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AVERBAÇÃO PRÉ-EXECUTÓRIA E A INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL

Com o disposto no artigo 25 da Lei 13.606/2018, 06 (seis) Ações Diretas de Inconstitucionalidade foram ajuizadas frente ao Supremo Tribunal Federal alegando ofensas a Constituição Federal em suas disposições. As ADIs nº 5866, 5890, 5925, 5931 e 5932 foram apensadas a ADI principal de nº 5881, que se encontra na relatoria do Ministro Marco Aurélio e até o presente momento não foi julgada.

de regularidade fiscal para com a União, em conformidade com o disposto no inciso IV do art. 27, no inciso IV do art. 29 e no inciso XIII do art. 55 da Lei nº 8.666, de 1993;

IX - encaminhar representação à Secretaria da Receita Federal do Brasil para exclusão de benefícios e/ou incentivos fiscais, relativos a tributos por ela administrados, inclusive os vinculados ao Comércio Exterior, tendo em vista a ausência de regularidade fiscal para com a União, com base no disposto no art. 60 da Lei nº 9.069, de 29 de junho de 1995;

X - encaminhar representação à Secretaria da Receita Federal do Brasil para cancelamento da habilitação ao Despacho Aduaneiro Expresso (Linha Azul) e da certificação ao Programa Brasileiro de Operador Econômico Autorizado, tendo em vista a ausência de regularidade fiscal para com a União, conforme previsto no inciso I do art. 3º da IN RFB nº 476, de 13 de dezembro de 2004, e no inciso IV do art. 8º da IN RFB nº 1521, de 4 de dezembro de 2014;

XI - encaminhar representação à Administração Pública Estadual ou Municipal para fins de rescisão de contrato ou exclusão de benefício e/ou incentivos fiscais ou creditícios, na hipótese da existência de débitos relativos a tributos destinados à seguridade social, nos termos do § 3º do art. 195 da Constituição Federal, bem como na alínea “a” do inciso I do art. 47 da Lei nº 8.212, de 1991;

XII - promover o bloqueio do Fundo de Participação do Distrito Federal, do Estado ou do Município, de acordo com o disposto no inciso I do parágrafo único do art. 160 da Constituição Federal;

XIII - encaminhar representação à Secretaria da Receita Federal do Brasil para baixa da pessoa jurídica inexistente de fato, quando evidenciadas as situações descritas no art. 29, II, da Instrução Normativa nº 1.634, de 6 de maio de 2016;

XIV - encaminhar representação à Secretaria da Receita Federal do Brasil para suspensão da inscrição no Cadastro da Pessoa Física (CPF), no caso de não recebimento das correspondências enviadas nos termos do art. 20-B, §§ 1º e 2º, da Lei nº 10.522, de 19 de julho de 2002, com redação dada pela Lei nº 13.606, de 9 de janeiro de 2018, por inconsistência cadastral, conforme previsão do art. 12 da Instrução Normativa RFB nº 1.548, de 13 de fevereiro de 2015;

XV - promover a revogação da moratória, nos termos do inciso I do art. 8º da Lei nº 12.688, de 18 de julho de 2012, no caso de entidades mantenedoras de instituições de ensino superior integrantes do sistema de ensino federal que aderiram ao Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento das Instituições de Ensino Superior (Proies);

XVI - promover a revogação da moratória e da remissão de débitos, nos termos do art. 37 da Lei nº 12.873, de 24 de outubro de 2013, no caso de entidades que aderiram ao Programa de fortalecimento das entidades privadas filantrópicas e das entidades sem fins lucrativos que atuam na área da saúde e que participam de forma complementar do Sistema Único de Saúde (Prosus);

XVII - promover a exclusão do parcelamento e do Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro (Profut), nos termos do art. 4º da Lei nº 13.155, de 4 de agosto de 2015, ficando a entidade proibida de usufruir de incentivo ou benefício fiscal previsto na legislação federal ou de receber repasses de recursos públicos federais da administração direta ou indireta pelo prazo de 2 (dois) anos, contado da data da rescisão, no caso das entidades desportivas profissionais de futebol que aderiram ao Programa.

