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Os riscos laborais são determinados a partir de um conjunto de factores relacionados com o contexto de interacção em que o individuo se encontra, e outros factores, menos

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objectivos, que se prendem com a dimensão social e que incidem quer no funcionamento da empresa quer nas medidas preventivas em particular.

Desta forma, a avaliação de riscos deve basear-se num modelo participativo que integre as diferentes percepções e interpretações de toda a estrutura hierárquica e funcional da empresa, com a finalidade de tornar todo o processo de avaliação operacional. É da incumbência da entidade patronal, a avaliação dos riscos consoante a sua natureza e a sua classificação: esta avaliação consiste num mapa detalhado de todos os factores que em qualquer actividade podem causar dano para os trabalhadores. Estabelecido o mapa, que terá que ter por base factores vários como a classificação dos agentes biológicos; a sensibilidade dos trabalhadores; advertências da Direcção Geral da Saúde; conhecimento técnico de doenças existentes relacionadas com o sector; informação de doença de um trabalhador relacionada com o seu trabalho; tornar-se-á possível aferir se as medidas de prevenção são suficientes ou se será necessário desencadear uma estrutura de actividades para a prevenção do risco.

A finalidade de todo o processo avaliativo, é a diminuição para níveis aceitáveis, ou mesmo a eliminação do risco de forma a prevenir a ocorrência de danos ou lesões que poderão advir das tarefas desenvolvidas, pelos trabalhadores, na empresa. (Freitas L. C., 2011) Esta avaliação deve ser repetida periodicamente e deve mencionar os trabalhadores que necessitam de protecção especial.

Neste processo de avaliação, o foco prende-se com a protecção dos trabalhadores. Tendo isto em mente, compreende-se pois que, quando não se consiga substituir os agentes perigosos por outros mais seguros se restrinja o número de trabalhadores expostos, ou com possibilidade de o serem. Contempla-se ainda a alteração de processos produtivos, de forma a minimizar ou suprimir a disseminação de agentes biológicos no local de trabalho. A ter ainda em conta estará o recurso a medidas de protecção colectiva e individual; medidas preventivas importantes para a prevenção e redução da transferência de agentes biológicos passam pela eficiente higienização do local de trabalho, a recolha e armazenagem cuidada dos resíduos em recipientes seguros e identificados, bem como a sua, também cuidada, manipulação transporte e tratamento. A entidade patronal deve proceder à sinalização apropriada dos locais de trabalho que expõe o trabalhador a risco, em consonância com o código de sinalização de segurança em vigor (Decreto-Lei n.º 141/95, de 14 de Junho), à elaboração de um plano de acção, em caso de acidente com agentes biológicos; e por fim fazer a actualização do plano supra mencionado, sempre que se justificar alteração das instalações físicas ou dos agentes de risco.

15 Metodologia de Avaliação do Risco

O esquema da Figura 4 representa o processo de avaliação de riscos. Constata-se que é um processo integrado que utiliza as informações/dados relativos à sequência produtiva, aos materiais, aos equipamentos, aos modos operatórios e ao meio envolvente, para identificar os factores de risco. Após a sua identificação, os riscos são avaliados usando o conhecimento científico da época e a legislação nacional e internacional, para o assunto. Desta forma, além de elencar todos os factores de risco, é possível hierarquizá-los segundo a gravidade do dano que são capazes de causar. Idealmente este processo deve ser iniciado na fase de projecto: onde o(s) factor(es) de risco é(são) previsível(eis) antes mesmo de poder causar danos, permitindo assim projectar as infra-estruturas e as rotinas de operação de forma a minimiza-lo, representando uma poupança de recursos materiais e humanos.

Figura 4 – O processo de análise do risco e o processo produtivo. (Freitas L. C., 2011)

A avaliação dos riscos pode ser feita segundo diferentes perspectivas como seja o sector de actividade, o tipo de risco por profissão, por componente material do trabalho, por operação ou sub-operação.

Quanto às técnicas de avaliação do risco encontramos duas naturezas distintas: técnicas analíticas ou técnicas operativas. Nas técnicas analíticas identificam-se e avaliam-se os diferentes factores de risco que podem ser fonte de dano humano tendo em conta que, estes factores podem ser anteriores ou posteriores ao acidente. No que respeita às técnicas operativas, estas têm como objectivo minimizar ou eliminar as causas dos riscos e são aplicáveis a factores técnicos e humanos; podendo estar relacionadas com a concepção e as correcções aplicadas ao factor técnico e as diferentes técnicas aplicadas ao factor humano, tais como a selecção do pessoal, formação e informação.

