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A IRREGULARIDADE DOS PROGRAMAS DE PROTEÇÃO AUTOMOTIVA COMERCIALIZADOS POR ASSOCIAÇÕES DE PROTEÇÃO VEICULAR FRENTE AO SISTEMA NACIONAL DE SEGUROS PRIVADOS

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FACULDADE DE DIREITO

DEPARTAMENTO DE DIREITO PRIVADO

DANIELLE LIRA PINHEIRO

A IRREGULARIDADE DOS PROGRAMAS DE PROTEÇÃO AUTOMOTIVA

COMERCIALIZADOS POR ASSOCIAÇÕES DE PROTEÇÃO VEICULAR

FRENTE AO SISTEMA NACIONAL DE SEGUROS PRIVADOS

(2)

A IRREGULARIDADE DOS PROGRAMAS DE PROTEÇÃO

AUTOMOTIVA COMERCIALIZADOS POR ASSOCIAÇÕES DE

PROTEÇÃO VEICULAR FRENTE AO SISTEMA NACIONAL DE

SEGUROS PRIVADOS

Monografia apresentada à

Coordenação da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientação: Prof. Dr. Regnoberto Marques de Melo Júnior.

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DANIELLE LIRA PINHEIRO

A IRREGULARIDADE DOS PROGRAMAS DE PROTEÇÃO

AUTOMOTIVA COMERCIALIZADOS POR ASSOCIAÇÕES DE

PROTEÇÃO VEICULAR FRENTE AO SISTEMA NACIONAL DE

SEGUROS PRIVADOS

Monografia apresentada à Coordenação da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Aprovada em __ / __ / ____

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________ Prof. Dr. Regnoberto Marques de Melo Júnior (Orientador)

Universidade Federal do Ceará – UFC

_________________________________________________ Prof. José Alberto Rôla

Universidade Federal do Ceará – UFC

_________________________________________________ Prof. William Paiva Marques Júnior

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À minha mãe, serei eternamente grata pelo amor e dedicação a mim ofertados.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por ter me concedido sabedoria e força para realizar este trabalho.

Ao meu orientador Professor Regnoberto Marques de Melo Júnior, pelas sugestões, reflexões, e esforço despendidos na elaboração da presente monografia, bem como pela dedicação e amor ao magistério, sendo sempre cordial e solícito ao responder com presteza as minhas dúvidas, não só no presente trabalho, mas em toda área do Direito Civil.

Ao professor José Alberto Rôla, por ter tido o prazer de ser sua aluna na última turma que lecionou em nossa Centenária Faculdade de Direito, pelo exemplo de retidão e dedicação profissional e por ter prontamente aceitado examinar este trabalho.

Ao professor William Paiva Marques Júnior, o qual infelizmente não tive o prazer de ter como professor da disciplina de Direito Administrativo, por ter aceitado avaliar este trabalho.

À minha mãe, por ter sempre acreditado no meu potencial, esforçando-se para que eu tivesse sempre a melhor educação, bem como e, principalmente, pelo exemplo de amor, garra e perseverança ao qual busco seguir.

Ao meu esposo, por ter despertado em mim a vontade de cursar Direito e o interesse pelo seguro, bem como pela parceria de vida.

Ao meu filho, por ter entendido que eu precisava abdicar do tempo com ele para a elaboração desta monografia, bem como por ter esperado eu concluir o curso para lhe dar o tão sonhado irmãozinho.

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Analisa a regularidade da comercialização de programas de proteção veicular por associações ou cooperativas, por meio do estudo do Sistema Nacional de Seguros Privados, estabelecido pelo Decreto-lei nº 73, de 21 de novembro de 1966. Descreve algumas técnicas inerentes ao mercado segurador para uma escorreita análise do risco protegido, tais como a transferência do risco, o cálculo de probabilidades, a dispersão dos riscos, a homogeneidade dos riscos, a pulverização dos riscos, a seleção dos riscos e a constituição de reservas técnicas. Discorre sobre o conceito e os elementos do contrato de seguro, quais sejam, a garantia, o interesse segurável, o risco, o prêmio e a empresarialidade. Enfatiza a necessidade de autorização do Governo Federal para funcionamento como sociedade seguradora, bem como a fiscalização, demonstrando-se a legitimidade para este controle. Demonstra a similitude entre o objeto do contrato de seguro e o objeto dos contratos de proteção veicular, mediante a comparação de cada um deles. Discorre sobre a necessidade de conformação do princípio da autonomia da vontade às normas de ordem pública. Relata a ausência de autorização e controle do Estado com relação às associações de proteção veicular. Demonstra a impossibilidade de comercialização de contratos de seguros por associações ou cooperativas, em virtude de expressa vedação legal. Apresenta as consequências para a coletividade da comercialização de contratos de seguros por entidades não autorizadas, tais como comprometimento do equilíbrio econômico-financeiro da associação e inadimplemento das indenizações por onerosidade excessiva dos contratos.

(7)

It analyzes the regularity of the sale of vehicle protection programs for associations and cooperatives, through the study of the National Private Insurance, established by Decree-Law No. 73, November 21, 1966. Describes some techniques inherent in the insurance market to a slimmer protected risk analysis such as risk transfer, the calculation of probabilities, the dispersion of risks, the homogeneity of the risks, the risks of spraying, the selection of risks and reserve techniques. Discusses the concept and elements of the insurance contract, namely, the guarantee, the insurable interest, risk, reward and entrepreneurship. Emphasizes the need for authorization from the Federal Government to operate as insurance companies, as well as supervision, demonstrating the legitimacy for this control. Demonstrates the similarity between the object of the insurance contract and the object of protection contracts for vehicles, by comparing each of them. Discusses the need to conform to the principle of freedom of choice to the rules of public order. Reported the absence of authorization and control of the state relating to vehicle protection associations. Demonstrates the impossibility of marketing of insurance contracts or cooperative associations, by virtue of express statutory prohibition. Presents the consequences for the collective marketing of insurance contracts by unauthorized entities, such as impairment of financial and economic balance of the association and damages for breach of contract excessive burden.

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1 INTRODUÇÃO ... 9

2 DO SEGURO ... 12

2.1 Desenvolvimento histórico ... 12

2.2 Fundamentos ... 15

2.2.1 O mutualismo ... 15

2.2.2 A tecnicidade ... 16

2.2.2.1 A transferência do risco ... 17

2.2.2.2 O cálculo de probabilidades ... 18

2.2.2.3 Dispersão de riscos ... 18

2.2.2.4 Homogeneidade dos riscos ... 19

2.2.2.5 Pulverização dos riscos ... 20

2.2.2.6 Seleção de riscos ... 20

2.2.2.7 Reservas técnicas ... 21

2.3 Função da atividade securitária ... 22

3 DO CONTRATO DE SEGURO ... 25

3.1 Conceito ... 25

3.2 Elementos ... 25

3.2.1 Garantia ... 26

3.2.2 Interesse segurável ... 27

3.2.3 O risco ... 30

3.2.4 O prêmio ... 32

3.2.5 Empresarialidade da sociedade seguradora ... 33

4 SISTEMA NACIONAL DE SEGUROS PRIVADOS ... 35

4.1 Conselho Nacional de Seguros Privados ... 35

4.2 Superintendência de Seguros Privados ... 37

4.3 Resseguradores ... 37

4.4 Sociedades autorizadas a operar seguros privados ... 38

4.4.1 Autorização para funcionamento ... 42

4.4.2 Operações das sociedades seguradoras ... 43

(9)

5 ASSOCIAÇÕES DE PROTEÇÃO VEICULAR ... 47

5.1 Contratos de proteção automotiva ... 47

5.2 Avaliação do risco protegido ... 51

5.3 Ausência de fiscalização das operações ... 53

6 CONCLUSÕES ... 55

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 57

ANEXO A ... 60

ANEXO B ... 73

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1 INTRODUÇÃO

Por exigências do Decreto-lei nº 73, de 21 de novembro de 1966, as sociedades seguradoras possuem a sua atividade regulamentada e fiscalizada pelo Governo Federal com o fim de qualificarem o risco segurado, diminuindo-se a álea inerente ao contrato de seguro, evitando-se assim que assumam riscos maiores do que a capacidade de suporte do seu capital, pondo em perigo a economia popular.

