• Nenhum resultado encontrado

II. Enquadramento teórico, histórico e conceptual

2. As sessões de ensino de português

2.1.3. Terceira análise: o ritmo das aprendizagens

O que ficou por fazer? O que mais poderia ter sido feito para que as sessões tivessem em conta os objetivos dos formandos? Será que as sessões foram suficientes e foi respeitado o ritmo de aprendizagem de cada um?

Relativamente aos objetivos específicos de ensino/aprendizagem do curso de ENF, importa relembrar que a formação visa aperfeiçoar o nível de português dos formandos para eles se integrarem melhor no seu país de acolhimento, Portugal. Dezoito deles afirmaram que pretendiam adquirir a nacionalidade portuguesa através do exame do Sistema de Avaliação e Certificação do Português Língua Estrangeira, nível A2 – Utilizador Elementar. Portanto, o ensino/aprendizagem foi organizado praticamente de acordo com os requisitos do exame.

Para que a análise das sessões observadas seja o mais objetiva possível, reportamo-nos aos descritores do QECR e, para cada atividade observada em cada sessão, apresentamos as competências que os formandos revelaram, enquanto aprendentes de português. A descrição abrange também os temas tratados.

De salientar que, nas sessões observadas, não foi possível verificar se todos os alunos estariam no mesmo patamar de competências porque, nessas sessões, nem todos fizeram intervenções orais e os intervenientes não o foram em todas as questões. No entanto, ao longo da investigação, foram notórios, nas participações orais, o alargamento do vocabulário e o aumento do grau de dificuldade dos textos, das situações de comunicação e das tarefas realizadas.

Não assistimos a atividades explícitas de prática de escrita, embora tivéssemos presenciado apresentações orais baseadas em trabalhos escritos realizados em casa e verificássemos que a formadora também corrigia a escrita dos formandos, indiretamente, escrevendo a palavra, a expressão ou a frase no quadro, ou diretamente, dirigindo-se ao que alguns escreviam nos seus cadernos. O trabalho escrito foi, algumas vezes, referido em sessões como recordação de vocabulário e expressões portuguesas usadas e já trabalhadas pelos formandos.

Constatámos a aquisição de competências comunicativas em língua, em vários contextos, através de diferentes atividades linguísticas que pressupunham prévios processos linguísticos. Por isso, poderemos afirmar que seria uma prática relativamente regular a avaliação escrita dos formandos por parte da formadora.

77

A apresentação de critérios objetivos na descrição da proficiência permite-nos o reconhecimento de qualificações obtidas em diferentes contextos de aprendizagem. Também será correto afirmar que as sessões foram planificadas e decorreram com orientações para a ação, na medida em que os formandos cumpriram tarefas em circunstâncias e ambientes determinados, em diferentes domínios de atuação. Esta abordagem orientada para a ação levou frequentemente em linha de conta os recursos cognitivos, afetivos, volitivos e o conjunto das capacidades que cada formando possuía e colocava em prática, quer em intervenções pontuais, quer em participações à turma, antecipadamente planificadas.

Os objetivos gerais a atingir seriam, portanto, os correspondentes ao nível de proficiência A2, descritores correspondentes às competências do utilizador elementar exigidas no exame CIPLE do CAPLE:

“É capaz de compreender e usar expressões familiares e quotidianas, assim como enunciados muito simples, que visam satisfazer necessidades concretas. Pode apresentar-se e apresentar outros e é capaz de fazer perguntas e dar respostas sobre aspetos pessoais como, por exemplo, o local onde vive, as pessoas que conhece e as coisas que tem. Pode comunicar de modo simples, se o interlocutor falar lenta e distintamente e se mostrar cooperante.” (CONSELHO DA EUROPA, 2001:49).

Relembramos que as condições de trabalho estavam sujeitas a várias limitações: relativa impossibilidade de realização de atividades de interação com a comunidade, uma vez que as sessões se realizavam fora dos horários de funcionamento de grande parte dos serviços envolventes; os meios disponíveis para as sessões não permitiam a utilização de todo o tipo de estratégias. Seria, por exemplo, difícil a visualização de filmes, uma vez que os computadores disponíveis não eram compatíveis com certos recursos da formadora e eram em número insuficiente; também não seria exequível a realização de uma tarefa individual de pesquisa ou a realização de um exercício autocorretivo, por exemplo; o número de computadores (seis) não permitia sequer a realização de tarefas em grupo; a audição de textos só foi possível porque a formadora usou o seu próprio portátil; o quadro da sala encontrava-se em muito mau estado; não existia apagador; as fotocópias cedidas aos alunos tinham muito pouca qualidade; não havia possibilidade de projetar documentos visuais ou audiovisuais…

78

Foi-nos dito pela formadora que as sessões foram planificadas tendo em conta o diagnóstico realizado e a consequente necessidade de atingir (para a maioria dos formandos) ou de solidificar (para outros) os objetivos do nível A1 do QECR.

Consideramos importante o registo de duas situações. Nas sessões do curso na AMRT estiveram presentes quatro formandos não escolarizados que revelaram competências de compreensão e de expressão orais, o que lhes permitia comunicar em vários contextos. A implementação de estratégias de aprendizagem da escrita para esses formandos foi observada e foi testado que já liam e escreviam letras, algumas palavras, e muitos deles pequenas frases.

Na turma existia ainda um formando com algumas dificuldades cognitivas que exigiam mais tempo de acompanhamento quer da formadora, quer dos colegas.

A heterogeneidade do grupo da AMRT contribuiu para uma riqueza de aprendizagens que foram para além da LP. O que cada um dos formandos partilhou com os outros e o contributo que cada ator na sala deu desenvolveram, nos outros, características que num grupo mais uniforme não teriam sido atingidas. Mas as diversidades também tornam difícil o acesso de todos aos objetivos que se pretendem atingir, sobretudo num período de tempo que não permite trabalho mais intensivo em certas áreas menos conseguidas.