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Quando se propõe a avaliação da definição, de alguma particularidade do conhecimento se exige inicialmente dizer como se entende o que se pretende avaliar e quais elementos serão tratados na avaliação.

Tratar da avaliação da gestão das áreas de proteção ambiental das Dunas da Lagoinha e do Estuário do Rio Curu pressupõe esclarecer que a gestão à qual se faz referência é a que vem sendo desenvolvida de setembro de 2002 até a atualidade, pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente – SEMACE, com a ressalva de que o novo Governo do Estado do Ceará, até julho de 2007, ainda não nomeou o gerente para dar continuidade à gestão das APAs.

Também se deve esclarecer que a avaliação da gestão não tratou com profundidade sobre aspectos relacionados com a estrutura, pessoal, equipamentos, recursos existentes e utilizados para o manejo dessas APAs. Estes foram superficialmente descritos, ficando a avaliação restrita ao modelo de gestão das unidades de conservação e se ele está sendo desenvolvido de acordo com os critérios da categoria que lhe corresponde.

Desde sua criação em 1999 até 2002, as duas unidades de conservação de Paraipaba não haviam conhecido intervenção de gerência alguma em seus limites. A fiscalização ambiental das atividades era feita como se faz habitualmente em lugares não protegidos, ou seja, por meio de denúncias de populares e interessados, ou por ocasião de visita técnica no processo de concessão de licenças ambientais comuns que não exigem cumprimento de nenhum dos condicionantes das áreas protegidas. Muito menos se pode pensar que o fato de terem sido declaradas as APAs significou a desaparição de intentos de conseguir implantar projetos atualmente não compatíveis com a categoria da unidade de

conservação. Desta forma, não somente se seguiu encontrando exemplos de solicitações de implantação de atividades como o cultivo de camarão ou a construção de hotéis como foi demonstrado.

Possivelmente a declaração das APAs foi pouco divulgada, mas também admite- se o desinteresse de conhecimento de sua instituição por parte das iniciativas particulares que pretendem obter licença de atividades para se instalarem em áreas de proteção com as restrições que a proteção estabelece.

Da análise dos meios técnicos com que contava a gestão das áreas protegidas pode-se dizer que eram bem escassos. De fato o único meio de transporte que se utilizava para percorrer essas áreas, vigiar e realizar minimamente as tarefas de gestão, era um veículo troller de propriedade da SEMACE, capaz de circular por terrenos irregulares e não pavimentados. No entanto, carecia a gestão de embarcação que pudesse viabilizar as atividades na área dos recursos hídricos existentes como o rio Curu e seu estuário.

Além do veículo, dispunha a gestão de outros equipamentos, ainda que rudimentares: uma máquina fotográfica, um telefone celular e blocos de formulários para aplicação de sanções e notificações administrativas. Isso era tudo. Não havia sede para administração, ou instalações em algum C.P.T.A., por exemplo, que pudesse albergar essa atividade. Tudo o que o gestor tivesse que realizar precisava recorrer à sede da SEMACE, localizada na cidade de Fortaleza.

Com relação às atividades que foram realizadas nesse período compreendido entre a criação das APAs até hoje em dia, destacam-se, além das reuniões com a comunidade por ocasião dos preparativos para a elaboração do Plano de Manejo pela SEMACE em parceria com a Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura – FCPC, abordadas no capítulo anterior, o reconhecimento do lugar pelo gestor, aproximação com a população afetada pela criação das unidades de conservação, realização de campanhas de sensibilização e educação ambiental para o uso e cuidado em uma área protegida.

Os estudos para a elaboração do plano de manejo e a formação do conselho gestor das APAs foram atividades que se desenvolveram paralelamente à sua gestão, e que derivaram da componente ambiental do PRODETUR/CE, ou melhor, foram realizadas às expensas desse programa. Ainda assim, o plano de manejo e o conselho gestor não foram implantados oficialmente, causando em relação ao primeiro desconformidade com a previsão do Art.12 do Decreto Federal nº 4.340/2002. Sabe-se, como já informado, que o plano de manejo de uma unidade de conservação depois de elaborado deve ser reconhecido como tal

através de portaria do órgão gestor, no caso a SEMACE, assim como o conselho deve ser criado através de ato normativo.*

Na versão conhecida do Plano de Manejo, de 2006, através do Banco do Nordeste do Brasil, banco intermediador do financiamento do PRODETUR, não foram verificados os limites das APAs em relação ao subsolo e em relação ao espaço aéreo, descumprindo o disciplinamento do Art. 6º do Decreto nº4.340/2002.

Também não se observou, na referida versão, disposição sobre a possibilidade de cultivo de organismos geneticamente modificados, conforme previsão do § 4º do Art. 27 do SNUC, introduzido pela Lei nº11.460/2007115. Não somente pela proximidade das APAs ao perímetro irrigado do rio Curu, mas também pela existência de viveiros de camarão no interior da APA do Estuário do Rio Curu, faz-se necessária a previsão de possibilidade desse cultivo, e a sua regulamentação no caso de ser permitido.

O panorama referido não pode ser mais desolador. Não obstante pese as sérias carências de infra-estrutura, equipamentos e pessoal, seria muito simples atribuir toda a culpa e realizar uma avaliação totalmente negativa da gestão desenvolvida nesses anos por uma única pessoa a frente de referidas APAs. Isso porque o que mais interessou foi avaliar quais são os recursos necessários para realizar uma gestão adequada dessas unidades de conservação. Senão, realmente o que se persegue é avaliar a gestão em seu fundamento de constituição.

Por mais que se melhorem as infra-estruturas, os equipamentos e os recursos humanos, de nada adiantará se a gestão continuar sendo realizada como se as unidades de conservação das Dunas da Lagoinha e do Estuário do Rio Curu fossem meras áreas de proteção ambiental. Isto é, se a categoria e grupo de unidade de conservação não responde às necessidades reais dessas áreas, sua gestão – estruturada ou não, jamais poderá cumprir seu papel primordial de se converter em uma via para a proteção ambiental.

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A inexistência dos atos normativos se baseia em pesquisa atualizada até 26 de agosto de 2007, nos Diários Oficiais do Estado do Ceará.

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BRASIL. Lei nº 11.460, de 21 de março de 2007. Dispõe sobre o plantio de organismos geneticamente modificados em unidades de conservação; acrescenta dispositivos à Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, e à Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005; revoga dispositivo da Lei nº 10.814, de 15 de dezembro de 2003; e dá outras providências. Disponível em: <www.presidencia.gov.br> Acesso em: 14 abr. 2007.