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Como Avaliar o Envolvimento da Criança

Capítulo I – Experiência-Chave relativa ao Estágio em Creche

1. Envolvimento

1.2. Como Avaliar o Envolvimento da Criança

Para avaliar o envolvimento da criança existe a Escala de Envolvimento da Criança (traduzida e adaptada da escala original The Leuven Involvemet Scale for

Young Children (Lis-YC)). Esta escala é constituída por duas componentes: vários

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e níveis de envolvimento (Oliveira-Formosinho e Araújo, 2004), os quais possibilitam aos(às) educadores(as) observar e avaliar o envolvimento da criança numa escala de níveis que variam do nível 1 até ao nível 5, para o(a) educador(a) perceber se ocorreu ou não envolvimento na criança e qual o seu grau ou nível de intensidade, sendo este um indicador de qualidade do contexto educativo e não da criança (Portugal e Laevers, 2010).

Indicadores de Envolvimento

Avaliar o nível de envolvimento não é um procedimento simples, linear, racional, nem é o resultado da soma de sinais de envolvimento divergentes. Como tal, para analisar os níveis de envolvimento, é necessário ter em conta os indicadores de envolvimento, mencionados por Laevers e citados por Portugal e Laevers (2010, p.27): “concentração, energia, complexidade e criatividade, expressão facial e postura, persistência, precisão, tempo de reação, expressão verbal e satisfação”.

O indicador da concentração diz respeito à atenção da criança, a qual se centra na atividade que está a executar. Somente estímulos intensos parecem distrair a criança. Este indicador é visível através do olhar (Portugal e Laevers, 2010; Oliveira- Formosinho e Araújo, 2004).

A energia refere-se ao esforço investido e ao entusiasmo no que a criança está a fazer e esta demonstra muitas vezes energia, verificada pelo falar alto ou pela pressão que faz sobre um dado objeto que usa.

Outro indicador é a complexidade e criatividade, o qual é visível quando a criança revela as suas competências para se dedicar a uma tarefa mais exigente e desafiadora do que a própria rotina. Deste modo, a criança verdadeiramente envolvida está a esforçar-se, estando nos limites das suas atuais capacidades e ainda a introduzir o seu toque pessoal na atividade.

A expressão facial e postura demonstram indicativos não-verbais através do olhar (por exemplo um olhar intenso e focado ou um olhar vazio e deambulante) e da postura, que pode revelar ou não concentração e entusiasmo ou aborrecimento (Portugal e Laevers, 2010).

A persistência é outro indicador, o qual refere o tempo em que as crianças estão concentradas no que estão a fazer, não deixado facilmente a atividade que estão a

55 executar. Desta forma, as crianças tentam alcançar a sensação de satisfação que a concretização da atividade lhes traz, subsistindo a distrações que possam advir. Este indicador depende da idade e do nível de desenvolvimento da criança (Bertram e Pascal, 2009; Portugal e Laevers, 2010).

A precisão é avaliada face ao cuidado e ao pormenor despendidos, pelas crianças, na atividade que estão a desenvolver (Oliveira-Formosinho e Araújo, 2004), preocupando-se com a qualidade da realização da tarefa (Portugal e Laevers, 2010).

O tempo de reação refere-se à atenção, reação a estímulos e motivação para desenvolver a atividade, demonstrando vivacidade na realização da mesma (Portugal e Laevers, 2010).

A expressão verbal diz respeito aos comentários de entusiasmo da parte das crianças relativamente à atividade e ainda às descrições entusiásticas acerca do que realizaram ou estão a realizar, o que descobriram e o que alcançaram (Oliveira- Formosinho e Araújo, 2004).

Resta mencionar o indicador da satisfação, o qual se refere ao prazer da criança ao realizar a atividade, através de carícias e do toque no seu trabalho (Bertram e Pascal, 2009; Portugal e Laevers, 2010).

