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3. Introdução

3.4. A Avaliação do Desenvolvimento Infantil

A avaliação psicológica do desenvolvimento, de acordo com Rubiano (1995), pode ter como objetivo: detectar crianças com riscos para atraso no desenvolvimento, diagnosticar ou eleger crianças para serviços de intervenção e descrever mais detalhadamente a criança para uma programação educacional.

A identificação precoce de crianças com atrasos e déficits sutis no desenvolvimento pode ser um desafio para clínicos e pesquisadores, visto que essas alterações se tornam aparentes com o passar do tempo (Campos et al, 2006). Esta pesquisadora argumenta, em acordo com investigadores da área, que a avaliação do desenvolvimento da criança é

ineficiente quando utilizada somente a impressão clínica. Segundo ela, apenas uma pequena porcentagem das crianças com retardo mental, distúrbio de linguagem ou outros problemas de desenvolvimento são detectadas mediante o julgamento clínico. Ela enfatiza que os testes psicológicos de triagem aumentam a taxa de identificação de crianças com suspeitas de atraso, além de possibilitar o encaminhamento para diagnóstico e intervenção favorecedora do desenvolvimento pleno.

Além dos testes, numa avaliação psicológica do desenvolvimento infantil deve-se realizar uma observação formal e informal da criança, principalmente em seu ambiente, sendo a avaliação da família da criança também de suma importância.

Na análise de Rubiano (1995) há alguns aspectos importantes a serem considerados na avaliação psicológica do desenvolvimento infantil: a adequação dos instrumentos ou provas selecionadas, dos procedimentos empregados, do relacionamento com a criança a ser avaliada, e do contato com os pais. Dessa forma, os instrumentos ou provas selecionadas para a avaliação psicológica devem ser adequados tanto ao objetivo pretendido quanto à idade examinada. Além disso, deve-se atentar quanto à adequação dos procedimentos empregados no que diz respeito à apresentação dos materiais, à forma de administração das provas e à classificação das respostas. O ambiente de avaliação também é importante, devendo garantir segurança, proporção entre o mobiliário e a criança, nível adequado de estimulação visual e auditiva e higiene dos objetos.

Os instrumentos que têm como objetivo a avaliação psicológica do desenvolvimento infantil podem apresentar-se na forma de screenings ou de testes de avaliação diagnóstica. Estas técnicas passarão a ser detalhadas a seguir.

Screenings são procedimentos de avaliação rápida, projetados para identificar crianças

que precisam ser encaminhadas para exames mais detalhados. Funcionam, no geral, como procedimentos de triagem, podendo ser ferramentas valiosas, na prática cotidiana, na medida

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em que podem ser aplicados em grandes grupos de indivíduos e em situações de observação do desenvolvimento em ambiente natural. São utilizados para detectar crianças que podem fazer parte de grupos de risco ao desenvolvimento, para que se possa investigar melhor aspectos específicos antes de iniciar alguma intervenção (Rubiano, 1995).

Entre os screenings mais conhecidos e utilizados estão o “Brazelton Neonatal

Behavioral Assessment Scales” (Brazelton, 1973), um instrumento de avaliação do comportamento de bebês desenvolvido para distinguir diferenças individuais entre bebês normais, especialmente as relacionadas ao comportamento social interativo. Pode ser usado em bebês entre 36 e 44 semanas e em prematuros a partir de 40 semanas. Avalia o bebê em um processo interacional, exigindo um estado de consciência adequado a cada item do exame. É indicado para: selecionar bebês com possíveis problemas motores ou comportamentais, fornecendo uma avaliação de base para acompanhamento posterior e planejamento de um programa específico de intervenção.

Outra técnica de screening muito utilizada, especialmente em pesquisas no Brasil, é o

“Denver Developmental Screening Test” (Frankenburg et al, 1975), teste de triagem psicológica que pode ser aplicado em crianças de 15 dias a seis anos de idade. É utilizado pelos profissionais da área da Saúde para triagem em crianças assintomáticas, sendo de fácil treinamento e de rápida aplicação. Objetiva a detecção precoce de algum desvio no desenvolvimento, podendo ser utilizado para o acompanhamento do desenvolvimento de todas as crianças, sejam ou não de risco. Consiste em 125 ítens distribuídos em quatro áreas do desenvolvimento: pessoal-social, motor fino, linguagem e motor grosseiro. Os dados obtidos no teste são utilizados para determinar se a criança está progredindo como esperado para sua idade cronológica e maturidade, assim como para planejar estratégias de atuação junto à criança, podendo sugerir a necessidade de um exame pormenorizado, com conseqüente encaminhamento a profissionais especializados.

