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IV AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DOCENTE

“Ensinar é transformar o conhecimento produzido em comportamentos humanos significativos para a sociedade” (Booth, 1996, citado por Lima et al., 2011, p.58)

Todo o trabalho de uma escola está focado no desenvolvimento integral dos seus alunos e na qualidade das suas aprendizagens. Pelo que, a avaliação do desempenho de cada docente, só tem sentido pela sua relação com o trabalho desenvolvido para e com os seus alunos. Na opinião desta docente, esta avaliação não deverá ser entendida como punição, mas antes como alinhamento e/ou ajustamento do trabalho desenvolvido pelo professor. Poderá ser uma oportunidade de melhoria, no desempenho individual, do grupo disciplinar e do departamento curricular e da própria escola.

Quando se enquadra a teoria no tema, encontramos a opinião de Rodrigues (2009), quando se refere à identidade dos alunos e dos professores, como sendo este um "processo em permanente construção através de lutas internas e externas" (p.188). O autor salienta ainda que do ponto de vista dos alunos, a escola surge como o cruzamento de três lógicas de ação, a da adaptação, respondendo às exigências escolares, a da seleção e hierarquização interna e a da educação, cultura e vida juvenil arbitrária. Desta forma, "os alunos vão à escola e usam-na como podem" e "constroem-se na escola, em torno de uma ideia de projeto de futuro" (p.19), cabendo a esta "forjar o seu futuro" (p.7).

Os alunos valorizam nos seus professores, o ambiente afetivo-relacional das suas aulas e a motivação para as atividades de aprendizagem, opinião de Leal (1993), citada por Onofre & Pinheiro (1998). Contrariamente, não gostam de comportamentos agressivos ou autoritários dos seus professores. A qualidade da prática do ensino é, na perspetiva dos autores, o grau de concordância entre aquilo que os professores e os alunos, percecionam acerca das atividades de ensino-aprendizagem na aula. Cabe então aos docentes, o desenvolvimento integral dos seus alunos, enquanto atores da organização. Deverão na perspetiva de Monteiro (2006), adequar os modelos educativos, selecionando de entre os muitos existentes, os que possam satisfazer as necessidades/expectativas dos seus alunos, inculcando-lhes princípios/valores de autonomia, responsabilidade, criatividade, interação, espírito crítico, entre outros.

Em qualquer processo de avaliação de professores, existe alguma complexidade e tal como referem Ruivo & Trigueiros (2009), o avaliador terá que avaliar o professor em vertentes tão diferenciadas quanto o são o "seu ser, o seu saber e o seu saber fazer" (p.7). Herdeiro & Silva (2008) consideram ainda que, perante a sua avaliação, o professor se vê na necessidade de mudar a sua postura profissional, de aperfeiçoar as suas práticas e de refletir em grupo, porque a sua experiência profissional pode não ser suficiente. Considera ainda que o processo de avaliação, indica um caminho útil e rigoroso na melhoria das competências e desempenhos dos professores, mas este caminho implica, um equilíbrio inteligente entre uma perspetiva de desenvolvimento profissional e uma perspetiva de responsabilização centrada em medidas de desempenho e de eficácia. Tudo o que foi referido anteriormente, articula-se perfeitamente com o que a professora Maria José Gonçalves, referiu na contextualização dos dois processos avaliativos (2007/2009 e 2009/2011), Esta docente considerou que a sua reflexão pessoal, em cada uma das dimensões da ADD, foi fundamental para o ajustamento na sua prática letiva e para um aumento da sua autoeficácia.

O conceito de autoeficácia, apresentado por Onofre (2000), foi baseado em vários autores tendo-se destacado Bandura (1986; 1989; 1993; 1997). Este tema, enquadra-se no desenvolvimento profissional do professor e nesta perspetiva ao seu desempenho como docente. Onofre (2000) aborda de diferentes formas este conceito, entre os quais considera-o como: a "crença pessoal de ensino do professor" (p.193); o "processo cognitivo a partir do qual as pessoas constroem as crenças acerca da sua capacidade de agir com um determinado nível de consecução" (p.197); com base na investigação, como as crenças de eficácia que afetam a forma como os professores/pessoas pensam,

sentem, se motivam e se comportam (p.198).

Os principais fundamentos do pensamento e da ação dos professores, de acordo com Onofre (2000), citando Elbaz (1983), Grossman (1990) e Schulman (1987), são a socialização antecipatória, a formação académica, a sabedoria prática e outras experiências pessoais. Com este seu trabalho, Onofre (2000), confirmou que os professores com um nível mais elevado de autoeficácia, apresentam: uma maior confiança no seu próprio ensino (p.218 e p. 781); uma maior preocupação com a autonomia dos alunos na aprendizagem e com o desenvolvimento social dos seus alunos (p.778); uma maior cooperação com os alunos (p.780); um diagnóstico das suas aulas mais positivo (p.780); um sentimento positivo sobre a generalidade do seu ensino (p.781); um comportamento de maior qualidade na sua intervenção pedagógica relativamente à informação sobre as atividades, à gestão do sistema de organização, à prevenção da disciplina e à promoção de um clima de aula positivo (p.783); uma congruência com a ecologia da aula nos domínios da informação nas tarefas de apresentação da aula, na clarificação dos critérios académicos, da gestão das rotinas organizativas, no controlo da disciplina e na gestão do clima da aula (p.784); uma associação positiva entre o sentimento de autoeficácia dos professores e as perceções positivas dos alunos em relação às suas práticas de ensino (p.785).

A concluir este enquadramento, apresenta-se a perspetiva de Burguess (1990), citada por Rodrigues (2009), relativamente ao papel da escola, como instituição familiar. A escola é a única instituição, que qualquer um a frequentou como aluno, mas que mais tarde a observa de outras perspetivas, como pais, como professores, como governantes, ou exercendo outras funções. Mas, em todos os casos o resultado é a familiaridade. Neste sentido, a docente realça a importância da satisfação pela qualidade do trabalho desenvolvido numa escola, tanto pela sua comunidade educativa, como pela sua Direção, pelos departamentos curriculares, pelos grupos disciplinares e pelos seus professores, pelo que deverá ser determinante o papel da avaliação do desempenho docente numa escola, no sentido da melhoria da qualidade do trabalho aí desenvolvido. Por essa razão, desafiou-se e submeteu-se à sua própria avaliação de desempenho docente, nos dois biénios 2007/2009 e 2009/2011, que irá desenvolver de seguida.