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O Processo Terapêutico na Terapia Centrada no Cliente

Parte I – Enquadramento Teórico

1.4 Avaliação e Intervenção Psicológica

1.4.2 O Processo Terapêutico na Terapia Centrada no Cliente

Na TCC existem três pilares fundamentais que devem ser seguidos pelo terapeuta para que haja sucesso no processo terapêutico: a TA; não diretividade, ou “confiança na capacidade de auto-organização da pessoa”; e as seis condições necessárias e suficientes para que ocorra uma mudança terapêutica (Bozarth, 1998/2002; Hipólito, 2011).

Pode definir-se a TA como uma força intrínseca para o crescimento e desenvolvimento do Homem, ou seja, é uma busca contínua da procura do seu bem-estar, como se fosse um impulso que leva à autonomia da pessoa. Mantém e melhora o organismo do ser humano, e por isso se afirma que é conceito focado no locus de control interno da pessoa. Através da TA, o terapeuta tem de compreender que o seu cliente não deve ser direcionado pois não é isso que procura na relação de ajuda. A seu tempo a pessoa encontrará o seu próprio caminho, sendo que assim a resolução das suas problemáticas torna-se estruturante (Bozarth, 1998/2002).

A não diretividade é um conceito que deriva da TA, devido ao facto do terapeuta ao percecionar que a pessoa é detentora de recursos internos para se autorregular, não necessita direcionar o seu cliente (Santos, 2005). Este mesmo conceito por ser ambíguo e gerar algumas confusões foi posteriormente substituído por Rogers para a confiança na capacidade que a pessoa possui em se auto-organizar.

Para Lundh (2012) de confiar na capacidade que a pessoa possui em se auto-organizar pode ser definido como sendo a forma de percecionar a experiência vivenciada pelo outro através do seu próprio quadro de referências, pondo de parte a sua própria perceção. Nas terapias diretivas, ou seja, que são caracterizadas como tendo uma ajuda imediata, objetivos concretos, que não utilizam as respostas de compreensão empática, onde o terapeuta faz interpretações próprias sobre o cliente, dá conselhos e sugere exercícios, são terapêuticas que não põem em prática este conceito de confiar que a pessoa consegue por si mesma se auto-organizar.

Este conceito sugere alguma discussão entre os vários terapeutas pois alguns acreditam ser um processo fundamental para a terapia enquanto que outros afirmam que é impossível ser-se totalmente não diretivo, optando por procurar outras formas de tratamento que sejam totalmente eficazes e exequíveis (Lundh, 2012).

Ao aprofundar a sua teoria, Rogers e os seus colaboradores chegam à conclusão que para haver um bom processo de mudança é necessário algumas condições, sendo as mesmas suficientes (Freire, Koller, Piason, & Silva, 2005). Rogers (1957; Hipólito, 2011) afirmou que são essenciais seis condições:

1. Existir contacto psicológico entre duas pessoas – É uma condição para haver terapia e para que seja estabelecida uma relação terapêutica. O contacto psicológico é a capacidade que o psicólogo deve ter de entrar no “mundo” do outro, como ele próprio o perceciona. Para além disso deve ser algo mútuo, pois o cliente deve perceber que o terapeuta está aceder à experiência vivenciada por ele mesmo. 2. Um dos elementos tem de estar incongruente (o cliente) – A pessoa que pede ajuda

tem que estar em sofrimento ou vulnerável e não consegue solucionar, no momento em que pede ajuda, as suas problemáticas. Para além disso tem de admitir que se encontra assim para que possa estabelecer uma relação de ajuda com o terapeuta. 3. O outro elemento tem de estar congruente e focado no relacionamento terapêutico

(terapeuta) – Para que uma pessoa possa estar em congruência deve existir uma harmonia de todos os seus processos fisiológicos, bioquímicos, interpessoais, pré- cognitivos, percetuais e ecológicos. Estar congruente envolve um grande nível de consciência por parte da pessoa em questão. Durante a terapia o terapeuta deve ter noção se está ou não congruente e caso não esteja deve perceber o que se passa e tentar alterar essa situação.

