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Avaliando o Programa de Mentoria e as Aprendizagens da Ini ciante

Categorias das Linhas do Tempo

4.1.4 Avaliando o Programa de Mentoria e as Aprendizagens da Ini ciante

No dia 14 de dezembro, Carolina enviou sua avalia¸c˜ao ao Programa de Mentoria, sobre o desenvolvimento das atividades do M´odulo II, relatando e analisando suas aprendiza- gens, dificuldades, pontos positivos e negativos durante o desenvolvimento do Programa.

Carolina relatou que a escola em que lecionava nesse ´ultimo ano, os gestores, os professores e os alunos colaboraram para o desenvolvimento das atividades relacionadas ao Programa, mesmo que de forma indireta, j´a que n˜ao comunicara a dire¸c˜ao sobre sua participa¸c˜ao no Programa, pois sempre teve muita liberdade para trabalhar, desde que se mantivesse de acordo com a proposta da rede de ensino. Parece assim, que ela estava mais integrada no SESI e n˜ao sentia mais a hostilidade do ano anterior.

A professora analisou a sua contribui¸c˜ao para a escola. Carolina apontou que al´em do sucesso das atividades realizadas com os alunos, tamb´em despertara interesse nos professores em conhecer um pouco mais o trabalho que estava realizando, principalmente quando fez uma pequena entrevista com eles sobre as atividades de Educa¸c˜ao F´ısica.

Sobre suas aprendizagens, Carolina revelou que “retomar os objetivos da aula de Educa¸c˜ao F´ısica” foi muito importante para ela, como professora. Mas ela tamb´em elen- cou suas dificuldades nesse processo, como a insistˆencia de alguns alunos em quererem apenas jogar futebol e a resistˆencia diante de algumas atividades diferenciadas. O fato de se considerar ansiosa foi uma dificuldade, que relatou ter superado, planejando cada atividade detalhadamente e tentando n˜ao mostrar sua inseguran¸ca durante o seu desen- volvimento.

Quando questionada se havia percebido influˆencia da participa¸c˜ao no Programa de Mentoria em seu trabalho em sala de aula, a iniciante respondeu:

Carolina 14/12/2007

Sem d´uvida. Logo nas primeiras atividades, a minha ansiedade foi diminuindo, pois a aceita¸c˜ao dos alunos foi boa. E o resultado final foi fant´astico! Percebi que devo investir em pesquisas de novas atividades porque os alunos gostam do que j´a conhecem, e ampliando o seu repert´orio de brincadeiras poder˜ao conhecer, vivenciar e descobrir novas coisas.

Carolina tamb´em comparou suas aprendizagens nos dois m´odulos:

Carolina 14/12/2007

Como no m´odulo I, reafirmei a importˆancia da reflex˜ao sobre minha pr´atica para o processo de ensino e aprendizagem.

E descobri que os alunos querem conhecer, descobrir e explorar novos horizon- tes... Cabe ao professor oportunizar esses momentos, mesmo que tenha receio ou inseguran¸ca, pois basta buscar, pesquisar e refletir, que esses sentimentos se transformam e ele acaba descobrindo novos caminhos, e conseq¨uentemente, mostrando novos horizontes aos seus alunos.

A iniciante encerrou sua avalia¸c˜ao comentando que no ano seguinte, quando n˜ao tivesse mais o apoio de sua mentora continuamente, buscaria trocar id´eias com os demais professores e informa¸c˜oes em textos, livros etc. Comentou tamb´em que refletir sobre seu trabalho e sua pr´atica em sala de aula j´a faziam parte de seu cotidiano e que sempre buscaria “identificar as falhas, os sucessos e os caminhos a serem seguidos”.

No dia 17 de dezembro de 2007 a mentora encerrou as atividades de Carolina no Programa de Mentoria, parabenizando o “Caso de Ensino” elaborado pela.

Mariana 17/12/2007

Oi Carolina.

Espero que esteja bem!