Todavia, é crescente o número de associações de proteção veicular que comercialização contratos com as mesmas obrigações de um contrato de seguro, sem realizarem, contudo, um estudo sobre o risco segurado, colocando em perigo a liquidez da associação e, consequentemente o adimplemento dos contratos realizados.

Ressalte-se, outrossim, a ausência de fiscalização dessas associações, quanto à necessidade de capital mínimo e reservas técnicas, o que pode gerar, no caso de ocorrência de muitos sinistros em um curto espaço de tempo, uma onerosidade excessiva desses contratos e um possível inadimplemento por parte dos associados.

Neste estudo buscamos demonstrar o perigo para a sociedade da existência dessas associações, uma vez que os associados pensam que estão contratando um seguro automotivo, quando na realidade estão apenas distribuindo entre si os riscos de perda do bem, sem o necessário estudo atuarial deste risco e a exigência legal de fiscalização das atividades.

O estudo da comercialização de contratos de proteção veicular revela-se de fundamental importância, porquanto se trata de prática bastante comum na sociedade brasileira. A justificativa do presente trabalho está na grande aplicação prática do tema, visto que é crescente o número de associações de proteção veicular sem que se discuta acadêmica ou judicialmente a sua regularidade jurídica.

Some-se a isso a grande relevância social da problemática de comercialização de contratos associativos como se contrato de seguro fossem, correndo-se o risco de insolvência das associações, por ausência de fiscalização governamental e cálculos atuariais contundentes, levando os associados a suportarem os danos advindos da insolvência da associação.

Destaque-se ainda que se realizou pesquisa em sítios de busca na internet sobre o tema não tendo sido encontrado nenhum trabalho jurídico versando sobre o assunto, justificando-se a emergencialidade e originalidade do presente trabalho.

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específicos consistem em analisar tecnicamente a instituição do seguro, o contrato de seguro e o Sistema Nacional de Seguros Privados.

Para isso, estudamos o contrato de seguro, enfatizando-se a função social, a tecnicidade e a empresarialidade como elemento essencial do contrato, bem como a necessidade de regulamentação e fiscalização do mercado realizada por órgãos governamentais como o Conselho Nacional de Seguros Privados e a Superintendência de Seguros Privados.

A monografia foi desenvolvida tendo por base uma pesquisa exploratória sobre o tema,através do exame bibliográfico e de fichamentos sobre a matéria, principalmente na área do Direito Civil; além da análise dos dispositivos legais atinentes à empresarialidade das seguradas e da fiscalização destas pela SUSEP; utilizando-se também da coleta documentos que retratem a semelhança entre o objeto do contrato de seguro e o objeto dos contratos comercializados pelas associações de proteção veicular.

O contrato de seguro se reveste de tecnicidade com o fim de cumprir o seu objeto sem comprometer o equilíbrio econômico-financeiro das sociedades seguradoras. No meio acadêmico é pouco desenvolvido o estudo técnico do seguro, em virtude disso dedicamos o capítulo 2 para analisar algumas técnicas utilizadas pelo mercado segurador para a avaliação do risco protegido, tendo em vista que a inobservância destas técnicas pelas empresas seguradoras traz implicações legais, sendo ainda um dos fundamentos da necessidade de autorização para o funcionamento de seguradoras, bem como de sua fiscalização pelo Estado.

O capítulo 3 trata do contrato de seguro, traz sua definição legal e doutrinária e enfatiza seu objeto e os seus elementos, quais sejam: a garantia, o interesse segurável, o risco, o prêmio e a empresarialidade da sociedade seguradora. Elegemos estes elementos porquanto são aqueles que podem ser extraídos da definição legal de contrato de seguro disposta no art. 757 do Código Civil de 2002.

O capítulo 4 discorre sobre o Sistema Nacional de Seguros Privados instituído pelo Decreto-lei nº 73/66, demonstrando a competência de cada um dos seus integrantes, bem como especificando algumas normas relativas a cada um deles. Neste capítulo enfatizamos também a legitimidade e os fundamentos do controle estatal sobre as empresas seguradoras.

(12)
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2 DO SEGURO

A presente pesquisa tem por foco analisar a possibilidade de comercialização de contrato de seguro de automóvel por associações ou cooperativas de seguro em contraponto com as prescrições legais do Decreto-lei nº 73, de 21 de novembro de 1966, o qual dispõe sobre o Sistema Nacional de Seguros Privados, regula as operações de seguro e resseguro e dá outras providências.

Para tanto, faz-se necessário, precipuamente, apresentar alguns conceitos essenciais ao esclarecimento da matéria, tomando por base o entendimento de doutrinadores acerca da definição de seguro e de contrato de seguro, bem como algumas características técnicas que envolvem o tema.

2.1 Desenvolvimento histórico

O espírito de previdência inerente ao ser humano contribuiu para que, desde os primórdios, os indivíduos buscassem a união para evitar o efeito danoso dos riscos aos quais estavam expostos.

Inicialmente, a união era rudimentar, conforme aos riscos, restringindo-se apenas ao âmbito familiar ou tribal. Com o desenvolvimento econômico e social, não se podendo desprezar o intelectual, chegamos ao seguro tão qual conhecemos hoje.

Se precipuamente o núcleo familiar ou tribal era suficiente para garantir os riscos, o mesmo não aconteceu com a evolução da sociedade. Na medida em que a sociedade desenvolvia-se, os riscos a que os indivíduos eram expostos também se incrementavam. Surgiram então as organizações sociais, de inspirações diversas, mas que se baseavam sempre no mutualismo.

Segundo Pedro Alvim (1999) todos os membros contribuíam para o fundo comum, fosse financeiramente ou através da prestação de serviços comunitários. Essa forma primitiva de seguro mútuo foi registrada na antiguidade, tanto na Ásia como em Roma1, todavia não chegou a ser muito desenvolvida, porquanto as pessoas não sentiam muita necessidade de associação, na proporção que o poder constituído garantia proteção suficiente.

Com a mudança social trazida pela Idade Média, surgiram diversas corporações que prestavam assistência mútua, muitas vezes buscando proteção frente aos desmandos dos

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senhores feudais. Tratava-se de associações de classes, reunindo religiosos, comerciantes ou artesões. Dispõe Pedro Alvim (1999) que estas associações diferiam das anteriores no tocante a organização mais estruturada e com maior poderio econômico.

Foi a partir do comércio marítimo que o seguro começou sua expansão. O risco que envolvia a atividade comercial marítima era muito grande, os sinistros eram frequentes e os danos expressivos. No entanto, não existia entre os comerciantes o mesmo espírito de solidariedade visto nas sociedades mútuas terrestres, em virtude da brevidade da convivência, bem como da procura pelo lucro. Dessa forma, começaram a ser realizados contratos, os quais inicialmente se confundiam com os de compra e venda, mas que garantiam interesses marítimos expostos a riscos predeterminados.

Cesare Vivante (apud, ALVIM, 1999, p. 27) assevera que estes contratos eram restritos a mercadores isolados, comparando-se a uma verdadeira aposta. Aduz que não assumiam de forma sistemática riscos trabalhados pela lei dos grandes números; não existia nenhum fundo de reserva para pagamento dos sinistros e nem o valor dos prêmios necessários para alimentá-lo. Os prêmios eram determinados tão somente pela lei da oferta e da procura, e não pelo conhecimento do custo efetivo do seguro.

Apesar disso, a procura por este tipo de negócio era crescente. Pedro Alvim (1999, p. 28) noticia, amparado em Hemard, que na praça de Gênova, foram feitos, por um único notário, 80 contratos em um mês, no ano de 1393.

A expansão do negócio e a importância da atividade para o comércio incentivaram o Estado a regulamentar estes contratos. Constam desta época as primeiras legislações sobre a matéria.2

Em virtude da carência de técnica para determinação do prêmio, o risco do negócio era substancial, isto fez com que os seguradores reunissem-se para garantir os mesmos riscos, lançando as bases do cosseguro como hoje conhecemos. O resseguro também foi utilizado no século XIV.

Informa Pedro Alvim (1999, p. 30) que datam do século XV as primeiras sociedades empresárias a operar com seguros, não obstante, a prevalência ainda era dos seguradores individuais. O autor relata, outrossim, que nesta época, apesar da maioria dos riscos cobertos serem marítimos, iniciou-se a comercialização de riscos terrestres.

