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Os consumidores correm o grave perigo de não serem indenizados quando ocorrer a realização do risco, por onerosidade excessiva das associações. Vimos na subseção 2.2.2 a tecnicidade que se revestem as empresas seguradoras para a escorreita avaliação do risco e o consequente cálculo do prêmio devido.

Não vemos o mesmo estudo atuarial nos programas de proteção automotiva. Como demonstrado na subseção 5.1, para o cálculo da mensalidade a ser paga pelo associado, a associação considera apenas o valor do veículo, sem realizar o cálculo das probabilidades de realização do risco, o qual deveria ser feito isoladamente para cada associado.

Nos seguros regulamentados pela SUSEP existe um questionário de avaliação do risco onde o proponente deve responder perguntas relativas a situações fáticas a que são expostas os veículos. Questiona-se, por exemplo: o sexo do condutor principal; a sua idade; se alguém menor de 25 (vinte e cinco) anos conduzirá o veículo, ainda que eventualmente; se o proponente tem garagem em casa e no trabalho, dentre outras.

Este questionário tem a finalidade de calcular a probabilidade de ocorrência de um sinistro, bem como o estudo do risco envolvido, buscando-se aplicar as técnicas da dispersão, da homogeneidade, da pulverização e da seleção dos riscos.

O fim principal da correta ponderação do risco envolvido é o cálculo do prêmio a ser pago pelo segurado, o qual deve garantir o pagamento da indenização no caso de sinistro, sem que isto prejudique a manutenção do equilíbrio econômico-financeiro da empresa seguradora.

Por outro lado, a higidez econômica da empresa seguradora garante a fidúcia do consumidor na atividade seguradora, pois o mesmo possui a certeza do pagamento da indenização quando o sinistro ocorrer.

A importância da confiança do consumidor no mercado segurador é tanto que Tzirulnik, Cavalcanti e Pimentel (2003, p. 30) destacam, ao defender a comutatividade do contrato de seguro, que, sendo a garantia a prestação devida pela seguradora, a ausência de provisões patrimoniais suficientes para o cobertura dos riscos assumidos, já caracterizam o inadimplemento da obrigação, ainda que não ocorra efetivamente o sinistro.

O mesmo não acontece com as associações de proteção veicular. Há o pagamento das mensalidades para a administração da associação, bem como a formação de um possível fundo de reserva, na hipótese de ocorrer uma receita maior do que as despesas. No caso de sinistro, os danos serão rateados entre os associados, conforme as disposições estatutárias seguintes:

7.6 - O rateio das despesas será devido a todos os associados que integrarem a MAIS PROTEÇÃO - Associação de Proteção Veicular, até o dia 25 do respectivo mês de pagamento, contribuindo cada associado com sua cota parte, obedecendo aos respectivos índices determinados no item 7.7.1, 7.7.2, 7.7.3 correspondente ao valor de cada veículo. (Anexo A)

6.1 - A repartição dos prejuízos será feita pelo rateio do valor correspondente entre os associados participantes do Programa de Proteção Automotiva, obedecendo ao índice de rateio do veículo, especificado no item 6.4, e se dará na forma de indenização, de acordo com o estabelecimento abaixo:

6.2 - O rateio das despesas será devido por todos os associados que integram o Programa de Proteção Automotiva da ASCARBE BRASIL até dia 15 do respectivo mês de pagamento, contribuindo cada associado com sua quota/parte, obedecendo aos respectivos índices determinados nas CLÁUSULA 6.4 a 6.6 e correspondentes ao valor de cada veículo. (Anexo B)

6.1.4 – O rateio dos prejuízos supracitados será feito entre os associados, obedecendo ao índice de cada veículo cadastrado, especificado na CLÁUSULA 7.9, e se dará na forma de indenização, de acordo com o estabelecido abaixo: (Anexo C)

Destarte, o consumidor não tem a garantia do pagamento da indenização quando da realização do risco, isto porque não é certo que todos os associados poderão cumprir com a obrigação de participação no prejuízo.

Neste cotejo, existem notícias de consumidores que sofreram danos nos seus veículos e não receberem o pagamento da indenização pela associação, o que comprova a insegurança da contratação desses programas de proteção veicular. Vejamos alguns:

Assinei um contrato com mais de trinta páginas, confiando que estava fazendo um seguro do meu carro. Fui enganado. Tive que pagar mil reais de franquia, que eles não cobriram, e quando cheguei à oficina, eles me disseram que não iriam pagar o sinistro nem do meu veículo nem do outro condutor. Resultado: tiver que desembolsar cerca de R$ 3.600”, desabafou. “Não recomendo para ninguém se associar a estes seguros que tem por aí. Estas pessoas que formam grupos dizendo que são associações, só se forem associação ao crime, ao roubo!”, disse a vítima. “As pessoas têm que fazer seguro de procedência. Hoje prefiro passar o ano inteiro pagando por um seguro mais caro, mas que sei que não vou me arrepender36 Vi que a empresa tinha fechado as portas há dois meses, mas eu continuava pagando. Achei que o serviço era um seguro, porque eles usavam expressões como sinistro, comum ao seguro. Achei que era confiável. Hoje nem sei como achar a companhia, cuja sede é em Minas Gerais37

36 Depoimento do taxista José Vieira de brito ao jornal Tribuna Hoje. Disponível em:

<http://www.tribunahoje.com/noticia/4909/cidades/2011/09/06/pdostatement.execute>. Acesso em: 10 nov.

2011.

37 Relato do comerciante Domingos Couto ao jornal O Globo. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/economia/mat/2011/11/08/protecao-veicular-nao-garante-seguranca-

Estes relatos comprovam os prejuízos que os programas de proteção automotiva geram na sociedade. Muitos consumidores pensam que estão contratando um seguro, mas se vêm ludibriados quando procuram a empresa para o pagamento da indenização que tem direito e a mesma é negada por ausência de provisões financeiras.

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