Carolina, a coordena¸c˜ao j´a me retornou sobre o seu caso de ensino II e, como j´a era esperado, o parecer foi favor´avel a minha expectativa - muito bom. O certificado referente a sua participa¸c˜ao no Programa de Mentoria j´a est´a sendo providenciado, por´em, s´o dever´a ficar pronto no pr´oximo ano.

Neste momento gostaria de parabeniz´a-la pelo seu desempenho durante o de- senvolvimento do nosso trabalho. Vocˆe demonstrou ser uma professora muito respons´avel, dedicada e, principalmente, comprometida com a sua profiss˜ao. Desejo que essas qualidades sejam sempre suas parceiras ao longo de sua vida profissional trazendo-lhe muito sucesso em sua trajet´oria.

O Programa de Mentoria nos moldes propostos inicialmente est´a se encer- rando. Foi um trabalho onde todos se dedicaram muito para que o seu resul- tado pudesse trazer benef´ıcios para a educa¸c˜ao do nosso pa´ıs.

Esperamos que a semente plantada, cultivada e os frutos colhidos possam ser apreciados e re-plantados por todos os que se dedicam e acreditam na educa¸c˜ao como um instrumento de transforma¸c˜ao e crescimento do ser humano.

Agrade¸co de cora¸c˜ao a sua colabora¸c˜ao e a confian¸ca que depositou no meu trabalho. Confesso que me dediquei muito para lhe ser ´util e compartilhar contigo de suas angustias e necessidades e, espero ter contribu´ıdo de alguma forma para o seu crescimento profissional.

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Mariana Continua¸c˜ao

Sinalizando o encerramento de nossas atividades, estou lhe enviando em anexo uma carta das coordenadoras do Programa de Mentoria contendo um impor- tante question´ario a ser respondido por vocˆe, no m´aximo at´e o dia 15/01/08. Vocˆe dever´a enviar essa carta para o endere¸co eletrˆonico da Professora Aline disponibilizado na carta anexa. `E muito importante o seu retorno para a finaliza¸c˜ao do nosso trabalho, portanto, quanto antes entregar melhor. DESEJO-LHE UM FELIZ NATAL E UM ANO NOVO REPLETO DE PAZ E BONS ACONTECIMENTOS!

Um grande beijo de sua amiga e parceira! Mariana.

A iniciante respondeu ao question´ario enviado pelo Programa de Mentoria, como fe- chamento de sua participa¸c˜ao no Programa. Nesse question´ario indicou que normalmente acessava o site do Programa de Mentoria do computador da sua casa, facilitando a rea- liza¸c˜ao das atividades, que poderia ser feita em qualquer momento do dia.

Carolina relatou que se dedicou ao Programa em m´edia duas horas por dia e que o apoio recebido havia sido “fant´astico”, j´a que a mentora sempre estivera presente em seus momentos de ansiedade e a auxiliara na busca de solu¸c˜oes para seus dilemas.

Sobre sua participa¸c˜ao no Programa e as aprendizagens decorrentes, a iniciante de- clarou:

Avalia¸c˜ao

Este ano, costumo dizer que fui aben¸coada! Minhas turmas s˜ao ´otimas em rela¸c˜ao `a disciplina (que foi a minha grande dificuldade do ano em que in- gressei no programa), n˜ao tenho tantos alunos com dificuldades de aprendiza- gem...realmente estou no para´ıso!

Mas, ao analisar a minha realidade desse ano, me pergunto se o que sinto em rela¸c˜ao `a essas turmas, n˜ao ´e reflexo do trabalho que consegui desenvolver diante das atividade do programa (ser´a que minha ansiedade n˜ao ´e menor? Ser´a que estou mais segura do que estou fazendo? Ser´a que ´e porque os momentos de reflex˜ao e avalia¸c˜ao de minha pr´atica est˜ao mais presentes?).

Carolina comentou sobre suas expectativas ao ingressar no Programa de Mentoria.

