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No contexto habitacional, a APO surge como uma ferramenta eficaz de avaliação sistemática do ambiente construído, incluindo o usuário nesse processo. Segundo Romero e Ornstein (2003), a APO é um conjunto de métodos e técnicas que busca aferir o grau de satisfação dos usuários e o atendimento das suas necessidades a partir do diagnóstico dos fatores positivos e negativos do ambiente no período de uso. É recomendado que os fatores positivos sejam cadastrados e utilizados na elaboração de projetos futuros, e os negativos embasem pesquisas que realimentam ciclos de processos de produção futuros, pois a APO faz parte de um sistema processual construtivo, conforme mostra a Figura 7.

Figura 7 – Esquema da APO

Fonte: ROMERO; ORNSTEIN, 2003.

Segundo Lay e Reis (1993), essa ferramenta objetiva utilizar a informação para a melhoria do próprio espaço construído, e traduzir a informação obtida em forma de recomendações e diretrizes, evitando aspectos negativos de desempenho, fazendo com que aspectos positivos sejam incorporados em projetos semelhantes ao avaliado.

Conforme Preiser (2002), a APO é projetada para sistematicamente avaliar o desempenho das construções depois de edificadas e ocupadas por algum tempo pelos usuários. Esta abordagem é focada nos requerimentos dos ocupantes das construções, incluindo saúde, segurança, funcionalidade e eficiência, conforto psicológico, qualidade estética e satisfação, o que difere de outras avaliações de desempenho dos edifícios.

Um grande avanço nas pesquisas em torno da APO em nosso país foi verificado desde o seu início, nas décadas de 70 e 80. As pesquisas foram iniciadas em meio acadêmico e, posteriormente, expandidas para universidades, como um conjunto de métodos passíveis de serem aplicados nos ambientes em uso (GALVÃO; ORNSTEIN; ONO, 2013). Para os autores, as pesquisas alimentadas por resultados da APO demonstram que os mesmos podem ser aplicados em todas as etapas construtivas, desde a fase de projeto até a execução e a manutenção.

De acordo com Ornstein (2005), a APO ocupa-se de fazer avaliações comportamentais e avaliações técnicas no ambiente construído, as quais podem sofrer alterações em razão do objetivo pretendido, conforme a classificação ilustrada no Quadro 1.

Quadro 1 – Aspectos de Avaliação de uma APO

Fonte: ORNSTEIN, 2005.

Atualmente, nota-se uma gama bastante ampliada de métodos e técnicas utilizadas na APO, dependendo do tipo de avaliação que se pretende desenvolver. Nakamura (2013) assevera que a APO é um conjunto de métodos e técnicas que visa a avaliar o desempenho de edificações em uso, considerando não somente o ponto de vista do arquiteto, mas também o grau de satisfação dos usuários. Quando bem-realizada, a APO pode gerar diagnósticos para fundamentar recomendações e intervenções no edifício, além de fornecer informações importantes para respaldar projetos similares no futuro.

Outras ciências, além das relacionadas à arquitetura e ao urbanismo, são relevantes para uma maior fundamentação das ações planejadas na APO (ORNSTEIN, 2005). A psicologia ambiental, a antropologia e a filosofia são as áreas que mais se relacionam com a Avaliação Pós- Ocupação funcional e comportamental dos espaços habitacionais. Já a mescla de vários métodos na APO, qualitativos e quantitativos, fundamenta-se na possibilidade da coleta de diferentes tipos de dados, permitindo, principalmente, contrabalançar os possíveis desvios/tendências dos resultados (LAY; REIS, 1993).

Alguns autores indicam que, para que os complexos problemas de pesquisa e aplicações na área do ambiente-comportamento fossem compreendidos, fez-se necessária a aceitação tanto dos métodos quantitativos quanto dos qualitativos, configurando o que se convencionou chamar de múltiplos métodos. Segundo Baptista (2009), o método qualitativo focaliza a determinação de validade da investigação, e o quantitativo consiste em medições a partir de avaliações físicas realizadas mediante levantamentos e avaliações comportamentais, utilizando questionários, entrevistas e observações de comportamento que expressem o grau de satisfação dos usuários.

