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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.2 Avaliação dos Fatores de Risco Associados ao

Foram avaliados fatores de risco que são frequentemente relatados na literatura como envolvidos no aumento do risco de desenvolvimento de fendas lábio-palatinas, entre eles etilismo e tabagismo durante o período gestacional , como também o historico familiar e idade materna (TABELAS 4 e 5).

Em relação ao fator consumo de bebidas alcoólicas relatado durante o primeiro trismestre gestacional, foi observado um percentual de 15% de mães que relataram consumo de bebidas alcóolicas durante a gravidez, enquanto que as mães dos individuos controles foi de 4%, onde essa diferença foi significante (p=0,001). Estes resultados são semelhantes aos relatados na literatura reforçando, portanto, que o uso de álcool pelas mães durante a gestação representou um fator de risco na ocorrência de fendas orais nos filhos. É sabido que o álcool é uma substância teratógena em humanos que produz uma ampla gama de efeitos dependendo do tempo de exposição e da quantidade ingerida (DE-ROO e colaboradores, 2008). Em uma revisão realizada em 2002 foi observado que o álcool pode aumentar o risco de ocorrência de fendas orais em crianças em até 4 vezes, propondo um efeito teratogênico do mesmo sobre as células da crista neural, células estas que darão origem ao sistema nervoso e todas as estruturas formadoras da face (LEITE e colaboradores., 2002). De-Roo e colaboradores, (2008) também observaram um percentual semelhante cujo índice foi de 18% de mães que utilizaram bebidas alcoólicas durante a gestação e tiveram filhos afetados pelas fendas.

Podemos observar na Tabela 4 que 13% das mães caso relataram tabagismo durante o 1º trimestre da gravidez, semelhante ao que foi observado nas mães dos indivíduos sadios onde 13 % delas relataram prática de tabagismo durante o 1º trimestre da gravidez (p=0,869).

TABELA 4. Fatores de risco associados ao desenvolvimento de fendas em mães e controles

Características Mães Casos N (%) Mães Controles N (%) P valor Consumo de álcool 8 (15%) 2 (4%) 0,001 Tabagismo 6 (13%) 6 (13%) 0,869

Histórico familiar* 17 (36%) - -

*Foram excluídos do grupo controle indivíduos que possuíssem histórico familiar de fendas.

No presente trabalho foi observado um percentual de 15% de mulheres que mantiveram o hábito de fumar durante a gravidez, corroborando Lie e colaboradores (2008) que verificou um percentual de 16% de mães fumantes em estudo realizado na Noruega. O hábito de fumar durante a gravidez é também indicado como um fator de risco para o desenvolvimento de fendas orais. Uma recente meta-análise de 24 estudos estimou que mães que fumam durante a gravidez têm um risco 1,3 vezes maior de ter um filho portador de fenda (SHI et al., 2007; LIE et al., 2008) Segundo Shi e colaboradores (2007) estudando uma população de mulheres na Dinamarca o hábito de fumar durante a gravidez aumentou o risco de desenvolvimento de fendas orais nas crianças. Os mecanismos biológicos que dão suporte a essa associação são desconhecidos, mas podem estar relacionados com a grande quantidade de tóxicos contidos no fumo (LIE et al., 2008). A nicotina, principal componente tóxico do cigarro, é um vasoconstritor que no período gestacional diminui o fluxo sanguíneo na artéria uteroplacentária, podendo debilitar o perfeito desenvolvimento do embrião/feto, ainda podendo haver a contribuição do monóxido de carbono na diminuição da oferta de oxigênio aos tecidos embrionários e fetais, visto que o mesmo se liga a hemoglobina diminuindo sua funcionalidade (BARONEZA et al., 2005).

Em relação à presença de histórico familiar de fendas observou-se que 36% mães caso relataram que possuiam parentes com fendas (Tabela 4). DE- ROO e colaboradores. (2008) também observaram um percentual de 28% de indivíduos com fendas orais que possuíam histórico familiar. Baroneza e colaboradores (2005) estudando pacientes atendidos no Centro de apoio e reabilitação indivíduos com fissura labiopalatina de Londrina e região (CEFIL) observou que 26% dos indivíduos com fissuras labiopalatinas possuíam histórico familiar de fendas, indicando a existência da contribuição da genética na etiologia das fendas orais.

Em relação a idade materna não foram observadas diferenças significantes entre faixas etárias analisadas, sendo a faixa etária de 31 a 40 anos relatada pela literatura como um fator de risco no desenvolvimento das fendas (Tabela 5).

TABELA 5. Idade das mães ao nascimento dos filhos analisados Idade ao Nascimento Mães Casos

% (N) Mães Controles % (N) P valor 10 – 20 anos 22 (11) 20 (10) 0,262 21 – 30 anos 49 (24) 54 (26) 31 – 40 anos 28 (13) 22 (12) Acima de 40 anos 1 (2) 4 (2)

Estes resultados representam dados de relevância acerca das características clínicas dos indivíduos com fendas orais no Estado do Rio Grande do Norte, revelando assim uma maior ocorrência para a fenda labiopalatina com prevalência no gênero masculino e o consumo de álcool durante o primeiro trimestre de gravidez como um fator de risco significante no grupo dos filhos caso. Em relação as dosagens bioquímicas não foram observadas diferenças significativas entre os filhos casos e respectivos controles os quais apresentaram todos os valores dentro dos limites de referência (Tabela 6). Estes resultados são importantes uma vez que a diferença nas determinações de AST, ALT e creatinina entre casos e controles poderia levar a uma interpretação incorreta das concentrações de vitamina B12 e homocisteína.