Tomando por base a ADI principal nº 5881, que foi interposta pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), alegando a inconstitucionalidade formal do art. 20-B, §3º, inciso II, da Lei 10.522/2002, que dispõe justamente sobre a possibilidade de averbação da Certidão de Dívida Ativa nos órgãos de registro de bens e direitos, a petição inicial argumentou majoritariamente pela ofensa aos princípios do devido processo legal (art. 5º, inciso LIV CF), do contraditório (art. 5º, LV CF), da ampla defesa (art. 5º, LV CF) e do direito à propriedade privada (art. 5º, XXII CF), gerando a inconstitucionalidade da norma, tanto formal (art. 146, III, ‘b’ CF) quanto material48

. Iniciando a análise pela inconstitucionalidade formal, o artigo 146, III, ‘b’ da Constituição Federal49 diz que caberá à lei complementar estabelecer normas gerais em matéria tributaria sobre a obrigação, o lançamento, o crédito, a prescrição e a decadência tributária.

Apesar de, Luciana Potiguar50 e Fernanda Santana51, por exemplo, se utilizarem do argumento de que a averbação pré-executória estabelece apenas uma nova forma procedimental de cobrança fiscal e, por isso, não seria necessária uma lei complementar, tanto o Código Nacional Tributário quanto Lei de Execução Fiscal (Lei 6.830/1980) prevê que a indisponibilidade de bens deverá ser feita por um juiz.

No Código Tributário Nacional, o artigo 185-A52, adicionado através da Lei Complementar nº 118/2005, dispõe que se o devedor, devidamente citado, não

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BRASILEIRO, Partido Socialista. Petição Inicial: ADI 5881. 2018. Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronic o.jsf?seqobjetoincidente=5341622>. Acesso em: 11 nov. 2018.

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Art. 146. Cabe à lei complementar:

[...] III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre:

a) definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos impostos discriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes;

b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários;

c) adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedades cooperativas.

d) definição de tratamento diferenciado e favorecido para as microempresas e para as empresas de pequeno porte, inclusive regimes especiais ou simplificados no caso do imposto previsto no art. 155, II, das contribuições previstas no art. 195, I e §§ 12 e 13, e da contribuição a que se refere o art. 239. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)

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RIBEIRO, Luciana Potiguar. Execução Fiscal Administrativa e o Devido Processo Legal. 2008.

Disponível em:

<http://dspace.idp.edu.br:8080/xmlui/bitstream/handle/123456789/201/Monografia_Luciana%20Potigu ar%20Ribeiro.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 08 nov. 2018. Pág. 37

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SANTANA, Fernanda Caruso. Execução Fiscal Extrajudicial como Concretização dos Princípios Constitucionais Tributários:: Uma Análise do Projeto de Lei 5080/09. 2014. Disponível em: <http://repositorio.uniceub.br/bitstream/235/6120/1/21056154.pdf>. Acesso em: 08 nov. 2018. Pág. 18

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Art. 185-A. Na hipótese de o devedor tributário, devidamente citado, não pagar nem apresentar bens à penhora no prazo legal e não forem encontrados bens penhoráveis, o juiz determinará a indisponibilidade de seus bens e direitos, comunicando a decisão, preferencialmente por meio eletrônico, aos órgãos e entidades que promovem registros de transferência de bens, especialmente

pagar nem apresentar bens à penhora no prazo legal, o juiz determinará a indisponibilidade de seus bens e direitos, comunicando a decisão aos órgãos e entidades que promovem registros de transferência de bens, a fim de que façam cumprir a ordem judicial.

Já na Lei de Execução Fiscal, no artigo 7º diz que o despacho do Juiz deferindo a inicial importará em citação, pelas suas sucessivas modalidades, e, após, se não for paga a dívida, nem garantida à execução, importará em penhora de bens.

Assim, a despeito da Lei de Execução Fiscal não se tratar de lei complementar, pelo seu caráter processual, as duas leis específicas que versam sobre créditos tributários e o seu modo de cobrança, estabelecem a forma procedimental sobre a penhora de bens, dizendo que a penhora somente deve ser determinada e autorizada pelo juiz.

Então, mesmo que se tratasse de aspecto apenas procedimental, como apresentado por Luciana Potiguar53 e Fernanda Santana54, e a Lei 13.606/2018 viesse a modificar essa forma, por ter sido o procedimento antigo estabelecido por lei complementar (Código Tributário Nacional), esta nova forma deveria então vir também sob forma de lei complementar de modo a poder revogá-lo.

