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O ARCEBISPO EM TEMPOS DE REPRESSÃO E AUTORITARISMO

D. Avelar: acomodação e autonomia

O momento pós-Golpe foi muito difícil para o arcebispo e principalmente para os setores católicos do Piauí. Havia uma resistência muito grande de parte das elites contra o arcebispo devido ao apoio que ele deu aos movimentos reivindicatórios durante o governo Jango. Com o acirramento político, D. Avelar viu-se de certa forma impotente diante da nova conjuntura, como ele queixou-se no jornal da arquidiocese:

Este ano de 1964 tem sido um ano de grandes provocações para a minha vida pastoral pessoal. Além do mais, um ano de terríveis equívocos. De sofrimentos íntimos, da mais dura expressão. Graças a Deus, não tenho perdido a serenidade, nem tenho tido a tentação de amaldiçoar os aguilhões que ferem as fibras mais sagradas do coração. Não vamos contar essa história. Desejo,

apenas, referir-me a um capítulo recente e dos mais desagradáveis. ”20

17 Carta escrita por Dom Avelar Brandão Vilela, arcebispo de Teresina. Rio de Janeiro, 13 jun. 1966

18 Depois do Golpe, o MEB começará a ter sempre problemas para receber os repasses do Governo Federal:

“Depois de 64 nós tivemos dificuldades muito sérias para receber, a equipe ficou vários meses sem receber o dinheiro. ” (ARAÚJO, 2008, p.152)

19 Carta escrita por Dom Avelar Brandão Vilela, arcebispo de Teresina. Rio de Janeiro, 13 jun. 1966

20 “ ESCLARECIMENTO SOBRE DISTORÇÕES DA IMPRENSA” O Dominical. Teresina, p. 1-3.

Com o Movimento que derrubou o presidente João Goulart e instaurou o presidente o Marechal Castelo Branco (1964-1967) a repressão abateu-se imediatamente a setores de oposição inclusive os da Igreja Católica. Como mesmo após o Golpe, o episcopado continuou sendo um importante canal de crítica ao Regime, isso obrigou ao a Ditadura Militar a dialogar e se comprometer a negociar com os bispos. O Marechal Castelo Branco ordenou que nenhum padre fosse detido sem prévia e expressa autorização da Presidência da República. (ALVES, 1979, p.201)

Logo após ao Golpe, a CNBB lançou uma nota em que legitimava a interferência militar na política nacional, ao mesmo em tempo que se mostrava preocupada com a repressão a setores católicos (CNBB, 1964, p.537-539). Essa nota refletia as disputas entre as correntes internas da Confederação dos bispos. A partir de outubro de 1964, a direção da CNBB mudou significativamente e bispos tidos como moderados e conservadores chegaram ao poder. A posição mais importante de secretário geral foi transferida de D. Helder Câmara para D. José Gonçalves da Costa, bispo auxiliar do Rio de Janeiro. A presidência ficaria com D. Agnelo Rossi, arcebispo de São Paulo e a primeira vice-presidência com D. Avelar Brandão Vilela.

Entre 1964 a 1969, a CNBB teve uma posição mais cautelosa com o Governo se posicionando timidamente em relação as arbitrariedades do Regime. Neste período as críticas mais contundentes vieram das Regionais da entidade. Até o AI-5, o Regime oscilava entre posições diferentes, ora flexibilizava a repressão e indicava a possibilidade de devolução do poder aos civis, ora tomava posições diametralmente opostas. A Comissão Central da CNBB procurava estabelecer acordos com os militares que possibilitassem a autonomia para a Igreja continuar o seu trabalho político e independência para fazer críticas ao Governo quando achasse necessário. Entretanto, a repressão chegava a base da Igreja Católica, padres, freiras e leigos, obrigando ao episcopado a se envolver. Os acordos já nasciam estéreis: “a Igreja e o regime fizeram o que lhes parecia possível para garantir uma convivência harmônica. Só não fizeram o que lhes era impossível. Nem o Governo poderia permitir a mobilização da Igreja, nem ela poderia desmobilizar-se.” (GASPARI, 2002, p.248)

A região brasileira em que o conflito foi mais intenso neste momento foi o Nordeste, como bem observou o cientista-político Scott Mainwaring (1989, p.115): “Durante os primeiros quatro anos do Governo militar, entre todas as igrejas regionais, a nordestina sobressaiu-se amplamente mantendo a atitude mais crítica frente ao governo”. As Regionais da CNBB desta região, em especial a do Nordeste II, que incluía os estados

de Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Rio Grande do Norte, mantiveram um alto nível de denúncia e foram severamente reprimidas.