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Quanto aos métodos de identificação do risco, existem diferentes métodos de qualificação. Estes métodos podem ser qualitativos ou quantitativos. Exemplos de métodos quantitativos são:

 APR (Análise Preliminar de Riscos) – este método é aplicável na fase de projecto. Aborda potenciais riscos da estrutura ou sistema, assim como a melhor forma de eliminar ou reduzir o seu impacto. Caso o risco não possa ser eliminado, o método deve contemplar medidas de controlo. Este modelo tem por base técnicas que permitem o diagnóstico diferencial por função a exercer nos diferentes ambientes de trabalho, e de que forma estes poderão afectar os trabalhadores, equipamentos ou operações. Este tipo de análise também pode ser precedente de outras a desenvolver em fases posteriores da actividade. Nesta situação é relevante recolher informação sobre os acidentes ocorridos e situações similares de falha em outras empresas. É também importante construir uma ficha de verificação por antecipação que englobe todas as informações relativas à actividade, às estruturas, às operações, às propriedades dos materiais, às condições de trabalho, aos registos existentes sobre as actividades e as informações legais ou normativas aplicáveis nos vários domínios do sistema. Esta tarefa conduz à identificação do sistema de risco, sendo assim possível explicitar os diferentes acontecimentos que podem conduzir à falha/risco.

Este método de análise é rápido e tem uma boa relação custo e benefício além de reconhecer quais os principais problemas inerentes.

 What if? (O que aconteceria se?) – este método baseia-se na formulação de uma pergunta e na identificação dos riscos advindos da sequência de eventos enunciada na mesma. Este tipo de análise deve ser da responsabilidade de uma equipa criativa e metódica responsável pela verificação de cada situação de potencial risco. Deve ser do conhecimento da equipa toda a informação técnica relevante em matéria do risco, assim como a incidência de acidentes e incidentes em cada operação em concreto. Com este conhecimento é possível desenvolver uma lista de questões relativas aos riscos e às medidas preventivas que permite examinar detalhadamente todo o processo, desde a recepção de matérias primas até à expedição do produto.

 FMEA (Failure Mode and Effects Analysis) – esta análise baseia-se no estudo das falhas dos componentes de um sistema ou estrutura operacional. O processo inicia-se na construção de um diagrama com a descrição de todos os componentes que podem

17 eventualmente falhar ou causar danos, comprometendo a segurança. Depois de listados, os componentes são avaliados: por critério de consequência de falha e efeito, em componentes e no sistema global, por escala de risco baixa a elevada, pela probabilidade de falha, pela possibilidade de compensação dos efeitos, e pelos métodos de detecção. A partir deste estudo é possível relatar um conjunto de recomendações adaptadas ao controlo dos riscos.

 Carta de Riscos – este método serve como princípio de outras técnicas. A carta de riscos descreve a situação contingente a um determinado posto de trabalho englobando esclarecimentos acerca da tarefa/operação, aos equipamentos, aos materiais, aos factores de risco, aos riscos e as medidas de prevenção.

 Observação de actividades – este método, tal como o nome indica, baseia-se na observação das actividades numa análise complementar à identificação e avaliação dos riscos. O objectivo principal é o de averiguar quotidianamente se o comportamento dos trabalhadores é seguro e conforme, relativamente à descrição dos procedimentos. Sempre que se justifique alguma alteração e também de forma periódica, devem-se realizar estas observações com o objectivo de melhorar a qualidade de trabalho.

A observação planeada deve obedecer a diferentes etapas sequenciais que são: a concepção do sistema, a preparação de actividades, a execução das observações, o registo de operações, e por fim, a avaliação e controlo.

Por sua vez, exemplos de métodos qualitativos são:

 HAZOP (Hazard and Operability Study) – trata-se de uma técnica qualitativa de identificação de riscos e problemas operacionais, que se baseia nos desvios ao processo operacional tendo como referência palavras-chave.

Esta técnica permite a estimativa de falhas identificando na sua sequência as causas, possibilitando assim o estabelecimento de medidas de prevenção.

Para esta análise devem ser formadas equipas de 5 ou 6 elementos responsáveis pelo estudo de todos os diagramas operacionais, instruções, fichas de dados de segurança, plantas das instalações, etc. Sequencialmente a equipa revê cada elemento aplicando as palavras-chave. Quando são identificados desvios quantitativos, deve ser redigido um relatório onde conste cada consequência desse desvio bem como as alterações a implementar nos métodos tendo em vista a redução do mesmo.

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 Métodos estatísticos – esta técnica de controlo reactiva é das mais utilizadas para determinar o índice de sinistralidade. A análise estatística permite determinar quais as actividades de maior risco, quais os departamentos com maior incidência de risco, o histórico e evolução da sinistralidade, e os custos sociais e capitais decorrentes.