Avalia¸c˜ao

Minha expectativa era que eu recebesse uma solu¸c˜ao imediata para a afli¸c˜ao e dificuldade que estava vivenciando no momento. Por´em, ap´os os primeiros contatos com minha mentora, fiquei um pouco decepcionada, pois ela me deu textos para ler, fez algumas perguntas; que naquele momento n˜ao consegui entender o porquˆe...por´em com o tempo percebi como seria o trabalho.

Esse relato da ansiedade da professora iniciante e que Carolina buscava respostas prontas e r´apidas para resolver seus problemas n˜ao percebendo ainda a complexidade da a¸c˜ao de ensinar e a ausˆencia de respostas universais.

Carolina relembrou suas dificuldades iniciais e o dilema que vivia com a quarta s´erie em que lecionava; os problemas de indisciplina e falta de apoio dos pais tomaram para ela propor¸c˜ao enorme, causa de sua inexperiˆencia. Ela comentou:

Avalia¸c˜ao

Diante do desconhecido a ansiedade parece um abismo sem fim, mas o pro- grama me ajudou a diminuir e controlar essa ansiedade, e me alertou que n˜ao existe solu¸c˜ao pronta, o educador deve buscar caminhos para resolver seus conflitos atrav´es da auto-avalia¸c˜ao, da reflex˜ao e da vontade.

Ao finalizar sua participa¸c˜ao no Programa de Mentoria, a professora iniciante afirmou que trabalhar com a heterogeneidade da turma era o que mais a angustiava, no momento; apesar de j´a ter essa dificuldade quando iniciou no programa, na ´epoca, n˜ao era priori- dade. Essa coloca¸c˜ao parece indicar que os problemas e ang´ustias dos iniciantes precisam ser abordadas segundo as prioridades por eles mesmos estabelecidos e que apesar de a supera¸c˜ao de um obst´aculo prov´avel favorecer a supera¸c˜ao de outros, nem sempre essa influˆencia ´e facilmente percebida, nem o problema ´e completamente igual, nem a solu¸c˜ao anterior ´e a ideal no novo contexto, assim a situa¸c˜ao exige continuar a aprender sempre e aprender em contexto.

A iniciante comentou sobre o que aprendera e o que faltara aprender nesse per´ıodo:

Avalia¸c˜ao

Aprendi que o educador deve ser reflexivo, estar sempre analisando sua pr´atica, suas atitudes, ou seja, deve avaliar o processo de aprendizagem e com isso consegue lidar melhor com suas dificuldades, ang´ustias, ansiedades e conflitos. [...] Preciso aprimorar os momentos de reflex˜ao sobre minha pr´atica pe- dag´ogica, para poder encontrar formas de trabalhar essa minha nova dificul- dade: trabalhar com atividades diversificadas diante da heterogeneidade da turma.

Carolina elogiou sua mentora, as atividades propostas e o tempo para realiza¸c˜ao estabelecido por ela. Contou que a mentora e o Programa de Mentoria superaram suas expectativas iniciais.

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Avalia¸c˜ao

Minha primeira impress˜ao em rela¸c˜ao `a isso foi “nossa, ser´a que vai dar certo? Como uma pessoa pode me orientar sem saber e sentir as minhas dificuldades e ang´ustias?”. Por´em, no decorrer do programa percebi que a mentora percebeu melhor a minha ang´ustia do que as outras professoras que tenho contato “cara a cara”. Achei uma experiˆencia fant´astica! Pois a mentora, al´em da bagagem e experiˆencia que tinha, teve uma percep¸c˜ao maravilhosa para poder me orientar apenas com palavras que escrevia para ela! N˜ao imaginei que isso poderia acontecer.

Dessa manifesta¸c˜ao pode-se depreender qualquer EAD via internet, mesmo em pro- posta complexas como a do Programa de mentoria, que n˜ao tinha um curr´ıculo fixo nem tempo previamente estabelecido ´e uma alternativa vi´avel para a forma¸c˜ao de professores.

