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2 AVALIAÇÃO

2.3 AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL

A seção anterior apresentou, sumariamente, que as reformas do Estado e da Educação contribuíram para ampliar a discussão sobre os sistemas de avaliação nos diversos níveis de ensino; mesmo que aconteçam como práticas isoladas, demonstram na sua maioria duas finalidades básicas. A primeira voltada para ações do Estado, que figura como a finalidade de regulação, criticada por exaltar uma preocupação apenas voltada para os resultados; a segunda teria uma função formativa, cuja preocupação reflete a necessidade de aprendizagem das instituições. Em qualquer dos casos, contribui-se para o amadurecimento da noção de avaliação institucional de forma sistemática, global e contínua que favoreça a participação de todos os atores.

Nesse contexto, justifica-se um modelo de avaliação que possibilite ao Estado o controle regulatório e da qualidade dos serviços ofertados, bem como a distribuição e o uso adequado dos recursos públicos. E considerando o seu papel de gestor desse bem público, o uso da avaliação se apresenta para orientar a expansão, segundo critérios das políticas educacionais e dos usuários dos serviços educacionais - pais e alunos - e para produzir informações úteis para a tomada de decisão.

Na concepção de Belloni (1996, p. 9) “a avaliação institucional é aquela voltada para a instituição de educação superior e é por ela conduzida”. Assim, a avaliação institucional não responde, exclusivamente, às exigências de regulação do Estado, mas configura-se como uma responsabilidade da comunidade acadêmica de cada instituição, numa concepção emancipatória, sem o reducionismo de vincular a avaliação aos mecanismos de distribuição de recursos.

Acrescenta-se à definição de Belloni a perspectiva da avaliação externa que, via de regra, é conduzida por comissão de especialistas externos. Como aponta Dias Sobrinho (2002) a avaliação interna é completada pela avaliação externa, configurando combinação e produção de uma síntese.

Peterson (1999) adverte que ao abordar o tema da avaliação institucional vai- se de encontro a uma diversidade conceitual e metodológica inerente a esta modalidade de avaliação e uma complexidade intrínseca à instituição, cenário de

diferentes abordagens e dinâmicas. Enfatiza ainda o caráter interrelacional da avaliação institucional que envolve sujeitos, processos e contexto; tem o suporte dos apoiadores, responsáveis ou apoiadores (stakeholders) conforme Figura 2.

FIGURA 2 – ESQUEMA INTERATIVO DA AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL

Fonte: Elaboração da autora, adaptada de Peterson (1999, p. 4)

A adaptação proposta na Figura 2 refere-se à inclusão do contexto externo como forma de demonstrar que a avaliação institucional responde às demandas internas e externas, ampliando assim, a interação para além dos muros institucionais, já que a instituição está inserida no seio de uma comunidade mais ampla. Em complementação à figura, compartilha-se com Dias Sobrinho (2003) a definição de Lapassade sobre a avaliação institucional significar um “balanço social” que incorpora os sujeitos, isto é,

um método de interpretação analítico e pedagógico que consiste em instituir, numa organização social determinada, por exemplo, numa escola, num instituto, numa universidade, a análise coletiva, isto é, feita em princípio por todos os membros, das estruturas e dos fins da organização, assim como dos meios utilizados para atingir esses fins. Propomo-nos, portanto a „dizer tudo‟ e „todos em conjunto‟ sobre essa organização que é nossa e depois redigir em conjunto as mudanças que nos parecerão desejáveis (Lapassade (1971) apud DIAS SOBRINHO, 2003, p. 178).

Esta definição abarca os aspectos globais, a necessária participação dos atores institucionais e os fins da avaliação, inclusive como aliada na construção do planejamento. Nas palavras de Dias Sobrinho (2003, p. 178) ela é rica por

RESPONSÁVEIS, APOIADORES OU INTERESSADOS (STAKEHOLDERS) INTERNOS

OUTROS PROCESSOS E RECURSOS DE AVALIAÇÃO

RESPONSÁVEIS, APOIADORES OU INTERESSADOS (STAKEHOLDERS) EXTERNOS CONTEXTO INSTITUCIONAL E FUNCIONAMENTO AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL NATUREZA, ESTRUTURA E PROCESSO CONTEXTO EXTERNO

demonstrar o caráter social e multirreferencial da avaliação, na qual são os “membros da comunidade que assumem o processo avaliativo com a intenção de conhecer, interpretar e transformar a si mesmos e a instituição”.