4. O terapeuta deve possuir um olhar incondicional positivo para com o seu cliente – Considera-se a ausência de crítica sobre as vivências e as próprias perceções do cliente, isto é, tenta-se compreender o cliente sem elaborar qualquer tipo de juízo de valor.

5. Deve existir uma compreensão empática por parte do terapeuta acerca do seu cliente 6. O cliente tem de percecionar as atitudes do terapeuta (o olhar incondicional positivo

e a compreensão empática).

Estas seis condições são fulcrais no processo de mudança do cliente, independentemente da faixa etária do mesmo. Caso alguma delas não exista todo o processo pode ficar comprometido (Hipólito, 2011).

Na TCC, como já foi anteriormente referido, acredita-se que através da relação que se estabelece entre o terapeuta e o cliente permite que o mesmo encontre o seu próprio caminho e a busca da sua organização. O conceito de estar “centrado na pessoa” é fundamental pois o terapeuta tem de apenas criar uma boa relação para que impulsione a mudança no seu cliente, por isso é importante que o mesmo não tome decisões por ele e que não o guie, mas sim o acompanhe em todo o processo. Tal só acontece se a relação terapêutica for boa (Santos, 2005).

Contudo é importante ter em atenção os outros conceitos que são fundamentais para que haja uma relação terapêutica coesa. É o caso da TA (anteriormente descrita), empatia, congruência e o olhar incondicional positivo (Rogers, 1957).

A empatia toma relevância na construção de uma boa relação terapêutica. Quando o terapeuta tenta compreender o seu cliente consoante o seu quadro de referências ajuda-o a ser mais parcial e não efetuar juízos de valor pois o cliente não necessita disso porque o mesmo tem uma força intrínseca para crescer e se desenvolver (Rogers, 1957).

Devem existir dois pólos opostos na relação terapêutica, ou seja, o cliente tem que estar incongruente, pois apresenta alguma problemática na sua vida que pretende ser tratada através da terapia, enquanto que o terapeuta tem que estar congruente consigo mesmo para que assim consiga perceber o quadro de referências do seu cliente como o mesmo o perceciona. Só assim pode ser estabelecia a relação de ajuda.

Outra das seis condições necessárias e suficientes impostas por Rogers refere que o terapeuta deve ter um olhar incondicional positivo para com o seu cliente, tal acontece porque o terapeuta estabelece uma relação com o seu cliente em que confia que o mesmo é capaz de resolver as suas problemáticas sozinho (Rogers, 1957).

Constata-se assim que a relação terapêutica é algo fundamental na terapia. Se esta relação não existir ou for insuficiente vai fazer com que o trabalho do terapeuta se torne deficitário e que o processo de mudança terapêutica seja posto em causa (Rogers, 1957). Outros autores vão de encontro com esta ideia expressada por Carl Rogers, isto é, afirmam que é através da relação terapêutica que há mudança no cliente (Horvath & Symonds, 1991; Horvath, 2000; Martin, Garske, & Davis, 2000; Horvath, Del Re, Flückiger, & Symonds, 2011; Flückiger, Del Re, Wampold, Symonds, & Horvath, 2012, citados por Olivera, Braun, Penedo, & Roussos, 2013).

Segundo Boy e Pine (1999, citado por Cepeda, & Davenport, 2006), Existem, igualmente, duas fases que compõem a TCC. A primeira consiste na criação da relação terapêutica, enquanto que na segunda fase vai-se tentar alcançar, entre o terapeuta e o cliente, o procedimento mais adequado e melhor para ir de encontro às necessidades expressas pelo cliente.

1.4.3. A Intervenção com Crianças: Ludoterapia Centrada na Criança