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A Avaliação dos Professores na sua formação inicial durante o Estado Novo.

X) Tempo: ocupar grande parte do tempo na realização de tarefas, isto é, implicar maximamente os alunos na realização de actividades

2. História da Avaliação do desempenho dos professores do início do século XIX à actualidade.

2.5. O Estado Novo e a Reforma de 1947.

2.5.1. A Avaliação dos Professores na sua formação inicial durante o Estado Novo.

Mais do que um lugar de aquisição de técnicas e de conhecimentos, a formação de professores é o momento chave da socialização e da configuração profissional (Nóvoa, 1992). Tendo plena consciência deste facto o Estado Novo não irá descurar mais este precioso instrumento de controlo social, regulando o período de formação com uma dupla preocupação: a qualidade pedagógica do ensino ministrado nas escolas secundárias, se preferirem liceus, com uma tendência cada vez mais elitista visto que existiam vagas limitadas para aceder a este grau de ensino e a formatação ideológica dos conteúdos curriculares e práticas docentes. Como refere o mesmo autor (idem, p. 19), o Estado Novo norteia a sua política de formação segundo dois eixos:

“Redução e controlo são os dois eixos estruturantes da política nacionalista em relação à formação de professores (…): o primeiro eixo concretiza-se num abaixamento das condições de admissão ao ensino normal, numa redução dos conteúdos e do tempo de formação e numa menor exigência intelectual e científica; o segundo eixo explicita-se na instauração de práticas de controlo moral e ideológico, tanto na formação de base como no estágio e na avaliação dos exames do Estado.”

Ao nível do ensino secundário é de destacar o encerramento, por decreto de 16 de Outubro de 1930, das Escolas Normais Superiores que estavam encarregues da formação e habilitação dos professores do ensino secundário desde a já referida reforma de 1901. Para se aceder à carreira docente tinha-se que, segundo a reforma de 1947, realizar um exame rigoroso das competências científicas e pedagógicas dos candidatos à profissão docente. (Resende, 2003). A função docente perde importância económica e social, ganhando um carácter algo depreciativo de funcionalismo público, com um papel bem definido ao nível ideológico de respeito pela ordem autocrática vigente. É possível constatar esse sentimento do poder político, que sem demoras, logo a partir de 1926, data em que a ditadura militar publica, por intermédio do ministro Ricardo Jorge, uma reforma do ensino liceal de modo a

evidenciar as suas diferenças relativamente ao regime cessante. (Carvalho, 2001). Se existe realmente uma preocupação por parte do governo com o sucesso educativo no ensino secundário, esta só é notória na forma como se tenta limitar o acesso dos alunos, impondo verdadeiros numerus clausus. A única vantagem que posso detectar nesta medida seria a possibilidade de efectuar uma seriação qualitativa do corpo docente dos liceus, escolhendo os melhores preparados e subalternizando aqueles que não serviam para a profissão. Contudo, e como explica Ferreira Gomes (2001), a realidade estava a um fosso de distância. Esta medida tinha apenas finalidades economicistas e de maior controlo da formação inicial de professores que passaria novamente a parte teórica para as Universidades, e para os Liceus Normais a parte relativa à prática pedagógica. Como refere Pacheco (1999): a formação de professores do ensino liceal passa a estar dividida ao ser constituída por duas partes: cultura pedagógica ministrada na Universidade e a prática pedagógica efectuada nos Liceus Normais. Segundo o mesmo autor a cultura pedagógica está subdividida em 5 cadeiras anuais que passo a enunciar: Pedagogia e Didáctica; História da Educação; Organização e Administração Escolares; Introdução à Psicologia e Psicologia Escolar e Medidas mentais acrescida de uma cadeira semestral de Higiene Escolar. O estágio de dois anos completaria o ciclo de cinco que habilitaria o professor para a docência liceal. O decreto de 1930, no seu artigo 13º (cit. por Pacheco, 1999, p. 75) explicita da seguinte forma o que se pretende com estes dois anos de estágio clássico:

“ o 1º ano será especialmente destinado à assistência a lições modelos, devendo cada estagiário dar algumas lições, que serão discutidas, em referência, pelo professor metodólogo e por todos os estagiários que hajam de fazer prática pedagógica na respectiva disciplina;

- no 2º ano, cada estagiário toma conta do ensino que lhe for designado, sob a direcção do professor metodólogo e sob a fiscalização deste professor e de outros do liceu, além do reitor.”