Três critérios podem ser apontados para avaliar delineamentos estatísticos e metodológicos: representatividade, aleatoriedade e realismo. Dificilmente um único estudo apresentaria todas estas qualidades, mesmo que constituíssem características predominantes da observação, do experimento e do levantamento de dados. Ao escolher um ou outro desses métodos, assume-se, necessariamente, uma solução de compromisso com o resultado final do trabalho (GÜNTHER; ELALI; PINHEIRO, 2004).

Para a aplicação da APO foi necessária a definição dos procedimentos metodológicos, incluindo uma clara caracterização de seus objetivos, critérios de qualidade e tipos de técnicas de pesquisa que deveriam ser utilizados. Na concepção de Ornstein (1992), essa metodologia difere- se das demais por considerar questões relativas ao projeto e à construção, além de priorizar aspectos de uso, operação e manutenção, essencialmente do ponto de vista do usuário.

A técnica usada para o levantamento de dados é aplicada pelo próprio pesquisador (avaliador), a qual possibilita o acesso às informações iniciais sobre o projeto em estudo. Essas técnicas são usadas sobre o programa habitacional em que os empreendimentos se inserem, como o caso da localização dos empreendimentos, restrições urbanísticas e demais legislações cabíveis, infraestrutura urbana instalada, participação dos gestores públicos, informações gráficas sobre os projetos (plantas e demais desenhos técnicos), dados gerais sobre os conjuntos (número de

unidades, ano de construção e entrega, profissionais e empresas responsáveis pela concepção, construção e manutenção dos empreendimentos, entre outros) e aspectos de sustentabilidade oferecidos.

De acordo com Tavares (2008), na medida em que se coloca o avaliador como centro da avaliação, reforça-se a ideia de avaliação como produção de conhecimento, o que faz, portanto, que tais sujeitos (avaliador e pesquisador) se aproximem ou se fundem na APO.

A partir da ótica de Rheingantz (2009), uma característica considerada fundamental à avaliação pós-ocupação é a incorporação de métodos avaliativos para os pesquisadores, ou observadores, no sentido de utilizar como dado também a experiência sobre o assunto do observador.

Assim, o foco principal desta técnica consiste em aferir o nível de satisfação geral dos moradores tanto em relação aos espaços privados – relativos à unidade habitacional – quanto aos coletivos e públicos.

2.3.1 Aspectos técnicos a serem avaliados na APO

Com base nas constatações anteriores, entende-se que a aplicação da APO deveria estar implícita no cotidiano de todos os profissionais nos campos da arquitetura e do urbanismo, da engenharia civil e do design, com o intuito de ampliar a qualidade de seus processos de projetos e produtos. Saber como se comporta efetivamente o usuário no ambiente construído, deveria ser uma prática corrente entre os diversos agentes deste mercado em diferentes esferas (pública, institucional, privada, coorporativa, entre outras).

Segundo o apresentado por Bertezini (2006), alguns aspectos técnicos podem ser avaliados nas pesquisas; eles estão relacionados ao desempenho da edificação, ao sistema construtivo, à segurança e ao conforto.

a) Estrutura: durabilidade do material, patologias, deformações, efeito do vento em edificações mais altas, interface entre materiais diferentes (exemplo: concreto armado e bloco de concreto), vibrações, entre outros (BERTEZINI, 2006).

b) Ventilação e saneamento: qualidade e quantidade da ventilação natural, existência de ventilação cruzada, conservação dos dutos de ventilação artificial (caso existam) (BERTEZINI, 2006).

c) Instalações elétricas: instalação de novos equipamentos ou cabos para redes, fibra óptica, manutenções necessárias, etc. (BERTEZINI, 2006).

d) Elementos internos (vedações, forros, pisos...): estética, uniformidade das peças, durabilidade, estanqueidade das esquadrias, facilidade de substituição, resistência dos materiais, etc. (BERTEZINI, 2006).

e) Conforto acústico: garantia de repouso dentro das condições naturais, nível de ruído vindo de áreas externas e internas, etc. (BASSO; MARTUCCI, 2002).

f) Conforto lumínico: o que o usuário deseja é realizar suas atividades sem fazer esforço visual excessivo e sem que haja obscurecimento; o conforto luminoso serve tanto para a iluminação natural quanto para a artificial (BASSO; MARTUCCI, 2002).

g) Conforto térmico: devem ser analisados ganhos de calor, relativos à posição solar e presença humana e demais equipamentos elétricos, e perda de calor relativa à ventilação tanto natural (pela ação do vento) quanto artificial (MARTUCCI, 2002).

