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II. Enquadramento teórico, histórico e conceptual

4. O ensino não formal de português língua estrangeira, em contexto de

1.2. O projeto e o protocolo com as associações

Foi na sequência da necessidade de cumprimento dos objetivos de apoio aos imigrantes que surgiu a criação de um projeto inovador e, consequentemente, para tornar possível a sua operacionalização, o protocolo entre o ACIDI e cinco associações: AMRT, Associação Unida e Cultural da Quinta do Mocho, Fratia – Associação dos Imigrantes Romenos e Moldavos, Associação A Comunidade Islâmica da Tapada das Mercês e Mem-Martins, Doina – Associação de Imigrantes Romenos e Moldavos do Algarve.

Estas ações de educação não formal foram destinadas a imigrantes adultos. A organização curricular foi da responsabilidade de cada associação, em função das características do grupo alvo. A duração total das ações estava compreendida entre 150h e 250h. A associação deveria garantir um número mínimo de 18 participantes. No âmbito do projeto a implementar, esteve sempre presente, como objetivo final, a certificação dos participantes no nível A2 – Utilizador Elementar.

Às associações coube o papel de implementar e executar as ações de ENF. A frequência nas ações não conferia o direito à emissão de qualquer certificado de qualificação aos participantes. A certificação foi da responsabilidade das entidades competentes e reconhecidas para o efeito. A associação, para certificar os conhecimentos obtidos em LP, deveria submeter os participantes das ações aos exames do sistema de Certificação e Avaliação do Português Língua Estrangeira, CAPLE, nos centros de exames respetivos ou em estabelecimentos reconhecidos nos termos legais e teria de garantir um número mínimo de 10 certificações. Caso a associação não conseguisse cumprir esse número estipulado, não poderia candidatar-se, no ano(s)

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seguinte(s), a projetos de formação de adultos para aquisição de competências no domínio da LP, promovidos pelo ACIDI.

Coube às associações: garantir um espaço próprio ou de entidades parceiras locais, que reunisse as condições necessárias para o desenvolvimento das ações; disponibilizar os recursos técnicos e pedagógicos adequados à educação não formal, ao sistema de aprendizagem e ao público-alvo; recrutar um formador/educador responsável pela dinamização das ações, de acordo com um perfil estipulado - licenciado(a) na área do ensino do português e suas variantes, preferencialmente com experiência de trabalho com públicos imigrantes.

1.2.1. Fratia – Associação de Imigrantes Romenos e Moldavos em Portugal

A Fratia situa-se na freguesia de São Sebastião, concelho e distrito de Setúbal. Existe um blogue oficial da Fratia, contudo, encontram-se poucas informações sobre a associação. Este blogue visa “promover um encontro de culturas da Roménia e Moldávia, criando laços de Fraternidade e Solidariedade em Portugal”. De acordo com as informações dadas pelo blogue, pode-se constatar que a associação tem realizado atividades interculturais.

1.2.2. Doina – Associação de imigrantes Romenos e Moldavos do Algarve

A Doina, com sede em Almancil, foi criada em 2007 por Elisabeta Necker, em parceria com Mariana Melenti, a atual vice-presidente, e Ioan Dudas.

De acordo com a fundadora, a associação sem fins lucrativos pretende "proteger os direitos e interesses específicos dos imigrantes e dos seus descendentes residentes em Portugal, realizar eventos socioculturais, promover intercâmbios culturais com outros países e estabelecer protocolos com entidades financeiras, sociais, culturais, médicas e de assistência familiar".

A associação tem um plano anual de atividades financiadas através de candidaturas aprovadas pelo ACIDI, que, segundo Elisabeta Necker, "desenvolve um

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conjunto de serviços dirigidos aos imigrantes". O objetivo é "criar respostas a diversos níveis, como a ação social".

O gabinete da Doina permite "informar qualquer cidadão sobre assuntos de carácter geral ou específico e acompanhar os imigrantes em questões relativas à sua regularização", apoiando-os no que toca aos "regimes de Segurança Social, ao acesso à saúde, à educação, ao emprego e formação profissional, à habitação, desporto, cultura e empreendedorismo". "Nestes tempos difíceis, tentamos ajudar os imigrantes desempregados a encontrar emprego", explica a responsável.

A Doina é ainda parceira no projeto «Asas para Amanhã», do Programa Escolhas, de âmbito nacional, que "visa promover a inclusão social de crianças e jovens provenientes de contextos socioeconómicos mais vulneráveis, tendo em vista a igualdade de oportunidades e o reforço da coesão social". A «Competir - Formação e Serviços, SA» é outra das suas parcerias. Com 392 membros, a associação participa, através do Grupo Folclórico Doina, em eventos culturais, palestras, workshops e outras atividades de cariz sociocultural, nomeadamente Festas da Primavera, o Dia Mundial da Criança e o Dia do Imigrante. Por criar está ainda uma loja solidária, para "apoiar com vestuário e alimentos pessoas necessitadas".

1.2.3. Associação Unida e Cultural da Quinta do Mocho

A Associação Unida e Cultural da Quinta do Mocho é uma instituição sem fins lucrativos, representativa de cerca de 3.500 habitantes da Quinta de Mocho (na Freguesia de Sacavém) e nascida da vontade de moradores provenientes de diversos Países de Língua Oficial Portuguesa que começaram por criar quatro Comissões de Moradores constituídas por etnias presentes no bairro (Guiné-Bissau, Cabo-Verde, S. Tomé e Príncipe e Angola) e agiram, de forma organizada, para obterem melhores condições de vida. Em outubro de 1993 estas Comissões fundiram-se numa só, criando a atual associação que, em março de 1995, viu o seu estatuto aprovado.

