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20 08/07 2  SEMANA DE PROVAS 21 15/07 2  FEIRA DE CIÊNCIAS

6.4 Avaliação do produto educacional

Outro objetivo específico deste trabalho é avaliar a aprendizagem proporcionada aos estudantes por meio do referido produto educacional e identificar possíveis adaptações que possam melhorar o produto aplicado. Segundo a Teoria da Transposição Didática, boa parte das transformações sofridas pelo saber sábio até chegar ao ambiente escolar se dá fora desse ambiente, consideravelmente longe do sistema didático. Trata-se da chamada Transposição Didática Externa, que pode ser identificada com a transposição do saber sábio para o saber a ensinar. Os membros da noosfera são os principais responsáveis por essa etapa. Como a noosfera é composta por uma imensa variedade de atores, dos mais diversos setores da sociedade, ela é inacessível dentro do escopo deste trabalho. Sendo assim, é inviável avaliar diretamente se uma nova proposta de texto de saber ou de plano de aula satisfaz ou não os requisitos impostos pena noosfera, refletidos essencialmente pelos parâmetros elencados no final do Capítulo 4 .

Entretanto, diante dessa impossibilidade, há uma alternativa: partir do princípio que os planos de aula elaborados nesse trabalho satisfazem os anseios da noosfera. Embora essa suposição seja questionável, há dois argumentos que lhe dão credibilidade. O primeiro argumento é que, na elaboração do produto educacional, o autor levou em conta a consensualidade, atualidade (moral e biológica), operacionalidade e criatividade didáticas, conforme discutido na seção 6.2 do presente texto.

O segundo argumento é que as principais fontes de pesquisa utilizadas na elaboração dos planos de aula já passaram, de alguma forma, pela peneira que é a noosfera. Os livros didáticos do PNLD 2015, por exemplo, como discutido na seção 3.2, passaram por uma análise criteriosa (de membros da noosfera) antes de se tornarem candidatos a adoção nas escolas públicas brasileiras. Aqui, identificam-se os critérios adotados pelo PNLD como critérios da noosfera, o que é bastante razoável. Outros livros, não constantes na lista do PNLD e que também forneceram alguns fomentos aos planos de aula, são livros consagrados no mercado de trabalho (e a sobrevivência no mercado de trabalho é fruto da ação da noosfera). Além disso, a própria publicação de qualquer livro passa pelo crivo das editoras (também membros da noosfera). Artigos científicos constituem outra fonte de fomento para o produto educacional, que passaram pelo crivo da comunidade científica (membros da noosfera). Assim, se os planos de aula e material de apoio elaborados nesse trabalho guardam

alguma semelhança, em aspectos metodológicos e de conteúdo, com livros e artigos que já passaram pelo crivo da noosfera, sugere-se que esses planos e materiais estão de acordo com as expectativas da noosfera.

Feitas estas observações a respeito da Transposição Didática Externa, resta avaliar a eficácia da Transposição Didática do saber a ensinar para o saber ensinado, denominada Transposição Didática Interna, cujo principal ator é o professor em regência dentro do sistema didático. O objetivo dessa transposição é fazer com que o saber dos alunos, após percorrerem os caminhos propostos por meio dos planos de aulas (texto do saber), dentro do tempo didático conduzido pelo professor, coincida com o saber a ensinar. Assim, a eficácia dessa etapa pode ser avaliada por meio do desempenho dos alunos nas avaliações propostas pelo professor (provas, elaboração de cartazes, apresentações de trabalhos, por exemplo) e pela análise das ocorrências em sala de aula que levaram os alunos a externarem o entendimento que vinham tendo do assunto (dúvidas apresentadas pelos alunos, respostas a perguntas feitas pelo professor, questionários antes e depois da leitura de algum material, entre outros).

Com essa visão, para cada tema abordado nos planos de aula foram propostos alguns métodos para avaliação do entendimento dos alunos e do produto educacional. O Quadro 2 da página 64 apresenta um esquema com as estratégias utilizadas e pode ser consultado para que o leitor melhor acompanhe a descrição de cada uma delas a seguir.