Dentro dessa região, em comparação, com muitos bispos nordestinos, a posição de D. Avelar era vista como tímida quando não conservadora. D. Avelar não assinava os documentos que atacassem abertamente o Governo e nem que denunciassem os desmandos dos militares, entretanto sempre defendeu o direito e autonomia da Igreja para fazer essas críticas. Também evitava apoiar os documentos da Igreja que defendessem mudanças econômicas profundas que pudesse parecer para ele como radicais.

Os trabalhos recentes que abordam a vida e a atuação de D. Avelar destacam a posição de defesa que o arcebispo deu aos setores oposicionistas, mas tendem a minimizar, quando não esquecer, das relações que ele procurava manter com o Regime. Para entender a práxis política de D. Avelar é necessário realçar também o contato que ele procurava manter com os militares e os civis aliados do Regime. Ele tentou a todo custo manter boas relações com o Governo evitando qualquer ruptura. Quanto mais dura era a repressão mais ele tentava dialogar. Afirmar isso não equivale a dizer que ele estava submisso aos militares nem que ele fosse menos atento às violações dos direitos humanos.

D. Avelar buscou administrar os conflitos. Procurou manter contatos com os militares em Brasília já que em Teresina existia uma grande objeção a ele por parte dos militares locais. Ele evitava afrontar publicamente as Forças Armadas pois achava que isso impediria o diálogo com o Governo. Mas, isso não o impedia de lançar críticas que achasse pertinentes e principalmente defender a liberdade da Igreja para denunciar as injustiças.

Tentando restabelecer o contato, D. Avelar compareceu ao aniversário do primeiro ano da Revolução de 31 de março e de outros eventos políticos-militares. Alguns bispos recusaram-se a participar dessa celebração para que não fosse visto como um apoio ao Regime naquele momento, devido a fortíssima repressão que caía sobre os setores de oposição, principalmente, os católicos.

Temos aqui duas estratégias diferentes em relação ao Regime. Alguns bispos reagiram à repressão denunciando-a e afastando-se do Regime, chegando em alguns casos à ruptura. D. Avelar utilizava uma outra estratégia, procurando justamente nessas ocasiões estimular o diálogo e fortalecer as ligações para, assim, ter uma maior condição de negociação e por fim conseguir seus objetivos. Por isso, o arcebispo não se rogou em aparecer junto a eles no aniversário da “Revolução” e na comemoração da Independência no 7 de setembro de 1965:

Desfile do 7 de setembro, com 1 Dom Avelar Brandão Vilela (Arcebispo de Teresina); 2 João Clímaco D’Almeida (Vice-Governador do Piauí 1963-1966); 3 Helvídio Nunes de Barros (Governador do Piauí 1963-1966); 4 Coronel Jofre do Rego Castelo Branco ( Prefeito da Cidade de Teresina). Fonte: (ARAÚJO, 2008, p.140)

No jornal da arquidiocese Teresina, O Dominical, foi publicado a mensagem de D. Avelar sobre a “Revolução”. Nele é visível o tom conciliador do arcebispo e podemos perceber as esperanças e cuidados que o cercavam naquele momento. D. Avelar elogiava a postura do presidente Marechal Castelo Branco, a quem definia como “um bravo de guerra”, “um militar de vocação política”. E segundo ele, o Marechal “não deve estar agradando aos mais intransigentes setores da reação nem tão pouco aos servidores da desordem ou da revolução em termos de violência”. O arcebispo aproveitou para criticar o governo de João Goulart que tinha estimulado os conflitos e quase conduziu o país ao caos:

O certo é que havia um clima diferente no Brasil, de tal modo que não somente os subversivos propriamente ditos mas também os conservadores

tornou-se o ambiente brasileiro difícil de ser interpretado objetivamente. Não se podia imaginar inclusive até onde chegariam os desígnios do próprio Governo de então.

D. Avelar via pontos positivos na atuação do Governo naquele momento, e destacou a criação do “Estatuto da Terra”21, que para ele trazia consigo uma “filosofia

equilibrada” para a análise do problema agrário, pois: “nem é um documento revolucionário no sentido violento do termo, nem se pode chamar rigorosamente de reacionário no sentido pejorativo da expressão”. E concluiu o pensamento: “Assim, a reforma agrária assume aquele meio termo que já foi, certa feita, invocado por alguém –

nem paliativa, nem espoliativa”.

