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3.3 Resultados e discussão

3.3.2 Avaliação de recursos humanos

A UAN em estudo apresentava um quadro total de 80 funcionários distribuídos em cargos administrativos, nutricionista chefe e de produção, técnica de nutrição, almoxarifes, cozinheiros e ajudantes de limpeza. O gasto mensal com 31 funcionários, relatado pelo chefe do setor era de, aproximadamente, R$ 95.238,60/ US$ 27.365,84.

O piso salarial para os cargos considerados neste estudo foi obtido junto ao sindicato da categoria da UAN, conforme apresentado na tabela 1. Os salários do setor público justificam a maior procura para os cargos de manipuladores de alimentos quando se compara com o setor privado, um fator positivo apresentado na UAN em estudo. De acordo com Associação Brasileira de Bares e Restaurantes -ABRASEL (2015) o salário inicial de

cozinheiro no setor privado é de R$ 860,07 podendo chegar até R$ 1.217,00 o que confirma os relatos sobre baixos salários, alta rotatividade, ambientes estressantes e carga horária de trabalho excessiva, encontrados neste segmento, quando comparado ao setor público, tornando-se cada vez mais difícil atingir a satisfação do trabalhador, além de implantar tecnologias e obter a qualidade dos serviços (KARATEPE, YORGANCI, HAKTANIR, 2009; MARCO-LAJARA; UBEDA-GARCÍA, 2013; MELLO et al., 2010).

Tabela 1- Piso salarial no serviço de alimentação público

Descrição do cargo/atividade

Salário em reais Salário em dólares1

Técnica de nutrição 3.561,77 1.029,53

Cozinheiros 2.048,80 592,21

Nota: 1dólar cotado em 3,84 reais no Banco Central do Brasil 10-8-2015

Fonte: Sindicato dos trabalhadores da Universidade de São Paulo SINTUSP (2015)

O restaurante universitário administrado no modelo de autogestão pode garantir uma alimentação mais segura aos seus comensais nos aspectos nutricionais e condições melhores aos trabalhadores, pois a carreira pública garante maior estabilidade e remuneração ao contrário da terceirização (DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS SOCIOECONOMICOS, 2011; LIMA, 2014). Um ponto negativo relevante na autogestão, como é o caso da UAN em estudo, é a forma de contratação da mão de obra que, por ser um setor público é mais moroso do que uma empresa terceirizada, dificultando a reposição se houver necessidade.

De acordo com Medeiros, Cavalli e Proença (2012), os principais critérios para contratação de manipuladores de alimentos estão mais relacionados à apresentação pessoal e experiência na função dos contratados, do que na escolaridade e treinamentos na área de alimentos, independente da gestão empregada. Isso implica diretamente na qualidade do serviço e alimentos oferecidos, justamente numa época em que os comensais estão mais exigentes, buscando novos atributos ao se alimentar como sensorialidade, prazer, saudabilidade, bem-estar, confiabilidade, além da sustentabilidade e ética (FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO; INSTITUTO TECNOLÓGICO DE ALIMENTOS, 2010).

Apesar da UAN em estudo levar as mesmas considerações na contratação, conforme citado anteriormente, observa-se um nível elevado de escolaridade entre os manipuladores,

mesmo não exercendo a função de sua formação, isso ocorre, devido o setor privado oferecer salários mais baixos do que o setor público, deixando mais competitivo o processo seletivo.

De acordo com Abreu et al. (2013), na produção em UAN acima de 3.000 refeições, o índice de produtividade, parâmetro que estabelece o desempenho de um funcionário por refeição, ou seja, o quanto ele consegue produzir, geralmente, é de 1:66. Segundo os mesmos autores, quando as refeições são transportadas, essa relação pode chegar a 1:300 pelo fato de serem produzidas em local centralizado e distribuídas, sistema que otimiza os recursos e aumenta a produtividade.

O quadro de funcionários da UAN produz em média 3.100 refeições por dia, com um índice de produtividade de 1:38 (38 refeições por funcionário). Dessas 3.100 refeições, 1.000 são distribuídas no local onde são produzidas e as demais transportadas para outras unidades.

O índice de produtividade encontrado na UAN pesquisada está mais abaixo do que prevê a literatura. É interessante destacar que essa realidade não é comum em UAN do setor privado, onde essa relação é maior e que, dependendo das características do serviço de alimentação, pode causar alta carga física e cognitiva do trabalho, insegurança alimentar no processo, além de inibição na adoção de novas técnicas, aumento de absenteísmo e da rotatividade (MELLO et al., 2010; TEIXEIRA, 2004).

A aplicação de técnicas como cook-chill favorece a otimização do tempo de trabalho, ou seja, o serviço de alimentação pode aumentar a relação número de refeição por funcionário devido à tecnologia aplicada e evitar os prejuízos anteriormente mencionados (AZEVEDO et al., 2008; KAWASAKI et al., 2007).

Porém, por outro lado, a técnica cook-chill tem suas particularidades pois depende de mão de obra mais qualificada para adequação das etapas empregadas e uso de equipamentos mais modernos como o forno combinado digital e resfriadores. O índice de produtividade encontrado na UAN pode favorecer a aplicação da técnica e capacitação continua dos funcionários.

Para a realização das etapas empregadas nas preparações proteicas à base de lagarto e frango a UAN utilizou um quadro de 31 funcionários, na produção de 3.100 porções de cada, portanto uma relação de produtividade de 1:100 (100 porções para cada funcionário). É importante lembrar que essas preparações são apenas parte do cardápio que, ao todo, contempla 10 itens.

No total de 31 funcionários, observou-se o tempo gasto em horas trabalhadas, para aplicação das técnicas convencional e cook-chill, apresentadas na tabela 2. Esses dados foram

levantados durante a elaboração das fichas técnica (Anexo 5) e descrição dos fluxogramas das preparações, através de observações na UAN.

No caso do frango registrou-se 3 horas e 30 minutos para aplicação da técnica convencional (do pré-preparo a distribuição) e 6 horas e 45 minutos para o cook-chill, sendo maior para a segunda devido a etapa de resfriamento, o monitoramento de temperatura durante os cinco dias de armazenamento refrigerado e a regeneração.

Na comparação de tempo gasto entre as duas técnicas nas atividades realizadas em um só dia, considerando o cook-chill com 5 dias de armazenamento, observa-se que o tempo gasto com o cook-chill é menor que na convencional. Portanto, na adoção do cook-chill, os funcionários poderão se dedicar a outras tarefas ou ampliação da quantidade produzida, otimizando a capacidade instalada.

Tabela 2- Tempo gasto por etapa empregada nas técnicas convencional e cook- chill (t5)

Tempo gasto em cada etapa (h)

Etapas dos processos1

Bovino Ave

Convencional2 Cook-chill Convencional Cook-chill

Pré-preparo 2 2 1 1 Cocção 2 2 1/2 1/2 Resfriamento --- 2 --- 1/2 Armazenamento (5dias)3 --- 2 e 1/2 --- 2 e 1/2 Regeneração ---- 1/2 --- 1/4 Distribuição 2 2 2 2 TOTAL (h) 6 11 3 e 1/2 6 e 3/4

Nota: 1Referente a produção de 3,1mil refeições/dia considerando-se o procedimento de monitoramento 2

Técnica aplicada na UAN em estudo. 3 de temperatura, durante os 5 dias de armazenamento refrigerado a

3ºC.