Ainda a propósito, é de salientar que os professores metodólogos eram eleitos por cinco anos sob proposta do reitor. Segundo Resende (2003, p. 319) a constituição desse júri era a seguinte:

Os júris do exame de admissão ao 1º ano de estágio passaram a integrar 5 professores do ensino superior ou do ensino dos liceus, mas a presidência da prova continuava entregue a um professor universitário.

Os critérios estabelecidos para verificar a qualidade das provas prestadas pelos candidatos ficaram assim determinados:

1º averiguar da idoneidade do concorrente para, com a perfeita correcção, falar e escrever a língua pátria;

2º averiguar da sua cultura geral no âmbito do ensino liceal;

3º averiguar dos seus exactos conhecimentos acerca de todas as matérias dos programas liceais relativos ao grupo respectivo e aos grupos que com ele têm afinidades (decreto lei nº 36: 508, 1947: 904-905)

De referir que as actividades relativas a este primeiro ano de estágio estavam circunscritas à observação das aulas dos professores metodólogos e a preparação de breves lições coordenadas pelo metodólogo. Esta limitação não fazia esquecer, antes promovia a participação dos estagiários em conferências, assistência em Exames e conselhos de turma.

A avaliação do estagiário era feita em conselho, pelo grupo de professores metodólogos e sob a presidência do reitor do estabelecimento de ensino, onde se desenvolviam as actividades dos professores estagiários (idem).

Estas alterações introduzidas pelo ministro da Instrução Pública Cordeiro Ramos, com o Decreto-lei de Outubro de 1930, vão manter-se intocáveis até ao início da década de 70. O decreto-lei de 1930 marca assim, de forma indelével, a formação de professores e a sua avaliação inicial durante 40 anos. Nem as tendência reformistas dos Ministros da Educação Carneiro Pacheco (1936-39) e Pires de Lima (1947-55), conseguiram mover a montanha, apesar deste último reconhecer as debilidades evidenciadas pelo sistema de formação de professores (Carvalho, 2001). Mesmo na década de 60, quando a pressão internacional intensificava-se e o anacronismo do regime era cada vez mais indisfarçável, passou incólume às mudanças implementadas no ensino básico e na formação e avaliação de professores levadas a cabo em 1964, pelo ministro Galvão Teles e já idealizada anteriormente por Leite Pinto, seu antecessor no cargo (Fernandes, 2004).

Como refere em jeito de balanço, José A. Pacheco (1999, p.76):

“a formação de professores, com a modificação introduzida nos inícios da década de 30 e que se manteve até ao início da década de 70, seguiu o curso normal das alterações políticas produzidas pelo Estado Novo. O objectivo foi claro: realizar uma obra homogénea duma corporação

Para concluir esta breve reflexão, é de sublinhar o papel reformador de Veiga Simão que teve um papel decisivo na forma como a educação foi encarada no final do Estado Novo, já em pleno período marcelista. Mesmo a sua reconhecida determinação e ímpeto reformista não foi suficiente para alterar significativamente a estrutura e substância nitidamente caducas da formação inicial de professores. Neste âmbito praticamente tudo ficou na mesma. A Reforma do Sistema Educativo Português de Veiga Simão, datada de 25 de Julho de 1973, não conseguiu dar a resposta adequada à degradação contínua da função docente em todas as suas componentes (Fernandes, 2004). Os tempos eram manifestamente difíceis e as propostas reformistas foram consideradas demasiado inovadoras para os sectores mais conservadores do regime e classificadas como pouco audazes pela oposição. O período de reflexão, debate e aplicação foi também reconhecidamente exíguo, dado que a revolução estava a germinar no seio dos militares e da sociedade civil, culminando no 25 de Abril de 1974, que colocou termo ao regime que deu a luz a referida reforma. Contudo as suas bases permaneceriam para futuro, como veremos de seguida.