D. Avelar não se furtou em tocar em um tema mais sensível ao Regime que era a questão dos prisioneiros. Levantou o problema da forma mais diplomática possível e destacou que apesar dos excessos, havia uma tentativa de prudência pelos militares:

O problema do julgamento dos prisioneiros e dos suspeitos. [...] este tem sido o problema humano mais delicado e difícil da revolução – distinguir o joio do trigo, separar o ouro do ouropel. Julgar as consciências é missão extremamente melindrosa. Podemos, no entanto, afirmar que, ao lado de excessos e de precipitações tem havido e o devemos reconhecer, prudência e até tolerância.22

Entretanto, apesar do que o discurso do arcebispo tende a revelar, as prisões aumentariam e não foram tão “prudentes” e “tolerantes” como afirmara. Os ânimos não se arrefeceram. A repressão continuava sendo a tônica de setores militares e começava a crescer uma resistência de segmentos da sociedade. Este estado de ânimo perturbava o arcebispo:

Dentro do Brasil, há alguns sinais de intranquilidade. Não se pode avaliar a extensão das causas que produzem tais efeitos nem o volume exato dos efeitos que nascem dessas causas. Mas o que se deve fazer é um esforço supremo para superar todos esses sintomas com humildade e espírito de

21 O Estatuto da Terra foi um projeto de lei, encaminhado na época ao congresso, que tornou institucional

o dever do estado em garantir aos trabalhadores rurais o acesso à terra. Basicamente, o Estatuto da terra tinha duas grandes propostas: executar a reforma agrária e desenvolver a agricultura. Mas, o que se constatou no decorrer dos anos, é que a reforma agrária não saiu do papel. A agricultura incentivada foi a do agronegócio baseada no latifúndio pois atendia ao próprio desenvolvimento capitalista no campo.

22 VILELA, Dom Avelar Brandão. Oração proferida por S. Exa. Revma. Dom Avelar Brandão

Vilela, na Missa de Ação de Graças pelo 1° aniversário da Revolução de 31 de março. Jornal O

compreensão. Serenidade e patriotismo, respeito à ordem e sincero exame de consciência. Qualquer instigação de ânimos à rebeldia pura e simples seria nociva aos destinos do país. [...] Esta é uma hora em que o bom senso, a prudência e a coragem devem associar-se para o bem do Brasil. Senhor, infundi em nossas almas o amor pela paz. Mostrai aos brasileiros o caminho certo e seguro para todos os filhos desta grande Pátria, unidos, trabalhem pela sua prosperidade.23

Esta postura conciliadora de D. Avelar tornava-se politicamente fértil e ele angariava o apoio de setores do Governo. É preciso destacar que a Ditadura Militar não era coesa. Dentro dela existia uma grande variedade de correntes políticas, com interesses distintos e, muitas vezes, conflitantes. Isso também se refletia nos organismos de Informação da Ditadura.

O Sistema de Informação da Ditadura era formado por vários órgãos que tinham grande autonomia entre si. Por isso, um personagem pode ser descrito de uma forma em um deles e de outra totalmente oposta, como é perceptível na documentação dos órgãos de informação sobre o arcebispo de Teresina. Se em alguns documentos, D. Avelar era definido como comunista em outros ele é visto como um possível aliado dentro do clero. Entretanto, apesar de uma aparente confusão de versões do arcebispo, podemos encontrar uma certa lógica neste emaranhado de documentação.

Neste momento as descrições mais negativas do arcebispo estão nos órgãos de Informação que eram responsáveis pelo Piauí, enquanto na documentação produzida pelos Órgãos de Informação fora do Estado, a visão sobre D. Avelar tendia a ser mais positiva. Isto refletia justamente a estratégia do arcebispo de procurar estabelecer contatos a nível Federal com os militares neste momento. Como no Piauí, as suas atitudes no período Jango ainda eram muito marcantes, é perceptível uma análise mais crítica do prelado nos órgãos de Informação responsáveis pelo Estado.

Um documento secreto para a presidência da República chamado Frente

Religiosa. Infiltração esquerdista no episcopado brasileiro, de 30 de agosto de 1966, do

CIEX é muito importante para entendermos as preocupações dos militares com o episcopado e indica formas de ação do Governo para diminuir a influência dos chamados setores progressistas da Igreja. Nesse documento, os órgãos de informação demonstram a preocupação que sentem com as críticas e denúncias que o episcopado fazia das atitudes do Governo, por isso, eles começaram a fazer um mapeamento das tendências do

23 VILELA, Dom Avelar Brandão. Oração por um dia feliz. Jornal O Dominical. Teresina, 30 maio 1965,

episcopado, uma vez que existia “um grau de politização de certos setores da Igreja católica, com simpatias esquerdistas, de natureza a suscitar alguma preocupação dos Poderes públicos”.

