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2.3 Aspectos do usuário

2.3.2 Avaliação Pós-Ocupação

O objetivo da Avaliação Pós-ocupação (APO) é verificar, a partir da realidade apresentada ao ser humano, a influência do espaço no comportamento e vice-versa, sua utilização, as adaptações realizadas, bem como os pontos positivos e negativos do ambiente construído. Os resultados podem levar a novos caminhos para projetos com características semelhantes e, sobretudo, virem a ser utilizados para adaptações, reformas e reorganizações dos ambientes estudados (ORNSTEIN,1995).

Konis (2011) destaca que, se as estratégias de projeto de iluminação natural implementadas em construções inovadoras devem ser consideradas protótipos de sucesso para construções futuras, é necessário validá-las através de APO. Por meio da APO será possível fornecer feedback para comparar o desempenho em uso com a intenção do projeto, a fim de validar os pressupostos de concepção projetual e diagnosticar o que está funcionando e o que não está a respeito das estratégias de projeto de iluminação natural e das tecnologias implementadas.

Nesse sentido, considera-se que "o projetista tem muito a ensinar aos usuários da edificação sobre como a edificação deveria funcionar e tem muito a aprender deles sobre como a edificação é usada" (BAIRD et al.,1984 apud SOUZA, 2005, p.32).

2.3.2.1 Referencial teórico sobre métodos e técnicas de pesquisa em APO

Dentre os instrumentos e ferramentas consolidados em pesquisas e estudos sobre as relações pessoa-ambiente e sobre a avaliação do desempenho do ambiente construído, ou APO, no âmbito do presente trabalho, destaca-se o uso de técnicas de observação do comportamento do usuário e entrevistas.

2.3.2.1.1 Observação do comportamento do usuário

Conforme Sommer e Sommer (2002), a observação é o método ideal para o estudo de comportamentos não-verbais comuns, tais como gestos, posturas, ou formas de ocupação do espaço, em que as pessoas podem não estar conscientes de como elas agem. O comportamento é mais variável no ambiente natural do que em um laboratório onde tudo é organizado pelo pesquisador, ou em resposta a itens pré-determinados. Os resultados da observação natural podem ser inesperados e surpeendentes, e incluirem comportamentos não previamente relatados. Existem três tipos de procedimentos de observação: observação casual, observação sistemática e observação participante. No âmbito do presente trabalho destacam-se os conceitos de observação casual e observação sistemática.

A observação casual ocorre sem pré-organização de categorias e refere-se à inspeção visual do que está acontecendo. É mais usual no estágio inicial da

pesquisa, ou como acompanhamento de algum outro procedimento. Esta observação produz informações indispensáveis para o desenvolvimento de boas questões de pesquisa.

A observação sistemática requer método e objetivos bem definidos pelo pesquisador, empregando-se pré-organização de categorias que serão consistentemente analisadas, segundo formas e técnicas de registros adequadas.

2.3.2.1.1.1 Fotografia sequencial - time lapse

Trata-se de uma técnica fotográfica que dá uma visão acelerada a eventos que mudam lentamente, onde várias fotografias são capturadas com intervalos de tempo fixos entre um quadro e outro. Estes intervalos podem durar alguns segundos ou minutos, dependendo do que está sendo observado e do efeito que se deseja gerar.

Conforme Whyte (2001), através da time lapse é possível multiplicar-se como observador, estudar várias áreas simultaneamente, e fazê-lo com uma precisão e resistência que um ser humano dificilmente poderia atingir. Como se o tempofosse armazenado para recuperá-lo em estudo posterior, reproduzindo a realidade de forma fidedigna.

Kossoy (1980 apud POLIDORI, 2012), destaca que é necessário o arquivamento cuidadoso das fotografias para garantia de uma interpretação mais fiel da realidade investigada, sendo que a memória da fotografia deve ser preservada para utilização como dado do pesquisador.

São feitas as seguintes recomendações para os estudos que utilizam essa técnica (WHYTE, 2001):

- a localização da câmera deve proporcionar visual clara da área a partir de um ângulo baixo e oblíquo;

- o intervalo deve ser curto o suficiente para que não se perca nenhum movimento significativo, sendo que, para padrões de ocupação recomenda-se o intervalo de 10 segundos;

- devem ser gravados os dados do equipamento, lugar, data, tempo, intervalo e nome do autor.

2.3.2.1.2 Entrevistas

A entrevista é definida por Haguette (1997, p.86) como um “processo de interação social entre duas pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem por objetivo a obtenção de informações por parte do outro, o entrevistado”.

Conforme Rheingantz et al. (2009), a entrevista pode ser definida como um relato verbal ou uma conversação buscando atender determinado objetivo, capaz de gerar um conjunto de informações sobre o que as pessoas pensam, sentem, fazem, conhecem, acreditam e esperam.

A preparação da entrevista é etapa fundamental da pesquisa, que demanda tempo e cuidados especiais, tais como: o planejamento com foco no objetivo a ser alcançado; a escolha do entrevistado, que deve ser alguém que tenha afinidade com o tema; o momento de realização da entrevista, levando-se em conta a disponibilidade do entrevistado em fornecer a entrevista e o agendamento prévio para que o pesquisador se assegure que será recebido; as condições que garantam ao entrevistado a confidencialidade de informações pessoais e de sua identidade; e, por fim, a preparação cuidadosa do roteiro ou formulário com as questões a serem respondidas (LAKATOS; MARCONI, 1996).

No âmbito do trabalho proposto, destaca-se a técnica da entrevista semi- estruturada. Conforme Boni e Quaresma (2005), as entrevistas semi-estruturadas combinam questões abertas e fechadas e permitem ao entrevistado discorrer sobre a temática apresentada. As questões definidas previamente servem como um roteiro a ser seguido pelo pesquisador em um contexto semelhante ao de uma conversa. O entrevistador deve ter cuidado para guiar a discussão dentro do assunto que o interessa, fazendo perguntas adicionais quando necessário, de maneira a elucidar questões que não tenham ficado claras ou para retomar o contexto da entrevista em situações em que o entrevistado tende a fugir ao tema. Essa técnica de entrevista é muito empregada nos casos em que se necessita delimitar o volume de informações obtidas com um direcionamento maior para o tema, dentro dos objetivos propostos.