Carolina e suas aprendizagens

Analisando as mensagens trocadas entre professora iniciante e mentora pode-se perce- ber que seguiram certo padr˜ao, mantendo um estreito v´ınculo com as necessidades indica- das pela professora iniciante. Essas intera¸c˜oes tinham metas, objetivos e estrat´egias bem definidas, o que pode ter sido um facilitador dos processos de aprendizagem indicados pela iniciante.

Mentora e iniciante estabeleceram uma boa rela¸c˜ao, n˜ao houve conflitos nem difi- culdade na interpreta¸c˜ao das mensagens, a linguagem utilizada sempre foi muito clara, facilitando o entendimento.

Pode-se dizer que mentoras e professoras iniciantes est˜ao vivenciado pro- cessos de atribui¸c˜ao de significados individuais, em d´ıades e coletivos, a partir da sua intera¸c˜ao e do desenvolvimento das a¸c˜oes relacionadas ao Programa (TANCREDI; REALI; MIZUKAMI, 2005, p. 285).

Os temas discutidos pela d´ıade foram diversos, contemplando v´arias ´areas que envol- vem a pr´atica do professor. A partir da Linha do Tempo, foi poss´ıvel relacionar o tema, com as categorias apresentadas:

• Alunos: o tema foi discutido principalmente no primeiro ano, quando a professora apresentou dificuldade em lidar com a falta de apoio dos pais. Nos outros anos o tema foi retomado, mas n˜ao como uma dificuldade da iniciante, mas sim para co- mentar ou relatar algum fato espec´ıfico. Foram discutidas, em m´edia, 10 mensagens sobre o tema.

• Sobre a classe: dificuldade sobre gest˜ao de classe foi o tema mais discutido entre professora iniciante e mentora, totalizando 30 mensagens, sendo que 24 delas ocor- reram no primeiro ano de intera¸c˜ao. Outras dificuldades tamb´em foram discutidas, como diferentes n´ıveis de aprendizagens dos alunos, al´em de suas caracter´ısticas. Em 2006, houve 10 mensagens sobre heterogeneidade da classe e em 2007 o tema sobre a classe foi pouco tratado, aparecendo apenas quatro vezes nas mensagens.

• Sobre a escola: o tema foi discutido de forma bem geral, com mensagens sobre informa¸c˜oes administrativas, contando sobre outros professores e a equipe gestora, al´em da estrutura e projetos da escola. O tema apareceu nos trˆes anos de intera¸c˜ao.

• Fontes de Aprendizagem: durante a participa¸c˜ao no Programa de Mentoria a professora iniciante revelou principalmente aprendizagens decorrentes do Programa de Mentoria, seguida de cursos que participou, livros e alunos.

• Conte´udos: as discuss˜oes sobre conte´udos se concentraram em 2006, exclusiva- mente sobre a dificuldade da iniciante em alfabetizar alguns alunos. Ao todo foram oito intera¸c˜oes. As discuss˜oes sobre as aulas de Educa¸c˜ao F´ısica est˜ao apontadas nas atividadesrelacionadas as Experiˆencias de Ensino e Aprendizagem.

• Sistemas: as intera¸c˜oes nessa categoria versavam sobre o sistema de ensino do SESI, sendo um total de 24 mensagens, concentradas no primeiro ano de intera¸c˜ao da d´ıade. Tamb´em foram foco das intera¸c˜oes os projetos desenvolvidos pela iniciante (12 mensagens), as atribui¸c˜oes de aula no in´ıcio e fim de cada ano e 3 mensagens sobre classe de refor¸co.

• Atribui¸c˜oes do Professor: 18 mensagens traziam discuss˜oes sobre assuntos rela- cionados `as atribui¸c˜oes do professor; os assuntos se misturavam nas trˆes categorias, planejamento, reuni˜ao de pais e plano de atividades.

• Avalia¸c˜ao: as avalia¸c˜oes aconteceram durante todo o processo e versavam sobre os alunos, a professora iniciante e o Programa de Mentoria.