Esta associação tem desenvolvido ações no sentido da valorização do núcleo residencial da Quinta de Mocho, abrangendo várias valências tais como a Ação Social, Cultural e Dinamização Desportiva. Ao longo da década de 90, desenvolveu ações na consolidação de infraestruturas inexistentes como saneamento básico, eletricidade, água

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canalizada, etc.. e tem vindo a contribuir para o melhoramento das infraestruturas habitacionais dos moradores do bairro. Em 1996, participou ativamente na legalização extraordinária de imigrantes, em estreita colaboração com o Alto-Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas, o SEF, o Governo Civil de Lisboa e várias Associações de Imigrantes em Portugal. No ano 2001, obteve o reconhecimento pelo ACIME.

Como Parceira de Intervenção Comunitária (PIC), projeto organizado pela Câmara Municipal de Loures, esta associação tem evidenciado esforços para a consolidação de iniciativas organizacionais no bairro, implementando projetos que incidem, particularmente, nas áreas desportiva e informática, e que têm como principais destinatários os jovens do bairro, com o objetivo de lhes proporcionar formação e uma saudável ocupação dos tempos livres.

A associação fornece vários serviços, tais como o encaminhamento na aquisição de documentos (Autorização de Residência, Atestados de Residência e Pobreza), fotocópias a cores e preto/branco, apoio jurídico, utilização de Internet e prestação de serviços de comunicação e informáticos.

1.2.4. AMRT – Associação de Melhoramentos e Recreativo do Talude

Esta associação, fundada em 27 de agosto de 1993, no Bairro do Talude, no Catujal, é uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), desde 2002, com o objetivo de apoiar as crianças e jovens, prestar apoio a famílias, contribuir para a integração social e comunitária, promover a cidadania e apoiar a educação e a formação profissional dos seus membros. Em 2003 foi-lhe reconhecida a sua representatividade pelo ACIME.

Em 2004 iniciou o apoio documental e a prestação de outros serviços na freguesia, através do Gabinete de Apoio ao Imigrante e do Gabinete de Apoio à Família.

Para além de múltiplas ações e projetos vários que têm como objetivo a melhoria das condições de vida dos cidadãos da comunidade, a associação reconhece que o domínio da língua e da cultura portuguesas é uma necessidade para quem, não tendo conhecimentos de português, pretende ter acesso à nacionalidade portuguesa, à autorização de residência permanente e/ou ao estatuto de residente de longa duração. Assim, a associação disponibiliza ações para quem, já tendo conhecimentos de

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português, precisa de melhorar e aprofundar as suas competências. As ações de português técnico – nas áreas do comércio, hotelaria, cuidados de beleza, construção civil e engenharia civil – com certificação possibilitam um maior acesso profissional e uma melhor integração no mercado de trabalho.

Na área da educação, a associação disponibilizou, desde setembro de 2012 a março de 2014, formações modulares certificadas, de curta duração (25h/50h), que permitiram a aquisição de novos conhecimentos em diferentes áreas: serviço de apoio a crianças e jovens; trabalho social e orientação, audiovisuais e produção em media, marketing e publicidade, formação de base… Estas formações disponibilizaram acumulação de créditos, para quem pretendesse realizar um percurso de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC), e destinaram-se a jovens e a adultos ativos com baixas qualificações escolares ou qualificações desajustadas às necessidades do mercado de trabalho.

Geralmente os primeiros contactos entre os cidadãos e a AMRT são efetuados quando se dirigem à associação, uma vez que esta já existe há mais de 10 anos, as pessoas têm já conhecimento dos serviços e a informação se faz de boca em boca. Muitas vezes é feito o acompanhamento dos utentes via telemóvel, por voz (menos vezes por mensagem de texto, pois muita gente não sabe comunicar por este meio). O correio eletrónico também não é muito usado para solicitar informações, porque muitos utentes não têm acesso a este tipo de comunicação nem dominam este recurso.

1.2.5. Associação Comunidade Islâmica da Tapada das Mercês e Mem-Martins

A associação foi formada para abranger, prestar serviços e possibilitar atividades a toda a população da área geográfica do concelho de Sintra. A população que mais recorre às atividades prestadas pela associação é caracterizada por um nível social e económico baixo ou médio baixo. Na sua grande maioria este segmento de população é imigrante, proveniente principalmente da Guiné-Bissau, Guiné-Conacri, Senegal, Angola, Cabo Verde, Brasil, Moçambique, Índia e Paquistão.

A associação apoia cerca de 400 famílias do concelho de Sintra e prevê um aumento deste número, num futuro próximo. Apostando nas redes de parceria, pretende conhecer as fragilidades e as potencialidades da população, de modo a planear uma

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intervenção adequada, partilha de experiências, de recursos e de ações capazes de promover uma cidadania ativa e alcançar objetivos prioritários: aumentar o sucesso na aprendizagem da LP dos imigrantes; desenvolver a aquisição de competências pessoais e sociais; ocupar os tempos livres das crianças e jovens, de forma positiva.