2.3.2 Expectativa e necessidade do cliente/usuário

Com o foco nos usuários e, consequentemente, em suas necessidades, a APO permite a formulação de ideias e estratégias relacionadas com as consequências do projeto e com o desempenho do ambiente analisado. Desta forma, aumentam as possibilidades de melhorar a qualidade de vida dos usuários dos ambientes construídos, bem como viabilizar as bases para a construção de bancos de dados com informações e conhecimentos sobre o ambiente construído e sobre as relações e comportamentos que são nele desenvolvidas (SOUZA; RHEINGANTZ, 2006). Para analisar a demanda, de acordo com o apresentado pelos autores, é necessário levantar informações do público-alvo a ser atingido e entender seu comportamento, saber seus desejos e necessidades para, assim, projetar um produto no mercado que está em falta. Meira e Oliveira (2009) ressaltam a importância de levar em consideração as pesquisas realizadas em torno das necessidades dos usuários, contudo, por muitas vezes, essas necessidades são temporais, em razão do grande número de mudanças ocorrentes no cotidiano das pessoas hoje em dia; logo, o que é satisfatório hoje pode não ser amanhã.

Consoante Círico (2002), o potencial construtivo do empreendimento ainda dependerá de outros aspectos, como o código de obras do município e zoneamento, todavia, às vezes, a determinação do tamanho das áreas das habitações é realizada por um programa de necessidades feito sem pesquisa aplicada de maneira correta em meio ao seu mercado consumidor.

2.3.3 Satisfação do usuário

Galster (1987) defende que o significado de satisfação do usuário não pode ser desassociado do fato de que as pessoas baseiam suas opiniões em critérios de comparação entre seu ambiente atual e suas aspirações futuras, recebendo influência de características como classe social e faixa etária.

A avaliação pode ser considerada a atribuição de valor a um determinado objeto, o que está fortemente ligado ao juízo do avaliador. Deste modo, a avaliação do usuário está relacionada aos conceitos de percepção e satisfação. Para Gifford (1996), a percepção caracteriza-se por ser a coleta inicial de informações por meio dos sentidos. O termo percepção, chamado também de percepção ambiental, é utilizado em um aspecto mais amplo, ou seja, como o usuário avalia o ambiente a partir do seu entendimento.

Quanto à satisfação, não há concordância em relação à qual tipo de modelo de avaliação ela corresponda. Vários autores configuram a satisfação de modo diferente, posto que alguns a classificam como genuinamente cognitiva, outros como a satisfação sendo um sentimento. Assim, a satisfação aproxima-se do conceito relacionado à qualidade de vida, associada tanto à percepção do indivíduo quanto às suas vivências e desejos.

É necessário conhecer as edificações tecnicamente e do ponto de vista dos usuários para analisar a qualidade do projeto e o nível desses usuários. Conforme Lay e Reis (1993), a satisfação das pessoas coma habitação é influenciada por aspectos físicos-especiais ou aspectos do projeto, que desempenham um papel importante na qualidade da habitação.

Neste contexto, o Instituto de Estudos Especiais da PUCSP (IEE, 2006) trata o conceito de satisfação dos usuários por meio da avaliação do morador sobre as suas edificações de moradia e serviço, bem como os efeitos provenientes da execução do projeto na vida social e comunitária. É necessária a avaliação dos moradores sobre a situação dos seguintes indicadores: abastecimento de água, esgoto sanitário, iluminação pública, acesso de veículos e pedestres, serviços e equipamentos sociais, transporte público, segurança e adequação das unidades às necessidades da família.

3 MÉTODO DE PESQUISA

A base desta pesquisa será a realização de uma APO no estudo de caso que será desenvolvido na área constituída por unidades habitacionais isoladas de interesse social, na cidade de Ijuí, RS. A metodologia empregada levará em conta dados quantitativos/qualitativos coletados junto aos usuários das residências, para que os mesmos possam ser analisados pela autora desta pesquisa.

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