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Parte I – Enquadramento Teórico

1.4 Avaliação e Intervenção Psicológica

1.4.1 Avaliação Psicológica

Após a compreensão das problemáticas existentes na primeira infância, particularmente as dos casos estudados, torna-se igualmente relevante a compreensão de como deve ser efetuada a avaliação e a intervenção psicológica, sendo este um dos trabalhos fundamentais do psicólogo clínico.

A avaliação psicológica é uma ferramenta exclusiva ao uso do psicólogo. Este tipo de avaliação, contempla a entrevista clínica, a observação (da interação efetuada entre a criança e os pais, e da criança a sós) e posteriormente, se se achar necessário, recorre-se a um plano de testagem psicológica, devidamente pensado e adequado ao cliente em questão para confirmar ou declinar o possível diagnóstico verificado através da

observação (Arcaro, Herzberg, & Trinca, 1999). É fundamental que na avaliação psicológica os resultados obtidos nos instrumentos psicológicos sejam devolvidos à pessoa interessada pelos mesmos, ou seja, no caso das crianças essa devolução é normalmente efetuada aos pais, aos educadores (quando pedido) e à própria criança. Devido a isso, pode-se afirmar que uma das ferramentas mais utilizadas pelos psicólogos durante as suas intervenções terapêuticas são os instrumentos psicológicos. Este tipo de testes são utilizados nas diversas áreas da psicologia, desde os psicólogos clínicos, passando pelos educacionais e também pelos organizacionais (Fine, 2013).

Nos casos de avaliação psicológica em crianças, o psicólogo deve ter presente as particularidades da mesma, nomeadamente as características pessoais e a sua idade. Nem todas as crianças possuem as mesmas capacidades internas, isto é, umas possuem uma maior irritabilidade do que as outras, os níveis de atenção e concentração variam, assim como os estados de sonolência e outro tipo de especificidades. Devido a isso, o psicólogo deverá ser bastante flexível durante a escolha da avaliação a ser utilizada e selecionar o melhor processo para o fazer, para que os resultados obtidos durante a avaliação não sejam distorcidos (Brites, & Pires, 2008).

De acordo com Meyer e os seus colaboradores (2001), a avaliação psicológica permite:

 Averiguar o funcionamento global e atual da pessoa, nomeadamente as habilidades cognitivas, a capacidade de ser independente ou a severidade da Perturbação que possuí;

 Confirmar, alterar ou impugnar as impressões que os clínicos tendem a formar ao longo das observações efetuadas ao cliente;

 Identificar quais as necessidades terapêuticas do cliente, evidenciar determinadas questões que possam emergir durante o tratamento, e permitir uma melhor orientação sobre a forma como intervir segundo os resultados obtidos na avaliação;

 Auxiliar no diagnóstico de diferentes tipos de perturbações quer do foro emocional, cognitivo ou comportamental;

 Supervisionar, ao longo do tempo, o tratamento que está a ser efetuado, permitindo averiguar o sucesso da intervenção ou a existência de novos problemas que necessitam de uma nova atenção após a preocupação original se encontrar resolvida;

 Gerir os riscos que possam advir, tais como a minimização das responsabilidades legais e identificação de reações indesejáveis do tratamento;

 Fornecer capacidades e informar a pessoa de forma empática sobre a avaliação terapêutica realizada.

Segundo a Ordem dos Psicólogos Portugueses (2015), a avaliação psicológica é todo um processo que permite compreender o pedido de avaliação proposto e/ou os problemas que foram anteriormente visualizados em entrevistas prévias. É um processo que deve ser justo e proteger a privacidade da pessoa que recorre a este tipo de serviço.

Conclui-se assim que o principal objetivo da avaliação psicológica não consiste apenas no psicodiagnóstico, pois este depende da tipologia do pedido efetuado, mas sim uma compreensão global da pessoa em questão, com intuito de auxiliá-la o melhor possível.

Este tipo de avaliação, como o nome indica, só pode ser realizada por psicólogos devidamente qualificados, devendo igualmente existir um consentimento informado sempre que se realiza (Ordem dos Psicólogos Portugueses, 2015).

