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4 POLÍTICA CURRICULAR DO ESTADO DE PERNAMBUCO E AS IMPLICAÇÕES PARA O TRABALHO DOCENTE

5. A DINÂMICA DO SISTEMA DE MONITORAMENTO DE CONTEÚDOS DE P ERNAMBUCO E O

5.3 avaliação do currículo: resultado do SAEPE

No cotidiano das escolas estaduais de Pernambuco, a já iniciada política de avaliação ganha destaque. Expressões como avaliação por desempenho, bônus educacional, monitoramento curricular, passam a exercer influência na conduta no trabalho dos/as professores/as. Tudo isso inserido no âmbito do PMGE/ME, implantado nas escolas estaduais de Pernambuco com base na gestão por resultados.

Para Oliveira (2011, p.30), ―Essas avaliações, apesar da pouca clareza que comportam, têm sido tomadas como referência maior não só para a determinação dos destinos dos alunos, mas, sobretudo, para a definição de políticas que atingem diretamente a escola e os docentes‖. Os dados mostram que os/as docentes entrevistados fazem referência à influência que as avaliações externas têm exercido no currículo das disciplinas avaliadas/monitoradas pelo SMC. Logo, o que não é mensurável nas avaliações, tende a perder importância educacional, sendo imediatamente descartado. Entre os docentes, parece existir uma maior preocupação quanto ao resultado do SAEPE, embora outras avaliações sejam mencionadas, a exemplo da Prova Brasil e do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).

[...] procuramos trabalhar durante todo o ano conteúdos baseados nos indicadores do SAEPE, da Prova Brasil, né? Acredito que são os mesmos descritores. Também

trabalhei questões do vestibular com os 3º anos, por que eu pego o ensino médio de Língua Portuguesa, então o 3º, 2º e 1º ano a gente trabalhou já com questões de vestibular, tudo assim em relação às provas mesmo, né? Na Prova do SAEPE a gente tentou seguir os descritores. Quer dizer: introduzir os descritores do SAEPE e da Prova Brasil que são a mesma coisa (P3).

As avaliações externas são percebidas pelo/a docente como sendo ―a mesma coisa‖, pois estão de acordo com a política de padronização curricular e avaliação nacional. O fato é que os documentos curriculares oficiais do Estado corroboram com aqueles produzidos pelo MEC e conhecidos anteriormente pelos/as professores/as. Para Arroyo (2011), um indicador da centralidade política do currículo encontra-se na ênfase dada para a avaliação do que ensinamos.

Nunca como agora tivemos políticas oficiais, nacionais e internacionais que avaliam com extremo cuidado como o currículo é tratado nas salas de aula, em cada turma, em cada escola, em cada cidade, campo, município, estado, região. Caminhamos para a configuração de um currículo não só nacional, mas internacional, único, avaliado em parâmetros únicos (p.13).

A crescente importância dada às avaliações externas aparece como uma forma bem elaborada para conduzir o trabalho docente a seguir as orientações oficiais do Estado via sistema de monitoramento de conteúdos ( SMC). A fala da Educadora de Apoio em defesa do sistema de monitoramento mostra uma relação direta entre o resultado do desempenho dos alunos nas avaliações externas (SAEPE, ENEM, Prova Brasil), com a assiduidade dos/as docentes em inserir os conteúdos no sistema e desenvolvê-los na sala de aula.