Belloni, Magalhães e Sousa (2007, p. 22) citam dois objetivos tidos como elementares na avaliação institucional: o primeiro consiste em “promover uma autoconsciência institucional” que significa o conhecimento das limitações, aspirações da instituição pelos sujeitos envolvidos. O outro se refere à avaliação com vistas à “melhoria da qualidade e da relevância, científica e política, das atividades desenvolvidas”. Como resultado destes objetivos cabe à avaliação institucional ajudar a estabelecer o perfil e a imagem da instituição, facilitando a compreensão de onde se encontra a fim de projetar aonde pretende chegar, isto é, um entrelaçamento entre a prática da avaliação e do planejamento.

A avaliação das IES pressupõe um caráter formativo, visando ao aperfeiçoamento da comunidade acadêmica e da instituição como um todo. O alcance de elevados patamares de qualidade institucional e educacional advém da necessária mudança e inovação nas IES, cuja premência recai no exercício da avaliação institucional como forma de elaborar um diagnóstico que retrate as potencialidades e fragilidades de cada curso, departamento, unidade nos níveis micro e macroinstitucional (LEITE, 2005).

Entretanto, a avaliação tem sido usada como uma atividade

predominantemente técnica, vinculada às questões operacionais, à mensuração dos resultados. Valorizam-se aspectos quantitativos, em detrimento das suas reais possibilidades de pesquisa, cujo objetivo principal é gerar informações pertinentes da realidade, com vistas à melhoria dos processos e planos institucionais, da gestão e da prestação de contas à sociedade. Nesse sentido, Dias Sobrinho destaca que

indicadores quantitativos promovem um balanço das dimensões mais visíveis e facilmente descritíveis, a respeito de medidas físicas, como área construída, titulação de professores, descrição do corpo docente, discente e servidores, relação dos servidores, dos produtos, das formaturas, volume de insumos, expressões numéricas supostamente representando qualidades, como no caso de número de citações, muitas vezes permitindo o estabelecimento de “ranking” de instituições, com sérios efeitos nas políticas de alocação (ou “desalocação”?) de financiamento e como organizador social de estudantes e profissionais.” (DIAS SOBRINHO, 1995, p.7).

Esses aspectos encontram respaldo em Balzan (1995, p;115) quando defende que a avaliação institucional não se faz “por meio de procedimentos burocráticos e exclui qualquer possibilidade de se restringir a dados quantitativos sobre a produção acadêmica”. Isto, até porque ele defende a capacidade da avaliação institucional em “envolver os diferentes segmentos da instituição, quando entendida como um processo democrático”. O autor reconhece ainda que seja uma construção ao longo dos anos. Corrobora-se com esta assertiva, entendendo a complexidade que reveste os processos de construção coletiva, ademais, quando aliado, à complexidade da própria avaliação; assim, não se podem esperar ações repentinas, o processo é de tomada de consciência, mudança de postura, com motivação e sensibilização constantes rumo à consolidação de uma cultura de avaliação.

Para confirmar a validade da avaliação institucional e suas imbricações com planejamento institucional, retoma-se a perspectiva da avaliação com instrumento de gestão elaborada por Marback Neto (2007); ao fornecer subsídios para os processos de tomada de decisão e implantação de resultados, a avaliação institucional configura-se como um instrumento de gestão que possibilita uma análise do desempenho institucional e retroalimentação para a gestão no processo de planejamento da instituição. O autor reconhece que a institucionalização do processo avaliatório é revestida de dificuldades, tanto por parte das IES, como dos sujeitos envolvidos. Algumas delas provêm da forma da gestão, a exemplo da comunicação ineficiente, excesso de centralização, falta de planejamento e lentidão; outras das resistências de professores e alunos por medo de punição ou exposição moral.

Para Vieira (2007) os sistemas de avaliação precisam dialogar com as instituições de ensino, num “caminho de mão dupla – do sistema para a escola e desta para aquele”, buscando um alinhamento imprescindível entre as políticas centrais e a prática, condição necessária para a melhoria dos resultados das avaliações dos sistemas.

A experiência das IES em realizar avaliação institucional tem sido recente; poucas são aquelas que se sobressaem por uma prática contínua e duradoura. De outro modo, a instalação de um sistema nacional de avaliação no país não tem sido profícua, como poderá ser examinado na próxima seção.