Nesse momento, a Igreja Católica já era vista como a força principal de resistência ao Governo. Segundo um trecho do documento, destacado no original, pode-se “verificar que existe efetivamente uma infiltração profunda, de tendência esquerdizante, entre o Episcopado brasileiro”. E os bispos nordestinos eram os que mais preocupavam o Regime: “Verifica-se, portanto, que no NORDESTE nada menos de onze Prelados mostram maior ou menor hostilidade à Revolução”. 24

Entretanto, eles informam que o episcopado brasileiro tinha várias tendências ideológicas e era justamente nesse ponto que os militares tinham que procurar agir. Uma tática que poderia ser tentada seria a divisão dos bispos: “existe um agrupamento regional dos elementos perigosos, formando concentrações, intencionais ou não, de Dioceses sob direção politizada. Cumpre, evidentemente, obter a fragmentação desses quistos”. E procuram identificar os bispos mais próximos do Regime para influenciar o Vaticano e a Nunciatura no sentido de nomeá-los para as arquidioceses mais importantes: “Urge obter que as futuras promoções na Hierarquia católica do Brasil recaiam sobre tais Prelados (nomeações para Arquiepiscopados e para o Sacro Colégio)”.

Era de suma importância que os militares procurassem interferir na nomeação dos próximos Cardeais para que prelados tidos como perigosos ao Regime, como o Cardeal- arcebispo Carlo Carmelo Motta, não recebessem o chapéu cardinalício que vagasse. Por isso, a preocupação primordial do Governo tinha de ser com as promoções dos Cardeais.

Conforme se viu acima, um dos quatro Cardeais brasileiros, D. CARLOS CÂRMELO DE VASCONCELLOS MOTTA, aderiu á "ala esquerdizante" da Igreja, razão pela qual aliás foi obrigado após a Revolução a demitir-se da Sé Arquiepiscopal de São Paulo para retirar-se a um exílio virtual em Aparecida. Quanto aos três outros Cardeais, o Primaz do Brasil, D. AUGUSTO ÁLVARO DA SILVA, Arcebispo da Bahia, de excelentes sentimentos, é extremamente idoso e quase inválido. O Cardeal-Arcebispo do Rio de Janeiro, D. JAIME DE BARROS CÂMARA, é também bastante idoso, e, embora física e mentalmente muito ativo, de saúde algo precária. D. AGNELLO ROSSI, o novo Cardeal-Arcebispo de São Paulo, altamente

24 Os prelados do Nordeste classificados como “elementos altamente perigosos” eram D. José Vicente Távora, arcebispo de Aracajú; D. Helder Câmara, arcebispo de Olinda-Recife; D. José Maria Pires, arcebispo de João Pessoa; D. José Medeiros Delgado, arcebispo de Fortaleza; D. José Lamartine Soares, bispo auxiliar de Olinda-Recife; D. Manoel Pereira da Costa, bispo de Campina Grande e D. Antonio Medeiros Fragoso, bispo de Crateús. Já os bispos D. Severino Mariano de Aguiar, bispo de pesqueira; D. Francisco Austragesilo Mesquita, Bispo de Afogados de Ingazeira; D. Otávio Aguiar, bispo de Palmeira dos Índios e D. Nivaldo Monte, administrador apostólico de Natal eram taxados como “elementos ligados aos precedentes”, por isso, não mereciam confiança também.

inteligente, é o único dos quatro cujas condições de idade e de saúde permitem pressagiar longa carreira, pois o seu predecessor também está em avançada idade. Equivale isso a dizer que podem vir a vagar, em um futuro mais ou menos próximo,- três chapéus cardinalícios. É da mais alta importância que os novos titulares sejam escolhidos dentre os Prelados cujos nomes constam da lista abaixo, a qual relaciona os elementos de confiança dentre a hierarquia católica no Brasil; cabendo notar que um só deles ocupa uma Sé nordestina. A ARCEBISPOS (10)