Assim, Manoel Gonçalves Ferreira Filho, citado por Alexandre de Moraes55, diz que a finalidade de que a lei complementar seja aprovada por maioria qualificada é evitar que uma minoria ocasionalmente consiga fazer prevalecer as suas vontades. A maioria qualificada vem justamente como sinal de ponderação do constituinte ao tratar de determinadas matérias. Assim, o constituinte não quis contar com a imprevisibilidade de uma desconstituição de algo para qual o estabelecimento demandou ponderação especial.

ao registro público de imóveis e às autoridades supervisoras do mercado bancário e do mercado de capitais, a fim de que, no âmbito de suas atribuições, façam cumprir a ordem judicial.

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RIBEIRO, Luciana Potiguar. Execução Fiscal Administrativa e o Devido Processo Legal. 2008.

Disponível em:

<http://dspace.idp.edu.br:8080/xmlui/bitstream/handle/123456789/201/Monografia_Luciana%20Potigu ar%20Ribeiro.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 08 nov. 2018. Pág. 37

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SANTANA, Fernanda Caruso. Execução Fiscal Extrajudicial como Concretização dos Princípios Constitucionais Tributários: Uma Análise do Projeto de Lei 5080/09. 2014. Disponível em: <http://repositorio.uniceub.br/bitstream/235/6120/1/21056154.pdf>. Acesso em: 08 nov. 2018. Pág. 18

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Conclui dizendo que é princípio geral de Direito que “um ato só possa ser desfeito por outro que tenha obedecido à mesma forma”, ou seja, somente outra lei complementar poderia destituir o que foi implementado por outra lei complementar.

O Supremo Tribunal Federal, inclusive, reconheceu a inconstitucionalidade formal de lei ordinária que versava sobre os temas previstos no artigo 146 da Constituição Federal56, já tendo até editado súmula neste sentido, se referindo a créditos tributários para a Seguridade Social57.

Somado a isso, a inconstitucionalidade formal também se deve ao fato de que, na verdade, essa alteração não se trata apenas de uma nova forma procedimental. De acordo com o parecer emitido pela Procuradoria-Geral da República58, na ADI nº 5881/DF, a atual Procuradora-Geral da República, Raquel Elias Ferreira Dodge, relembra que o crédito tributário abarca as suas “formas de constituição, as modalidades de exclusão, extinção, suspensão, bem como as garantias, os privilégios e as preferências”.

Esse novo procedimento de indisponibilidade de bens e direitos, com efeito, se reveste de um novo privilégio conferido ao crédito tributário, o privilégio da Fazenda Nacional de poder realizar a penhora de bens e direitos do sujeito passivo da obrigação administrativamente.

Atualmente, os privilégios e garantias do crédito tributário estão previstos no Código Tributário Nacional dos artigos 183 a 193 e eles se referem majoritariamente (i) a presunção fraudulenta da alienação ou oneração de bens ou rendas pelo sujeito passivo, por crédito tributário regularmente inscrito em dívida ativa, (ii) na hipótese do devedor citado não apresentar bens à penhora ou realizar o pagamento do débito, devendo o juiz determinar a indisponibilidade dos bens e (iii) especifica que o crédito tributário prefere a qualquer outro, ressalvados apenas os decorrentes da legislação do trabalho ou do acidente de trabalho.

Assim, a norma que deveria estabelecer a indisponibilização de bens ou direitos sem a autorização judicial se enquadraria no conceito de privilégios e garantias do crédito tributário e, por isso, deve ser regulamentada mediante lei

56 STF – RE: 556664 RS, Relator: Min. GILMAR MENDES, Data de Julgamento: 12/06/2008, Tribunal

Pleno, Data de Publicação: REPERCUSSÃO GERAL – MÉRITO

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Súmula vinculante 8. São inconstitucionais o parágrafo único do artigo 5º do Decreto-Lei nº 1.569/1977 e os artigos 45 e 46 da Lei nº 8.212/1991, que tratam da prescrição e decadência do crédito tributário.

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REPÚBLICA, Procuradoria-geral da. Manifestação da PGR. 2018. Disponível em:

complementar, ou significará ferir o que dispõe o artigo 146, III, ‘b’ da Constituição Federal.

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