As Grandes Navegações ocorridas a partir do século XVI intensificaram o comércio mundial. O transporte marítimo era utilizado para o carregamento de diversos bens

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que eram comercializados entre os países. Este fenômeno trouxe mudanças para a atividade securitária, sobretudo no tocante a sua técnica. Pedro Alvim destaca (1999, p. 33), in litteris:

Sua função [garantir riscos] era vital para o êxito dos grandes empreendimentos relacionados com as colônias americanas e o tráfego oriental.

Fortalecer seus métodos operacionais, revigorar suas normas jurídicas e expurgar a instituição de vícios que comprometiam sua evolução afigurava-se necessário para que pudesse o seguro desempenhar o importante papel que lhe cabia naquela conjuntura.

Nesta época, acontece uma extensão dos diplomas legais sobre seguro, bem como surgem os primeiros tratados científicos sobre o tema, buscando sistematizá-lo e diferenciá-lo do jogo e da usura.

O aumento dos riscos em frequência e magnitude ocorrido no século XVII colimou com a falência de muitos seguradores individuais, levando os segurados a procurarem as sociedades seguradoras, que, embora ainda se baseassem em dados empíricos para o cálculo do prêmio, tinham uma maior poder econômico. Todavia, não assistia melhor sorte a estas sociedades empresárias, tendo em vista a ausência de técnica, findaram, outrossim, muitas na bancarrota. Frente a este quadro, como forma de resguardar a fidúcia no seguro, alguns países resolveram monopolizar o comércio segurador. (ALVIM, 1999, p. 36)

Não obstante a crise do mercado, datam do século XVII as primeiras seguradoras a cobrir riscos exclusivamente terrestres. Inicialmente relacionavam-se apenas ao risco de incêndio, mas neste período também é lançada a base técnica para o seguro de vida, alcançadas graças aos primeiros estudos de tábuas de mortalidade e o desenvolvimento da atuária.

Em meados do século XVIII a técnica securitária desenvolve-se. Os seguradores individuais cedem espaço às grandes companhias de seguro, tendo em vista o seu maior poder econômico, aliado a uma técnica escorreita para garantir a estabilidade financeira. Somente na Inglaterra, onde ficou proibida durante muito tempo a criação de novas companhias seguradoras, os seguradores individuais obtiveram êxito, existindo, até os dias atuais a Lloyd´s, seguradora individual muito atuante no mercado segurador inglês.

No século de XIX o seguro expandiu-se para outros ramos, se antes ele era restrito aos ramos de transporte (marítimo, terrestre e fluvial), incêndio e vida, os avanços da técnica da probabilidade permitiram a sua diversificação. Surgiram, assim, os seguros de responsabilidade civil, furto, roubo, acidentes de trabalho e pessoal dentre outros. (ALVIM, 1999, p. 40)

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ainda que existia uma tendência a especialização das seguradoras para uma melhor avaliação e classificação do risco protegido.

A legislação sobre os seguros terrestres surgiu, a exemplo do marítimo, somente após sua criação. Durante algum tempo, utilizava-se a legislação pertinente ao seguro marítimo, bem como os usos e costumes para regular o seguro terrestre, mas foi ainda no século XIX, conhecido pela a codificação das leis, que surgiram os primeiros códigos regulamentando o contrato de seguro, todavia careciam, ainda, de um bom embasamento técnico, sobretudo quanto a necessidade de fiscalização da atividade pelo Estado, em virtude do liberalismo vigente na época.

Foi somente no século XX que as legislações, tendo em vista a importância socioeconômica do seguro, passaram a regulamentar isoladamente o contrato de seguro. Aduz Pedro Alvim (1999, p. 44), verbis:

As normas dispositivas dos códigos permaneceram em vigor, mas, simultaneamente, uma disciplina jurídica, tecida de normas imperativas, deslocou o centro das decisões sobre a estrutura jurídica do contrato para os poderes públicos, armados de ampla competência para interferir em todos os setores da vida empresarial, seja ele técnico ou administrativo. As condições gerais dos contratos de seguros dos diversos ramos não dependem do consenso das partes, como outrora, nem são impostas pelas seguradoras, mas formuladas por órgãos oficiais.

Hoje se busca uma unificação da legislação sobre o seguro. As normas que regulamentam o mercado são esparsas, encontram-se disposições atinentes a matérias no Código Civil, no Código Comercial, no Decreto-lei nº 73/66, bem como em inúmeros decretos e regulamentos. Isto dificulta o estudo sistemático do seguro, gerando dúvidas quanto a interpretação, não favorecendo o seu estudo nos meios universitários. (ALVIM, 1999, p. 46)

Tramita no Congresso Nacional o projeto de lei nº 8.034/2010, apensado ao PL 3.555/2004, o qual tem por objeto estabelecer normas gerais em contratos de seguro e revogar disposições em contrário, objetivando uma regulamentação mais técnica e coesa da matéria.3

2.2 Fundamentos

2.2.1 O mutualismo

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Tecnicamente o seguro é a repartição dos danos que deveriam ser suportados por apenas uma pessoa, caso não tivesse o seu interesse segurado. Para que ocorra essa repartição, os segurados contribuem para um fundo comum, gerido por uma empresa seguradora, de onde serão retirados os recursos para a cobertura do risco segurado. Esta característica denomina-se mutualismo.

Conforme Chaufton, o seguro é a “compensação dos efeitos do azar pela mutualidade organizada, segundo as leis da estatística.” (apud ALVIM, 1999, p. 64)

Segundo Pedro Alvim (1999, p. 59), o mutualismo constitui a base do seguro, na medida em que se constituem contratos individuais, garantindo o mesmo tipo de risco, para múltiplas pessoas. Para ele sem o mutualismo o contrato de seguro não se distinguiria do jogo ou da aposta e nem alcançaria o seu objetivo social, pois acabaria sacrificando o patrimônio do segurador, permanecendo a insegurança para este.

Ainda conforme Pedro Alvim (1999, p. 59), para o seguro importa eliminar a insegurança para todos, inclusive para o segurador, e isto só é possível pelo mutualismo, por meio da repartição do risco entre todos com o pagamento de pequenas parcelas, sem afetar largamente o patrimônio de ninguém.

O mutualismo expressa, portanto, o caráter de socialização do risco inerente ao seguro.

2.2.2 A tecnicidade

Como visto na subseção anterior (subseção 2.2.1), o contrato de seguro tem sua base técnica no mutualismo. Cabe a empresa seguradora administrar o fundo comum, alimentado pelos prêmios puros pagos pelos segurados, com o fim da transferência do risco.

Contudo, o mutualismo só não basta par garantir o pagamento das indenizações quando da realização do risco segurado. O segurador deve se revestir de estudos técnicos para uma escorreita avaliação do risco, tendente a garantir a higidez econômica da empresa, bem como o adimplemento de suas obrigações.

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Compreende-se, porém, que tenha a sua técnica, a qual embora apurada, não o transforma 'numa ciência misteriosa, isolada da vida'. Para aprendê-la, é importante, todavia, conhecer o meio social onde se vive. Tanto mais se conheça, melhor dominará a matéria.

Se a técnica é cara ao Direito Civil, nos contratos de seguros ela mostra-se ainda mais expressiva4. O estudo do risco envolvido na atividade seguradora, além de ser importante para o cálculo do prêmio a ser pago pelo segurado, tem relevância para o estudo jurídico do seguro, na proporção que algumas das normas reguladoras da matéria têm relação direta com a técnica securitária, buscando-se sempre um bom funcionamento da atividade seguradora.

O presente trabalho versa sobre o estudo jurídico da atividade securitária, todavia este não pode ser dissociado do entendimento da técnica do seguro. Para isso, é importante traçarmos alguns conceitos técnicos necessários para o entendimento da matéria.

Não queremos esgotar aqui os estudos técnicos do seguro, até porque é uma matéria complexa, que envolve diversos seguimentos do conhecimento humano (matemático, estatístico, econômico, social, jurídico, dentre outros). Traçaremos apenas um panorama sobre o tema.

2.2.2.1 A transferência do risco

É notório que toda atividade humana está exposta a riscos, sejam eles provocados pelo próprio homem ou pela natureza. Estes riscos trazem prejuízos econômicos, é muito dispendiosa para o indivíduo a perda de um bem.

A repartição destes prejuízos entre indivíduos expostos ao mesmo tipo de risco diminui o impacto na economia individual. Assim, o fundamento econômico do seguro é a socialização dos riscos.

