

1.4 Avaliação de material didático

A produção, a aplicação e a avaliação de material didático há muito vem despertando o interesse de estudiosos voltados para o ensino de Língua Estrangeira. Ramos (2009, p.174) afirma que há diversos estudos na literatura abordando a seleção, a avaliação e a aplicação de material didático, dentre os quais

a autora destaca os realizados por Sheldon (1987), Cunningsworth (1995), Graves (2000) e Tomlinson (2003).

A cada ano aumenta consideravelmente o número de materiais didáticos produzidos e disponíveis no mercado para o ensino de Língua Estrangeira. Entre eles, há livros com diversos tipos de abordagem e materiais complementares igualmente diversificados (CDs, DVDs, DVD-ROMs, livros paradidáticos, entre outros). Assim, torna-se necessário que o professor avalie o material didático a ser adotado considerando vários aspectos simultaneamente, como a necessidade dos alunos e dele própria, os desejos dos alunos e dele, a infraestrutura disponível na escola, o plano de curso estabelecido, a política educacional vigente, as teorias de ensino-aprendizagem adotadas, entre outros.

Com o propósito de elucidar a discussão de dados deste estudo, nesta seção apresento alguns conceitos sobre material didático, sua avaliação e os critérios utilizados por alguns estudiosos (RAMOS, 2009; TOMLINSON, 2003; GRAVES, 2000; HUTCHINSON e WATERS, 1987; CANDLIN e BREEN, 1987; CUNNINGSWORTH,1984) para a avaliação de material didático.

Para Graves (2000, p.149), o conceito de material didático não é claro devido ao fato de como se vê o conteúdo a ser utilizado. Essa autora considera material didático todos os recursos que o professor utiliza para ensinar. Entretanto, Graves (2000, p.151) explica que os recursos utilizados pelo professor precisam considerar as necessidades afetivas e intelectuais dos alunos, os objetivos do professor, os objetivos linguísticos e as teorias que subjazem às decisões do professor. Graves (2000, p.175) defende que a adaptação ou adequação de livro didático para um determinado público-alvo é uma prática que possibilita e viabiliza o processo de ensino-aprendizagem de línguas. Essa adequação, segundo a autora, consiste em mudar, suplementar, eliminar e ressequenciar o conteúdo, o que parece ter resultado em práticas de ensino que satisfazem, de certa maneira, professores e alunos. De acordo com Graves (2000, p. 156), ao elaborar e avaliar um material didático, é necessário verificar a que público-alvo se destina e quais são os objetivos e as metas a serem alcançadas.

Do mesmo modo, Tomlinson (2003, p.2) considera material didático tudo aquilo que possa ser utilizado para facilitar a aprendizagem de uma língua, qualquer coisa que informe sobre a língua estudada, que proporcione uma experiência de língua em

uso, que ofereça uma oportunidade de estimular o uso da linguagem e que possa auxiliar os alunos a fazerem descobertas próprias sobre a língua estudada. De acordo com o autor, o material a ser utilizado pode ser linguístico, visual, auditivo ou sinestésico, apresentando-se de maneiras variadas: impresso, por ferramentas tecnológicas como CD, CD-ROM e DVD, ou pelos recursos disponíveis na internet.

Para Tomlinson (2003, p.15), a avaliação de material é um procedimento que implica na medição do valor ou do valor em potencial do material didático. A avaliação, segundo o autor, envolve julgamentos a respeito do efeito de um material nas pessoas que o utilizam na tentativa de medir alguns aspectos como, por exemplo, a credibilidade do material para os aprendizes, professores e administradores; as percepções dos aprendizes e dos professores sobre o valor do material; a flexibilidade do material; a contribuição do material para o desenvolvimento do professor; a capacidade do material para atrair e motivar os alunos, entre outros. Os aspectos apontados por esse autor têm relação direta com minha pesquisa, dado que esta se volta a verificar a percepção dos alunos a respeito do material enviado pela SEE-SP.

Para o autor, as avaliações podem ser feitas antes, durante ou após a utilização de um material didático, mas devem seguir uma série de princípios articulados pelo avaliador para que a validade e a confiabilidade possam ser alcançadas e menos erros sejam feitos. Em meu caso, a avaliação está sendo feito depois do uso do material.

Tomlinson (2003, p. 27) aponta que a avaliação é um processo que demanda tempo e comprometimento. Para contribuir com esse processo, o autor sugere a elaboração de uma lista aleatória de critérios universais a serem utilizados igualmente na avaliação de qualquer tipo de material, por exemplo, um vídeo ou um livro didático. Essa lista tem o objetivo de fornecer uma base inicial para auxiliar os avaliadores a fazerem suas descobertas e julgamentos sobre o material utilizado, o ensino e a aprendizagem e sobre eles mesmos. A lista sugerida por Tomlinson (2003, p.28) envolve perguntas abrangentes sobre as oportunidades oferecidas para os alunos pensarem por eles mesmos; a clareza das instruções; os diferentes estilos de aprendizagem oferecidos e a possibilidade de engajamento afetivo oferecido pelo material, sendo que essas perguntas podem ser subdivididas ou aprofundadas de acordo com a necessidade de cada avaliador.

Para Hutchinson e Waters (1987, p.97), a avaliação é feita para a escolha do material mais adequado a ser aplicado num determinado contexto de ensino- aprendizagem. Segundo os autores, o professor deve questionar e desenvolver suas considerações sobre qual material apresenta-se mais adequado para contemplar determinada necessidade de uso da língua. Por exemplo, um livro didático pode apresentar conteúdos linguísticos mais detalhadamente explicados, outro pode ter uma metodologia mais adequada. Os autores apresentam uma lista de critérios a serem utilizados no processo de avaliação cujos tópicos são: audiência, os objetivos, o conteúdo e metodologia adotada para o ensino.