Na aula que abordou o tema 1, as turmas foram divididas em cinco grupos e cada qual ficou responsável por apresentar o seu entendimento de um dos textos de apoio por meio da elaboração de até dois cartazes e apresentação oral baseada neles. Os cartazes foram fotografados e as apresentações orais foram filmadas para posterior análise. Além disso, questões sobre o tema foram abordadas na prova do 1º bimestre.

O tema 2 foi apresentado por meio da leitura individual de um texto como atividade para casa. Sendo assim, uma análise mais qualitativa foi feita no sentido de avaliar a qualidade desse texto, na percepção dos alunos, e levantar as dificuldades que eles tiveram na leitura, buscando indícios que permitissem avaliar se o texto correspondeu a uma boa transposição didática (interna) do assunto para o nível dos alunos de 1º ano do ensino médio. Para tanto, antes de receberem os textos, os alunos responderam em sala um questionário prévio. Esse questionário visava: 1) levantar qual o percentual de alunos que teve contato

formal ou não com a Mecânica Relativística antes daquele momento (questões 1, 2 e 3); 2) aplicar um pré-teste sobre a possível compreensão do 2º postulado antes da leitura (questão 4); e 3) avaliar a compreensão do conceito de velocidade relativa clássica, entendida como pré-requisito para a leitura do texto (questão 5)16.

Após terem lido o texto abordando o tema 2, antes de discuti-lo em sala de aula, os alunos responderam um 2º questionário, denominado “questionário após a leitura da apostila”. Este continha algumas perguntas próprias para os alunos que declararam ter lido o texto em casa e outras específicas para os que declararam não ter lido. No primeiro caso, buscou-se investigar a qualidade do texto de apoio (apostila), se houve algum trecho que o aluno teve mais dificuldade para compreender, por exemplo. No segundo caso, buscou-se levantar os motivos que levaram o aluno a não ler o texto e se, apesar disso, ele considerava importante esse tipo de atividade de leitura da aprofundamento. Em ambos os casos, repetiu-se a questão 4 do questionário prévio à leitura (pós-teste sobre a compreensão do 2º postulado). Vale reforçar que esses questionários foram respondidos antes de qualquer interferência do professor sobre o assunto, isto é, as respostas levaram em conta somente o conhecimento prévio dos alunos e a leitura da apostila, efetuada (ou não) em casa.

Após a aplicação desse 2º questionário, seguiu-se com a discussão do texto em sala de aula. Essa discussão foi filmada para análise posterior. Por fim, questões sobre o tema 2 foram abordadas na prova do 1º bimestre.

O tema 3 foi desenvolvido por meio de uma discussão inicial sobre trechos do filme Interestelar (2014) e de uma apresentação oral efetuada pelo professor baseada em slides. Durante todo o tempo estimulou-se a participação dos alunos, para levantar indícios da compreensão do que se discutia no decorrer da aula. Essa discussão também foi filmada e, além disso, foi observada pela Prof. Dra. Vanessa Andrade, que posteriormente redigiu um relatório sobre a atividade. Além disso, questões sobre o tema 3 foram cobradas na prova do 2º bimestre.

O tema 4 foi abordado por meio da discussão da analogia entre um lençol e o espaço- tempo deformado, apresentando o conceito relativístico de deformação do espaço-tempo

como uma alteração da Lei da Inércia da Mecânica Clássica. Uma atividade contendo uma série de exercícios sobre o que acabara de ser exposto foi desenvolvida pelos alunos, organizados em duplas. Essa atividade deve ser enxergada mais como uma atividade de fixação do que como uma avaliação de aprendizagem, visto que, durante a realização da mesma, os alunos contaram com o constante apoio do professor, buscando esclarecer todas as dúvidas. Toda a discussão foi filmada para posterior análise da participação dos alunos, inclusive as perguntas efetuadas ao longo da resolução da atividade de fixação. Além disso, questões sobre o tema 4 foram cobradas na prova do 2º bimestre.

O capítulo a seguir apresentará as análises e resultados obtidos na implementação desse projeto. Mas caso o leitor esteja interessado em maiores pormenores da dinâmica vivida em sala de aula, há relatos detalhados da aplicação do produto educacional no apêndice F e anexo B, ao longo dos quais já se desenvolvem análises preliminares.