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A avaliação psicológica dos requerentes

2.3 Atributos familiar para adoção

2.3.1 A avaliação psicológica dos requerentes

Nos últimos anos, muito vem se investindo em estudos realizados para entender a influência da paternidade ou a maternidade homossexual, na formação da identidade da criança.

Uma das estudiosas sobre o tema é a Psicóloga e Psicanalista Motta, que muito contribui para clarear esse nebuloso preconceito social que implica nas decisões judiciais:

Apesar das evidências em contrário, a sociedade tem mostrado preocupação com o desenvolvimento da personalidade de crianças criadas no seio de família homo-afetivas, o que, muitas vezes, acaba por implicar negativamente nas decisões judiciais que envolvem a parentalidade decorrente de uniões homossexuais, revelando-se aí a existência com relação aos indivíduos que as constituem. (MOTTA, 2010, p. 30)

O judiciário, conta com o auxilio dos profissionais da psicologia e da assistência social, os quais auxiliam na triagem e análise dos candidatos a pais e mãe adotivos, que buscam esta efetivaçãona via judicial.

Motta, (2010, p.30), cita relevante conceito sobre a adoção advindo do Conselho Federal de Psicologia, que contribui de maneira relevante ao judiciário no sentido de auxiliar nas decisões mais difíceis, quando se trata de adoção de crianças por indivíduos homossexuais.

“Lembramos que a origem da palavra adotar, vinda do latim adotare, significa optar ou decidir-se por, escolher, preferir‟. Neste sentido, escolheremos, preferimos e nos comprometemos com a construção de uma sociedade igualitária, justa, inclusiva, livre de preconceitos e mais fraterna, onde as diversidades e as diferenças sejam realmente respeitadas”.

As dificuldades enfrentadas pelos psicólogos são muitas, apesar dos processos correrem em segredo de justiça, a pressão sobre estes profissionais da área, tanto pela sociedade, como do judiciário, quando se trata de candidatos homossexuais à adoção.

Essas expectativas de alguns da sociedade e dos próprios requerentes parecem maiores do que quando se trata de requerentes não homossexuais e isso sugere gerar ansiedade nos profissionais (FARIAS, 2009, p. 183).

Ainda segundo a autora (2009, p. 184) outra dificuldade encontrada pelos psicólogos na avaliação é quando o casal homossexual se candidata adotar primeiro porque a legislação não reconhece a união de pessoas do mesmo sexo, segundo porque gera um “desconforto”, ao abordar a intimidade do casal homossexual, uma espécie de invasão a sua privacidade, o que não geraria nenhum incomodo se feitas a um casal heterossexual.

Girardi (2005, p. 139) salienta que a problemática social é mutante, e que se entende a classificação das uniões formadas por pessoas do mesmo sexo, como uma espécie de família.

Resta, pois, averiguar como vem sendo tratadas as questões que envolvem os homossexuais, os pares homossexuais e a adoção de crianças, tema este que sem sombra de dúvida se traduz numa preocupação latente para os profissionais, tanto do direito como para as demais áreas sociais que se preocupam com a infância e com a família.

Silva Jr. (2006, p. 139) comenta que a primeira abertura pelo Poder Judiciário, em aceitar que dois homens que conviviam em união estável a mais de dez anos entrassem para a fila de espera de pais adotivos foi no ano de 2004 na cidade de Catanduva no Estado de São Paulo, e deu-se pela orientação da Resolução 1/99, do Conselho Federal de Psicologia, o qual estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação à questão da orientação sexual.

Á própria Lei 8.069/90 o Estatuto da Criança do Adolescente, estabelece que haja avaliação psicossocial dos pretendentes à adoção, a habilitação somente poderá ser negada se oportunizada aos pretendentes também a avaliação psicológica a que alude o estatuto e que o cotejo com o estudo social de fato contraindique a adoção.

O objetivo do estudo dos psicólogos é apurar a capacidade e preparo dos postulantes para o exercício da paternidade ou maternidade e tem o intuito de evitar adoções frustradas.