• EEA: em 2006 foram discutidas em seis mensagens as experiˆencias de ensino e aprendizagem envolvendo alfabetiza¸c˜ao. No final desse ano e no in´ıcio de 2007 as professoras discutiram experiˆencias sobre gest˜ao de classe e sobre Educa¸c˜ao F´ısica.

• Di´arios: oito mensagens traziam o assunto di´arios, estando concentradas no in´ıcio de 2005 e meados de 2006.

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A Tabela 1 apresenta a s´ıntese de todas as categorias que apareceram nas intera¸c˜oes entre iniciante e mentora, iniciando pelas mais discutidas, em ordem decrescente de freq¨uˆencia.

Tabela 1: Temas mais discutidos nas intera¸c˜oes com Carolina. No de vezes

(mais de) Categorias

48 Classe

48 Atividades do Programa de Mentoria 45 Intera¸c˜ao/Rela¸c˜ao Mentora - PI 44 Sistemas

21 Informa¸c˜oes sobre o Programa de Mentoria 20 Avalia¸c˜ao

16 Escola

18 Atribui¸c˜oes do Professor 11 Fontes de Aprendizagem 8 Professora Iniciante 8 Conte´udos 8 Alunos 7 Comunica¸c˜ao Online 2 Mentora

A seguir, foca-se nas principais dificuldades apresentadas por Carolina, apresentadas nas categorias acima:

• gest˜ao da classe: dificuldade em lidar com a indisciplina e a violˆencia dos alunos;

• diferentes n´ıveis de aprendizagem: preparar atividades para os alunos com mais facilidade, para poder dedicar-se aos com dificuldades;

• Educa¸c˜ao F´ısica: modificar a maneira como a disciplina era vista pelos alunos, buscando novas atividades para a aula;

• Sistema SESI: ajustar a pr´atica `as normas do sistema de ensino;

• alfabetiza¸c˜ao;

• falta de apoio dos pais.

No Programa de Mentoria o processo de alfabetiza¸c˜ao, o trabalho docente com alunos em diferentes n´ıveis de aprendizagem e turmas heterogˆeneas foram temas discutidos na maioria das d´ıades. A literatura especializada tamb´em vem apontando na mesma dire¸c˜ao.

Soligo (2003), por exemplo, valoriza as classes heterogˆeneas10 pelas possibilidades advin- das das intera¸c˜oes entre alunos com conhecimentos diferentes, pois n˜ao ´e incomum que eles aprendam uns com os outros, muitas vezes n˜ao necessitando da interven¸c˜ao do professor.

Com rela¸c˜ao `as dificuldades de Carolina, Dune e Villani (2007) colocam que disciplina e gest˜ao da classe tamb´em costumam ser dificuldades bem freq¨uentes nos professores ini- ciantes. Percebe-se, por outro lado, que Carolina se preocupava com o comportamento dos alunos, porque dessa forma a aprendizagem poderia ficar comprometida. Suas tenta- tivas em acertar foram valiosas e ela pareceu analisar as situa¸c˜oes que enfrentou de forma clara. Constata-se tamb´em, que mesmo a professora iniciante se incomodando com a indisciplina e agressividade dos alunos ela, algumas vezes, adotava uma postura agressiva com os alunos. Mas, em seguida, ela apresentava algumas reflex˜oes sobre sua pr´atica, avaliva seu trabalho e dos alunos, procurando estrat´egias de solu¸c˜ao.

Para Abarca (1999) esses aspectos s˜ao comuns no in´ıcio da carreira porque

a concep¸c˜ao te´orico-pr´atica sobre o processo de ensinar e aprender cons- tru´ıda durante a forma¸c˜ao inicial choca-se frequentemente com a reali- dade pr´atica e complexa da vida educacional de uma escola ou sala de aula, na qual se tem que tomar constantes decis˜oes que necessitam de apoio e referenciais que est˜ao disponibilizados na pr´atica, como tamb´em numa forma¸c˜ao que permite construir a partir de reflex˜oes sobre sua atua¸c˜ao e pr´atica cotidiana (ABARCA, 1999, p 62).