[...] o ano passado e esse ano [2009 e 2010], a professora de Português da oitava serie ficou bem feliz, porque como ela pegou o programa sugerido pra sétima serie, por exemplo, aquele que é o que a secretaria sugere, ela trabalhou em cima desse programa todo bimestre e ela ia preenchendo o monitoramento. Ela estava dentro do monitoramento e estava trabalhando os conteúdos sugeridos pela secretaria de educação. Então facilitou pra ela e facilitou pra mim também, né?[...] Facilitou que muito dos conteúdos que ela trabalhou, dos textos que ela trabalhou [...] estavam lá na prova do ENEM do mesmo jeitinho que ela tinha trabalhado na sala. Ela disse: “a forma como eu trabalhei tava lá!" [...] Então assim, eu acho que quando a gente trabalha na mesma linha, facilita pra todo mundo, né? Ao contrário de quem não está trabalhando na linha, a pessoa que não segue o conteúdo que a secretaria fornece, que segue somente o livro didático, né? O conteúdo que tem no livro didático, ele olha lá e acha que é o correto, o que ta lá dentro da linha, quando ele vai preencher o monitoramento ele não dá conta, fica quebrando a cabeça dele e desiste de preencher, né? Ensina uma coisa na sala, que não vai ser pedida para as avaliações externas e o aluno fica frustrado porque não vai ter um bom desempenho, né? Não vai entender a linguagem daquela prova que tá sendo pedida a ele, né? Eu acho que tem que caminhar na mesma linha (EDUCADORA DE APOIO).

Mostra-se recorrente na fala da Educadora de Apoio a preocupação demasiada para que ―todos/as‖ sigam a ―mesma linha‖. Em sua concepção, a padronização curricular nas

áreas de Língua Portuguesa e Matemática é a maneira ―correta‖ de nortear o desenvolvimento do currículo e garantir o bom desempenho dos/as alunos/as nas avaliações e a elevação do resultado da escola. Neste sentido, os aspectos quantitativos ganham destaque e passam a sobressair sobre os qualitativos, ou seja, aqueles conhecimentos que não são mensuráveis perdem seu sentido/importância.

Na medida em que avançamos para articular o ensinar e educar no novo tecnicismo das políticas de ensino por competências e de avaliação por resultados, somos pressionados a retomar o foco apenas nos conteúdos que cairão nas provinhas e provões oficiais. Seremos julgados ao como docentes-educadores por termoso foco nos conteúdos e nos educandos, mas apenas pelo conteúdo, pelos resultados dos alunos nas provas. Essa tensão está posta na categoria profissional: tiremos o foco dos educandos, de suas vivências humanas e desumanas e os exerguemos apenas como exitosos acertantes nas avaliações oficiais (ARROYO, 2011, p. 28).

Diante da política de avaliação implantada, os/as docentes entrevistados atribuem a elevação do desempenho dos/as alunos ao ―interesse‖ de cada um dos/as docentes em empenhar ao máximo o seu trabalho para elevar a nota do SAEPE. Quando questionados sobre a relação entre o SMC e a elevação do resultado do SAEPE, uma minoria considera que a implantação do SMC elevou o desempenho dos alunos do SAEPE.

Não, eu atribuo ao interesse dos professores em trabalhar com os alunos, os conteúdos que vem na prova do SAEPE, né? (P2)

[...] é esse empenho dos professores, que tá fazendo com que a nota do SAEPE melhore. (P2)

Sim, também. O trabalho da gente é que o aluno aprenda né? Todo mundo tem que se esforçar para que o aluno aprenda, que o aluno tenha rendimento. Mas, a gente também pensa nisso, já que desde que iniciou, né? A gente tem se empenhado mesmo. (P2)

Diz que tem, né? Mas eu não acredito muito não. Porque se a gente não segue o que tá ali, né? Se ele diz que tem a ver... mas se o professor só tá colocando ali, se a maioria faz isso e não está dando do jeito que está ali, como é que isso pode ajudar? Como é que pode ajudar? Como é que tá tendo essa influência? Aí tá tudo bonitinho, a escola cumpriu, a escola tá cumprindo, olhe lá... abra a página que você vai ver. (P5)

No momento em que as avaliações externas se tornam indutoras de políticas educacionais, observa-se uma série de exigências postas à gestão da escola e ao trabalho docente, visando alcançar exitosos índices de desempenho. Para Arroyo (2011, p. 50), ―Os enfretamentos se concentram na avaliação dos conteúdos e da docência, formas sofisticadas de controle da criatividade e autoria docentes. O aumento dos controles docentes não é um capricho de um gestor de plantão, tem raízes políticas mais profundas‖. Tendo em vista esse cenário, o autor acrescenta: ―É um ritual de controle dos próprios conhecimentos. Nem todo conhecimento merece ser avaliado‖.