Neste sentido, Fábio Ulhoa Coelho (1999, p. 341) aduz, verbis:

A função econômica do seguro é socializar riscos entre os segurados. A companhia seguradora recebe de cada um o prêmio, calculado de acordo com a probabilidade de ocorrência do evento danoso. Em contrapartida, obriga-se a conceder a garantia consistente em pagar certa prestação pecuniária, em geral de caráter indenizatório, ao segurado, ou a terceiros beneficiários, na hipótese de verificação do sinistro.

A transferência do risco para o segurador é tão importante que muitos autores a consideram o fundamento do contrato de seguro, o que o distingue do jogo ou da aposta. Assim é para J.C. Moitinho de Almeida (apud ALVIM, 1999, p. 112/113), in litteris:

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[...] é na transferência do risco que se encontra o elemento unificador do contrato de seguro. O segurador assume, mediante um correspectivo (prêmio), a obrigação de prover os meios pecuniários considerados necessários para a satisfação de uma necessidade prevista relativamente a um certo evento. (...) A teoria da transferência do risco consiste numa formulação mais precisa da teoria da necessidade eventual e que, como está, é capaz de identificar, não a causa dos subtipos do contrato de seguro (seguros de danos, seguros de pessoas), mas o tipo contratual. Como a teoria da necessidade eventual, a da transferência do risco permite distinguir o seguro de outros contratos aleatórios, como o jogo e a aposta. No contrato de seguros o risco preexiste à sua conclusão, enquanto no jogo e na aposta é artificialmente criado pelas partes.

2.2.2.2 O cálculo de probabilidades

A transferência do risco é o fundamento econômico do contrato de seguro. No entanto, para determinar o valor a ser pago por esta transferência, formando-se o fundo comum, são necessários alguns estudos a respeito do risco segurável.

Os matemáticos aduzem que os eventos regulares e constantes tendem a superar os acidentes, o imprevisível. Dessa forma, a partir da análise de sinistros ocorridos anteriormente pode-se obter o cálculo da probabilidade de ocorrência de novos sinistros. Por exemplo: o risco de colisão de veículos, observado em certa região, durante alguns anos, em mil casos possíveis, traduz uma frequência quase estável, ou seja, a probabilidade de sua realização.

Pedro Alvim (1999, p. 60) destaca que a estatística permite o cálculo das probabilidades de realização dos riscos. Por meio dela pode-se determinar a relação entre o número de sinistros ocorridos e o número de chances de ocorrências possíveis. Fazendo-se esta relação sobre um grande número de casos, ela tende a ser estável, em virtude da predominância dos eventos regulares sobre os acidentais. Sendo assim, “[...] a lei dos grandes númerosdomina o azar.” (ALVIM, 1999, p. 60).

Somente a probabilidade não é suficiente para o afastamento da álea, porquanto existe um desvio para mais ou para menos na verificação dos fatos que realmente acontecem. Para diminuição desses desvios, as seguradoras utilizam outras técnicas.

2.2.2.3 Dispersão dos riscos

Esta técnica consiste em não assumir riscos que possam ser realizados em um único evento. Pedro Alvim (1999, p. 61) explica a dispersão dos riscos, ipsis verbis:

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incêndio alcançaria todos os prédios segurados de uma cidade, porque estão dispersos. Os riscos são isolados, segundo a linguagem do seguro. Quando os bens segurados estão concentrados, como ocorre nas grandes fábricas, por força do princípio da dispersão, promove-se o isolamento das diferentes seções por meio de paredes corta-fogo, portas contra incêndio etc.

Existem alguns riscos que são de dispersão impraticável, na sua maioria são ligados a fenômenos naturais que quando ocorrem produzem prejuízos imensos como os terremotos e os tsunamis, mas também podem ser oriundos da atividade humana a exemplo do risco de guerra. Estes riscos são de difícil aceitação pelas empresas seguradoras, sendo aceitos somente sob condições especiais.

A aceitação destes riscos coaduna-se com o prescritivo contido no art. 393 do Código Civil de 2002, o qual determina que o devedor não se responsabiliza pelos prejuízos advindos de caso fortuito ou força maior, a não ser que expressamente tenha determinado o contrário.

2.2.2.4 Homogeneidade dos riscos

Outra técnica utilizada para diminuir o desvio da probabilidade é a homogeneidade dos riscos. Para o cálculo da probabilidade não se pode reunir em um mesmo universo fenômenos diversos. Exemplificando: não é possível calcular conjuntamente risco de incêndio, com risco de roubo ou risco de colisão.

Ressalte-se que a homogeneidade deve ocorrer também para o objeto, assim, para calcular a probabilidade de ocorrência de roubo de um veículo, deve-se considerar o seu modelo, sua marca e a região onde ele irá trafegar.

Neste sentido, lecionam Picard et Besson (apud ALVIM, 1999, p. 62), ipsis

litteris:

[...] os riscos devem ser de coisas e pessoas semelhantes; deve existir uma medida comum quanto ao objeto do seguro. Assim, no seguro de incêndio, uma distinção se impõe entre os bens móveis e imóveis; dentro de cada categoria se distingue ainda a natureza dos objetos submetidos ao risco: por exemplo, imóveis de moradia, de indústria, de construção de cimento armado, de madeira etc. No domínio dos seguros de pessoas, os indivíduos são classificados em classes homogêneas pela idade, pela profissão etc.

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prêmios semelhantes, ao passo que indivíduos expostos a riscos diversos não podem ser incluídos neste mesmo grupo.

2.2.2.5. Pulverização dos riscos

Também conhecido como nivelamento dos riscos, a pulverização dos riscos é uma prática corrente das empresas seguradoras para evitar o pagamento de indenizações em valor superior ao que seu capital pode suportar.

Vamos supor que no universo de mil imóveis dez deles incendeiem, o percentual de sinistro será de 1%. Se todos os imóveis forem avaliados em 50 mil reais, será fácil calcular o valor do prejuízo da seguradora, ela deverá pagar 500 mil reais de indenizações.

Agora imaginemos que os imóveis possuem valores variáveis, uns valem 50 mil reais, outros 100 mil reais, outros 900 mil reais. Fica difícil prever o valor do prejuízo, o qual pode variar de 500 mil, caso os sinistros ocorram somente nos imóveis mais baratos, até 9 milhões, se os incêndios forem apenas nos imóveis mais caros.

Como forma de evitar esta amplitude, as seguradoras estabelecem um teto máximo de indenizações, o qual varia de acordo com a sua carteira e o seu capital, e o que exceder deste teto ela contrata um resseguro ou um cosseguro.5

Exemplo prático da pulverização dos riscos ocorreu no sinistro do World Trade Center. Um risco desta monta é impossível de ser coberto por apenas uma seguradora. Neste caso, o prejuízo foi rateado por todo o mercado internacional de seguros, por meio da contratação prévia de cosseguros e de resseguros.6

A pulverização dos riscos está expressa no art. 79 do Decreto-lei nº 73/66, o qual proíbe que as seguradoras retenham responsabilidade com valor superior aos seus limites técnicos:

Art 79. É vedado às Sociedades Seguradoras reter responsabilidades cujo valor ultrapasse os limites técnicos, fixados pela SUSEP de acordo com as normas aprovadas pelo CNSP, e que levarão em conta:

a) a situação econômico-financeira das Sociedades Seguradoras; b) as condições técnicas das respectivas carteiras;

2.2.2.6 Seleção dos riscos

5 Sobre o tema ver Pedro Alvim (1999, p. 63)

(22)

As pessoas tendem a contratar seguros para garantir aqueles interesses que estão mais expostos a riscos. Segura-se o automóvel porque é frequente o sinistro, contrata-se seguro de incêndio de empresas que trabalham como produtos inflamáveis. Não obstante, aqueles riscos mais eventuais, com incêndio de residência, na maioria dos casos, são contratados mediante consultoria do corretor.

Ocorre que a contratação de maus riscos pode afetar a estabilidade financeira da seguradora. É por isso que a proposta de seguro vem acompanhada de um questionário de avaliação do risco, podendo a seguradora recusar a proposta se o risco for grave, ou segurá-lo sob condições especiais.

Podemos exemplificar a seleção de risco com as exigências que a seguradora faz para aceitar risco de incêndio de uma empresa que opera com produtos inflamáveis. Ela pode exigir que sejam instalados mecanismos que evitem a dissipação do fogo, minimizando o risco, ou até mesmo recusar a proposta em virtude da grande probabilidade de sinistro.