Os dados estatísticos devem por si só indicar quais as características dos acidentes de trabalho e das doenças profissionais de forma a facilitar a identificação de medidas de controlo e prevenção auxiliando assim a tomada de decisão e a implementação de melhorias.

 Árvores lógicas de falhas – trata-se de uma representação gráfica, em forma de diagrama, das circunstâncias que podem originar um acontecimento não desejado. A construção do diagrama inicia-se com a enunciação de uma dano que serve de ponto de partida para o questionário causal.

 Árvores lógicas de eventos – esta técnica baseia-se na formulação de uma sequência de acontecimentos capazes de desencadear um acidente, como consequência de um evento. A partir desta enunciação é criado um diagrama com uma sequência de acontecimentos indesejados para averiguar todo o espectro de possibilidades e perceber se as medidas de prevenção existentes são suficientes para evitar os danos observados.

 Árvores lógicas de causas – este método deriva das árvores lógicas de falhas e pretende analisar as circunstâncias que originaram determinado acidente ou incidente. A análise inicia-se pela recolha de toda a informação existente relativa às condições em que ocorreu determinado acidente. O diagrama deve ser construído com estes factos, sem aplicar qualquer juízo ou interpretação subjectiva. Uma vez recolhidas estas informações são feitas ligações entre os factos, tomando como ponto de partida o acidente e sequencialmente analisando os factos que o antecederam.

A classificação dos métodos pode também ter em conta se estes são indutivos - quando se pretende analisar o dano provável de um acontecimento (método pró-activo); ou dedutivos - quando se baseiam num acontecimento e se pretendem a descobrir os motivos que causaram o dano (método reactivo). (Freitas L. C., 2011)

19 O Método de Avaliação Simplificado

O método de avaliação simplificado permite quantificar quer os factores de risco segundo a sua amplitude, quer obter o diagnóstico de quais as prioridades de intervenção, por parte da organização. A análise inicia-se pela inspecção das não conformidades detectadas nos locais de trabalho e pela quantificação da probabilidade de ocorrer um acidente daí decorrente; sendo para tal estabelecido um nível de risco que resulta do produto do nível de probabilidade pelo nível de consequências .

Existe uma lista de procedimentos a seguir neste método de avaliação, que deve ser encarada de forma sequencial, estando todas as etapas, a saber - definição do risco a avalisar; elaboração de uma lista de verificação sobre os factos que possibilitaram a sua materialização; atribuição do nível de relevância a cada um dos factores; preenchimento do questionário no local de trabalho e estimação da exposição e consequências esperadas em condições habituais; determinação do nível de deficiência; estimativa do nível de probabilidade a partir do nível de deficiência e do nível de exposição; comparação do nível de probabilidade, a partir de dados históricos disponíveis; estimativa do nível de risco a partir do nível de consequências e do nível de probabilidade; estabelecimento dos níveis de intervenção considerando os resultados obtidos e a sua justificação socioeconómica; comparação dos resultados obtidos com os estimados, a partir de fontes de informação precisas e experiência - definidas e ordenadas. Ressalva-se que esta forma não pode ser desrespeitada, sob pena de avaliação obtida não ser espelho da realidade da organização, em concreto.

Relativamente às deficiências apuradas no decorrer da aplicação deste método é apurado o nível de deficiência: “trata-se da amplitude da articulação expectável entre o conjunto de factores de risco considerados e a sua relação causal directa com o possível acidente.” O nível de deficiência, pode ser calculado de diversas formas sendo uma das formas eficazes de o fazer, o recurso à elaboração de uma lista de verificação. (Freitas L. C., 2011)

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Tabela 2: Classificação dos diferentes níveis de deficiência. (Freitas L. C., 2011)

Nível de Deficiência ND Significado

Muito Deficiente (MD) 10 Foram detectados factores de risco significativos que determinam a elevada probabilidade de acidente. As medidas existentes são ineficazes.

Deficiente (D) 6 Existe um factor de risco significativo, que precisa de ser eliminado. A eficácia das medidas de prevenção vê-se drasticamente reduzida.

Melhorável (M) 2 São constatáveis factores de risco de importância reduzida. A eficácia das medidas preventivas não é globalmente posta em causa.

Aceitável (B) - Não se detectou qualquer anomalia que caiba referir. O risco está controlado.

O nível de exposição é um índice que diz respeito à frequência com que ocorre, como o próprio nome indica, a exposição ao risco, por parte dos trabalhadores. Geralmente é estimado o valor em função dos tempos de permanência nas áreas de trabalho, operações com máquinas, químicos, etc.

Tabela 3: Classificação dos diferentes níveis de exposição. (Freitas L. C., 2011)

Nível de Exposição NE Significado

Continuada (EC) 4 Contínua: várias vezes ao longo do período laboral, com exposição prolongada.