Na Tabela 6, observa-se ainda os resultados obtidos para as dosagens de ácido fólico, vitamina B12 e homocisteína para os grupos estudados. A média da concentração sérica de ácido fólico no grupo das mães caso é significativamente (P=0,001) inferior (14,4±2,24ng/mL) à obtida para o grupo das mães dos individuos controles (17,5±2,85ng/mL). O mesmo foi observado para o grupo dos filhos caso em relação aos filhos controles, onde a média da concetração sérica de ácido fólico estava significantemente reduzida (P=0,010) para os casos (15,4±0,6 ng/mL) quando comparados aos controles (19,5±3,1 ng/mL). Já para as dosagens de vitamina B12 e homocisteina não foi observado diferença estatisticamente significativa.

O ácido fólico provê carbonos essenciais para a síntese de ácido nucléico e para as reações de metilação, sendo estas necessárias para a divisão celular, expressão gênica e manutenção da estrutura do cromossomo durante o desenvolvimento fetal. A deficiência do ácido fólico pode prejudicar o metabolismo materno e neonato, podendo estar associado com resultados anormais e aumento no risco de defeitos congênitos. Desse modo, a correta suplementação pré-natal

com ácido fólico em grávidas pode reduzir a ocorrência de fendas orais (SOZEN e colaboradores., 2009).

Um fator limitante desse estudo se relaciona ao tempo da coleta para dosagem de ácido fólico. A coleta foi realizada em um período pós-concepcional no qual não há a orientação ao uso diário de ácido fólico como ocorre durante toda a gestação. A análise dessa dosagem nesse período mostrou que o grupo de mães caso possui concentração de ácido fólico significantemente reduzida em relação a concentração observada no grupo controle. Essa redução pode estar associada a fatores genético-nutricionais que precisam ser avaliados mais profundo e especificamente. A hipótese de que essa mesma situação possa ter ocorrido no primeiro trimestre de gestação deve ser considerada e reconhecida como um importante fator de susceptibilidade ao surgimento de alterações congênitas. Além disso, deve ser considerado que esta população de mães esteve envolvida com fatores etiológicos de destaque como o uso de álcool, hábito de fumar, além de apresentar um histórico familiar de fendas.

AST (aspartato aminotransferase); ALT (alanina aminotransferase); Hcy (homocisteína);VCM (volume corpuscular médio); HCM (hemoglobina corpuscular média); CHCM (Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média).

Variáveis contínuas são mostradas como média ± desvio padrão and comparadas por teste T.

Valores de Referência: Ácido Fólico: 7-24 ng/mL, Vitamina B12: 210-720pg/mL, Homocisteína: 3.4-17 µMol/L *Dados significantes com valor de P< 0,05

.

Mães Caso Mães Controles P Valor Filhos Caso Filhos Controles P Valor

Glicose (mg/dL) 85 ± 8,4 74,5 ± 7,9 0,089 83,5 ± 8,5 74,3 ± 6,0 0,097 AST (U/L) 23 ± 8,3 18 ± 7,5 0,773 30,8 ± 8,0 20,6 ± 7,15 0,059 ALT (U/L) 21 ± 10 17,7 ± 9,2 0,773 19 ± 7,5 15,4 ± 6,4 0,140 Creatinina (mg/dL) 0,8± 0,1 0,79 ± 0,1 0,476 0,6 ± 0,15 0,74 ± 0,09 0,558 Folato (ng/mL) 14.4 ± 2.24 17.54 ± 2.85 >0,001* 15.48 ± 0.6 19.5 ± 3.1 >0,001* B12 (pg/mL) 379 ± 179 425 ± 193 0,440 516 ± 234 666 ± 314 0,130 Hcy (µMol/L) 6.1 ± 2.3 6.7 ± 2.9 0,410 5.1 ± 0.67 5.7 ± 0.37 0,530 Hemácias (milhões) 4,58±0,38 4,59± 0,37 0,845 4,9 ± 0,4 4,9 ± 0,9 0,768 Hemoglobina (g/dL) 12,7 ± 1,1 12,7 ± 2,9 0,981 12,2 ± 1,7 12,9 ± 1,06 0,424 Hematócrito (%) 39,4 ± 2,9 39,4 ± 3,0 0,975 37,7 ± 4,3 39,7 ± 3,3 0,180 V.C.M (fL) 85,8 ± 6,2 85,7 ± 7,1 0,9304 78,1 ± 7,6 81 ± 6,2 0,065 H.C.M. (pg) 27,9 ± 2,5 27,9 ± 2,7 0,895 25,3 ± 3,1 26,4 ± 2,3 0,076 C.H.C.M. (g/dL) 32,4 ± 1,8 32,5 ± 0,9 0,814 32,3 ± 1,6 32,5 ± 0,8 0,434

nenhum dos parâmetros avaliados como hemoglobina, hematócrito, contagem de hemácias, os índices hematológicos, VCM, HCM e CHCM dentre os grupos avaliados (Tabela 6).

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