Outra medida corrente no mercado segurador é a exigência por parte da seguradora de instalação de rastreador em automóveis de maior valor para aceitação de cobertura do risco de roubo ou de furto.

2.2.2.7 Reservas técnicas

Além de todas essas medidas técnicas utilizadas pelo mercado segurador para evitar a assunção de riscos em valor superior às possibilidades financeiras da seguradora, estas ainda são obrigadas a fazerem reservas técnicas, por meio da constituição de fundos, para garantia de riscos anormais.

Ensina Pedro Alvim (1999, p. 64) que as diversas espécies de reservas técnicas perseguem o mesmo objetivo “resguardar a estabilidade da empresa sob o aspecto financeiro, de modo que possa dispor sempre dos recursos necessários ao pagamento de sinistros.”

No Brasil, a formação de reservas técnicas é exigência legal imposta pelo art. 847 do Decreto-lei nº 73/66, bem como, conforme seu art. 110, “constitui crime contra a economia popular, punível de acordo com a legislação respectiva, a ação ou omissão, pessoal ou

(23)

coletiva, de que decorra a insuficiência das reservas e de sua cobertura, vinculadas à garantia das obrigações das Sociedades Seguradoras”

2.3 Função da atividade securitária

A atividade seguradora exerce uma importante função social. A função social da propriedade8 encontra-se em expansão no atual estágio do Estado Brasileiro, sendo também estendida aos contratos9 e, consequentemente, às empresas. Assim aduz Pedro Alvim (1999, p. 182) que, ipsis verbis:

Entre as diferentes modalidades de empresas a de seguro ocupa uma posição especial, porque é dela que provem o melhor sistema de garantia da atividade econômica contra os inúmeros riscos que a ameaçam de aniquilamento. O seguro exerce uma função social relevante, amealhando fundos que organiza de modo racional a luta contra os fatores que perturbam o desenvolvimento normal da economia. Eis por que sempre mereceu de todos os governos cuidados que se patenteiam numa legislação especial, objetivando resguardar a instituição empresarial dos efeitos maléficos de uma orientação mal sucedida.

O interesse público relativo à atividade seguradora é tão expressivo que Amadeo Soler Aleu (apud TZIRULNIK, [s.d.], p. 7) chega a considerá-lo um serviço público impróprio, porquanto o Estado precisa autorizar a sua prestação, regulamentá-la e ainda, mediante o exercício do poder de polícia, controlá-la.

Ernesto Tzirulnik ([s.d.], p. 12) aduz que sendo ou não serviço público como propõe Soler Aleu, inegavelmente o seguro é uma atividade de utilidade pública, sobretudo pela mutualidade intrínseca a atividade. Conclui que as seguradoras lidam com a economia popular e que a captação dos recursos para a formação do fundo comum tem todas as características inerentes a poupança popular, o que demonstra a importante função social do seguro.

Somente o caráter mutualístico e de poupança popular do seguro já seria suficiente para determinar sua função social, mas não é só. No item 2.2.2.1 vimos que a transferência do risco é o fundamento do contrato de seguro. A transferência do risco somada a necessária contratação em massa10

geram efeitos que correspondem à própria função da

8 Diversos dispositivos constitucionais enaltecem a função social da propriedade, como por exemplo: art. 5º, inc. XXIII; art. 170, inc. III, art. 173, art. 184 e art. 186, assim como também no art. 1828 do Código Civil. 9 Art. 421 do Código Civil.

10 PEREIRA, A (2009, p. 54) escreve, in verbis: “Se não houver massa, não há seguro. (...) O que se deve

entender então por „seguro‟? Há de se ter em mente, antes de mais nada, que se dá ensejo, por seu intermédio, a uma reparação econômica viabilizada por um sistema de compensação que organiza tecnicamente muitas

economias individuais ameaçadas por riscos assemelhados. (...) Não se examina adequadamente o seguro pondo sob foco determinada operação individual sem que se considere a mutualidade na qual ela se encontra inserida.

(...) Ora, ocupando-se o seguro da cobertura de riscos, o não-exame da sua inserção numa operação massificada

(24)

atividade seguradora, quais sejam: a proteção patrimonial, a expansão da capacidade econômico-financeira do segurado e a redistribuição11.

A ideia central do seguro é a proteção contra eventos incertos e, na maioria das vezes, danosos. Segundo Amadeu Ribeiro (2006, p. 65) essa proteção consiste na substituição de um valor incerto, mas vultoso (sinistro), por outro certo, não obstante, relativamente pequeno (prêmio). Assim, o pagamento de um montante inexpressivo protege o patrimônio de um indivíduo de perdas substanciais.

A proteção patrimonial é a função imediata do seguro, a qual gera como consequência a expansão da capacidade econômico-financeira do segurado, bem como induz a uma redistribuição dos riscos entre a massa de segurados.

A expansão da capacidade econômico-financeira do segurado é também viabilizada pela contratação de um seguro. Ao pagar o prêmio, o segurado obtém a transferência do risco para o segurador, garantindo a certeza da indenização no caso de sinistro. Dessa forma, o dinheiro que seria por ele poupado para um eventual dano patrimonial, será revestido para outro investimento, uma vez que o risco está coberto pelo seguro, aumentando-se a capacidade do segurado para geração de novas riquezas.

Num primeiro momento pode-se cogitar que esta função não seja socialmente relevante. Todavia, Amadeu Ribeiro (2006, p. 68) frisa a importância desta função para a cobertura de grandes riscos, in litteris:

Na ausência de seguro, essas atividades [que exigem pesados investimentos] teriam grande dificuldade em se desenvolver, ou ao menos se desenvolveriam de forma mais custosa. Exemplo típico é a exploração e produção de petróleo. A falta de seguro deixaria a empresa exposta a riscos insuportáveis, tais como danos ao meio ambiente e à saúde dos empregados. (...) é possível perceber que a função da atividade seguradora ora analisada excede os limites da relação entre segurador e segurado. No caso da empresa dedicada à exploração e produção de petróleo, sua existência e continuidade interessam a um grande número de pessoas, a começar por seus empregados e clientes diretos.

Como consequência da mutualidade e da massificação tem-se ainda a redistribuição. A seguradora, ao concentrar riscos que antes se encontravam dispersos na sociedade, permite que este novo risco – agora concentrado – seja repartido entre a massa de segurados. Isto significa que na ocorrência de um sinistro todos os segurados concorrerão, indiretamente, para o pagamento da indenização, através do pagamento do prêmio.

de saber o custo de sua fabricação‟, pois a prestação indenizatória só se realizaria no futuro e dependeria da

ocorrência de um sinistro. (...) Considerada a mutualidade constituída e administrada pelo segurador, o sinistro

há de ser visto como um evento certo e mensurável com grande aproximação, tanto na sua frequência como na sua intensidade, numa determinada proporção incidente sobre a massa de segurados, tudo isso mediante

sofisticada técnica atuarial.”(itálicos originais)

(25)

A função redistributiva deve ser considerada para a formação da carteira e determinação da taxa do prêmio. Seria injusto se fossem alocados em uma mesma carteira riscos de natureza diversa. Por outro lado, deve-se considerar para a taxa do prêmio, além da natureza do risco, a sua frequência de verificação. Destarte, para evitar um tratamento não isonômico, a técnica securitária prevê o pagamento de prêmio puro mais elevado para riscos mais frequentes.

(26)

3 DO CONTRATO DE SEGURO

3.1 Conceito

A par da discussão acerca da propriedade de o legislador definir institutos jurídicos, o Código Civil de 2002 define o contrato de seguro em seu art. 757:

Art. 757. Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados.

Parágrafo único. Somente pode ser parte, no contrato de seguro, como segurador, entidade para tal fim legalmente autorizada.

Segundo Pedro Alvim (1999, p. 113), “seguro é o contrato pelo qual o segurador, mediante o recebimento de um prêmio, obriga-se a pagar ao segurado uma prestação, se ocorrer o risco a que está exposto.”

Para Pontes de Miranda (1984a, p. 274/275) o contrato de seguro, ipsis verbis:

[…] é o contrato que um dos contraentes, o segurador, mediante prestação única e periódica, que o outro contraente faz, se vincula a segurar, isto é, a, se o sinistro ocorre, entregar ao outro contraente soma determinada ou determinável, que corresponde ao valor do que foi destruído ou danificado, ou que se fixou para o caso do evento previsto.