Para Candlin e Breen (1987, p.26), os usuários do material são essenciais e não podem ser esquecidos. Os autores indicam a necessidade de engajar os olhares dos alunos no processo de avaliação do material didático como crucial ao processo de avaliação e implementação de material didático, pois assim podem-se investigar aspectos de adequação e inadequação que possibilitam critérios para seleção e design. Dessa forma, há a possibilidade de tornar a visão do aluno uma visão avaliativa. Candlin e Breen (1987, p.13) oferecem um guia para que o professor faça uma avaliação do material didático a ser utilizado. Esse guia está organizado em duas fases e é composto por perguntas que possibilitam a criação de critérios avaliativos por parte do professor. Na primeira fase, há perguntas referentes à utilização do material didático, como o que se espera do aluno e do próprio professor, o que o material proporciona aos alunos que possibilita ao professor refletir sobre os conteúdos e objetivos oferecidos no material avaliado. Já na segunda fase, há questões voltadas para a aprendizagem em sala de aula, a realidade dos alunos, o contexto de sala de aula e as necessidades e interesse dos alunos.

Ramos (2009), ao focalizar o livro didático em seu artigo, argumenta que o processo de avaliação é fundamental ao professor. Por meio da avaliação, o professor pode fazer escolhas mais informadas a suas ações dentro de sala de aula e, consequentemente, melhorar sua competência profissional adotando uma postura mais avaliativa, sistemática e crítica perante qual livro didático será utilizado, de que maneira, qual sua relevância, etc.

Segundo a autora, para se realizar uma avaliação adequada deve-se estabelecer critérios que auxiliem e guiem os julgamentos do professor-avaliador.

Dessa forma, Ramos (2009) propõe a utilização de uma lista de critérios para guiar o processo de avaliação de livro didático. Essa lista foi desenvolvida em 1999 a partir da literatura vigente e de discussões com professores da rede pública estadual da cidade de São Paulo, participantes do curso Reflexão. Conforme a autora explica, a lista de critérios organiza-se em onze componentes maiores, seguidos por perguntas específicas que levam o professor a refletir e a examinar o livro didático mais detalhadamente. São essas perguntas específicas de Ramos que diferem de outras já existentes na literatura.

Os componentes da lista de critérios de Ramos (2009, p.184-185) são: o público-alvo; os objetivos da unidade; os recursos; a visão de ensino-aprendizagem e de linguagem que subjazem a unidade didática; o syllabus; a progressão dos conteúdos; os textos; as atividades; o material suplementar; a flexibilidade da unidade e o teacher’s notes. Já as perguntas específicas auxiliam o professor ao direcionar qual aspecto deve ser avaliado. Por exemplo, o componente que se refere às atividades é seguido pelas perguntas:

• Tem objetivos explícitos? Implícitos?

• As instruções são claras? Dependem do professor para sua aplicabilidade? A atividade tem enunciados que checam o conhecimento do aluno ou são enunciados que conduzem à pratica e aprendizagem? • Que tipo são usadas? Controladas? Não controladas? Exercícios?

Tarefas? De compreensão para produção da prática de habilidades para o uso?

• Promovem interação? Colaboração? Cooperação? Autoestima? Entretenimento? Geram solução de problemas? Promovem desenvolvimento de habilidades cognitivas?

• Quantidade de atividades? Muitas? Suficientes para os objetivos propostos? Poucas? (Ramos, 2009, p.185)

Acredito que essas perguntas, assim como afirmado por Ramos (2009, p.186), especificam e direcionam o processo de avaliação, fornecendo subsídios para que o professor reflita e examine com maior profundidade o material, podendo compreender e julgar com mais propriedade o que é oferecido no material comparado às suas necessidades. Por isso, essa lista de critérios foi escolhida para nortear a avaliação da professora-pesquisadora sobre o Caderno do Professor do 3.º

bimestre da 7.ª série (SÃO PAULO, 2008 d) que será melhor explicada no capítulo 3 deste estudo.

Ramos (2009, p.186) ressalta que sua lista foi criada em um primeiro momento para auxiliar e direcionar a análise de unidades didáticas, mas pode ser utilizada para avaliar um livro didático como um todo. A autora ainda ressalta que cabe ao professor avaliar e julgar o livro didático a ser implementado, considerando qual seu lugar no programa de ensino, quais adaptações são necessárias para atender as necessidades de seus alunos, seu contexto, suas concepções sobre ensino- aprendizagem e as concepções prescritas nos documentos oficiais.

Neste capítulo apresentei as teorias de ensino-aprendizagem e comentei as propostas contidas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998a) e nos Parâmetros Curriculares Nacionais-Língua Estrangeira (BRASIL, 1998b), visto que esses documentos norteiam o ensino de Língua Estrangeira nas escolas públicas estaduais. Em seguida, apresentei os pressupostos teóricos contidos na Proposta Curricular do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2008a), enfatizando as orientações e diretrizes destinadas à aprendizagem de Língua Estrangeira e apresentei o Caderno do Professor (SÃO PAULO, 2008c), seus princípios e sua estrutura. Por fim, apresentei a definição e alguns pressupostos da avaliação de material didático.

No próximo capítulo, descrevo a metodologia, o contexto da pesquisa, os participantes, a unidade didática e os procedimentos para coleta e análise dos dados desta pesquisa.