O processo de avaliação do envolvimento é bastante intuitivo e empático, na medida em que subentende a reconstrução de experiências do(a) outro(a) em nós próprios(as), colocando-nos no papel da criança que estamos a observar, tendo assim uma atitude experiencial (Portugal e Laevers, 2010).

Níveis de Envolvimento

O nível de envolvimento é uma afirmação acerca do que é que as condições ambientais provocam na criança. Assim, o nível está relacionado com o facto de acontecer envolvimento ou não, e não com alguma capacidade ou incapacidade da criança para se envolver em algo. Deste modo, o nível de envolvimento demonstra ao(à) educador(a), através dos indicadores o que é que as condições ambientais ou ofertas educativas acarretam nas crianças, sendo este um indicador de qualidade do contexto educativo e não da criança (Portugal e Laevers, 2010).

Importa referir os níveis de envolvimento: nível 1 (muito baixo); nível 2 (baixo); nível 3 (médio); nível 4 (alto) e nível 5 (muito alto).

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O nível 1 (muito baixo) revela que não existe atividade e que a criança não está focada mentalmente (Portugal e Laevers, 2010), caso haja alguma ação da parte da criança é apenas uma iteração estereotipada de movimentos extremamente elementares (Laevers, 2004), sem que a criança pareça ter noção da própria ação.

O nível 2 (baixo) demonstra, por vezes, atividade fortuita ou esta é muitas vezes interrompida, todavia em grande parte do tempo, a criança não está realmente envolvida numa atividade.

Quanto ao nível 3 (médio) este representa a atividade mais ou menos continuada ou com pouca intensidade, verifica-se em crianças que por vezes estão envolvidas em várias atividades, mas que excecionalmente ou nunca se verifica intensidade, concentração, motivação e prazer.

O nível 4 (alto) revela que a atividade tem momentos ativos, observando-se muitas vezes sinais claros de envolvimento, ou seja, a atividade é significativa para a criança, que parece operar nos limites das suas aptidões.

Por fim, o nível 5 (muito alto) mostra que existe uma intensa e continuada atividade, ou seja, está presente em crianças que demonstram frequentemente um elevado envolvimento, estando completamente absorvidas nas suas atividades (Portugal e Laevers, 2010; Bertram e Pascal, 2009).

Assim, realizar a análise dos níveis de envolvimento para analisar a qualidade do que é oferecido à criança demonstra aos(às) educadores(as) como devem melhorar. Desta forma, este é um indicador de qualidade que apoia o(a) educador(a) a refletir sobre as prováveis limitações da organização e prática educativa, ainda que se pretenda trabalhar do melhor modo possível, em proveito do bem-estar, aprendizagem e desenvolvimento das crianças.

Baixos níveis de envolvimento podem ser interpretados pelo(a) educador(a) como um insucesso. Porém, o envolvimento não é apenas o resultado de uma interação entre características do(a) educador(a) e as características das crianças. Um(a) educador(a) terá melhores resultados em termos de envolvimento, se as crianças do seu grupo advirem de lares estáveis, afetuosos e estimulantes, se forem crianças com escassas dificuldades emocionais, cujo ímpeto exploratório demonstra- se ileso. No caso de um grupo de crianças motivadas, o(a) educador(a) sente-se

57 estimulado pelas atitudes entusiásticas das crianças. Todavia, um grupo de crianças com um nível de envolvimento médio pode mostrar um nível muito bom de desempenho de um(a) educador(a) se este(a) executar a sua prática educativa com grupos que obrigam a uma atenção especial e uma procura constante do que subsiste do seu ímpeto exploratório. Na situação de um(a) educador(a) estar com um grupo mais “controverso”, poderá ocorrer que com mais dificuldade este(a) obterá contentamento e sensação de sucesso, o que, por sua vez, poderá levar a menos motivação e empenho do(a) educador(a) (Portugal e Laevers, 2010).