Yvonne Lambert-Faivre (1977) define o contrato de seguro como a convenção pela qual uma das partes compromete-se, mediante o pagamento de um prêmio, por ela ou por um terceiro, na eventualidade da realização de um sinistro, uma prestação para uma empresa de seguro que tende a efetuar a compensação de riscos análogos, utilizando-se de métodos estatísticos.12

Para Paulo Nader (2008, p. 368) o contrato de seguro existe sempre quando “[...] uma pessoa (segurador) se obriga, por determinado tempo, perante outra (segurado) e

mediante pagamento, a indenizá-la, ou a terceiro, na hipótese de superveniência de fato, antes incerto, evolvendo pessoa ou coisa.”

3.2Elementos

A doutrina não é pacífica quanto aos elementos essenciais do contrato de seguro. Para Clóvis Beviláqua (apud ALVIM, 1999, p. 106), os elementos do contrato de seguro seriam o segurador, o segurado, o prêmio e o risco.

12 LAMBERT-FAIVRE, Yvonne. Droit des assurances. 2ª Ed. Paris, Dalloz, 1977, p. 159. Escreve: “Le contrat d´assurance est la convention par laquelle une partie se fait promettre, moyennant le paiement d´une prime, pour elle ou pour un tiers, dans l´éventualité de la realization d´un sinistre, une prestation par une enterprise

(27)

Consoante Yvonne Lambert-Faivre (1977, p. 159) o risco, o prêmio e o sinistro compõem os elementos do contrato de seguro.

Por seu turno, Fábio Ulhoa Coelho (2009, p. 341), amparado em Cavalieri Filho, aduz que a seguradora, o prêmio e o risco são elementos do contrato de seguro. No entanto, frisa que apenas o prêmio é elemento exclusivo deste tipo de contrato.

Neste trabalho, utilizaremos o ensinamento de Ernesto Tzirulnik, Flávio de Queiroz B. Cavalcanti e Ayrton Pimentel (2003, p.29), o qual aduz que os elementos do contrato de seguro são a garantia, o interesse, o risco, o prêmio e a empresarialidade, porquanto são os elementos que podemos extrair da definição legal de contrato de seguro contida no art. 757 do Código Civil de 2002.

3.2.1 Garantia

O contrato de seguro sob a égide do Código Civil de 1916 trazia como elemento essencial a indenização, senão vejamos:

art. 1.432. Considera-se contrato de seguro aquele pelo qual uma das partes se obriga para com a outra, mediante a paga de um prêmio, a indenizá-la do prejuízo

resultante de riscos futuros presentes no contrato. (destacamos)

Referida definição era suficiente para os seguros de danos, onde a função indenizatória é bem evidente, todavia não encontrava o mesmo respaldo quando se trava de seguro de pessoas, em virtude da impossibilidade de se estabelecer um valor para vida, bem como, em alguns casos, a inexistência de dano evidente13

.

Em virtude da dificuldade de alocar como elemento do seguro de pessoa a indenização, o Código Civil de 2002 adotou a teoria da necessidade ou teoria do interesse legítimo, onde a garantia de um interesse legítimo aparece como elemento do contrato de seguro, abrangendo, dessa forma, tanto o seguro de dano como o de pessoas.

Comentando a teoria da necessidade, Pedro Alvim (1999, p. 99) leciona que o mérito dela foi fundamentar-se em um conceito mais amplo de dano, podendo a necessidade ser concreta, como nos seguros de dano, ou abstrata, quando se trata de seguros de pessoa. Ressalta ainda que nos seguros de dano a necessidade é mensurada objetivamente, enquanto que nos seguros de pessoas os valores são subjetivos, portanto apenas aproximados.

(28)

Muito embora a maioria da doutrina alegue que o risco é o objeto do contrato de seguro, Tzirulnik, Cavalcanti e Pimentel (2003) aduzem que o objeto do contrato de seguro é a garantia do interesse segurável.

Ao deslocar a contraprestação da seguradora da indenização para a garantia de um interesse segurável, mudou-se, outrossim, a classificação do contrato de seguro de aleatório para comutativo, tendo em vista que a prestação da seguradora é a garantia enquanto a do segurado é o pagamento do prêmio, havendo uma comutatividade entre elas14

.

A ideia de álea no contrato de seguro fica ultrapassada, na medida em que a contraprestação da seguradora passa a ser a garantia, estando presente durante todo o período de vigência do contrato, e não mais o pagamento da indenização, o qual ocorria apenas no caso de sinistro, o que determinava a aleatoriedade do contrato.

Este é o entendimento da moderna doutrina liderada no Brasil por Tzirulnik, Flavio Cavalcanti e Pimentel (2003, p.30), defendendo a comutatividade dos contratos de seguro aduzem, in verbis:

A comutatividade do contrato tem por base justamente o reconhecimento de que a prestação do segurador não se restringe ao pagamento de uma eventual indenização (ou capital), o que apenas se verifica no caso de sobrevir lesão ao interesse garantido, em virtude da realização do risco predeterminado. Tal prestação consiste, antes de tudo, no fornecimento de garantia e é devida durante toda a vigência material do contrato. A comutação ocorre entre o prêmio (prestação) e a garantia (contraprestação).

Ao obter garantia do interesse para a hipótese de realização do risco predeterminado (sinistro), o segurado obtém uma vantagem ou atribuição patrimonial sem a qual permaneceria em estado potencial de dano.

É por isso que a garantia, como prestação devida pela seguradora, deve estar respaldada em provisões patrimoniais que ausentes caracterizam inadimplemento, independentemente da efetiva ocorrência de sinistros.15

Sendo assim, para a doutrina moderna, em virtude de hoje ser a garantia a contraprestação do segurador no contrato de seguro, este não pode mais ser classificado como contrato aleatório, tendo em vista que a obrigação da seguradora está presente durante toda a vigência do contrato.

3.2.2 Interesse segurável

14 Destaque-se que este entendimento é de uma doutrina mais moderna, os autores clássicos classificam o contrato de seguro como aleatório, sendo, inclusive um dos exemplos mais utilizados para exemplificar este tipo de contrato.

(29)

Ao contrário do que pode parecer, o seguro não garante o bem ou a pessoa, mas sim o interesse legítimo do segurado relativo a um bem ou a uma pessoa (ele mesmo ou um terceiro). Neste sentido leciona Pontes de Miranda (1984a, p. 275), ipsis litteris:

O que se segura não é propriamente o bem, razão por que, nas expressões „seguro de bens‟ ou „seguro de coisas‟ e „seguro de responsabilidade‟, há elipse. O que se

segura é o status quo patrimonial ou do ser humano (acidentes, vida). Segura-se o

interesse positivo como se segura o interesse negativo. Assim, há seguro contra incêndio, o seguro de vida, o seguro de responsabilidade, que é o seguro para indenizar o que resulte de dívida ou obrigação que nasça ao segurado. O seguro é feito pelo afretador ou pelo locatário da embarcação é seguro de responsabilidade.

Consoante Tzirulnik, Cavalcanti e Pimentel (2003, p. 32) quando a norma contida no art. 757 do Código Civil determina que a garantia relaciona-se a um interesse, “refere-se a uma relação juridicamente relevante, isto é, o interesse há de ser protegido pela ordem jurídica.”.

Tzirulnik, Cavalcanti e Pimentel (2003, p. 32-33) sustentam ainda que o interesse é requisito de validade do contrato de seguro, aplicando-se, assim, as prescrições do art. 104, inciso II do Código Civil. Portanto o interesse segurável deve ser lícito, possível, determinado ou determinável.

Por seu turno, amparados em Rámon Sanchez Medal, aduzem que a legitimidade do interesse encontra-se no campo da eficácia e concluem que a seguro só pode ser contratado quando o segurado realmente sofrer os efeitos da lesão, caso ela ocorra, tendo, portanto, interesse na garantia. (TZIRULNIK; CAVALCANTI; PIMENTEL, 2003, p. 32)

Por interesse legítimo juridicamente relevante entende-se aquele no qual há uma pertinência entre o objeto do seguro e o segurado, tanto que este se sinta lesado se sobrevier um sinistro.