D. Avelar Brandão Vilela, Arcebispo de Teresina

D. Antônio de Almeida Morais Júnior, Arcebispo de Niterói D. José d'Ângelo, Arcebispo de Pouso Alegre D. Oscar de Oliveira, Arcebispo de Mariana

D. Geraldo de Proença Sigaud, Arcebispo de Diamantina D. Alexandre Gonçalves do Amaral, Arcebispo de Uberaba

D. Orlando Chaves, Arcebispo de Cuiabá

D. Frei Felicio César da Cunha Vasconcellos, Arcebispo de Ribeirão Preto

D. Manoel da Silveira d´Elboux, Arcebispo de Curitiba

D. Joaquim Domingues de Oliveira, Arcebispo de Florianópolis25

Por esse documento podemos ver que para quem o produziu, D. Avelar era cotado para ser um dos Cardeais pró-Revolução. É importante perceber que esta lista dos 10 arcebispos indicados para tornarem-se Cardeais dentro da Igreja Católica não está em ordem alfabética. Isso indica que o nome de D. Avelar aparece em primeiro lugar. Percebamos também que o nome do arcebispo de Teresina está à frente do bispo de Diamantina, o integrista, Geraldo Proença Sigaud, aliado de primeira hora do novo Regime. Ou seja, para os que produziram aquele documento, D. Avelar seria um arcebispo de confiança do Regime, ainda mais, naquele momento que se acentuava a crise junto ao episcopado nacional, em especial, no Nordeste.

Bipartite: Uma tentativa de um canal de diálogo

A sucessão do presidente Castelo Branco foi resultado de uma disputa entre os militares brasileiros pela direção do Regime. De um lado, encontravam-se aqueles que eram chamados de "grupo Sorbonne" ou "castelistas" que defendiam um retorno mais rápido do poder aos civis, e do outro, a "linha dura", que defendia uma permanência maior no poder com um endurecimento da repressão para acabar de vez com a suposta ameaça comunista. Eles defendiam que só os militares teriam força para exterminar a ameaça vermelha. Na luta entre os dois grupos, saiu vencedor a linha dura com a eleição do general Artur da Costa e Silva (1967-1969). (MARTINS FILHO, 1993)

25 Frente religiosa. Infiltração esquerdista no Episcopado brasileiro. CIEX. 30-08-1966.

Depois do desmantelamento das esquerdas no pós-64, as oposições rapidamente começaram a reorganizar-se, ganhando apoio até de antigos aliados dos militares. Foi criado um movimento de oposição que articulava políticos de várias matizes ideológicas, chamado Frente Ampla, que integrava o presidente deposto, João Goulart, o ex- presidente Juscelino Kubitschek e os políticos Carlos Lacerda, Magalhães Pinto, Adhemar de Barros. A Frente Ampla reivindicava anistia aos cassados, uma assembleia constituinte e eleições diretas para governador de estado e presidente da República.

O Movimento estudantil – secundarista e universitário – era um importante foco de resistência e oposição ao Regime Militar. A luta em defesa de melhores condições do ensino público e a defesa das liberdades individuais mobilizaram os estudantes. As maiores passeatas e protestos de rua contra o governo de Costa e Silva foram promovidos pelo movimento estudantil. A UNE, mesmo na ilegalidade, atuou na coordenação e direção do movimento estudantil em âmbito nacional. Artistas, intelectuais, jornalistas e membros das Igrejas protestantes e católica começavam a tornarem-se mais críticos ao Regime Militar, lutando em defesa das liberdades individuais e do retorno à democracia. Aparecia também no cenário político, várias organizações de esquerda radicais, oriundas do racha dentro do Partido Comunista, que defendiam a luta armada como solução ao sistema capitalista vigente.

O ano de 1968 foi crucial no enfrentamento das oposições ao Regime militar. Estouraram pelo Brasil manifestações públicas contra os militares. Ocorreram duas greves de grandes proporções em Contagem e Osasco. Inúmeras passeatas estudantis enfrentaram a polícia na rua nos vários estados da União. Esse momento foi de grande efervescência política e durou até a promulgação do Ato Institucional n° 5 (AI-5), em 13 de dezembro de 1968. 26 Com esse Ato Institucional, os militares endureceram ainda mais

a repressão. Os militares fecharam o Congresso Nacional por quase um ano. Com o AI- 5, as liberdades individuais foram restringidas e as manifestações públicas de oposição não seriam mais toleradas.

No Piauí, a Igreja Católica teve o seu primeiro atrito com os militares logo após a promulgação do AI-5 por conta da apreensão de um número do jornal Dominical da