• Nenhum resultado encontrado

II. Enquadramento teórico, histórico e conceptual

2. As sessões de ensino de português

3.2. Avaliação interna

3.2.1. Avaliação diagnóstica

Na AMRT, no início da ação, os formandos realizaram atividades de diagnóstico, com as quais foi percetível a formadora verificar que a maior parte dos alunos não sabia escrever adequadamente em português e tinha muitas dificuldades em entender o que lhe era pedido. Tratando-se de um grupo heterogéneo em vários aspetos (idade, língua, cultura, situação profissional), e pouco escolarizado, foi necessário adequar as matérias ao nível de um A1, apesar de o curso ter como objetivo o nível A2. Essa necessidade dificultou a insistência em práticas/atividades de nível A2, porque o número de sessões e a data do exame também não o permitiram.

91

No entanto, a capacidade comunicativa em português, mesmo dos que se encontram em Portugal há mais tempo, no início das sessões era muito reduzida. Na opinião da formadora, alguns dos que arranjaram trabalho ficaram sem possibilidade de vir às aulas, mas quem não trabalha também não convive muito, porque se fecha socialmente, por falta de meios.

Os inscritos na Fratia caracterizavam-se pela heterogeneidade dos estudos no país de origem, daí que a formação dos dois grupos que se constituíram no início das sessões fosse feita de acordo com esse identificador. Tendo em conta os diferentes níveis de formação formal dos alunos, as formadoras disseram ter optado por oscilar entre práticas não formais, formais e até informais (conversas que vinham a propósito de hábitos e de necessidades dos alunos).

A entrada e saída dos formandos (pelas razões já apontadas anteriormente) dificultaram a organização das aprendizagens individuais, embora tivesse havido uma planificação para os grupos. Os temas foram selecionados de acordo com as necessidades detetadas e os dois grupos foram formados segundo as suas proficiências. “O alfabeto das suas línguas maternas é igual ao do português, a base das línguas dos formandos é a mesma” e isso foi, na opinião da responsável pela associação, uma característica que ajudou a concretizar as aprendizagens.

Dos inscritos nesta associação, também alguns não sabiam escrever. Isso só foi verificado quando começaram as sessões. Foi-lhes dito que não poderiam fazer exame porque a leitura e a expressão escrita são avaliadas a par da compreensão e expressão oral. Mas os alunos continuaram as aprendizagens e foram assíduos nas sessões. Segundo a presidente da Fratia havia também um formando que, por não ter a mão direita, escrevia com a esquerda, embora fosse destro.

De facto, nos inquéritos e nas entrevistas realizadas, constata-se que a maioria dos formandos da AMRT, nove formandos, se encontra em Portugal há relativamente pouco tempo, entre 1 a 3 anos. Mas há quem esteja em Portugal há menos de 6 meses (1 formando) e também quem já viva cá há mais de 10 anos (1 formando).

Dos inquiridos da Fratia constata-se que a maioria (9 formandos) se encontra em Portugal há algum tempo: entre 7 a 10 anos; mas há quem afirme (3 formandos) que está em Portugal há menos tempo: 1 e 3 anos; e também quem já viva cá há mais de 10 anos (5 formandos).

92 Figura 6: Tempo de permanência em Portugal

Questionados sobre os anos de escola frequentados no seu país de origem, a maioria dos formados da AMRT (8 formandos) respondeu ter estudado entre 5 a 9 anos, mas as respostas variam entre menos de 5 anos – 4 não são escolarizados – e mais de 14 anos (2 formandos). Presentemente só um formando estuda, nenhum outro frequentou ou frequenta qualquer tipo de ação/curso desde que reside em Portugal.

A formadora da AMRT foi sensível aos diferentes ritmos de aprendizagem revelados pelos formandos que nunca estudaram e aos dos que já tiveram alguma formação. No acaso das aprendizagens já realizadas em língua francesa, os conhecimentos adquiridos permitem facilidade em atingir competências comunicativas em LP. Tratando-se de formandos pouco alfabetizados, as dificuldades de escrita foram difíceis de ultrapassar.

Sobre os anos de escolaridade frequentados no seu país de origem, a maioria dos formandos da Fratia (17 formandos) respondeu ter estudado entre 10 a 14 anos, mas as respostas variam entre 5 a 9 anos (1 formando), e mais de 14 anos (2 formandos). Quinze afirmam nunca terem estudado em Portugal e quatro não respondem à pergunta.

Figura 7: Anos de escolaridade frequentados no país de origem

Analisando comparativamente os grupos, constata-se que os formandos da AMRT estão há menos tempo em Portugal e têm menos anos de escola frequentados no país de origem.

93

3.2.2. Avaliação formativa

A formadora da AMRT referiu que os seus objetivos, quando preparava e quando direcionava as sessões com os formandos desta formação, foram sempre transmitir conhecimentos de português, quer a nível da oralidade, quer a nível da leitura e da escrita. No entanto, ao preparar as sessões adequava as atividades com vista à realização do exame final, sobretudo neste último mês.

Afirmou também que os formandos só começaram a aperceber-se de que tinham de realizar o exame nos últimos dois meses, porque se referiam com regularidade às provas que iam prestar, temiam não ter capacidades para as desempenhar com sucesso, pretendiam que a formadora comparasse o grau de dificuldade das tarefas realizadas com as que saem regularmente no exame, ansiavam pela realização de exercícios muito semelhantes aos do CAPLE. Estas atitudes não eram verificáveis durante as sessões temporalmente mais afastadas do exame, pois, nelas a principal preocupação dos formandos sempre esteve relacionada com a aprendizagem da LP.

Na opinião da formadora, os formandos e ela própria iam tendo consciência das aprendizagens que estavam a ser feitas e das que era necessário melhorar e aprofundar. No entanto, a diversidade de perfis dos formandos e as diferentes situações de aprendizagem sempre foram notórias. De muito positivo salienta-se, quer o incentivo à participação nas atividades, que sempre existiu no grupo, quer a motivação para a aprendizagem, que sempre foi valorizada entre os formandos. A maior parte dos alunos participava ativamente, sem ser necessária a solicitação da formadora. Os alunos menos participativos eram incentivados pelos colegas e alguns até ajudados a melhorar o seu desempenho.

3.2.3. Avaliação sumativa

Na opinião da formadora da AMRT, os alunos estavam, em geral, bem preparados para a realização do exame, porque ao longo das sessões realizaram exercícios, alguns com um maior grau de dificuldade do que os que habitualmente estão presentes no exame.

94

Contudo tinha consciência de que, como é normal, os formandos se sentiam nervosos, devido ao facto de o exame não ser realizado no local da formação e de não ser a formadora deles a vigiar as provas. Considera que a exposição a uma situação completamente diferente será um fator que poderá interferir negativamente. No entanto, os conhecimentos adquiridos e as capacidades comunicativas desenvolvidas, na sua opinião, também permitem equilibrar o nervosismo.

Na opinião da presidente da Fratia, a maioria dos formandos conseguiu adquirir um bom desempenho oral, até porque no caso dos romenos há semelhanças nas duas línguas, a que conhecem e a que aprenderam. “A comunicação, com mais ou menos erros, faz-se”.

Alguns destes formandos têm amigos portugueses, portanto a comunicação em português não se restringe ao tempo das sessões. A televisão, a rádio e a música também ajudam a melhorar os conhecimentos de LP. O problema é a escrita. Além disso, na comunidade cigana as raparigas não têm permissão para se deslocarem à escola como as outras raparigas de outras culturas. Chegam à idade adulta com mais dificuldades, por vezes “sem saberem escrever, embora entendam e falem”.