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3. Introdução

3.6. A Estimulação Precoce

Toda criança, durante a sua evolução normalmente necessita ser estimulada para que alcance condições favoráveis ao seu desenvolvimento e crescimento. Entretanto, existem crianças que, logo ao nascer, necessitam dessa estimulação devido a condições desfavoráveis no período da gravidez. Outras nascem sem complicações mas, por motivos variados como meio ambiente desfavorável ou pobre em estímulo e com problemas socioeconômicos, ao longo do processo de desenvolvimento da primeira infância podem apresentar desvios em seu desenvolvimento. Para estas crianças, segundo Barbosa (1999), os cuidados e a aplicação imediata da Estimulação Precoce são de grande eficácia em seus aspectos preventivo e assistencial.

A experiência inicial (ou a estimulação precoce), segundo Péres-Ramos (1996), é importantíssima para o desenvolvimento da inteligência. O nível de inteligência de um adulto não é determinado apenas pela hereditariedade, dependendo, em grande parte, de experiências iniciais que são recebidas do ambiente. Com relação à quantidade e variedade de estimulação oferecidas pelo ambiente, em comparação às condições normais de estimulação, a criança pode estar em um ambiente onde há condições de privação ou condições de enriquecimento de estimulação. Muitas crianças recebem o que se pode considerar quantidades normais de estimulação ou oportunidade. Essas crianças crescem em ambientes claros, onde há objetos

para ver e manipular, pessoas que falam com elas, que as carregam ao colo e algumas vezes as levam a lugares novos. Elas têm oportunidade de receber estimulação visual, tátil, auditiva e outras, em quantidades normais. Em outros casos, crianças criadas em condições de enriquecimento do ambiente têm oportunidade e estimulação acima de níveis normais. Em geral, observam-se resultados benéficos no desenvolvimento de habilidades motoras, cognitivas ou sociais destas últimas. No caso oposto, em que as crianças são criadas em condições de privação, seu ambiente oferece um nível de estimulação ou oportunidade muito reduzido, as conseqüências poderão estar associadas a um desenvolvimento e nível de realização abaixo do normal.

O termo Estimulação Precoce é oriundo do inglês Early Intervention. Surgiu nos anos 60, nos Estados Unidos, devido à grande demanda social, principalmente de crianças pobres, que necessitavam de algum tipo de intervenção. O objetivo principal era atuar no desenvolvimento dos deficientes mentais e em crianças subnormais, como forma de prevenção primária, segundo Barbosa (1999).

A Estimulação Precoce é uma intervenção aplicada nos quatro primeiros anos de vida, dirigida a favorecer o desenvolvimento satisfatório das capacidades físicas e mentais da criança. Consiste em oferecer os estímulos necessários, no momento exato e em quantidade adequada, para facilitar o desenvolvimento da criança através do esquema de evolução considerada normal para ela. Desta forma, segundo Barbosa (1999), pode ter funções: a) preventivas, quando a criança não apresenta déficit intelectual, porém apresenta alto risco para atraso no desenvolvimento e, neste caso, a Estimulação Precoce favorecerá o desenvolvimento, com o objetivo de evitar um déficit posterior; b) corretivas, quando a criança apresenta algum atraso ou desvio no desenvolvimento já estabelecido e, neste caso, a Estimulação Precoce tentará conseguir uma aproximação da função alterada por meio de um conjunto de técnicas e programas favoráveis ao desenvolvimento desta criança; c)

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potenciadoras, quando a criança não alcança um nível de funcionamento normal e, neste caso, a Estimulação Precoce procurará auxiliar para que a criança alcance níveis máximos possíveis para um funcionamento próximo da normalidade.

Segundo Barbosa (1999), um Programa de Estimulação Precoce deve maximizar o potencial de desenvolvimento da criança, prevenir o desenvolvimento de problemas secundários ou atrasos no desenvolvimento, apoiar e informar aos pais sobre a evolução da criança. Os estímulos dos programas de desenvolvimento devem ser sempre aplicados de acordo com o grau de maturidade e de desenvolvimento da criança. A superestimulação é negativa e prejudicial à criança, pois pode provocar inquietação e angústia, segundo o referido pesquisador. Deve-se estar consciente de que cada criança tem sua própria capacidade de desenvolvimento e que a quantidade de estímulos que ela pode tolerar está em função de sua capacidade.

Segundo Papalia (2006), resultados de estudos como o Projeto CARE e ABECEDARIAN mostram efeitos positivos sobre o desenvolvimento das crianças que receberam a intervenção educacional precoce. Tais crianças demonstram vantagem crescente em relação aos grupos-controle nos testes de desenvolvimento durante os 18 primeiros meses. Aos três anos, a média de QI das crianças do ABECEDARIAN era de 101, e das crianças do CARE, 105 – iguais ou melhores do que a média da população geral – comparadas com apenas 84 e 93 nos grupos-controle. Como é comum acontecer com programas de intervenção precoce, essas vantagens iniciais não se mantiveram integralmente. O QI diminuiu entre três e oito anos de idade, principalmente entre crianças de lares mais desfavorecidos.

Ainda de acordo com Papalia (2006), essas descobertas indicam que a intervenção educacional precoce é capaz de aumentar o desenvolvimento cognitivo, sendo que as intervenções precoces mais eficazes são aquelas que começam cedo e continuam ao longo dos anos pré-escolares, são intensivas, proporcionam experiências educacionais diretas, e não

apenas treinamento dos pais, utilizam uma abordagem abrangente, incluindo saúde, orientação familiar e serviços sociais e, além disso, são adaptadas conforme diferenças e necessidades individuais.

De acordo com Barbosa (1999) seria necessário, no Brasil, a criação de unidades de Estimulação Precoce que fossem de fácil acesso à população necessitada. Além disso, ele afirma que as instituições formadoras de profissionais deveriam incluir em seus currículos noções de Estimulação Precoce, pois não se pode aceitar que esta área de conhecimento seja, em grande parte, desconhecida por psiquiatras, neurologistas, pediatras, psicólogos, etc. já que todos intervém nos casos de crianças com alterações de desenvolvimento. A eficácia da Estimulação Precoce já está devidamente comprovada na percepção deste pesquisador. Aos governantes cabe a decisão política de oferecer meios e recursos para a implantação destas unidades. Infelizmente, estes ainda desconhecem, também, a Estimulação Precoce.

O que se observa, dez anos depois do referido autor, é que os investimentos têm sido feitos no atendimento remediativo, muito mais do que no preventivo.

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