Amadeu Carvalhaes Ribeiro (2006, p. 60) distingue com maestria a diferença entre um interesse juridicamente relevante e um interesse irrelevante, in verbis:

Outra importante indagação é se o interesse segurável pode ser meramente econômico, ou se ele deve necessariamente ter um fundamento jurídico (v.g.

(30)

A relevância desta distinção consiste em evitar que o seguro transforme-se em especulação, ao ponto de o segurado desejar a realização do risco para dele tirar vantagem16. (RIBEIRO, 2006)

Assim, determina o art. 778 do Código Civil que “nos seguros de dano, a garantia prometida não pode ultrapassar o valor do interesse segurado no momento da conclusão do contrato”, sob pena de perda da garantia e sem prejuízo da ação penal, se cabível.

Neste contexto destaca Alvim (1999, p. 303) que a natureza do seguro rejeita a especulação. Para ele o risco é algo indesejável, nos seguros de dano, o segurado não deve desejar a realização do risco. Se por algum motivo o sinistro lhe beneficiar, ele não mais vai procurar evitá-lo. Dessa forma, a própria instituição do seguro estará comprometida, na medida em que o risco deixará de ser temido e passa a ser um estímulo para o locupletamento do segurado.

Durante a evolução do seguro, demonstrou-se sempre a negatividade da especulação, configurando um perigo para a coletividade. Isto incentivou que as normas legais, desde o começo da regulamentação do seguro, evitassem a especulação, proibindo que ninguém lucre com a realização do risco segurado. (ALVIM, 1999, p. 303)

O princípio indenizatório do seguro, como todo princípio, não é absoluto. Há sua mitigação em caso de dificuldade ou impossibilidade da determinação do valor do interesse. Tzirulnik, Cavalcanti e Pimentel (2003, p. 35-36) exemplificam algumas hipóteses em que existe uma maior liberdade entre os contratantes para estipulação do valor segurável, in

litteris:

Há determinadas situações em que essa equivalência (interesse e valor do seguro) é excepcionada, podendo o valor do seguro ser fixado com maior liberdade pelas partes, o que se verifica nos seguros de dano com valor estimado em função da dificuldade de determinação do valor do interesse (jóias de família, certos direitos da personalidade, seguros de lucros cessantes por fórmula etc.). O interesse, em outros

casos, poderá ter sua grandeza projetada: por exemplo, o interesse sobre uma obra em construção. Igualmente, pode exceder ao valor da coisa sobra a qual à primeira vista recai (o interesse), ainda que levado em conta o momento do sinistro. Isto é o que se verifica no seguro a valor de novo. (itálicos originais)

Ressalte-se por oportuno que o princípio indenizatório não existe no seguro de pessoas. Conforme o art. 789 do Código Civil, o capital segurado é livremente estipulado no seguro de pessoas, sendo possível, inclusive, a contratação de vários seguros para o mesmo interesse.

(31)

Exceção há apenas no caso de seguro sobre a vida de outros, no qual o proponente deve demonstrar o interesse pela preservação da vida do segurado, nos termos do art. 790 do Código Civil, evitando-se, dessa forma, a especulação17. Além da demonstração do interesse econômico ou moral, no caso de um credor fazer um seguro de vida do seu devedor, o valor estipulado deve corresponder ao montante da dívida, conforme orientação de Tzirulnik, Cavalcanti e Pimentel (2003, p. 166)

3.2.3 O risco

O risco é um dos elementos do contrato de seguro uníssono na doutrina nacional e estrangeira. Ele relaciona-se a um evento provocado pelo homem ou pela natureza, o qual, na maioria das vezes, o segurado deseja que não se realize, porque lhe causaria algum prejuízo.

Yvonne Lambert-Faivre (1977, p. 160) aduz que dos três elementos do contrato de seguro (risco, prêmio e sinistro) o risco é o mais fundamental, por ser este o objeto do contrato e ainda por determinar o valor do prêmio, bem como a realização do sinistro.

Pedro Alvim (1999, p. 215) consigna, ao estabelecer sua definição de risco, que a danosidade do evento era essencial somente quando os seguros restringiam-se aos seguros de dano. Hodiernamente, existem riscos que são até queridos pelo segurado, como, por exemplo, no caso de sobrevivência nos seguros de vida.18

Por outro lado, destaca referido autor que não se pode mais definir o risco como evento independente da vontade das partes, em virtude da criação dos seguros de responsabilidade civil, onde a culpa do segurado é o interesse segurável.

Em vista do exposto, Alvim (1999, p. 215) define o risco segurável como “[...] o acontecimento possível, futuro e incerto, ou de data incerta, que não depende somente da vontade das partes.”

Por sua vez, Fábio Ulhoa Coelho (2009, p. 342) estabelece que o risco refere-se a possibilidade de ocorrência de um evento futuro e incerto, que traria consequências relevantes ao interesse do segurado.

Para Paulo Nader (2008, p. 369) não há contrato de seguro sem que haja risco, entendendo-se este como “[...] a vulnerabilidade ou sujeição de pessoa, coisa ou interesse, a perigo”.

(32)

Como destacado, o risco configura o objeto do contrato de seguro, devendo, portanto, ser possível, nos termos do art. 104, inc. II do Código Civil. Assim, o risco que recaia sobre acontecimento impossível acarreta a nulidade do contrato de seguro.

O acontecimento deve ser futuro, não se pode contratar seguro de risco já sabidamente realizado. Para Alvim (1999, p. 216), a ideia de risco é incompatível com o que aconteceu ou o que está acontecendo, para ele “O passado e o presente registram estes acontecimentos que não podem ser objeto de contrato de seguro, dada a impossibilidade de verificação do risco, já ocorrido antes da conclusão do contrato.”

Tzirulnik, Cavalcanti e Pimentel (2003, p. 37) sustentam que esse entendimento é ultrapassado. Para eles a mudança estabelecida pelo novel Código de riscos futuros (art. 1.432 do Código Civil de 1916) para riscos predeterminados (art. 757 do Código Civil de 2002) afasta a noção de impossibilidade de cobertura para riscos putativos19

, permitindo que estes sejam seguráveis, como já determinava o art. 677, n. 9 do Código Comercial20 para os seguros marítimos.

Por fim, o risco deve ser relativo a acontecimento incerto. A incerteza pode recair sobre o acontecimento mesmo, exemplo roubo do automóvel no caso de seguro de automóvel, ou sobre a data da realização do evento, v.g. morte no seguro de vida.

Tzirulnik, Cavalcanti e Pimentel (2003, p. 37) oportunamente destacam que em função da dimensão social e coletiva do risco para o seguro, a incerteza do acontecimento não pode ser individual. Para eles, o risco é dado social que pode ser calculado em alto grau de certeza pelas pesquisas atuariais e concluem que, in verbis:

O procedimento matemático (estatístico e atuarial) relega a incerteza para um segundo plano, não focado quando da elaboração das cláusulas, termos e condições do contrato. Esta proposição se evidencia quando lembramos que o contrato de seguro não é paritário e sim de adesão, operando em massa, com a necessária e

acentuada padronização. Seu conteúdo, sua „precificação‟ e até mesmo sua formação

são pensados e postos bem antes da análise de cada situação individual, sempre com base na dimensão social, coletiva ou transindividual.

19 Entende-se por riscos putativos aqueles já realizados ao tempo da contração do seguro, mas cuja realização era ignorada pelas partes.

20 Art. 677 - O contrato do seguro é nulo: (...)

(33)

Essa transindividualidade do risco segurável é um dos fundamentos da intervenção do Estado, por meio de órgãos regulamentadores e fiscalizadores, nas empresas seguradoras.

3.2.4 O prêmio

O prêmio é a prestação do segurado, é o preço pago à seguradora pela garantia do interesse segurável.

Pedro Alvim (1999, p. 269) destaca que o prêmio por ser a remuneração do segurador, a qual é utilizada para a formação do fundo comum, de onde se extraem os valores das indenizações, é um elemento indispensável e fundamental à estabilidade das operações securitárias.

Conforme Pedro Alvim (1999, p. 271), o prêmio é composto por duas partes: o prêmio puro e o carregamento.

O cálculo do prêmio puro, segundo Lambert-Faivre (1977, p. 203-204), corresponde à taxa do prêmio multiplicada pelo capital segurado. Por seu turno, a taxa do prêmio é obtida considerando-se a frequência dos sinistros e o custo médio de cada um deles.