Motta, (2010, p. 30) comenta que o Conselho Federal de Psicologia e a Comissão Nacional de Direitos Humanos reuniram psicólogos das mais diversas linhas teóricas e profissionais para discutir a questão da parentalidade homossexual. O resultado do estudo foi a necessidade de desconstrução dos preconceitos estigmatizantes, por não existir “fundamento teórico, científico ou psicológico condicionado a orientação sexual como fator determinante para o exercício da paternidade”.

A seguir trataremos dos reflexos da proteção jurídica à orientação sexual e da discriminação aos homossexuais, dos vínculos homoafetivos que também passaram a receber tutela específica, através da jurisprudência e por analogia.

Os tribunais apresentam entendimentos e vêm julgando casos pioneiros, construindo por meio de interpretação analógica, questões relacionadas com o instituto da adoção quando entre os adotantes há “união estável”, matéria que diz respeito aos direitos humanos.

3 CASUÍSTICAS – VISÃO JURISPRUDÊNCIAL

Os Tribunais apresentam entendimentos e vêm julgando casos pioneiros construindo decisões evolutivas, por analogia quanto há “união estável”, esta já legalizada na norma brasileira, em questões relacionadas com o instituto da adoção, o que diz respeito aos direitos humanos.

Interessante, a manifestação do Juiz de Direito, Siro Darlan da 1ª Vara da Infância e Juventude do Rio de Janeiro que assim se manifesta:

“Não exijo certidão de casamento e nem faço restrições sexuais. Tanto que deferi em favor de homossexuais como neguei em casos que julguei inconveniente para a criança”. (apud FIGUEIRÊDO, 2004, p. 90).

Isso nos dá a exata dimensão da importância de ter nos quadros do judiciário, Magistrados pensem em primeiro lugar, na criança e adolescente, que está a espera para ser adotado.

Salienta-se que o Estatuto da Criança e do Adolescente é omisso, não contém dispositivo legal que trate diretamente da adoção pleiteada por homossexual, daí a possibilidade que alguns doutrinadores entendam inviável esse tipo de adoção.

Nesse sentido Amaral (2010, p. 31) a advogada e especialista em direito de família, expressa sua indignação com o descaso e o preconceito vindos do próprio Legislativo:

A inércia do Legislativo e as controvérsias dentro do Poder Judiciário nos dão conta de que o preconceito é muito maior, mais freqüente e mais presente do que imaginamos. E existe dentro dos três Poderes da União, tristemente temos que reconhecer.

Entendemos que, tanto um homossexual como um heterossexual, ambos tem direito a adotar, o que importa, é o substancial, e a idoneidade moral do candidato e a capacidade financeira para assumir os encargos

decorrentes da paternidade ou maternidade, salvo se não preenchidos os requisitos legais estabelecidos.

O simples fato de se tratar de relação homoafetiva não impede que o filho seja adotado pelo companheiro. A jurisprudência lentamente vem avançando neste sentido. Na 1ª Vara da Infância e Juventude da Comarca do Rio de Janeiro/RJ, já foi deferida a guarda à companheira da genitora que veio a falecer. Também já foi deferida a guarda ao companheiro travesti do pai, a quem a criança sempre reconheceu como mãe, na Comarca de Santa Luzia/MG.

Um dos primeiros casos a ser julgado, rompendo o tabu, foi pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, por unanimidade, o qual reconheceu o direito à adoção para um casal formado por duas mulheres. Os filhos haviam sido adotados por uma das parceiras, vindo a outra a pleitear a adoção em juízo. Reconhecida como entidade familiar, a união de duas pessoas do mesmo sexo, merecedora da proteção estatal, com características de duração, publicidade, continuidade e intenção de constituir família.

Mesmo diante da relutância da sociedade conservadora e da igreja, os dias atuais se deparam com situações a olhos vistos de casos “atípicos” para alguns e naturais para outros, que precisam ser sanados pelo judiciário, e o pior, sem normas que legislem ou consolidem o direito sobre o tema, e, que vão sendo consolidados pelo vínculo familiar que vai sendo criando, pelo adotado e pelos adotantes.

Atualmente nesse sentido já existentes julgados, que reconhecem algumas das relações homoafetivas sólidas, na união estável por casais homossexuais, os quais vislumbram na via judicial o desejo de paternidade/maternidade do casal, através do pedido de adoção.

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