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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.5 Políticas públicas relacionadas à água

5.5.2 Avaliação e sugestões dos beneficiários

Os programas analisados nesta pesquisa estão trazendo benefícios às famílias rurais e também favorecendo a utilização mais racional dos recursos naturais nas comunidades rurais do Planalto. No entanto, alguns aspectos foram elencados como problemas relacionados a cada um deles, pelas famílias entrevistadas. São várias as sugestões para continuar caminhando para a utilização sustentável dos recursos naturais na chapada do Planalto.

Realmente, há um esforço efetivo, por parte da ASPROHPEN, no sentido de buscar formas mais eficientes de utilização dos recursos naturais, com o enfoque em sistemas agroecológicos de produção. A busca por parcerias nessa caminhada está sendo de fundamental importância, mas ainda há um longo caminho a percorrer.

QUADRO 1

Problemas dos programas e dos projetos, relacionados à água, na visão das famílias associadas à ASPROHPEN, nas comunidades rurais do Planalto,

Montes Claros – MG

Programa Problemas

Poço Artesiano

Não tem água suficiente Problemas com a bomba Reservatório pequeno Falta de manutenção Mandala

Dificuldade em produção orgânica Excesso de burocracia

Pagar o financiamento a prestação

Fora da realidade do local

Barraginha

Barragens pequenas

Barragens não cercadas

Ecocrédito

Não citado

Fonte: Pesquisa de campo, julho de 2008.

O poço artesiano é o principal programa que disponibiliza água para o consumo doméstico. É o mais acessado pelas famílias e também o que apresenta o maior número de problemas. Um dos principais é a vazão insuficiente dos poços, os quais não estão sendo capazes de atender à demanda de todas as famílias das comunidades rurais do Planalto. Com o aumento da população na região, vem aumentando a demanda pela água dos poços, que não está comportando, agravando uma situação já ocorrente.

Os outros problemas citados, como problemas com a bomba, reservatório pequeno e falta de manutenção, refletem aspectos que estão relacionados à dificuldade de distribuição da água, o que compromete a efetiva disponibilidade da água do poço para as famílias.

O Projeto Mandala teve como problema enfrentado a necessidade de se produzir de forma orgânica. Esse aspecto não foi uma exigência no projeto, mas houve uma sensibilização para os produtores aderirem a essa forma de produzir. Porém, entre os produtores da ASPROHPEN, há uma

grande resistência para converter os seus plantios em uma produção orgânica, pois alegam que a comercialização desses produtos não é viável para eles.

Como o Projeto Mandala foi negociado entre várias organizações para poder sair do papel, a sua tramitação foi um pouco lenta e exigiu documentação. Com isso, alguns produtores alegaram que o processo foi burocrático. Além de citarem que o projeto não foi a fundo perdido, o que consideram um problema.

Outro problema citado foi que a lógica do Sistema Mandala não se adequava à realidade dos produtores da região, os quais dispõem de água suficiente. O sistema é para ser empregado em regiões mais secas, afirmaram alguns produtores. Com isso, investiram em sistemas convencionais de irrigação, ao invés de converterem-se ao modelo de plantio de um Sistema Mandala tradicional.

As barraginhas apresentaram dois aspectos negativos, segundo as famílias associadas à ASPROHPEN: o primeiro é que elas poderiam ser maiores. O segundo é que poderiam ser cercadas. Afirmam que poderiam reter mais água e terra, se fossem maiores e o cercamento impediria a circulação de animais dentro da área.

Mesmo destacando essas ações citadas pelas famílias, ainda falta muito para conseguir proteger e conservar as águas das comunidades rurais do Planalto. Assim, partindo dessa realidade, foram indicadas sugestões que poderiam ser realizadas, para melhorar a condição dos recursos hídricos na região.

Construir mais barraginhas é a principal sugestão oferecida pelas famílias entrevistadas. Esse programa apresentou ótimos resultados, e vem possibilitando uma ação efetiva no controle da erosão e assoreamento de nascentes e rios, um dos principais problemas relacionados à água na região (TAB. 10).

TABELA 9

Sugestões das famílias associadas à ASPROHPEN, para melhoria na situação das águas nas comunidades rurais do Planalto, Montes Claros –

MG, em percentual

Sugestões para melhoria na situação das águas Percentual %

Construir mais barraginhas 39,1

Cercar e recuperar nascentes 21,7

Construir barragens em cursos de rio 21,7

Evitar desmatamentos, assoreamentos e queimadas 21,7

Captar água de chuva 17,4

Construir poços tubulares 13,0

Maior fiscalização para com o uso da água 8,7

Analisar a qualidade da água dos poços artesianos 8,7

Construir estação de tratamento de água 4,3

Realizar plantio em nível 4,3

Passar o controle das águas para a COPASA 4,3

Fonte: Pesquisa de campo, julho de 2008.

O cercamento de nascentes aparece como sugestão de 21,7% das famílias entrevistadas. Em pesquisa de campo, não foi identificada nenhuma nascente efetivamente cercada nas comunidades do Planalto. Essa iniciativa traz bons resultados e é possível ser viabilizada, por meio de parcerias com órgãos ambientais, como o Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais.

Com 21,7% das sugestões dos entrevistados, a construção de barragens em cursos de rio se mostrou interessante às famílias, mas principalmente pela possibilidade de maior disponibilidade de água para a captação e uso para produzir.

Uma sugestão a destacar é a de coletar a água de chuva. Essa é uma política que vem sendo desenvolvida em todo o semi-árido brasileiro, por meio do Programa Um Milhão de Cisternas Rurais (P1MC). O P1MC vem construindo caixas para coleta de água da chuva para milhares de famílias rurais nas regiões do Norte de Minas e do Vale do Jequitinhonha, iniciativa que vem fornecendo maior quantidade de água na época da seca e melhorando as condições de vida da população rural do semi-árido mineiro

(ASA, 2006). Essa sugestão reflete a necessidade de maior disponibilidade de água e uma reduzida oferta desse recurso natural para 17,4% das famílias entrevistadas.

Outros aspectos ligados à conservação dos recursos hídricos apareceram como sugestão: evitar desmatamentos, assoreamentos e queimadas e utilizar métodos de conservação dos solos nos plantios.

Essas sugestões podem orientar futuras ações na região. A partir disso, a ASPROHPEN, o poder público municipal, os órgãos ambientais, as associações comunitárias e outros atores locais e regionais poderão executar políticas com maior clareza em seus objetivos.