Já o carregamento é composto pelo lucro do segurador acrescido das despesas administrativas.

Para Fábio Ulhoa Coelho (2009, p. 343) a decomposição do prêmio não tem relevância jurídica para a relação securitária, isto porque “se a soma dos valores recebidos a título de prêmio puro não forem suficientes para o pagamento de todas as prestações devidas aos segurados, a seguradora não se exime de responsabilidade”, arcando com os prejuízos, casa não tenha feito o resseguro.

Em virtude de a seguradora ser apenas a gestora do fundo comum, ela não possui liberalidades sobre o prêmio. Destarte, prescreve o art. 30 do Decreto-lei nº 73/66 que as seguradoras “não poderão conceder aos segurados comissões ou bonificações de qualquer espécie, nem vantagens especiais que importem dispensa ou redução do prêmio.” Entende-se aqui apenas a parcela do prêmio referente ao prêmio puro, que corresponde ao valor que será agregado ao capital da seguradora para a garantia dos riscos segurados.

(34)

A correlação entre o risco e o prêmio é tão importante para a higidez do mercado segurador que o art. 766 do Código Civil determina que o segurado perderá o direito à garantia, além de ficar obrigado a pagar o prêmio vencido, se “fizer declarações inexatas ou omitir circunstâncias que possam influir na aceitação da proposta ou na taxa do prêmio”.

3.2.5 Empresarialidade da sociedade seguradora

Embora não seja considerada pacificamente pela doutrina como um elemento do contrato de seguro, encontramos em quase totalidade da bibliografia pesquisada21

, de forma uníssona, a necessária forma empresária da seguradora para operar na atividade securitária.

Concordamos com Tzirulnik, Cavalcanti e Pimentel (2003, p. 39) ao erigir a empresarialidade da seguradora a elemento essencial do contrato de seguro e não apenas uma capacidade da parte, tendo em vista que a sua “irradiação é mais ampla, incidente sobre a estrutura interna do contrato”.22

Pedro Alvim (1999, p. 179) destaca que coube a Cesare Vivante, ainda no século XIX, auge do liberalismo, demonstrar inauguralmente que somente na forma empresária pode uma seguradora consolidar-se tecnicamente para garantir os interesses dos segurados.

De fato, como explicitado no subitem 2.2.2, a tecnicidade é fundamento do contrato do seguro para se assegurar o adimplemento das indenizações nos casos de realização do risco segurado. Esta técnica só é alcançada por meio de uma empresa.

Corroborando com este entendimento, Tzirulnik, Cavalcanti e Pimentel (2003, p. 40) lecionam, ipsis litteris:

[As seguradoras] são, afinal, administradoras de fundos comuns ou fundos de poupança coletiva constituídos pela multidão de contribuições proporcionais (prêmios) prestadas por cada uma das economias individuais (segurados, estipulantes) para um fim preciso: ao longo de período geralmente extenso, garantir predeterminados interesses expostos a riscos também predeterminados. Para isso é essencial a empresarialidade: o exercício sistemático da atividade, a uniformização ou homogeneidade das garantias, uma grande massa de negócios e a constante formação de provisões ou reservas adequadas para a preservação dos interesses da coletividade de economias individuais.

Assim, na atualidade, “ninguém mais contesta do ponto de vista técnico e econômico, que o seguro deve ser explorado como atividade empresarial.” (Alvim, 1999, p. 180)

(35)

No Brasil, não é livre a exploração de seguros privados. O parágrafo único do art. 757 do Código Civil traz em seu bojo a empresarialidade da seguradora ao determinar que “somente pode ser parte, no contrato de seguro, como seguradora, entidade para tal fim legalmente autorizada.”

Por sua vez, o art. 24 do Decreto-lei n 73/66 destaca que “poderão operar em seguros privados apenas Sociedades Anônimas ou Cooperativas, devidamente autorizadas”, estas operando somente em seguros agrícolas.

(36)

4 SISTEMA NACIONAL DE SEGURO PRIVADOS

O Decreto-lei nº 73, de 21 de novembro de 1966, instituiu o Sistema Nacional de Seguros Privados, regulando as atividades de seguro e de resseguro no Brasil.

Consoante o art. 5º do Decreto-lei nº 73/66, a política de seguros privados tem por objetivo: promover a expansão do mercado de seguros e propiciar condições operacionais necessárias a sua integração no processo econômico e social do Brasil; evitar a evasão de divisas, mediante o equilíbrio do balanço dos resultados do intercâmbio, de negócios com o exterior; firmar o princípio de reciprocidade em operações de seguro; promover o aperfeiçoamento das sociedades seguradoras, preservando-lhes a liquidez e solvência; e coordenar a política de seguros com a política de investimentos do Governo Federal, observando-se os critérios estabelecidos para as políticas monetária, creditícia e fiscal.

O Decreto-lei nº 73/66, em consonância com o art. 22, inciso VII da Constituição Federal, estabelece em seu art. 7º que compete privativamente à União formular a política de seguros privados, legislar sobre suas normas gerais e fiscalizar as operações no mercado nacional. Em seu art. 8º, o referido decreto institui o Sistema Nacional de Seguros Privados, constituído pelo Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP); pela Superintendência de Seguros Privados (SUSEP); pelos Resseguradores; pelas Sociedades autorizadas a operar em seguros privados; e pelos corretores habilitados.

Neste capítulo, estudaremos a competência e algumas particularidades de cada componente do Sistema Nacional de Seguros Privados.

4.1 Conselho Nacional de Seguros Privados

O Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) foi instituído pelo Decreto-lei nº 73/66, trata-se de um órgão público, ligado ao Ministério da Fazenda, o qual possui uma ampla função normativa23.

23 Inicialmente, o CNSP, a SUSEP e o IRB eram vinculados ao Ministério da Indústria e Comércio, mas hoje são entidades ligadas ao Ministério da Fazenda, segundo o Anexo I, do Decreto nº 7.482, de 16 de maio de 2011: Art. 2º O Ministério da Fazenda tem a seguinte estrutura organizacional:

(…)

III- órgãos colegiados:

(…)

d) Conselho Nacional de Seguros Privados;

(…)

IV- entidades vinculadas: a) autarquias:

(37)

Conforme o art. 33 do Decreto-lei nº 73/66, o CNSP é presidido pelo Ministro da Fazenda e, na sua ausência, pelo Superintendente da SUSEP. É composto pelos seguintes membros: Ministro da Fazenda ou seu representante, representante do Ministério da Justiça, representante do Ministério da Previdência e Assistência Social, Superintendente da SUSEP, representante do Banco Central do Brasil e representante da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Como anteriormente ressaltado, a função preponderante do CNSP é normativa. De fato, determina o art. 32, inciso I do Decreto-lei nº 73/66 que compete privativamente ao CNSP fixar as diretrizes da política de seguros privados. Para isso, assevera Amadeu Ribeiro (2006, p. 139), que cabe ao CNSP “regular os elementos centrais da atividade” necessários para manter a higidez do sistema segurador, dentre elas24:

I - Regular a constituição, organização, funcionamento e fiscalização dos que exercerem atividades subordinadas à lei, bem como a aplicação das penalidades previstas;

II - Estipular índices e demais condições técnicas sobre tarifas, investimentos e outras relações patrimoniais, bem como fixar normas gerais de contabilidade e estatística a serem observadas pelas Sociedades Seguradoras, prescrevendo os critérios de constituição, com fixação dos limites legais e técnicos e delimitando, outrossim, o seu capital;

III - Fixar as características gerais dos contratos de seguros;

IV - Estabelecer as diretrizes gerais das operações de resseguro e de cosseguro; V - Aplicar às Sociedades Seguradoras estrangeiras autorizadas a funcionar no País as mesmas vedações ou restrições equivalentes às que vigorarem nos países da matriz, em relação às Sociedades Seguradoras brasileiras ali instaladas ou que neles desejem estabelecer-se;

VI - Disciplinar a corretagem de seguros e a profissão de corretor;

VII - Decidir sobre sua própria organização, elaborando o respectivo Regimento Interno;

VIII - Regular a organização, a composição e o funcionamento de suas Comissões Consultivas;

IX - Regular a instalação e o funcionamento das Bolsas de Seguro.

3. Superintendência de Seguros Privados; (...)

c) Sociedades de Economia Mista:

(…)

2. IRB - Brasil Resseguros S.A.;

Referências

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