No que se refere aos resultados obtidos na avaliação, para que haja uma melhor objetividade, o psicólogo deve ter em conta o objetivo da avaliação, quais as variáveis que são examinadas com o teste aplicado, as particularidades do examinado, e também contextos e situações que podem influenciar ou até mesmo reduzir a fidedignidade dos resultados obtidos (Ordem dos Psicólogos Portugueses, 2015).

Após o término da avaliação, devem ser comunicados os resultados que foram obtidos de forma clara e objetiva, sendo que a mesma deve surgir através de um relatório que posteriormente é debatido com o examinado numa entrevista de devolução de resultados. Assim sendo, a pessoa terá a oportunidade de esclarecer qualquer tipo de dúvida que tenha surgido ao ler o relatório psicológico (Ordem dos Psicólogos Portugueses, 2015).

A pessoa que solicita uma avaliação psicológica e consequentemente lê o relatório psicológico, não o deve achar pouco objetivo, sem rigor e incompreensível. O mesmo deve ser útil à pessoa que o solicitou, fornecendo-lhe informações pertinentes que consigam responder às questões anteriormente colocadas e ao pedido de avaliação solicitado (Ordem dos Psicólogos Portugueses, 2015).

Neste tipo de relatório deve ser refletido todo o tipo de informação fornecida e as interpretações que possam estar a ser feitas pelo psicólogo que o efetuou (Ordem dos Psicólogos Portugueses, 2015).

No âmbito da ACP, o uso sistemático de avaliação e testes na terapia não é o mais recomendado, nomeadamente após o início de uma intervenção psicológica ou psicoterapêutica, pois a postura de “examinador” não se coaduna com a aceitação positiva incondicional do terapeuta (Bozarth, 1998/2002). Pode porém, ser utilizada sempre que necessário, nomeadamente na avaliação psicológica de crianças pelas questões desenvolvimentais, instrumentais e escolares, ou sempre que o próprio cliente o solicita como forma de autoconhecimento e esclarecimento (Brites & Pires, 2008). Nestes casos, deverá servir o propósito da compreensão global da pessoa, do seu funcionamento afetivo de personalidade e intelectual, a fim de melhor ajudar nas problemáticas apresentadas e pedidos identificados. Apesar de poder ser um meio complementar de compreensão da pessoa, na TCC, o instrumento principal de diagnóstico do terapeuta deve passar pelas seis condições necessárias e suficientes, pela intuição e sensibilidade do psicólogo em questão, assim como pela relação estabelecida com os seus clientes (Hipólito, 2000, citado por Pires, 2003/2004).

A principal crítica que a TCC postula aos outros tipos de psicodiagnósticos existentes, consiste na tendência que os mesmos têm em colocar “rótulos” de diagnóstico na pessoa, que posteriormente irá dispor a mesma numa posição de inferioridade face às restantes pessoas que a rodeiam (Pires, 2003/2004).

Não deve existir suposições sobre aquilo que o cliente poderá vir a ser, a fazer, ou até mesmo a se tornar, ou seja, os quadros de referência provenientes do exterior devem ser abolidos, pois acredita-se que o cliente possui as ferramentas necessárias para chegar ao caminho que deseja (Bozarth, 1998/2002).

Nesta abordagem terapêutica, existem apenas três razões centrais para serem realizados testes psicológicos: a primeira consiste no pedido por parte do cliente em efetuar os respetivos testes; a segunda prende-se com a orientação que está a ser aplicada que faz com que seja fulcral a utilização de testes; e por último, o plano de testagem, que pode ser algo bastante objetivo tanto para o psicólogo como para o cliente, devido ao facto do mesmo advir de uma exigência efetuada pela sociedade onde se insere o cliente ou por uma determinada Instituição (Bozarth, 1998/2002). No que se refere à interpretação dos testes, o psicólogo não deve deixar-se “corromper” pelos resultados que o cliente obteve, mas sim auxiliar a pessoa na compreensão dos mesmos consoante o seu quadro de referências interno para que o auxilie no seu processo de mudança (Bozarth, 1998/2002).