Frequente (EF) 3 Várias vezes ao longo do período laboral ainda que por curtos períodos.

Ocasional (EO) 2 Uma vez por outra, ao longo do período de laboração, por um reduzido lapso de tempo.

Esporádica (EE) 1 Irregularmente.

Quanto ao nível de probabilidade, podemos dizer que este é obtido pelo cálculo do produto do nível de deficiência das medidas de prevenção e do nível de exposição ao risco.

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Tabela 4: Classificação dos diferentes níveis de probabilidade. (Freitas L. C., 2011)

Nível de Exposição (NE)

4 3 2 1

Nível de Deficiência (ND)

10 MA-40 MA-30 A-20 A-10

6 MA-24 A-18 A-12 M-6

2 M-8 M-6 B-4 B-2

Tabela 5: Interpretação dos diferentes níveis de probabilidade (Freitas L. C., 2011)

Nível de Probabilidade NP Significado

Muito Alta (MA) 40-24 Situação deficiente, com exposição continuada ou muito deficiente, com exposição frequente.

A materialização deste risco ocorre com frequência. Alta (A) 20-10 Situação deficiente, com exposição frequente ou

ocasional ou situação muito deficiente com exposição ocasional ou esporádica.

A materialização do risco é possível em vários momentos do processo operacional.

Média (M) 8-6 Situação deficiente, com exposição esporádica ou situação melhorável com exposição continuada ou frequente.

Existe a possibilidade de dano.

Baixa (B) 4-2 Situação melhorável, com exposição ocasional ou esporádica. Não é expectável a ocorrência de risco, ainda que seja concebível.

O nível de consequências elucida quanto às lesões ou danos materiais consequentes a um risco. A este nível não se encontra indexado nenhum valor económico condizente à organização, mas sim ao tipo e dimensão da empresa. A sua escala numérica (Tabela 6) é superior à escala de (Tabela 5), dada a maior valoração deste factor.

Qualquer acidente do qual resulte baixa-médica (impossibilidade de trabalhar) deve ser considerado como consequência grave. Assim esta classificação procura penalizar as consequências sobre as pessoas em função do acidente e não em função do critério médico- legal; outro factor, que releva é a consideração de que sempre que existe um acidente do qual resulte uma baixa, os custos económicos imputados são relevantes.

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Tabela 6: Classificação dos diferentes níveis de consequências. (Freitas L. C., 2011)

Nível de Consequências NC

Significado

Lesões Danos materiais

Mortal ou catastrófico (M)

100 Um morto ou mais. Destruição total do sistema. Muito Grave (MG) 60 Lesões graves que podem ser

irreparáveis.

Destruição parcial do sistema (com reparação complexa e custos elevados).

Grave (G) 25 Lesões com incapacidade temporária absoluta ou parcial.

É necessário parar o processo operativo para proceder à reparação.

Leve (L) 10 Pequenas lesões que não requerem internamento.

Pode proceder-se à reparação sem parar o processo.

Quanto ao nível de risco e de intervenção torna-se possível, a partir da Tabela 7, a sua verificação, em diferentes níveis de intervenção sob forma de blocos. Como é possível concluir este índice é calculado a partir do produto de com . Assim:

.

Tabela 7: Cálculo do nível de risco e de intervenção. (Freitas L. C., 2011)

Nível de Probabilidade (NP) 40-24 20-10 8-6 4-2 Nível de Consequências (NC) 100 I 4000-2400 I 2000-1200 I 800-600 II 400-200 60 I 2400-1440 I 1200-600 II 480-360 II240 III120 25 I 1000-600 II 500-250 II 200-150 III 100-50 10 II 400-240 II 200 III 100 III 80-60 III 40 IV 20

O nível de intervenção, no contexto do risco, tem valores indicativos que por si só não podem ser absolutos na definição de prioridades de investimento, uma vez que, para que se justifique determinado investimento na protecção dos trabalhadores, é necessário recolher informações complementares que digam respeito aos componentes económicos, sejam eles materiais, decorrentes de possíveis danos e outros; e à influência de intervenção no processo

23 produtivo. A situação mais útil traduz-se no melhor investimento do qual resultam o maior número de trabalhadores protegidos. (Freitas L. C., 2011)

Tabela 8: Classificação dos diferentes níveis de intervenção. (Freitas L. C., 2011)

Nível de Intervenção NR Significado

I 4000-600 Situação crítica. Correcção urgente. II 500-150 Corrigir e adoptar medidas de controlo.

III 120-40 Melhorar se for possível. Seria conveniente justificar a intervenção e a sua rentabilidade.

IV 20 Não intervir, excepto se uma análise mais precisa o justificar.

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