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Avaliação dos Resultados

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DO CMDRS AO DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL/SDT EM SANTARÉM PA: ATORES E GESTÃO SOCIAL DAS POLÍTICAS

4.3 A EXPERIÊNCIA DO CMDR EM SANTARÉM

4.3.4 Avaliação dos Resultados

A experiência do CMDR e do PRONAF trouxe como conseqüência positiva a organização de algumas comunidades, através de grupos de produtores e associações. Segundo o representante da EMATER, durante o período de funcionamento do CMDR (até 2002), foram utilizados recursos para a construção de micro-sistemas de água e eletrificação rural. Para isso, foram definidas como áreas prioritárias para investimentos: aquelas que cultivavam café, pois existia ao que parece cumplicidade institucional entre o CMDRS, na figura de seu presidente, secretário municipal de agricultura, e o BASA que destinava linhas de financiamentos para este tipo de atividade através do FNO-especial.

Para a desarticulação do CMDRS foi apontado que não existiam ações e encaminhamentos práticos, além da falta de regularidade nas reuniões. O CMDRS, depois do período inicial, ficou desativado e foi retomado em 2001. O funcionamento do Conselho foi precário durante o mandato de Lira Maia, e no governo atual ainda não foi retomado.

Fica como um sentimento geral para os representantes não governamentais (STR, APRUSSAN e Z-20), que ao invés de facilitar a alocação de recursos, a institucionalidade do conselho, se transformou em mais uma burocracia que entrava o uso de dinheiro público.

Para o representante do STR (2005), o CMDR foi inoperante porque o executivo municipal, no período em questão, nunca pensou e elaborou projetos de política pública voltados à agricultura familiar, muito pelo contrário, o projeto que posto em prática pela prefeitura buscava desenvolver no município a cultura de grãos em larga escala, ou seja, implantar na cidade e nos municípios de seu entorno, especialmente o agronegócio da soja. Para Marques (2003, p. 76) “a representação do poder executivo no interior dos conselhos permite analisar o funcionamento da máquina administrativa municipal, instrumento maior das práticas clientelísticas”. O CMDRS deveria tencionar uma mudança na organização na estrutura decisão em nível municipal. Mas ainda, para Marques (2003) não se pode negligenciar a existência de uma hierarquia de tradição piramidal e patrimonialista do poder no Brasil.

Além disso, para o representante do STR (2005), além disso, o executivo municipal não se empenhava na convocatória dos conselheiros para as reuniões, e isto era feito segundo o informante “para esvaziar o CMDRS [...] o grupo da prefeitura não tinha interesse político na consolidação do CMDRS”.

Ao que tudo indica a prefeitura não concebia o conselho enquanto arena democrática e inovadora, redistribuidora do poder local, pois este novo conceito ameaçava de alguma forma o poder e as práticas clientelísticas do prefeito e do seu grupo político. A maioria dos conselheiros não teve acesso às decisões e informações sobre a alocação de recursos do PRONAF Infra-estrutura no período de funcionamento do CMDRS. O que depõe contra princípios básicos de funcionamento do Conselho, ou seja, a transparência e a gestão democrática e participativa dos recursos do PRONAF Infra-Estrutura.

Em uma avaliação geral dos atores entrevistados, se o CMDRS tivesse tido uma gestão mais democrática e transparente, poderia ter cumprido um papel histórico importante e poderia inovar na forma de administrar recursos de políticas voltadas à agricultura familiar. Em vez disso, o que se viu foi uma tentativa do executivo municipal de exercer seu poder unilateralmente, conduzindo o Conselho de encontro a seus interesses políticos. Uma crítica

unânime foi feita em função da presidência do Conselho ficar nas mãos do Secretário Municipal de Agricultura, que era claramente comprometido com o projeto dos agronegócio em Santarém.

O que marcou os oito anos de mandato do antigo prefeito foi certa necessidade de utilizar parte significativa das áreas rurais com a cultura agrícola dos grãos em grande escala (arroz, milho e principalmente a soja). E apesar da atividade do agronegócio sojicultor no Pará ser impulsionada por políticas macroeconômicas e de comércio exterior, articulada com políticas setoriais de crédito, além da assistência técnica especializada e pesquisa agropecuária, em nível municipal houve receptividade formal e apoio político da prefeitura à implantação de empresas graneleiras, criando condições para instauração do porto privado para escoamento.

Esse processo começou em 1998, quando a prefeitura de Santarém encomendou um levantamento do potencial agrícola do município. Descobriu que era grande e foi até Mato Grosso divulgar os resultados. A cidade tem entre 500 mil e 600 mil hectares de floresta já modificada pelo homem (antropizadas), que podem ser usados para a agricultura de grão como soja e arroz. Ou seja, esse avanço do agronegócio da soja no município de Santarém-Pa, se deve em grande parte ao papel exercido pelo executivo municipal.

A agricultura familiar ficou neste processo secundarizada, pois neste mesmo período a prefeitura de Santarém articulava a vinda de plantadores de soja vindos do Mato Grosso e a instalação do porto graneleiro da CARGILL S.A. Segundo o representante do STR (2005):

Vendeu-se a idéia que no município e em seu entorno, existem quinhentos mil hectares de áreas alteradas, propícias31 à cultura da soja. Mas sem nenhum momento esta discussão do ‘projeto’ da soja foi pauta de reunião no CMDR, portanto não houve diálogo a esse respeito com a sociedade civil em Santarém.

O governo municipal ao que tudo indica pouco se esforçou para tornar o CMDRS uma arena democrática para o exercício do poder local. Além do mais, as prefeituras de cidades localizadas no interior do Pará, como Santarém, apresentam como característica o fato de serem pouco afeitas ao controle político da câmara dos vereadores. Estas acabam sendo controladas politicamente pelo prefeito através de favores (Marques, 2003).

Por fim, é necessário ressaltar que para esse estudo, foi pensada como estratégico, o depoimento dos representantes do executivo municipal da administração passada (Governo Lira Maia), período de ‘funcionamento’ do CMDRS, para podermos confrontar os diferentes

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Neste mesmo período a EMBRAPA realizava pesquisas, com o objetivo de provar o potencial da região de Santarém para o cultivo da soja.

depoimentos. Infelizmente por razões não especificadas seus representantes não concederam entrevistas à nossa pesquisa.

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