Os testes de avaliação psicológica do desenvolvimento visam especificar os graus e as áreas de comprometimento do desenvolvimento da criança, para futura intervenção. É muito importante que sejam instrumentos confiáveis, de comprovada sensibilidade e especificidade e que representem a diversidade cultural dos indivíduos, como apontado por Campos et al (2006).

No Brasil, o desafio do diagnóstico do desenvolvimento infantil é agravado pela escassez de instrumentos de avaliação padronizados e validados para essa população.

Dentre os instrumentos utilizados em pesquisas brasileiras destacam-se as Bayley

Scales of Infant Development II (BSID-II) (Grantham-McGregor et al, 1998; Santos et al, 2001; Eickmann et al 2003; Gagliardo et al, 2004; Lima et al, 2004; Goto et al, 2005) e a

Alberta Infant Motor Scale (AIMS) (Mancini et al 2002; Mello, 2003; Formiga et al, 2004; Silva et al, 2006). Embora não validados para a criança brasileira, ambos têm sido utilizados para avaliação do desempenho mental (Escalas Bayley) e motor (Escalas Bayley e Alberta), tanto de lactentes de risco como para lactentes com desenvolvimento típico.

A Escala Motora Infantil de Alberta (Alberta Infant Motor Scale - AIMS) é uma escala padronizada, desenvolvida por Piper et al (1992), que se propõe a avaliar e monitorar o desenvolvimento motor de lactentes através da observação da atividade motora espontânea desde o nascimento até os 18 meses de vida ou até a aquisição da marcha independente. Foi elaborada para avaliar lactentes com risco de desenvolver disfunções neuromotoras devido a prematuridade, baixo peso ao nascer, displasia broncopulmonar, meningite bacteriana, entre outros. É uma escala observacional, de fácil aplicabilidade e baixo custo, e não exige manuseio excessivo do lactente. Deve ser aplicada por profissionais da área de saúde da criança que tenham conhecimento sobre o desenvolvimento motor infantil normal e prática na aplicação do instrumento. Trata-se de uma escala fidedigna, capaz de diferenciar o desempenho motor normal do anormal. É composta por 58 itens (21 observados em posição

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prona, 9 em supino, 12 sentado e 16 em pé). Ao término da avaliação, é creditado um escore total (0-60 pontos), que é convertido em percentis. Quanto mais alto o percentil de classificação, menor a probabilidade de atraso no desenvolvimento motor.

As Escalas Bayley de Desenvolvimento Infantil, desenvolvidas por Nancy Bayley em 1969 (primeira edição) estão entre os instrumentos mais utilizados em pesquisas no mundo todo, por apresentarem um alto coeficiente de fidedignidade tanto na situação de teste-reteste quanto na de aplicador-observador. Avaliam crianças de 1 a 42 meses e constituem-se de três escalas que são complementares e que fornecem contribuição distinta à avaliação clínica: as Escalas Mental e Motora que avaliam o nível de desenvolvimento cognitivo, linguagem, pessoal-social, motor fino e grosseiro da criança, fornecendo os Índices de Desenvolvimento Mental (IDM) e Psicomotor (IDP), respectivamente; e a Escala de Avaliação do Comportamento Infantil (BRS – “Behavior Rating Scale”) que avalia o comportamento da criança durante a situação de teste, facilitando com isto a interpretação das Escalas Mental e Motora.

No Brasil, as Escalas Bayley têm sido o instrumento escolhido para avaliação do desenvolvimento mental de populações que precisam de cuidados clínicos, como no caso de bebês fenilcetonúricos (Diniz, 2001). Este instrumento tem sido utilizado também como indicador cognitivo na avaliação da validade preditiva de exames neonatais (Mello et al,1998) ou na avaliação de resultados de programas de intervenção precoce (Miranda et al, 1999).

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