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Metas de produção e controle do trabalho: responsabilidade docente

4 POLÍTICA CURRICULAR DO ESTADO DE PERNAMBUCO E AS IMPLICAÇÕES PARA O TRABALHO DOCENTE

5. A DINÂMICA DO SISTEMA DE MONITORAMENTO DE CONTEÚDOS DE P ERNAMBUCO E O

5.5 Metas de produção e controle do trabalho: responsabilidade docente

Em Pernambuco, a gestão do sistema educativo vem tomando medidas, para melhorar a posição do desempenho educativo no Estado em relação ao ranking nacional das avaliações. Implanta-se uma pactuação de metas, que visa planejar, monitorar, controlar e por fim avaliar as ações relativas à promoção da gestão por resultados. Para Augusto (2011, 174), ―A obrigação de resultados na educação se insere em um contexto de mudanças dos sistemas educativos e na retórica da administração gerencial, prevendo o seu êxito e eficácia‖.

Pelo que se analisa, as metas que são estabelecidas anualmente pela escola representam uma institucionalização das medidas de responsabilização das escolas e professores/as, trazendo consequências para o trabalho docente, pois os discursos são direcionados com bastante força para os/as professores/as das áreas de Língua Portuguesa e Matemática, disciplinas que são avaliadas no SAEPE.

Algumas redes públicas de ensino no Brasil têm adotado políticas de remuneração aos docentes que vinculam o desempenho dos alunos a uma premiação em forma de bônus aos seus professores. Tais políticas expressam uma regulação direta do trabalho docente, vinculando diretamente o resultado da avaliação à remuneração dos mesmos e indiretamente responsabilizando os docentes pelos desempenhos dos alunos. (OLIVEIRA, 2011, p. 30)

A forma como a obrigação por resultados aparece nas falas dos/as docentes revela que a responsabilização tem sido vinculada às avaliações externas aplicadas nas escolas estaduais, essa situação coloca o/a docente como responsável pelo desempenho dos/as alunos/as na avaliação do SAEPE. Em entrevista, a docente (P2) relata a sua experiência como professor/a de uma turma avaliada pelo SAEPE no ano de 2009 e diz se sentir responsabilizada pelo resultado da avaliação: “Com certeza me sinto responsável. Esse ano eu não tô com a oitava, mas o ano passado eu vi diretamente o que é assim responsabilidade, né? Porque a gente atua diretamente na avaliação (P2); “A gente tem de trabalhar muito em cima disso aí. E é o que eu vou fazer agora em 2011. Vou trabalhar muito em cima do SAEPE” (P6).

Em opinião parcialmente contrária, o/a docente (P1) considera que os/as alunos são oriundos de perfis sociais e educacionais diversos, logo, esse aspecto deve ser levado em consideração na avaliação do seu desempenho. No entanto, deixa transparecer que o resultado para o cumprimento das metas recai sobre os professores/as de Língua Portuguesa e Matemática.

Não totalmente responsável, mas em grande parte sim. Porque quando a gente parte do princípio que o aluno tem conhecimento e vai fazer essa prova, que é responsabilidade do professor que tá na sala e é uma nota pra escola, então você se sente responsável, se eu dissesse que não eu estaria mentindo. Mas eu não posso dizer que a responsabilidade é só minha, por que aí é uma bagagem de vários conhecimentos e uma ajuda que tem que ser de todas as disciplinas, a gente não pode culpar o professor de língua portuguesa, ou de matemática. Porque o aluno não atingiu a meta. Então eu me sinto responsável, mas não totalmente. (P1)

O PMGE/ME institui em 2008 uma recompensa em forma de bonificação para os profissionais de educação das escolas estaduais, que atingirem as metas estabelecidas pela escola via Secretaria de Educação, através do termo de compromisso. O BDE (bônus por desempenho) é pago anualmente, de acordo com o percentual de alcance das metas, ou seja, a mensuração do desempenho da escola, passa a ser o critério para recebimento ou não do bônus por desempenho (BDE). Para Augusto (2011, p.174), ―A obrigação de resultados representa um conjunto de medidas em que são utilizados instrumentos de coordenação e avaliação das ações dos governos, sendo as metas e os resultados esperados definidos de forma antecipada‖.

Quando questionados sobre a importância da nota do SAEPE, em grande maioria as respostas foram:

Importantíssimo. Eles só querem resultado. É ou não? Só querem resultado. Quando lançar aquele resultado, ou em termo de Estado ou em termo de município, ou em termo de Brasil, é ou não é? A reclamação é de grande. Qual é o município que não quer ver? O SAEPE lá em cima, a nota. Qual é o Estado que não quer, Pernambuco não quer lá em cima. Não é? O governo federal não quer não, chegar lá em cima?(P7)

O modelo de gestão baseado nos resultados, na avaliação e na bonificação por desempenho, o controle sobre o currículo e o seu monitoramento passam a fazer parte do trabalho docente. O monitoramento de conteúdos pode ser entendido como estratégia governamental para que o currículo oficial seja desenvolvido, já que os resultados de melhoria das escolas são definidos pelo índice que as escolas obtêm na avaliação do SAEPE. Para a docente (P3), o resultado dos/as alunos/as no SAEPE apontam está no ―caminho‖, suas ações correspondem com as políticas em nível nacional e estadual.

Muito importante, inclusive eu fiquei bastante feliz ultimamente com a prova do ENEM, né? Porque eu tô com uma turma do ensino médio e fiz o meu planejamento, fiz o meu trabalho aquilo que eu acho que de acordo com as novas inovações do ensino[...] vejo que o resultado do SAEPE ser positivo mostra que a escola esta no caminho, né? Que os conteúdos que estão sendo vivenciados é o que realmente esta sendo exigido pro conhecimento pra o aluno hoje, entende? Eu acredito ser muito importante o bom desempenho do aluno é que ta havendo a aprendizagem que o desempenho.(P3)

As avaliações externas passam a ter uma maior relevância na gestão por resultados. Uma estratégia observada aparece na fala da educadora de apoio, quando diz que “quando os professores deixam de inserir os conteúdos, nós perdemos pontos para o cumprimento das metas” (EDUCADORA DE APOIO). As metas são estabelecidas através do termo de compromisso assinado pelos/as gestores/as e renovado a cada ano e segundo a educadora de apoio, o monitoramento de conteúdos encontra-se entre um dos itens avaliados.

Logo, o SMC passa a ser atrelado às metas que definem o recebimento do bônus educacional. Um/a docente questiona: “quem quer ver sua escola lá embaixo? Ninguém!”(P7). Um outro docente diz:

Há uma cobrança, a coordenadora, o diretor, ficam dizendo: “olhe, vamos aproveitar”. Por que não vem aquela verba de ano em ano, né? Nota de zero a cem, né? O bônus. Pronto ta todo mundo caprichando no bônus.(P7)

A fala demonstra um acirramento da competição por produtividade entre as escolas, os/as docentes são estimulados a buscar os resultados desejados pelo estabelecimento das metas. Nesse contexto, ―O docente deve, assim, se preocupar com a sua atuação escolar e com os resultados do ensino, que são avaliados pelos órgãos centrais‖ (DUARTE, 2011, p. 170). Com isso se estabelece uma forma de governo cuja produtividade é alinhar a educação como negócio, alunos/as e professores/as são avaliados constantemente pela sua produção, essas avaliações verificam o desempenho de cada um, por testes que são extremamente padronizados.