´

E importante ressaltar que a an´alise e reflex˜ao sobre a pr´atica e o desempenho dos alunos sempre fizeram parte do cotidiano de Carolina, tendo sido primordiais para a melhoria na qualidade de suas aulas e para a aprendizagem docente. Entretanto, essas reflex˜oes foram disparadas pelos questionamentos da mentora e sua forma de conduzir a intera¸c˜ao, nunca dando respostas diretas aos dilemas da iniciante.

Para Tancredi, Reali e Mizukami (2005):

a reflex˜ao ´e um processo de atribui¸c˜ao de significados que leva o apren- diz de uma experiˆencia a uma pr´oxima, com um grau de compreens˜ao mais profundo de suas rela¸c˜oes com a primeira e conex˜oes com outras experiˆencias e id´eias. ´E este fio condutor que faz com que a aprendi- zagem continuada seja poss´ıvel e garanta o progresso da pessoa, e em ´

ultima instˆancia, da sociedade (TANCREDI; REALI; MIZUKAMI, 2005, p. 105).

Quando o assunto tratado era a falta de apoio dos pais, a professora iniciante, algumas vezes, atribuiu a eles o desinteresse e o n´ıvel de aprendizagem dos filhos, comentando que

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a presen¸ca dos pais ´e respons´avel pelo sucesso na aprendizagem da crian¸ca. Ao longo do tempo essa concep¸c˜ao n˜ao parece ter se modificado e a iniciante n˜ao a via como um problema pois n˜ao se interessou em discutir sobre isso com a mentora quando ela sugeriu. N˜ao podemos atribuir aos pais toda a responsabilidade na aprendizagem dos filhos.

Com rela¸c˜ao `a participa¸c˜ao da fam´ılia nas atividades escolares, segundo Reali e Tan- credi (2001) essa rela¸c˜ao poderia ser melhorada se

[...] os professores soubessem quem s˜ao as fam´ılias de seus alunos e o que desejam para seus filhos. Seria importante tamb´em, que soubessem como se comunicar de forma eficiente com as fam´ılias, auxiliando-as a encontrar estrat´egias adequadas para ajudarem seus filhos nas tarefas escolares que levam para a casa, sem desrespeitar suas caracter´ısticas culturais, disponibilidade, entre outros aspectos (REALI; TANCREDI, 2001, p. 30).

Dune e Villani (2007) consideram que t˜ao importante como saber procedimentos e estrat´egias diferentes para a disciplina e a gest˜ao da classe, os professores iniciantes ser˜ao significativamente mais eficazes se tamb´em pautarem sua gest˜ao no conhecimento e no respeito `as normas culturais diferentes dos estudantes. Segundo esses autores, quando os professores s˜ao preparados adequadamente para serem tolerantes culturalmente com os estudantes, esses se beneficiam disso de diversas maneiras. Mariana foi tamb´em nessa dire¸c˜ao, quando questionou a professora para investigar como era o relacionamento dos alunos com os pais e familiares, questionou sobre a reuni˜ao de pais, se havia participa¸c˜ao ou n˜ao de todos, e quais estrat´egias poderiam tomar para conscientizar os pais, da vida escolar dos alunos. Mas a mentora tamb´em tentou confortar Carolina, que muitas vezes mostrou desˆanimo e insatisfa¸c˜ao com seu trabalho.

Ao organizar essas dificuldades de acordo com os diferentes conhecimentos definidos por Shulman (1986b, 1987) tem-se que no conhecimento do conte´udo espec´ıfico, Caro- lina apresentou primordialmente, dificuldade em alfabetizar seus alunos e em desenvolver atividades na aula de Educa¸c˜ao F´ısica. Nos conhecimentos do conte´udo pedag´ogico a ini- ciante apresentou dificuldades em temas como a indisciplina, turmas heterogˆenea, apoio